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terça-feira, 27 de agosto de 2024

#Livros - Quincas Borba, de Machado de Assis

 

A imagem da capa do livro "Quincas Borba", publicado pela Editora Guerra e Paz, apresenta um fundo bege suave que cria uma atmosfera clássica e atemporal. Na parte superior, uma barra branca destaca o título da obra e o nome do autor, Machado de Assis, em tipografia elegante e legível. A composição é complementada por uma série de ilustrações pequenas de cabeças de cães, que adicionam um toque lúdico e simbólico à identidade visual do livro, refletindo a conexão entre o protagonista e o tema central da história. Esta capa, com seu design sofisticado e minimalista, convida o leitor a adentrar o universo complexo e irônico do renomado autor brasileiro.

Sinopse

Amor e loucura, num livro delicioso sobre a grandeza dos sonhos e a miséria da realidade humana. Rubião, modesto professor de província, herda uma fortuna do filósofo Quincas Borba. Mas com a riqueza vem igualmente a loucura do seu amigo. Dissipa a fortuna em ostentação e em ajudas à trupe de oportunistas que o rodeiam assim que chega ao Rio de Janeiro. Perdido num mundo que não entende, Rubião acaba sozinho, e os parasitas ascendem à sua custa. No fim, triunfam os fortes, dando razão ao lema de Quincas Borba: «Ao vencedor, as batatas!» Este é o grande trunfo de Machado de Assis, sugerir as coisas mais terríveis da maneira mais cândida. Um romance essencial na língua portuguesa, um autor injustamente esquecido, que ombreia com Eça e Camilo. 


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Opinião 

Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura brasileira, nasceu em 21 de Junho de 1839, no Rio de Janeiro, e destacou-se como romancista, contista, dramaturgo e poeta. Filho dum imigrante português e duma criada mulata, a sua trajetória é marcada por uma ascensão notável num período em que a elite literária era predominantemente branca e aristocrática. Machado transformou a prosa e a poesia brasileiras, ao empregar uma linguagem inovadora e abordar temas complexos como a identidade, a hipocrisia social e a condição humana. Obras como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas consolidaram a sua reputação como mestre do realismo, sendo Quincas Borba, publicado em 1891, um exemplo claro da sua habilidade para explorar as nuances do comportamento humano, além de refletir as tensões sociais do seu tempo. Apesar de ser detestado pelos estudantes brasileiros que precisam prestar prova sobre os seus livros, o autor permanece uma figura central no cânone literário, famoso pela sua profundidade intelectual e pela sua capacidade de abordar questões filosóficas e morais com leveza e ironia. 


Quincas Borba, inserido no período de transição entre o romantismo e o realismo, integra-se no contexto da literatura brasileira do final do século XIX. Neste momento histórico, o Brasil enfrenta profundas transformações sociais e políticas, como a Proclamação da República em 1889 e a crescente urbanização e industrialização. A obra de Machado de Assis reflete as inquietações e contradições desta nova realidade, apresentando uma crítica aguçada à hipocrisia da sociedade carioca daquele tempo. Na sua narrativa, o autor explora temas como a luta pela sobrevivência, a ambição, o poder e a deterioração dos valores humanos, utilizando a figura do pobre Quincas Borba e o seu famoso "humanitismo" como veículo para discutir questões existenciais e morais, voltando a provar a sua genialidade para transcender as convenções literárias da sua época. 


Podes ler também a minha opinião sobre A Mão e a Luva


Este é um romance que narra a trajetória de Rubião, um ingénuo professor de filosofia que, ao herdar a fortuna do seu amigo Quincas Borba, vê-se num mundo de relacionamentos complicados e hipocrisias sociais. A história desenrola-se em torno da interação de Rubião com uma série de personagens peculiares, que, acima de tudo, procuram beneficiar-se com a sua nova condição financeira. À medida que o protagonista enfrenta as consequências da sua fortuna repentina e as expectativas dos que o rodeiam, o romance explora temas como a inconstância da riqueza, a natureza humana e procura pela identidade própria numa sociedade marcada pelo egoísmo e pela traição. 


"Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão." 


Esta obra emblemática de Machado de Assis explora de maneira penetrante a interseção entre a loucura e a sanidade, revelando como essas condições podem ser subjetivas e interdependentes. O personagem que começa por dar nome ao livro e que vive sob a influência da sua filosofia peculiar, desencadeia uma série de reflexões sobre a natureza da realidade e da razão. À medida que a narrativa avança, a linha entre lucidez e irracionalidade torna-se cada vez mais ténue, especialmente nas relações entre os personagens e as suas motivações. A loucura de Quincas Borba, muitas vezes vista como uma forma de liberdade e como uma crítica à sociedade, contrasta com a sanidade aparente dos demais personagens, que frequentemente se mostram ainda mais insensatos nas suas ambições e comportamentos. Como nos habituou, Machado utiliza o humor e a ironia como ferramentas para a sua crítica social contra a hipocrisia da sociedade brasileira do século XIX. No fundo, a dita hipocrisia da elite é escancarada na forma como os personagens se relacionam, disfarçando interesses pessoais sob uma fachada de moralidade e civismo. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas


Rubião, o amigo que herda a fortuna e o cão de Quincas Borba, com a sua trajetória, revela como a ambição pode distorcer valores e relações interpessoais. A sua procura desenfreada por status e reconhecimento leva Rubião a envolver-se com pessoas traiçoeiras, onde as máscaras sociais tornam-se necessárias para a sobrevivência. Existe uma evolução do protagonista, que começa por ser um homem simples e ingénuo, que vive do seu pobre salário de professor, mas que entra na elite do Rio de Janeiro depois de se tornar herdeiro. À sua volta, gradualmente, aparecem supostos amigos que, com a desculpa de lhe fazer companhia, vivam à sua custa, comendo e bebendo à sua mesa, mesmo na sua ausência. O número de amigos aumenta e o dinheiro, como por artes mágicas, diminui de forma proporcional. Afinal, se gastamos sem medida, sem fazer nada para ganhar mais, um dia qualquer fortuna acaba, por maior que seja. Portanto, como seria fácil prever, esta trajetória culmina com um desfecho trágico, onde as desilusões revelam a fragilidade do ser humano diante das ilusões sociais e do próprio destino. 


"Duas blasfémias, menina; a primeira é que não se deve amar a ninguém como a Deus, a segunda é que um marido, ainda sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos sonhos." 


A escrita de Machado de Assis é sempre marcada por uma ironia subtil e um humor refinado, e em Quincas Borba não é excepção. Através de diálogos mordazes e descrições que revelam mais do que aparentemente se vê, o autor conduz o leitor a uma reflexão crítica sobre a ambição, a loucura e as relações sociais. Não podemos esquecer nem ignorar o papel do narrador, que incorpora um tom irónico e reflexivo ao longo de toda a trama. Este narrador onisciente, flui entre os pensamentos e sentimentos dos personagens, revelando não só as suas acções, mas também as suas motivações e conflitos internos. A verdade é que esta obra permanece de enorme relevância nos dias de hoje, devido aos temas universais que aborda. Retrata a sua época, mas também leva a uma análise das dinâmicas eternas da natureza humana, com um desvio interessante que passa pela saúde mental, tema tão em voga nos dias que correm. Recomendo para os que se interessam pela literatura brasileira clássica, amantes da prosa filosófica e da crítica social. Assim, torna-se essencial tanto para quem procura prazer estético quanto para os que querem uma reflexão mais profunda sobre a vida. 


Como sempre, Machado de Assis entrega uma história incrível, especial e que fica na nossa mente muito tempo depois de termos terminado a leitura. Comprado em Junho, na Feira do Livro de Lisboa, lido nas férias em Julho, quase a chegar a Setembro ainda dou por mim a pensar no excêntrico Quincas Borba e no ingénuo Rubião. Agora, conta-me, já leste Quincas Borba? O que achaste da ascensão do Rubião no Rio de Janeiro cosmopolita? A queda foi culpa dele ou dos que o rodeavam? És fã do trabalho de Machado de Assis? Qual o teu favorito do autor? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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Wook | Bertrand 

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