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quinta-feira, 9 de outubro de 2025

#Moda - XXIX Gala Globos de Ouro 2025

 

Escadaria de grandeza com passadeira vermelha iluminada por spots, glamorosos convidados em gala a posar para fotógrafos, refletindo brilhos de vestidos e smokings; capa do artigo sobre os mais bem vestidos da XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025.

Os Globos de Ouro portugueses voltaram a acontecer em Lisboa e, desta vez, também assisti à cerimónia e talvez se tenha estabelecido uma nova tradição de reunir os mais bonitos da noite. Todos os vestidos são, no fundo, declarações de estilo, personalidade e elegância. Este ano, a passadeira vermelha do Coliseu transformou-se num desfile de moda, com silhuetas arrojadas, tecidos luxuosos e detalhes cuidadosamente orquestrados. Como sempre, uns mais bem conseguidos que outros, foram vistos cortes clássicos reinterpretados e propostas mais ousadas, que permitem contar histórias pessoais ou universais e humanitárias. 


Buy Me A Coffee

Hoje, voltamos a explorar os looks que fizeram as cabeças virar e com os quais poderia muito bem ir a um evento deste nível, sem fazer má figura. Portanto, prepara-te para revistar os estilos que marcaram a noite e que conquistaram o meu coração, na edição de 2025. Vens comigo nesta viagem pela passadeira vermelha do Coliseu dos Recreios? 


1. Ana Garcia Martins


Ana Garcia Martins, na XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025, posa com um vestido branco elegante e acessórios dourados, transmitindo sofisticação e brilho.

2. Carolina Patrocínio 


Carolina Patrocínio na passadeira, vestindo um elegante vestido preto de cauda longa com aplicações douradas; cabelo preso e joias discretas, no contexto da XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025

3. Fátima Lopes


Fátima Lopes na XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025, com um vestido preto e detalhes dourados na gola, posando de forma elegante durante a cerimônia.

4. Mariana Monteiro


Mariana Monteiro na XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025, vestindo um vestido azul acinzentado de corte clássico e elegante, com decote discreto, cabelo preso e joias simples; ela sorri para a câmera, com o palco iluminado ao fundo.

5. Ricardo Pereira e Francisca


Ricardo Pereira, de fato e camisa pretos, ao lado da esposa Francisca, que veste um vestido azul-escuro brilhante, na XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025.

6. Tiago Aldeia


Tiago Aldeia, de fato preto e camisa branca, posando com elegância na passadeira vermelha da XXIX Gala dos Globos de Ouro 2025, expressão confiante e estilo clássico.

Ao percorrer esta passadeira vermelha da XXIX Gala dos Globos de Ouro, ficou claro que a noite não foi apenas sobre prémios, mas sobre celebração da beleza e da elegância. Os looks mais marcantes combinaram elegância atemporal com uma ousadia contemporânea, captando com maestria a atmosfera festiva do evento. 


Vê também os looks da XXVIII Gala Globos de Ouro 2024 


Posto isto, quer-me mesmo parecer que no próximo ano voltaremos a falar sobre esta passadeira vermelha, afinal o que é nacional também tem glamour e brilho e merece ser destacado. Agora, quero saber a tua opinião! Viste a Gala? Acompanhaste a passadeira vermelha? O que achaste dos looks da noite? Qual o teu favorito? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 7 de outubro de 2025

#Livros - O Anjo Pornográfico, de Ruy Castro

 

Capa do livro “O Anjo Pornográfico” (Ruy Castro), pela editora Tinta-da-China: retrato de Nelson Rodrigues em tons de vermelho, com o título em letras verdes.

Sinopse

Nelson Rodrigues é um mito do século XX brasileiro, e um dos escritores mais prolíferos e aclamados. Nasceu no Recife em 1912, mudando-se em 1916 para o Rio de Janeiro, cidade que seria o cenário privilegiado de toda a sua obra. Começou a trabalhar como jornalista aos 13 anos, logo na secção policial, num jornal fundado pelo pai, e nunca mais parou. Fez da crónica e da escrita um hábito diário e destacou-se em todos os géneros literários, pela qualidade e pela quantidade: escreveu 17 peças de teatro, nove romances e milhares de páginas de contos e crónicas, que mais tarde deram origem a várias edições de textos reunidos, assim como a adaptações para teatro, cinema e televisão. Idolatrado e odiado, politicamente conservador, Nelson Rodrigues tanto apoiou a ditadura militar brasileira como foi, mais tarde, defensor acérrimo das suas vítimas. Reaccionário assumido, desencadeou sempre sentimentos fortes, não só devido à sua obra como também à sua vida pública e privada. Morreu no Rio de Janeiro em 1980. 

Além de escritor prolífico, com uma produção a todos os títulos espantosa, Nelson Rodrigues foi protagonista de uma vida extraordinária: pobreza, fome, cegueira, sucesso, doenças fatais e sucessivos golpes à sua vasta família trágica, desde homicídios a desastres naturais. Por seu lado, Ruy Castro é o grande nome da biografia no Brasil, respeitado romancista, historiador e jornalista, conhecido por investigar até onde ninguém antes alcançou. Escreveu livros também emblemáticos sobre Garrincha e Carmen Miranda. É deste encontro de forças desmedidas que nasce O Anjo Pornográfico, livro que reconstitui a assombrosa história de Nelson Rodrigues, desde a vida dos seus pais até ao momento da sua morte. A partir de entrevistas a 125 pessoas que conheceram o escritor, Ruy Castro segue o rasto das muitas obsessões que marcam também a obra de Nelson Rodrigues - sobretudo o sexo e a morte - e tenta resolver as muitas questões que pairam sobre a forte impressão que deixou: Génio ou louco? Tarado ou pudico? Reaccionário ou revolucionário? Raivoso ou apaixonado? 


Buy Me A Coffee

Opinião 

O Anjo Pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues, escrita por Ruy Castro, apresenta-se como uma investigação elegante e implacável sobre a vida do eterno provocador do teatro brasileiro. O autor, jornalista e biógrafo consagrado, é conhecido por decifrar figuras icónicas da cultura brasileira com olhar atento ao contexto histórico e social, e oferece no livro uma narrativa biográfica e uma leitura que entrelaça a vida privada do dramaturgo com a complexa obra que ele deixou. Através de entrevistas, documentos e uma prosa envolvente, Ruy Castro convida o leitor a compreender o famoso paradoxo de Nelson Rodrigues: o provocador que expõe as neuroses da sociedade enquanto constrói uma dramaturgia monumental. 


Esta é a segunda biografia que leio deste autor e parece-me transversal a pesquisa histórica, o jornalismo investigativo e a sensibilidade literária para retratar personagens e épocas esquecidas. Neste O Anjo Pornográfico mergulhamos num universo de intenso melodrama e contracultura, onde nos é oferecida a provocação duma história envolvente, mas também uma fotografia crítica dum Brasil em transformação, onde o proibido, o sensual e o popular se cruzam para revelar o clima moral e artístico da época. O estilo de escrita na obra é marcado pela fusão entre reportagem rigorosa e biografia envolvente, que transita com naturalidade entre pesquisa documental, memória afetiva e crítica cultural. Com uma voz fluída, carregada de ironia discreta e humor afiado, transporta-nos para a vida dum homem e da sua família, todas dignas do seu próprio folhetim, revela-se capaz de construir uma biografia sem reduzir a complexidade humana a uma imagem simplista. 


Podes ler também a minha opinião sobre Chega de Saudade 


Recorte da vida duma figura icónica da cultura brasileira, que constrói um Rio de Janeiro nos detalhes ocultos e que persiste na memória coletiva, o livro não se restringe a uma trajetória biográfica linear, mas constrói uma galeria de episódios marcantes, encontros e polémicas que revelam as tensões entre vida privada e exposição pública, entre o glamour e o lado obscuro da cidade. A trajetória de Nelson Rodrigues é uma revelação contínua de paradoxos e intensidade. Do jovem que desenvolve uma curiosidade pela psique humana aos passos que o lançam como dramaturgo provocador e jornalista imparável, Rodrigues é apresentado como alguém que transforma o particular da vida familiar em material dramático brutalmente honesto. A vida do escritor é retratada como uma luta constante contra censuras, preconceitos e convenções, culminando na criação dum repertório que, embora polémico, revela uma sensibilidade aguda para o sujeito e a sociedade. 


"Tinha outro motivo para querer que o esquecessem: um impulso fanático para escrever. Enchia resmas de papel com o que, olhado de esguelha, pareciam ser crónicas. Não se sabe ao certo o que eram, porque Nelson não mostrava uma linha a ninguém." 


O biógrafo não se limita a reconstituir factos biográficos: investiga a partir de jornais, cartas, diários, roteiros, peças de teatro e depoimentos de familiares, amigos e contemporâneos para revelar como a experiência pessoal do dramaturgo atravessa, transforma e provoca o seu legado público. O livro dialoga com o contexto cultural do Brasil, especialmente com a moralidade, o conservadorismo, a psicologia popular e o nascimento duma cultura de choque que Nelson ajudou a criar. Aqui somos presenteados com uma visão ambiciosa, que não reduz Nelson Rodrigues a rótulos, mas desconstrói certezas, problematiza certezas históricas e marca-nos com a sensação de que o "anjo" é, na verdade, um espelho intenso das contradições brasileiras. Assim, O Anjo Pornográfico é uma viagem pelo abismo entre mito e memória, conduzida com a cadência fatal do bom jornalismo literário. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre A vida como ela é 


A obra alimenta o mito do criador que vive na fronteira entre o proibido e o extraordinário, expondo um Nelson Rodrigues mais íntimo, um génio criativo que, ao explorar o grotesco e a sombra da vida quotidiana, construiu um legado teatral e jornalístico que desafiou tudo e todos ao seu redor. Ruy Castro traça a trajetória de Nelson Rodrigues, começando ainda antes do seu nascimento, contando a vida fantástica dos seus pais, passando para a sua infância e a sua formação nos jornais do pai, sem esquecer o contexto familiar, repleto de referências com tantos irmãos à sua volta, e a criação duma voz literária e teatral que desvendou tabus, exagerou contradições e expôs as fissuras da moral brasileira. A obra de Nelson é lida como um mapa de temas recorrentes: a obsessão pela família e pela violência doméstica, o corpo e a sexualidade como campo de batalha, a culpa sacralizada, o incómodo entre segredo e exibicionismo, bem como a tensão entre censura, imprensa e liberdade criativa. 


"Talvez Elza tivesse intuído que os amores extraconjugais de Nelson não interferiam no seu casamento. Talvez Nelson precisasse viver num permanente estado de paixão, real ou imaginária, que não a diminuía como sua mulher, nem impedia que o casamento fosse navegando." 


Esta leitura é uma imersão rica e ambígua do universo fantástico da vida extraordinária de todos os Rodrigues, onde são revelados, ao mesmo tempo, o brilho e a decadência. Ruy Castro costura uma biografia que não se limita a factos cronológicos, mas mergulha na atmosfera duma era, onde o jornalismo era vibrante e polémico, onde os boémios povoavam a noite do Rio de Janeiro, onde os teatros começavam a ganhar outra dimensão artística e onde Nelson Rodrigues conquistou um lugar ímpar que permanece no imaginário popular até aos dias de hoje. Pela minha parte, fica comprovado o talento de Ruy Castro enquanto biógrafo e pretendo continuar a ler a sua obra nos próximos tempos. Importa também ressaltar a edição cuidada, publicada em Portugal pela Tinta-da-China, repleta de fotos que ajudam a ilustrar muitos momentos da vida conturbada de Nelson Rodrigues. Já a figura do biografado confirmou-se como um homem fascinante, que viveu altos e baixos desde cedo, sempre atento a tudo o que o rodeava, o que lhe permitiu escrever como poucos. 


Em suma, O Anjo Pornográfico traz para a luz a figura do homem por trás do mito, além de oferecer uma visão indispensável para quem deseja compreender o difícil, fascinante e, muitas vezes, contraditório Brasil que Nelson ajudou a desenhar. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces as biografias de Ruy Castro? Gostas do género? E sobre Nelson Rodrigues, já conhecias algumas das histórias contadas no livro? Qual o momento que mais te marcou da vida conturbada de Nelson Rodrigues? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Projecto Cinema - 1996 | Braveheart

 

Fita de cinema clássica sobre um fundo branco, simbolizando a história e a magia do cinema premiado com o Oscar de Melhor Filme de 1996, "Braveheart".

Regressamos para explorar o vencedor do Óscar de Melhor Filme de 1996, Braveheart. Este filme, realizado e protagonizado por Mel Gibson, conquistou a Academia e o público ao retratar a luta pela liberdade do povo escocês liderada pelo lendário William Wallace. Nesta análise, vamos celebrar a importância do filme na História do Cinema, mas também refletir sobre o seu impacto cultural e a sua narrativa épica que o transformou num verdadeiro ícone do Cinema de acção e do drama histórico. 


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Durante a década de 1990, o Cinema passou por uma transformação significativa, marcada pelos avanços tecnológicos e uma maior atenção às narrativas autorais. Foi uma época de inovação, com o surgimento de efeitos especiais revolucionários, como os utilizados em filmes de ficção científica e fantasia, além duma crescente valorização de filmes independentes e internacionais. Os anos 90 também consolidaram o sucesso de grandes blockbusters, enquanto cineastas famosos começaram a explorar temas mais complexos e históricos, refletindo as mudanças sociais e culturais do período. 


Acompanha todo o desenrolar do Projecto Cinema - Óscar de Melhor Filme 


Lançado em 1995, narra a luta de William Wallace, um guerreiro escocês que liderou a sua povoação contra a opressão inglesa no século XIII. Com uma narrativa intensa e cenas de batalha memoráveis, o filme conquistou o grande público e a crítica, destacando-se pela sua grandiosidade visual e pela força da sua história de coragem, liberdade e sacrifício. Wallace torna-se um líder rebelde, após a tragédia de perder a família, e transformou-se num símbolo que mobilizava o seu povo, sendo protagonista de batalhas onde a coragem e o sacrifício eram protagonistas, sem esquecer o desejo de liberdade e autonomia. O roteiro, baseado na história do herói escocês, foi assinado por Randall Wallace e oferece uma visão mais romântica e idealista desta figura histórica, o que, consequentemente, resulta numa imagem menos sanguinária. 


Imagem do pôster do filme "Braveheart" (1995), apresentando Mel Gibson como William Wallace, com uma expressão determinada, vestindo armadura medieval, segurando uma espada e uma bandeira escocesa ao fundo, evocando coragem e luta pela liberdade.

Assim, Braveheart destacou-se pela sua produção épica e envolvente, que transportou os espectadores para o turbulento cenário da Escócia medieval. A realização de Mel Gibson trouxe uma narrativa poderosa, que combina uma fotografia impressionante com figurinos que reforçam a atmosfera histórica. A banda sonora, composta por James Horner, contribuiu significativamente para a emoção do filme, elevando momentos de triunfo e de tragédia com composições memoráveis. Além disso, as cenas de acção intensas e bem coreografadas, como as batalhas épicas, marcaram o filme como uma obra de referência dentro do género, capturando a brutalidade e o heroísmo da época de forma visceral e inesquecível. No entanto, importa não esquecer algumas críticas que apontaram que o filme exibia algumas liberdades históricas e uma representação dramática que, por vezes, sacrificava a precisão em nome do espectáculo. 


O sucesso de Braveheart teve um impacto significativo na carreira de Mel Gibson, consolidando a sua posição como um dos actores e realizadores mais influentes de Hollywood. Como realizador, produtor e protagonista do filme, Gibson recebeu reconhecimento mundial o que elevou o seu prestígio na indústria cinematográfica. No que diz respeito aos Óscares, além do prémio de Melhor Filme, também conquistou as categorias de Melhor Realizador, Melhor Maquilhagem, Melhor Fotografia e Melhor Edição de Som, o que vem reforçar o seu reconhecimento técnico e artístico. 



A vitória de Braveheart, em 1996, permanece relevante até hoje, porque celebra uma narrativa épica de coragem e liberdade, além de destacar a importância de contar histórias que inspiram o senso de identidade e resistência. Sem esquecer o quanto a realização de Mel Gibson, combinada com uma produção grandiosa e actuações marcantes, elevou o filme a um patamar que transcende o tempo e que o coloca como um marco no Cinema vencedor do Óscar. Pela parte que me toca, é um filme muito interessante, apesar das falhas históricas, mesmo considerando o final dramático, que retrata o final verdadeiro deste herói escocês, e gostei muito de revê-lo para este projecto. 


Portanto, se ainda não viste este clássico do Cinema, não percas a oportunidade, e se viste, trata de rever, porque, passados tantos anos, vais te surpreender com o quanto envelheceu bem a produção. O filme está disponível para subscritores do Disney+, por isso, podes ir já buscar as pipocas! Entretanto, partilhar comigo a tua opinião. Já viste Braveheart? O que achaste da representação histórica da época e das cenas de combate? Achas que continua a ser um filme merecedor dos prémios que recebeu em 1996? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 30 de setembro de 2025

#Livros - Santa Evita, de Tomás Eloy Martinez

 

Ilustração de uma mulher vestida de branco com uma auréola na cabeça, sobre um fundo azul escuro, na capa do livro "Santa Evita" publicado pela Tinta da China.

Sinopse

A grande personagem deste romance não tem vida: é o corpo morto de Eva Perón. Mas Santa Evita, um dos maiores clássicos da literatura em língua espanhola, é também sobre Eva Perón viva, sobre o país que a adorou ou odiou e sobre as imensas contradições da alma humana. «A magia dos bons romnaces suborna os seus leitores, fá-los comer gato por lebre e corrompe-os ao seu capricho. Confesso que esta o conseguiu comigo, que sou perito velho no que se refere a não sucumbir facilmente às armadilhas da ficção. Santa Evita venceu-me desde a primeira página e acreditei, emocionei-me, sofri, tive prazer e, no decurso da leitura, contraí terríveis vícios e atraiçoei os meus mais caros princípios liberais. 

Eu, que detesto com toda a minha alma os ditadores e os homens fortes e, ainda mais do que eles, os seus séquitos e as bovinas multidões que encandeiam, dei subitamente por mim desejando que Evita ressuscitasse e regressasse à Casa Rosada a fazer a revolução peronista. Quando uma ficção é capaz de induzir um mortal de firmes princípios e austeros costumes a estes excessos, não há a menor dúvida: deve ser proibida ou lida sem perda de tempo.» Do Prefácio de Mario Vargas Llosa 


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Opinião 

Santa Evita é uma obra que mergulha na fascinante e enigmática história de Eva Perón, uma das figuras mais emblemáticas da política argentina. Com uma narrativa envolvente e de grande profundidade, o livro explora os mitos, a memória e as complexidades da personagem que marcou uma era. Tomás Eloy Martinez, famoso jornalista e escritor argentino, é conhecido pela sua habilidade para combinar rigor jornalístico com uma prosa fluente, tendo produzido obras que exploram aspectos históricos e sociais da América Latina. A sua escrita combina pesquisa minuciosa e sensibilidade, tornando esta leitura emocionante e provocando reflexões sobre a figura e a mulher que foi Eva Perón e sobre o seu legado, que perdura até hoje. 


Eva Perón, conhecida como Evita, nasceu em 1919, na região de Los Toldos, ela ascendeu de origem humilde para se tornar a primeira-dama da Argentina ao casar-se com o que seria presidente, Juan Domingo Perón, em 1945. A sua influência estendeu-se para além do âmbito familiar, consolidando-se como símbolo do peronismo, um movimento político que procurava promover a justiça social, os direitos trabalhistas e a inclusão dos pobres na política do país. Evita utilizou a sua popularidade para defender os direitos das classes mais desfavorecidas, ao mesmo tempo que enfrentava forte oposição de setores conservadores e das elites tradicionais. A sua morte em 1952, vítima de cancro, marcou o início da lenda que ainda reverbera na História argentina, sendo vista tanto como uma líder popular quanto uma figura emblemática de resistência e transformação social. 


Podes ler também a minha opinião sobre Quincas Borba 


Narrativa ficcional, retrata os eventos após a morte de Eva Perón, com especial destaque para o controverso destino do seu corpo, que foi exumado, desaparecido e manipulado ao longo dos anos, tornando-se símbolo de poder e mistério. Ao mesmo tempo, ao longo dos capítulos, explora também a origem humilde da jovem Evita, a sua carreira como actriz, a sua ascensão ao poder e a relação com o marido. Para cada resposta encontrada sobre o seu passado, parecem surgir uma mão cheia de perguntas novas, aparentemente impossíveis de esclarecer. A alternância entre passado e presente, acompanhando em paralelo a trajetória da Evita viva e da Evita morta, contribui para construir uma narrativa rica, complexa e multifacetada, que nos prende com curiosidade e fascínio às suas páginas, enquanto aprofunda a compreensão do fenómeno Evita na cultura argentina. 


"Perón deixou-me ser tudo aquilo que quis. Eu teimava e dizia, quero isto, Juan, quero aquilo, e ele nunca me negou nada. Pude ocupar todo o espaço que me apeteceu. Não ocupei mais porque não tive tempo. Adoeci de tanto me esforçar." 


Ficamos a perceber como a imagem de Evita transcende a sua pessoa, tornando-se um motivo de fervor popular e símbolo político que influencia as estruturas sociais e políticas do país. O autor explora de forma magistral a construção da imagem pública e o processo de mitificação em torno de Eva Perón. O romance revela como a figura de Evita foi cuidadosamente moldada pelos meios de comunicação, pelo poder político e pela própria narrativa oficial, transformando-a numa heroína quase mítica que transcende a sua existência real. A obra destaca os motivos centrais de idealização, sacrifício e manipulação, onde evidencia como esses elementos contribuíram para a criação da lenda que perdura na memória coletiva argentina. Tanto a mulher quanto o seu cadáver incorporaram o mito que alimenta as massas e esta leitura conduz-nos numa viagem perturbadora, empolgante, misteriosa e viciante, porque, quando termina, estava capaz de ler ainda mais e mais e mais sobre esta figura. 


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O estilo de Martinez é marcado por uma narrativa empolgante e detalhada, que combina elementos do jornalismo e da ficção para criar uma leitura vibrante. A sua escrita é pontuada por uma linguagem rebuscada e elegante, capaz de transmitir emoções intensas, enquanto constrói uma atmosfera de mistério sobre temas políticos, identitários e até históricos. Com uma prosa que mistura realismo e fantasia, criou uma obra que é ao mesmo tempo uma biografia imaginada e uma reflexão sobre a memória coletiva. Evita, entre a santidade e o absurdo, entre metáforas que parecem ecos duma Argentina em crise e um humor irónico que revela as contradições dum país obsessivamente devoto da sua própria lenda, surge como um espelho distorcido das nossas próprias fantasias e desilusões. Transportando-nos para os intricados bastidores da Argentina do século XX, é recriada a trajetória de Eva Perón, cujo corpo, após a sua morte, se torna numa peça de poder e fascínio. 


"Agora é um corpo demasiado grande, maior do que o país. Está excessivamente cheio de coisas. Todos nós lhe fomos metendo qualquer coisa dentro: a merda, o ódio, a vontade de matá-la de novo. E como diz o Coronel, há gente que também lá meteu o seu pranto. Esse corpo é como uma metralhadora carregada." 


Cada capítulo revela uma combinação de factos reais, rumores e imaginação, criando uma atmosfera que nos prende da primeira à última página, repleta de mistério e paixão. A profundidade dos personagens também é algo a destacar e que muito enriquece a trama e que permite que ela se torne credível, mesmo nos momentos mais inusitados. A própria Evita é retratada com uma complexidade que vai muito além do mito, revelando as suas emoções, ambições e vulnerabilidades. Os homens que a cercam, tanto em vida quanto na morte, também são descritos com nuances que revelam as suas motivações e conflitos internos. Pessoalmente, a minha obsessão com este livro começou quando vi a série Santa Evita, e só descansei quando ele chegou à minha estante. Levei-o comigo nas primeiras férias que fiz, e logo ali, numa esplanada em Elvas, percebi que estava perante uma obra extraordinária e que tenho a certeza que constará nos favoritos de 2025. É um mergulho no absurdo, que se torna real, com uma linguagem elaborada, que contrasta com a morbidade do que retrata e que nos transporta para uma Argentina que talvez ainda exista no seu povo. 


Só posso dizer que fiquei rendida ao livro e ao autor e deixou-me muito curiosidade para ler mais de Tomás Eloy Martinez. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já conhecias Santa Evita? Que momento ou personagem mais despertou o teu interesse? O que sentiste com este enredo fantástico? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

#Places - La Cantina

 

Imagem de um prato de massa à bolonhesa, com molho suculento e bem apresentado, acompanhado de um copo de vinho branco ao fundo, criando uma atmosfera acolhedora e apetitosa no restaurante "La Cantina", no Montijo.

La Cantina é um novo restaurante localizado no coração do Montijo, que se destaca pela sua atmosfera descontraída e pelo compromisso em oferecer uma experiência gastronómica especial. Com uma decoração moderna, o estabelecimento convida os visitantes a desfrutar de pratos preparados com ingredientes frescos e de qualidade. Seja para um almoço descontraído ou um jantar especial, La Cantina procura criar um ambiente acolhedor onde os clientes se sintam em casa, valorizando sempre o sabor e a autenticidade da sua cozinha variada. 


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A minha chegada ao espaço foi bastante acolhedora, até porque já conhecia, por motivos profissionais, o dono do restaurante que se apressou a receber-nos com atenção e cuidado. A rápida atenção aos detalhes fez-me sentir bem-vinda e ansiosa para experimentar tudo o que me aguardava. O ambiente é acolhedor e convidativo, onde encontramos refletida uma atmosfera que combina elementos contemporâneos com outros que respeitam a história antiga do edifício onde se insere. A iluminação suave contribui para uma atmosfera relaxante, perfeita para desfrutar duma refeição em boa companhia. 


Podes ler também sobre a minha experiência no Marradas 


Este é um restaurante que fica bem perto do meu novo local de trabalho e, por isso, já o visitei diversas vezes desde a sua abertura. Portanto, desde então, já tive oportunidade de experimentar uma variedade de pratos que encantaram o meu paladar e deixaram sempre o desejo de voltar. Como prato principal, destaco as massas, como a de Cogumelos e Carbonara, que são acompanhadas de molho rico e queijo gratinado e que nos aconchegam até a alma. Também não posso ignorar as Pizzas, cada uma melhor do que a outra, com ingredientes de qualidade elevada, massa fina e estaladiça e que podem perfeitamente ser divididas por duas pessoas. Por fim, recomendo também que experimentes os Bitoques de Porco Preto e de Vaca, suculentos e com um sabor inconfundível, acompanhados por ovo e batatas fritas. 


Fotos da minha experiência no restaurante La Cantina, no Montijo: à esquerda, uma deliciosa massa com cogumelos, com molho cremoso e cogumelos frescos; à direita, uma saborosa massa à carbonara, com ovos, queijo, pancetta e pimenta, apresentada em um prato apetitoso

A qualidade e o sabor da comida no La Cantina são verdadeiramente excepcionais. Os ingredientes utilizados são frescos e cuidadosamente selecionados, o que reflete bem o seu compromisso com a excelência em cada prato. Os sabores harmoniosos e autênticos, conquistaram o meu paladar definitivamente, tornando cada refeição uma experiência memorável. Além disso, a apresentação dos pratos demonstra atenção aos detalhes, elevando ainda mais o padrão de qualidade deste espaço e destacando-se pelo equilíbrio de cores, aromas e texturas. Quanto às sobremesas, fiquei fã absoluta da Mousse de Maracujá, embora também tenha apreciado os Churros, acompanhados de Doce de Leite. Para acompanhar todas estas iguarias, tenho experimentado algumas das sangrias incríveis que fazem, como a de Morando ou a de Maracujá, que recomendo vivamente que experimentes. 


Podes ler ainda sobre a minha experiência no Maré Cheia 


Apesar das várias visitas, ainda quero voltar para experimentar o Choco Frito, os Tacos e os Hamburgueres num futuro próximo, que parecem ter muito bom aspecto quando os vejo passar para as mesas à minha volta, tal como o Petit Gateau de Caramelo, no que diz respeito às sobremesas. A rapidez no serviço costuma ser positiva, embora o intervalo entre o final da refeição e o pedido dos cafés deixe um tanto a desejar, sobretudo para quem tem de ir trabalhar a seguir. No entanto, tenho de reconhecer que tem existido uma melhoria neste ponto desde a inauguração até agora. Em suma, a minha experiência com toda a equipa do La Cantina foi sempre muito agradável e pautada por atenção e simpatia, bem como profissionalismo e cordialidade em todos os momentos. 


Fotos do prato de bitoque de vaca, com carne grelhada, ovo estrelado, batatas fritas e salada, ao lado de uma mousse de maracujá cremosa e decorada com polpa de maracujá.

A faixa de preços no La Cantina é bastante acessível, oferecendo opções variadas mas sempre económicas. Os pratos principais normalmente custam entre 6 a 15 euros, enquanto as entradas e sobremesas têm preços que variam entre 3 a 6 euros. Assim, a percepção de valor em relação à qualidade do restaurante é bastante positiva, e maior fica quando percebemos que é possível almoçar por apenas 10€, sem grande dificuldade. Encontramos aqui, no centro da cidade, uma excelente opção para quem procura uma refeição saborosa, de qualidade e muito acessível. Portanto, se procuras uma experiência gastronómica de qualidade e amiga da carteira, se aprecias a cozinha italiana e a portuguesa, vais aqui encontrar o lugar certo para ti, seja para um almoço descontraído, um jantar romântico ou uma reunião de amigos. Pela minha parte, é certo e sabido que voltarei nos próximos tempos, seja com amigos ou colegas de trabalho. 


Mas agora quero saber a tua opinião! Já conhecias o La Cantina? O que pensas do seu menu variado? Tens algum prato favorito? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 23 de setembro de 2025

#Livros - Eneida, de Vergílio

 

Fundo bege suave com uma pequena ilustração de um guerreiro romano em tons neutros, transmitindo um clima clássico e elegante que remete à antiguidade e à narrativa épica da obra.

Sinopse

A Eneida, poema épico que descreve os destinos de Eneias e dos troianos que com ele escaparam à queda de Troia, é considerada a obra-prima de Vergílio e um exemplo maior da literatura latina. 

Esta epopeia narra a longa viagem marítima que a frota de Eneias empreende em busca de uma nova pátria prometida pelos deuses e tantas vezes profetizada. É a história da demanda por um lugar no mundo e da luta pelo direito a habitar a terra das suas vicissitudes e glórias. Dela nasce Roma e um Império que moldará o mundo. 

Esta nova edição atualiza a tradução do latim realizada por uma equipa de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa e devolve ao texto a sua estrutura de poema, com versos numerados para mais fácil leitura e estudo. 


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Opinião 

A Eneida é uma obra-prima da literatura clássica, escrita pelo poeta romano Vergílio, no século I a.C. Considerada uma das maiores epopeias da antiguidade, a obra narra a jornada do herói Eneias, que procura estabelecer a cidade de Roma após a destruição de Troia. Vergílio, poeta de grande destaque na Roma antiga, é reconhecido pela sua maestria para combinar elementos mitológicos, históricos e filosóficos nas suas obras. A sua escrita reflete uma profunda admiração pela cultura grega, ao mesmo tempo em que procura consolidar a identidade romana, influenciando gerações posteriores e deixando um legado duradouro na literatura ocidental, que perdura até hoje. 


A obra foi composta entre 29 a.C. e 19 a.C., num período marcado pelo fim da República Romana e o início do Império Romano sob o comando de Augusto. O livro surge num momento de consolidação do poder imperial e de forte enaltecimento dos valores tradicionais romanos, como o dever, a virtude e a origem divina de Roma. Literariamente, a Eneida insere-se na tradição épica clássica, inspirando-se na Ilíada e na Odisseia de Homero, mas também reflete a necessidade de legitimar a ascensão de Roma, apresentando a fundação mítica de Roma e os seus heróis como uma continuação das grande epopeias gregas. Assim, o poema funciona tanto como uma narrativa de aventuras quanto como uma celebração do destino e do papel histórico de Roma. 


Podes ler também a minha opinião sobre a Ilíada 


A motivação e o propósito de Vergílio para escrever esta obra estão profundamente ligados à sua intenção de criar uma obra nacional que exaltasse a origem do povo romano, procurando estabelecer uma poesia que pudesse rivalizar com os grandes poemas épicos gregos, elevando a história lendária de Eneias como símbolo da missão e do destino de Roma. Claro que o livro está impregnado de influências da poesia homérica e da mitologia romana, evidenciando-se na estrutura narrativa e na construção dos personagens. É fácil encontrar elementos épicos, como é o caso da jornada do herói do protagonista, a presença de deuses a intervir nos acontecimentos humanos e o uso de invocações divinas para orientar a trama. Além disso, a mitologia permeia toda a obra, enriquecendo o texto com referências às lendas e figuras emblemáticas do imaginário romano, como os deuses, heróis e fundadores de Roma, que só são totalmente perceptíveis para leigos pelas valiosas notas que acompanham cada página desta tradução portuguesa. 


"Todos concordaram e permitiram de bom grado que

se orientasse para a morte de um só infeliz aquilo que 

cada um receava que a si coubesse."


Na Eneida, os personagens centrais desempenham papéis essenciais na condução da narrativa e na representação de temas como destino, dever e paixão. Eneias é o herói troiano, líder determinado, que enfrenta desafios e obstáculos na sua jornada. Dido, rainha de Cartago, representa o amor e o conflito emocional, e a sua paixão por Eneias é intensa, mas tragicamente interrompida pelo destino. Turno surge como o antagonista de Eneias, guerreiro que desafia o herói e procura impedir a sua chegada às terras prometidas e o cumprimento das profecias grandiosas. Juno actua na história influenciando eventos e tentando proteger os seus interesses, enquanto Júpiter, rei dos deuses, mantém o equilíbrio cósmico e assegura que o destino de Eneias seja cumprido, guiando a narrativa com a sua autoridade divina. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre a Odisseia 


O livro acompanha os eventos da jornada de Eneias após a queda de Troia. Tudo começa com este grupo de troianos a fugir de Troia enquanto procuram uma nova terra onde possam estabelecer-se. Durante a viagem, enfrentam conflitos com povos inimigos e obstáculos naturais, como tempestades e monstros marinhos. Um dos momentos decisivos é a visita de Eneias ao reino dos mortos, onde encontra figuras importantes do passado e busca orientação para o seu destino e do seu povo. Além disso, temos também o conflito interno de Eneias entre o seu dever de liderar o seu povo e as suas emoções pessoais, especialmente em relação a Dido, com quem ele mantém um relacionamento apaixonado que acaba interrompido pelo seu destino de fundar uma nova cidade. Deste modo, a narrativa evidencia como o destino é uma força inexorável que direciona as acções do herói, mesmo diante de obstáculos e sofrimentos pessoais. 


"Qual a causa que dera origem a tamanho incêndio, ignoram. 

Mas as dores acerbas causadas pela profanação de um grande amor

e aquilo de que é sabido ser capaz uma mulher enfurecida

conduzem os corações dos Teucros a tristes conjeturas." 


A linguagem é de uma riqueza poética que combina grandiosidade e elegância, refletindo a solenidade do estilo épico. O poeta utiliza uma linguagem elevada, carregada de figuras de estilo, como metáforas e hipérboles, que engrandecem os acontecimentos e os personagens, conferindo ao poema um tom monumental. Vergílio utiliza uma estrutura linear, marcada por viagens, batalhas e encontros com figuras míticas, entrelaçados com momentos de reflexão e orações que elevam o texto ao nível poético. A poesia permeia toda a obra, conferindo-lhe ritmo, musicalidade e profundidade emocional, ainda que muito se perca inevitavelmente na tradução. Algo que chama a atenção é a riqueza de detalhes na descrição dos ambientes e dos personagens, criando uma narrativa envolvente e imersiva. 


Depois de ter adquirido o livro este ano, na Feira do Livro de Lisboa, continuei na senda de explorar as grandes obras épicas que permitem compreender a mitologia e as influências do que se lhe seguiu de forma mais clara e reveladora. É assim que me vi envolvida nos mitos romanos e tradições que servem para reforçar o culto por Roma e pelo seu Império poderoso. Não é uma leitura fácil nem intuitiva, mas também não é tão difícil que seja impossível acompanhá-la, sobretudo se escolheres uma boa edição com notas que te permitem entender as referências. Só te posso assegurar que vale bem a pena a leitura e vais sair dela muito mais rica e conhecedora das influências que povoam os livros que lês hoje. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste a Eneida? Gostas destes épicos da literatura clássica? Qual o teu favorito? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Projecto Cinema - 1992 | O Silêncio dos Inocentes

 

Fita de filme clássica sobre um fundo branco, simbolizando a história do cinema e os vencedores do Oscar ao longo dos anos.

Estamos de volta à exploração da História e da evolução do Cinema através dos filmes vencedores do Óscar ao longo dos anos. Relembro que este projecto tem como objectivo oferecer uma visão aprofundada sobre as obras que marcaram épocas e influenciaram o cenário cinematográfico mundial. Hoje, vamos destacar o vencedor de 1992 na categoria de Melhor Filme: O Silêncio dos Inocentes, uma obra-prima que conquistou o público e a crítica e que permanece como um marco na História do Cinema. 


Buy Me A Coffee

A 64.ª edição da cerimónia destacou-se por reconhecer um filme que se tornou num ícone da cultura pop e uma marco incontornável na História do Cinema. Esta premiação foi particularmente significativa por marcar a primeira vez que um filme de suspense psicológico conquistou o prémio de Melhor Filme, refletindo uma mudança na preferência da Academia por obras que exploram temas complexos e profundos. A vitória de O Silêncio dos Inocentes também reforçou a importância de roteiros inteligentes e actuações marcantes, consolidando-se como uma obra de grande impacto cultural e crítico. Este Óscar destacou a capacidade do Cinema de abordar temas sombrios com inteligência e sensibilidade, influenciando gerações futuras de cineastas e espectadores. 


Acompanha todo o desenrolar do Projecto Cinema - Óscar de Melhor Filme 


O Silêncio dos Inocentes, realizado por Jonathan Demme e lançado em 1991, é um thriller psicológico, baseado no romance de Thomas Harris, que acompanha a jovem agente do FBI, Clarice Starling, enquanto procura a ajuda do brilhante, porém perigoso, canibal Doutor Hannibal Lecter, para capturar um serial killer conhecido como Buffalo Bill. O impacto do filme foi profundo e duradouro na época do seu lançamento e perdura até aos dias de hoje. A obra revolucionou o género de suspense ao combinar uma narrativa psicológica intensa com actuações memoráveis de Anthony Hopkins e Jodie Foster. A sua abordagem inovadora ao explorar os limites da mente humana e o uso de elementos de horror psicológico cativaram o público e elevaram o padrão dos thrillers na indústria cinematográfica. 


Poster do filme "O Silêncio dos Inocentes" mostrando o rosto de Jodie Foster com uma borboleta cobrindo sua boca, simbolizando o silêncio e o mistério do filme.

No filme somos apresentados a dois personagens centrais cujas complexidades e dinâmicas intensificam a narrativa. Clarice procura provar o seu valor enquanto enfrenta os seus próprios traumas pessoais e o desafio de ajudar a capturar um serial killer perigoso. Do outro lado, Hannibal Lecter, um brilhante psiquiatra preso pelos seus crimes enquanto canibal, é uma presença enigmática e perturbadora, cuja inteligência afiada e manipulação habilidosa desempenham um papel crucial na investigação. A relação tensa e ambígua entre Clarice e Hannibal é fundamental para o desenvolvimento da trama, explorando a inteligência, a manipulação e as lutas internas de cada personagem. 


Também os aspectos técnicos e estilísticos desempenha um papel fundamental na criação da atmosfera intensa e perturbadora que permeia todo o filme. A direcção destaca-se pelo uso de enquadramentos próximos e planos detalhados, que intensificam a conexão emocional com os personagens. A banda sonora, composta por Howard Shore, reforça o clima de suspense e tensão constante, enquanto que a edição ágil e precisa contribui para manter o ritmo frenética e a iluminação contrastante e o uso de cores sombrias ampliam a sensação de inquietação. Na cerimónia de 1992, conquistou um total de cinco estatuetas, consolidando-se como um dos grandes clássicos do Cinema. Assim, levou para casa, além do prémio para Melhor Filme, o Óscar de Melhor Argumento Adaptado, Melhor Realizador, Melhor Actor e Melhor Actriz. 



A verdade é que O Silêncio dos Inocentes é uma obra-prima que combina uma narrativa intensa com actuações marcantes, e que se tornou num marco na História do Cinema, muito graças à sua atmosfera tensa e ao retrato psicológico profundo, com destaque para a psicopatia, algo pouco abordado na época, quando o True Crime não era ainda um género generalizado e popular. Talvez por tudo isto, permanece actual e relevante, passados tantos anos desde a sua estreia. Se ainda não viste este filme, não sei onde andaste escondida, recomendo fortemente que o adiciones à tua lista de filmes a assistir com urgência e fiques por dentro deste pedaço da cultura cinematográfica que tem inspirado tantos outros e que se infiltrou na cultura pop desde então, com inúmeras referências noutras obras. 


Portanto, este é o momento para veres, ou reveres, esta obra de arte e deliciar-te com algo que roça a perfeição e te vai proporcionar momentos de entretenimento dos bons. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já viste O Silêncio dos Inocentes? O que achaste deste enredo sombrio? Qual o momento que mais te marcou? Tens alguma cena favorita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

#Livros - Gente Ansiosa, de Fredrik Backman

 

Imagem da capa do livro "Gente Ansiosa" de Fredrick Backman, publicado pela Porto Editora. O fundo é laranja vibrante, com uma ilustração de um casal de costas, lado a lado, sem se tocar, transmitindo uma sensação de distância e introspecção.

Sinopse

Visitar um apartamento que está à venda não costuma redundar numa situação de perigo. A menos que seja antevéspera de Ano Novo, e um ladrão inexperiente tenha decidido assaltar um banco onde não há dinheiro. Quando assim é, torna-se inevitável que não haja sequer um plano de fuga, e se acabe com uma data de reféns acidentais. 

Felizmente, podemos confiar na pronta intervenção das autoridades. A menos que os dois polícias responsáveis pelo caso não se entendam nem saibam o que fazer. 

Ainda assim, acreditamos que tudo correrá bem, em particular se os reféns permanecerem calmos. A menos que sejam os reféns mais idiotas de todos os tempos: uma analista bancária com ideias suicidas, uma adorável velhinha com motivações pouco transparentes, um casal reformado com uma paixão enorme pelo IKEA, duas recém-casadas, prestes a serem mães, que andam sempre às turras, uma agente imobiliária com entusiasmo a mais e talento a menos, e uma pessoa vestida de coelho. 

Com um sentido de humor excecional, que cativou milhões de leitores em todo o mundo, e personagens tão imperfeitas quanto tocantes, Fredrik Backman volta a surpreender com esta história sobre gente idiota e ansiosa e os laços invisíveis que (n)os unem. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Gente Ansiosa é o livro de Fredrick Backman de 2025, dado que entrou naquela lista de autores que procuro ler uma obra por ano, por serem extraordinários e para degustar melhor o que escreveram e não ficar logo órfã dos seus livros. Backman é o mais famoso escritor sueco contemporâneo, conhecido por explorar as emoções humanas, relacionamentos e a complexidade da vida quotidiana. Nos últimos anos, conquistou reconhecimento internacional com os seus livros que combinam humor, sensibilidade e uma profunda compreensão da condição humana, tudo temas que transcendem o tempo e as fronteiras geográficas, e que, por isso, tocam pessoas de todo o mundo. 


Neste livro, o autor explora os dilemas da vida moderna e os desafios enfrentados por indivíduos que lidam com ansiedade e inseguranças de diferentes origens. Através de histórias entrelaçadas e personagens profundamente humanos, nem sempre bons, nem sempre maus, Backman retrata diferentes trajetórias, histórias de vida até opostas, mas que têm em comum o desejo de ultrapassar os problemas e ser felizes. Em mais uma história sensível e cheia de suspense, convida-nos a refletir sobre a importância da empatia e do autoconhecimento na jornada de todos e cada um de nós. Os personagens principais são uma variedade de pessoas que representam diferentes aspectos da ansiedade e da solidão na sociedade moderna, obrigados a ficar juntos por muitas horas quando são feitos reféns por um ladrão pouco capaz, uma vez que tentou roubar um banco, daqueles modernos, que não têm dinheiro nas suas instalações. 


Podes ler também a minha opinião sobre A minha avó pede desculpa 


O livro aborda de maneira sensível e perspicaz o tema da ansiedade e da saúde mental, destacando como esses aspectos influenciam profundamente a vida das pessoas. Fica claro como é importante compreender, acolher e dialogar sobre estes temas, promovendo uma mensagem de empatia e aceitação. Numa narrativa que desmistifica preconceitos e incentiva uma atitude mais compassiva tanto consigo mesmo quanto com os outros, reforça que procurar ajuda e compreender os próprios limites são passos essenciais para uma vida mais equilibrada e onde a amizade pode fazer a diferença. Afinal, é nas relações interpessoais que podemos encontrar conforto e compreensão, mostrando que um gesto atencioso ou apenas ouvir com interesse pode transformar vidas e mudar destinos, que poderiam ser trágicos. É o que acontece quando o grupo de reféns se une para ajudar o ladrão de bancos falhado e entendemos que, no fundo, todos precisavam de ajuda e foi nesse contexto que a encontraram. 


"Mas também teve vontade de lhe dizer que o sistema económico ao qual dedicou a vida é o maior problema do mundo neste momento, porque o construímos demasiado forte. Esquecemo-nos de como somos ambiciosos, mas, acima de tudo, esquecemo-nos de como somos fracos. E agora está a esmagar-nos." 


Ao longo da leitura, mergulhamos nas nuances da vida quotidiana, onde as pequenas acções e as preocupações diárias revelam as complexidades do ser humano. Ficamos a entender que a ansiedade é uma experiência universal que pode afectar qualquer pessoa, independentemente da idade ou condição social, e como ela perturba as nossas relações, escolhas e percepções do mundo. Com as suas personagens cativantes e tão diferentes entre si, Backman evidencia que, por trás das aparências de normalidade, cada indivíduo enfrenta batalhas internas silenciosas. A cada novo capítulo conseguimos sentir as emoções e os conflitos dos personagens, chegando a ter o desejo de estender a mão e ajudar aquelas pessoas a sair dos lugares escuros onde estão, por trás das suas máscaras sociais e das mentiras que contam aos estranhos que com eles se cruzam. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Um Homem Chamado Ove 


No coração da narrativa temos um efeito de espelho e de abraço, com os seus personagens, com as suas ansiedades e pequenas neuroses, que parecem tão familiares quanto aqueles amigos que todos temos. O autor recorda-nos que a vida é feita de momentos imperfeitos, de dúvidas que parecem gigantes, e de encontros que, apesar de tudo, carregam uma esperança subtil e que podem até mudar tudo. Apesar dos temas serem sérios e até pesados, o autor consegue arrancar-nos sorrisos e gargalhadas, com o seu bom humor e o seu estilo próximo. Sem dramatizar o que já é dramático por si só, parece conseguir gerar mais empatia por aquelas pessoas cheias de problemas e que escondem segredos do passado ou o medo do futuro. A escrita de Backman está repleta de empatia e humanidade, o que cria uma atmosfera acolhedora e ao mesmo tempo impactante. Mesmo que demore a chegar a empatia por todos os personagens, ela chega e depois é impossível não se emocionar com a forma como tudo foi conduzido, como se uniram e decidiram resolver os problemas de cada um juntos e, desse modo, resolvem todos os problemas. 


"Depois, pensou numa escritora norte-americana que escrevera que a solidão é como a fome: só nos apercebemos do quão esfomeados estávamos quando começamos a comer." 


Este livro é absolutamente relevante, pela forma como aborda o medo do fracasso, a procura por aceitação ou o impacto do isolamento social. Se no final da leitura, estiveres mais consciente para quem te rodeia e para ti mesmo, talvez estejas um passo mais perto de viver numa sociedade mais inclusiva, acolhedora e empática. Com revelações surpreendentes ao longo da história, além de entreter, entrega assuntos interessantes, ensinamentos úteis nas entrelinhas e deixa uma impressão duradoura, que fica mesmo depois de termos terminado a leitura. Pessoalmente, ainda que não tenha destronado o meu livro favorito do autor, gostei muito de ler Gente Ansiosa e recomendo vivamente que descubras esta obra com tantas camadas que, tenho a certeza, irá tocar-te de diferentes formas e por muitos motivos. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste Gente Ansiosa? O que achaste desta narrativa surpreendente? Acompanhas o trabalho de Fredrik Backman? Qual o teu livro favorito do autor? Conta-me tudo nos comentários! 


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quinta-feira, 11 de setembro de 2025

#Viagens - Paço Ducal de Vila Viçosa

 

Mulher de costas usando chapéu, ao lado de um carro na estrada

A visita ao Paço Ducal de Vila Viçosa foi o mote que despoletou toda esta viagem que decidi fazer este Verão e que me permitiu explorar um dos mais emblemáticos exemplares do património histórico e arquitectónico português, símbolo do poder e da riqueza da Casa Ducal de Bragança. Este é um monumento que remonta ao século XVI, tendo sido construído como residência dos duques de Bragança, uma das mais influentes famílias nobres de Portugal. Situado em Vila Viçosa, no Alentejo, o edifício destaca-se pela combinação de diferentes estilos, reflexo das várias épocas de construção e ampliação ao longo dos séculos. Ao longo da História, o Paço desempenhou um papel central na vida política, social e cultural da nobreza portuguesa, especialmente a partir do período em que os duques de Bragança passaram a ocupar o trono nacional, após o domínio filipino.


Buy Me A Coffee

A construção do edifício começou em 1501 por decisão do quarto duque de Bragança, D. Jaime, com o propósito de ser a residência da família, numa época em que a paz permitia a saída das fortificações dos castelos. Os duques seguintes foram imprimindo a sua marca nesta casa que, após a subida ao trono, tornou-se numa das residências reais espalhadas pelo reino. Além da sua imponência estética, o edifício guarda valiosos vestígios de épocas passadas, tornando-se num importante símbolo do património histórico nacional. Não só desempenhou o papel administrativo e residencial da família, o palácio também foi palco de eventos históricos importantes, como as célebres Trocas das Princesas, que ocorreram em diferentes reinados. 


Podes ver também o Roteiro de Viagem entre Vila Viçosa e Elvas 


A fachada do Paço Ducal apresenta-se imponente e elegante, com 110 metros de comprimento, tornando-a única na arquitectura civil portuguesa e onde se revela inspiração clássica. Destaca-se pelo uso da pedra mármore da região, com janelas amplas e ornamentos discretos que realçam a sua grandiosidade. A porta de entrada convida-nos a adentrar num espaço repleto de História, onde os poderosos de então pisaram. Toda a praça é imponente, constituindo um quadrado onde todos os edifícios estão relacionados com a casa ducal, um espaço amplo que nos causa impacto logo na primeira imagem, e que tem ao centro a estátua do duque que se tornou rei, D. João IV. Esta foi a primeira paragem da minha viagem e é o lugar mais memorável logo à primeira vista. 


Montagem de fotos mostrando a fachada do Paço Ducal de Vila Viçosa, com sua arquitetura elegante e detalhes históricos, e uma imagem da estátua de D. João IV situada no centro da praça, destacando-se como símbolo da cidade.

Logo que entramos no edifício, na recepção onde compramos os bilhetes para a visita, somos imediatamente envolvidos por uma atmosfera de grandiosidade. Nesse espaço, enquanto aguardamos pelo início da visita guiada, podemos observar uma série de painéis com informações sobre a família, a fundação e o espaço que estamos prestes a conhecer. Também ficamos a saber que não são permitidas fotos ou filmagens no interior do palácio, o que é o motivo para ter tão poucas fotos relevantes para partilhar aqui. A visita guiada, que tem um custo de 8€, começa com a subida das escadas que serviam de acesso aos visitantes ilustres do palácio e que nos conduzem ao Andar Nobre, onde vamos encontrar todas as salas mais famosas e com as colecções mais icónicas deste espólio. As salas de aparato, onde eram recebidos embaixadores e gente importante da nobreza, impressionam pela sua decoração refinada, mobiliário antigo, esculturas, pinturas e tapeçarias, onde fica evidente o luxo desta residência. 


Podes ler ainda sobre o Café Restauração 


Nos aposentos reais é possível apreciar os quartos ricamente decorados pelos reis D. Carlos e D. Amélia, que muito apreciavam passar a época de caça neste palácio, que inclusivamente foi onde dormiram antes do regicídio, em 1908. Os objectos da época, os livros, as pinturas do artista D. Carlos, verdadeiramente impressionantes, permitem uma visão privilegiada do quotidiano e do modo de vida dos últimos reis da dinastia de Bragança. Cada espaço revela um pouco do passado aristocrático do local, convidando-nos a imaginar as ocasiões de gala e os momentos familiares que ali aconteceram. Os vastos salões e salas privadas são guarnecidos de fogões de sala, que permitiam aquecer os espaços no Inverno, e também grandes aquários de porcelana são distribuídos pelos aposentos, que serviam para, cheios de água, arrefecerem o ambiente no Verão quente alentejano. A iluminação é natural, pois o Paço não é provido de luz elétrica até hoje, o que confere uma recriação ainda mais fidedigna do que seria estar e viver neste lugar. 


Montagem de fotos do Claustro e dos Jardins do Paço Ducal de Vila Viçosa, mostrando o pátio com arcadas e colunas no Claustro, e áreas verdes bem cuidadas com árvores, caminhos e flores nos Jardins do palácio.

A decoração de todo o Paço revela um esplendor histórico e artístico que, graças às informações da nossa guia, conseguimos perceber as diferentes origens, autores, épocas e até aspectos curiosos dos diferentes elementos que compõem cada sala. Encontramos paredes adornadas com azulejos tradicionais, frescos mitológicos, que muitas vezes baptizam o espaço onde se encontram, detalhes em talha dourada, paredes forradas a seda, só para dar alguns exemplos. A Capela do Paço também impressiona pelos seus detalhes arquitectónicos, encontrando-se na encruzilhada entre o alimento para a alma e o alimento para o corpo, com a cozinha, que permanece no mesmo lugar desde o início e alberga uma colecção impressionante de panelas de cobre. Por fim, saímos para o Claustro, onde não existe entrada, e terminamos a visita nos Jardins, numa miniatura de Versalhes. 


Terminada a visita guiada ao Paço Ducal, escolhi ver a Sala do Tesouro, um espaço que alberga objectos valiosos e importantes, relacionados com a casa de Bragança, e que são pertença, na sua maioria, de um colecionador particular. É uma sala relativamente pequena, rodeada de expositores, seguros e modernos, onde todas as peças estão visíveis e com legendas que permitem compreender o que vemos, a sua origem e em que época foram feitos. Temos joias, moedas, medalhas, artefactos religiosos, pratas, todos com grande significado simbólico e histórico. As peças mais marcantes, na minha opinião, são a Cruz de Vila Viçosa, a Cruz de D. Catarina de Bragança e a Caravela-Cofre. Visitar esta colecção custa 2,50€ e, embora necessite do acompanhamento de um guia, não existe lugar a visita guiada. 


Embora tenha ficado com pena de não ter visitado a Colecção de Carruagens, que ficará para uma nova visita, esta foi uma experiência verdadeiramente enriquecedora e marcante, que cumpriu plenamente as minhas altas expectativas, e que reforça a minha convicção acerca da importância de valorizar e proteger o nosso património cultural para as futuras gerações. Portanto, se procuras uma experiência única, esta é uma visita imperdível. Para planeares a tua vista adequadamente, consulta todos os pormenores no site da Fundação Casa de Bragança. Mas agora, quero saber o que tens a dizer! Já conhecias o Paço Ducal de Vila Viçosa? Conheces esta região alentejana? Já fizeste alguma das visitas que têm disponíveis? O que mais desperta a tua curiosidade? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

#Livros - Pais e Filhos, de Ivan Turguéniev

 

Ilustração de capa do livro "Pais e Filhos" de Ivan Turguéniev, publicada pela Relógio d'Água: retrato de um jovem com expressão pensativa, com a mão no bolso, vestindo roupas do século XIX, em estilo artístico clássico.

Sinopse

O jovem Bazárov tem tantas qualidades quanto transborda de impaciência e causticidade. Niilista, como de si próprio diz, antissocial e avesso a todos os tipos de autoridade, é mentor de Arkádi Kirsánov, que, terminados os estudos na universidade, regressa a casa na companhia de Bazárov. Rapidamente, esta figura, um corpo estranho agora infiltrado na família, transforma-se no combustível para grandes convulsões na propriedade e na vida dos Kirsánov, reflectindo, vivida e exemplarmente, as grandes mudanças que acontecem na Rússia do século XIX. 

Hoje considerado um dos grandes romances dos últimos duzentos anos, Pais e Filhos foi publicado em 1862 e causou grande celeuma, tanto entre as gerações mais novas como junto dos mais velhos - reaccionários, românticos ou radicais -, enquanto, pela Europa fora, Turguéniev recebia o elogio de autores como Flaubert, Maupassant e Henry James. 


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Opinião 

Pais e Filhos é uma obra emblemática do escritor russo Ivan Turguéniev, publicada originalmente em 1862. O livro retrata as complexas relações entre gerações, explorando os conflitos de valores e ideais que surgem na sociedade russa do século XIX. O autor, considerado um dos principais nomes do realismo russo, destacou-se pela sua habilidade para retratar a alma humana e as transformações sociais do seu tempo. A sua escrita combina sensibilidade, profundidade psicológica e uma crítica social aguda, o que faz das suas obras exemplos duradouros da literatura russa clássica. Publicado num período de profundas transformações sociais e políticas na Rússia, que enfrentava o impacto da emancipação dos servos, a crise do sistema feudal e o início de processos de modernização económica e intelectual. 


A história gira em torno do jovem Arkádi, que retorna à sua cidade natal e se depara com as tensões entre os ideais tradicionais dos seus familiares e as novas ideias dos jovens, especialmente as representadas pelo seu amigo, Bazárov, um niilista radical. Ao longo da narrativa são explorados temas como o amor, as diferenças geracionais, a luta entre o conservadorismo e o progresso, além das dificuldades de compreensão mútua entre as gerações. Além dos jovens já referidos, que são os grandes protagonistas, temos também o pai de Arkádi, Nikolai, um homem tradicional mas que se acha permeável às novas ideias, e o tio, Pavel, um janota conservador e aristocrata, que toma como modelo os ingleses. A relação entre os jovens e os mais velhos é marcada por tensões e diferenças de visão de mundo, refletindo o embate entre o idealismo juvenil e o conservadorismo paterno. 


Podes ler também a minha opinião sobre Humilhados e Ofendidos 


A narrativa revela a polaridade entre os mais velhos, que defendem os costumes e as convenções estabelecidas, e os jovens, que abraçam ideias mais liberais, ceticismo em relação às tradições e uma busca por mudanças sociais. Assim, Turguéniev explora duma forma realista e sensível as tensões geracionais, destacando as dificuldades de conciliar o passado e o presente, além de refletir sobre os desafios duma sociedade em transformação. Sem esquecer a importância do espírito crítico e da liberdade de pensamento na construção duma sociedade mais progressista, onde se coloca o jovem como uma peça-chave na evolução cultural e social da sua época. Mas a verdade é que muitos desses jovens enfrentavam uma crise de identidade, diante das mudanças rápidas e turbulentas da sociedade russa. O próprio Arkádi vive um conflito interno, dividido entre as suas raízes familiares e os novos ideais que deseja adoptar, o que impacta na formação da sua identidade pessoal e até coletiva. 


"Assim, se passaram dez anos, insipidamente, esterilmente, e com medonha rapidez. Em nenhum outro lugar o tempo voa como na Rússia; dizem que na prisão ele corre ainda mais depressa." 


A personalidade forte de Bazárov e o seu desprezo pelas normas estabelecidas colocam-no em contraste com o amigo Arkádi, mais sentimental e idealista, que mantém uma postura mais tradicional e emocional diante do mundo, ainda que não tenha consciência disso no início do livro. No fundo, as ideias e os conflitos entre elas são explorados sobretudo nas relações entre os diferentes personagens, e não só nas relações entre pais e filhos. Na relação com as mulheres, que aparecem de formas bem distintas ao longo do livro, entre amigos e até conhecidos de circunstância. Deste modo, o autor utiliza os seus personagens como símbolos das ideias conflitantes, enquanto cria uma narrativa que explora as tensões entre passado e futuro, conservador e progressista, individual e social. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Doutor Jivago 


A escrita de Ivan Turguéniev caracteriza-se pela sua elegância subtil, linguagem refinada e uma atenção minuciosa aos detalhes psicológicos dos seus personagens. Com uma prosa fluída, marcada pela forte sensibilidade e uma capacidade ímpar de captar as emoções humanas. Também revela uma preocupação com a moralidade, o amor e as questões existenciais, tornando-se uma leitura envolvente e carregada de significado. A linguagem utilizada vem desempenhar um papel fundamental na transmissão das ideias centrais da obra, o que reflete de forme precisa e sensível as tensões do período que se vivia. A escolha dum estilo claro e directo permite que as emoções e os conflitos dos personagens sejam comunicados de forma eficaz, o que facilita a compreensão das críticas a ambas as gerações. Como tal, a linguagem em Pais e Filhos funciona como uma ponte entre o leitor e as complexidades dos tema, que permanecem relevantes até hoje. 


"Em todo o caso eu digo que um homem que jogou toda a sua vida na carta do amor de uma mulher e, quando essa carta foi vencida, desanimou e desceu até ao ponto de não ser capaz de nada, esse homem não é um homem, é apenas do sexo masculino." 


Ao concluir esta leitura de mais um autor russo famoso, confesso que esperava mais. A culpa será, certamente, das expectativas altas que tinha e da minha experiência anterior com outros autores, sempre extraordinária e muito diferente de tudo o que tinha lido. Talvez agora esteja mais habituada ao estilo russo e o impacto tenha sido menor. Ou simplesmente, este não seja o livro certo do autor para me agarrar e despertar a vontade de ler a sua obra completa. No entanto, isso não significa que o livro não seja muito bom, com personagens complexos e questões sociais interessantes, capaz de provocar reflexões nos leitores sobre a natureza humana. Portanto, se procuras uma leitura instigante sobre as relações familiares, amorosas e intelectuais, esta é uma excelente escolha. Os interessados na literatura russa já devem ter este autor debaixo de olho, e os que apreciam emoções, dilemas éticos e uma visão crítica do mundo deviam ter também. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces Turguéniev? Leste Pais e Filhos? O que achaste desta história e destes protagonistas? Qual o teu favorito? Aconselhas outros livros deste autor? Conta-me tudo nos comentários! 


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