Sinopse
Depois de atacarem Pearl Harbor e invadirem Hong Kong, os japoneses cercam Macau. Com o inimigo às portas, o novo governador, Artur Teixeira, tem de enfrentar a maior ameaça ao império português durante a Segunda Guerra Mundial. Diante dele está o coronel Sawa, o violento chefe do Kempeitai, que ameaça invadir a colónia portuguesa na China. Para salvar Macau, o governador conta apenas com o seu engenho - e a ajuda de um punhado de homens e mulheres, incluindo a própria concubina do coronel Sawa, a chinesa Lian Hua. Tudo se complica, no entanto, quando se apaixona por ela.
Amor e guerra no choque de impérios.
A Macau dos juncos e das sampanas, dos casinos e do ópio, do Leal Senado e da Praia Grande, do Fat Siu Lao, do Grémio Militar e do Clube de Macau, do Porto Interior e da Porta do Cerco, dos riquexós, dos contrabandistas chineses e das dançarinas russas, do mahjong e da corrupção, do patois, das canções de Art Carneiro e dos jogos de hóquei na Caixa Escolar.
E dos refugiados, dos bombardeamentos e da fome.
Baseado em acontecimentos verídicos, A Amante do Governador resgata os dias de Macau sob cerco japonês e mostra como Portugal manteve a única bandeira ocidental hasteada no Extremo Oriente durante toda a Segunda Guerra Mundial.
Opinião
Este é o primeiro livro de 2019, lido ainda no final de 2018, sendo também o primeiro livro que consta na lista de livros para oferecer no Natal e o primeiro presente de Natal que ofereci a mim mesma. Afinal, presentes literários tornam-se os melhores e aqueles que não consigo ignorar, ficando a aguardar que alguma alma se lembre de me oferecer. Pelo menos, não todos da minhas imensa e cada vez maior lista de desejos.Depois de ler o primeiro romance de José Rodrigues dos Santos, A Ilha das Trevas, agarrei o seu último e ficou claro a grande distância que existe entre ambos. A sua evolução é óbvia pois, apesar de continuar a incluir uma quantidade absurda de informações e factos nos seus livros, aprendeu a fazê-lo de uma forma mais orgânica e que não nos aborrece de todo. Pelo contrário, agora os seus livros são autênticas aulas sobre os mais variados temas que só aumentam a curiosidade do leitor sobre os assuntos tratados.
Em A Amante do Governador, e tal como previ que mais cedo ou mais tarde aconteceria, ficamos a conhecer a continuação do que nos foi contado na trilogia do Lótus, que tinha conhecido o seu fim com O Reino do Meio. Os personagens carismáticos de tão diferentes voltam a surgir e finalmente compreendemos os elos de ligação entre as quatro histórias que conhecemos de forma isolada e independente.
Deste modo, fica mais perceptível o motivo que me levou a comprar este livro com a maior das pressas e a ansiar pelo momento em que poderia dedicar-me à sua leitura e a descobrir os mistérios que pressenti terem ficado por revelar. Tudo acontece em Macau, local que acaba por unir os seus destinos e onde a ligação com Portugal começa a fazer sentido. Embora possa ser lido de forma isolada, sem ser necessário ler a trilogia para entender o enredo, aconselho que o façam porque, desse modo, temos uma imagem mais completa dos antecedentes dos protagonistas e de tudo o que os influenciou a tornarem-se quem são neste livro.
Aliás, devo dizer que, assim que terminei A Amante do Governador, fiquei com uma vontade imensa de voltar a reler os livros anteriores, sobretudo para reler a voz do narrador desses livros e melhor compreender os comentários que foi fazendo ao longo da trilogia.
A viagem deste livro leva-nos a conhecer a cidade de Macau enquanto colónia portuguesa e apresenta-nos o Império Europeu no Oriente durante a Segunda Guerra Mundial. Conta-nos também como foi possível que Macau tenha permanecido a única colónia europeia que não foi ocupada nessa altura, feito extraordinário dado que se tratava de um porto estratégico e uma porta de entrada para a China.
Este foi um período difícil em todo o mundo, mas a verdade é que conhecemos pouco do que acontecia nas nossas colónias nessa época. Em Macau, a realidade é relatada de forma crua e pode ser penoso para as pessoas mais sensíveis. Estamos a falar de fome, muita fome. De pessoas a comer tudo, algumas bastantes nojentas para quem vive com alimentos no armário e no frigorífico. De gente a morrer de fome nas ruas.
O livro acompanha o ataque japonês a Pearl Harbor, a entrada dos americanos na Guerra, o impacto do ataque atómico às cidades japonesas e o ansiado fim da Segunda Guerra Mundial. Este é um momento da História Mundial que me fascina e que acho de suma importância, principalmente para que não se repitam os mesmos erros de um passado tão recente e que já parece estar esquecido.
Outro elemento que não me parece possível ignorar e não fazer o paralelo com os dias de hoje, são os refugiados que encontraram abrigo em Macau naquele momento de conflito e de tensão. Vinham de toda a parte e levaram à sobrepopulação da colónia portuguesa no Oriente. Ninguém era recusado nesta pequena cidade, que a todos recebia e protegia dos flagelos maiores da guerra. Não deixa de ser irónica esta referência, quando olhamos para uma Europa que se fecha sobre si mesma e constrói muros para impedir os refugiados de entrar.
Confesso que este não é um livro leve e superficial. Toca nos assuntos de forma profunda e, por vezes, demasiado crua, como se, com a leitura, fôssemos transportados para a Macau dos anos 40. Chega a socar-nos no estômago, tão violento é o relato dos acontecimentos históricos. Mas não deixa de ser uma maneira, na forma de ficção, de conhecer melhor um período tão rico e tão conflituoso.
Pela parte que me toca, fica a dúvida se terá sido a despedida definitiva destes personagens tão intensos e apaixonantes. Desta vez, não me parece óbvia a continuação, mas reconheço que existem pontas soltas pelas quais José Rodrigues dos Santos poderá pegar para continuar este relato nos anos que se seguiram.
E tu, já leste este livro? Que opinião tens desta nova obra de José Rodrigues dos Santos? Acreditas que irá ter uma continuação?
"Mas ver os portugueses de Hong Kong empoleirados na proa a quererem abraçar Macau como se enfim se reencontrassem com os pais perdidos tinha o seu quê de comovente. Todos pareciam obedecer a um chamamento dos antepassados, os olhares ansiosos presos àquele pedaço de terra secular, os refrões em português das canções da velha pátria decorados palavra a palavra pelos que não falavam a língua. A angústia pelo futuro forçava-os a agarrarem-se à memória do passado."
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Outros livros de José Rodrigues dos Santos com opinião publicada:
A Ilha das Trevas
Anjo Branco
O Homem de Constantinopla
Um Milionário em Lisboa
A Mão do Diabo
Vaticanum
As Flores de Lótus
O Pavilhão Púrpura
O Reino do Meio
Sinal de Vida
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