Sinopse
Finda a Guerra Civil Americana, a família March prepara o casamento de Meg. Passaram três anos desde que se fechou a cortina sobre Mulherzinhas, as irmãs Meg, Jo, Beth e Amy estão mais crescidas e o pai regressou a casa, tornando-se pastor numa paróquia.
As irmãs March enfrentam agora a vida adulta, trilham os seus próprios caminhos, longe da casa dos pais, e lutam pelos seus sonhos, numa viagem de autodescoberta. Em Boas Esposas, acompanhamos os bons e maus momentos desta etapa de crescimento, os problemas, as provações, as aprendizagens. Meg lida com os desafios da vida de casada, Jo procura vingar como escritora, Beth luta contra a doença, Amy viaja.
Opinião
A minha curiosidade é épica e todos a conhecem, portanto, não será uma surpresa para ninguém que não tenha aguentado muito tempo sem saber qual seria a continuação da história de Louisa May Alcott. Ainda que não me tenha arrebatado nem entusiasmado como gostaria, encontrei algumas personagens interessantes sobre as quais gostaria de saber o destino que lhes iria calhar em sorte. Portanto, quando procurava um Clássico para ler em Janeiro, decidi pegar no Boas Esposas e encontrar todas as respostas que me faltavam.
Posso já adiantar que esta experiência foi muito pior do que a primeira leitura. Em Mulherzinhas as irmãs eram mais novas, mais impulsivas, menos aborrecidas, menos conformadas com o que a sociedade esperava delas. Os temas estavam mais voltados para a formação de carácter do que para podar os ramos que pudessem sair fora dos padrões. O tom moralista de todo o livro, os longos discursos moralizadores claramente tornaram o livro maior do que o primeiro e difícil de engolir. Em certos momentos, foi penoso continuar a leitura e só a minha enorme curiosidade me impeliu a continuar.
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De antemão já adianto que não tenho por hábito avaliar ou julgar os livros, escritos noutras épocas, com os olhos de hoje, com o desejo de encontrar motivos para cancelamentos absurdos e sem sentido. Os padrões morais são diferentes ao longo dos séculos e não podemos exigir que gente antiga tenha uma moral actual. Só que, com esta autora, sinto uma falta de coerência quando tenho em conta o livro anterior, bem como quando pensamos na sua própria história de vida como autora. Uma mulher que ganhava dinheiro, em vida, com a sua obra literária, parece muito pouco complacente com outra vida que não a de esposas dóceis e obedientes para as suas heroínas.
"Todos gostavam imenso de Jo, mas nunca se apaixonavam por ela, embora poucos escapassem sem prestar o tributo de um ou dois suspiros sentimentais ao altar de Amy."
No início do livro percebemos que se passaram alguns anos e que estamos prestes a assistir ao casamento da mais velha, a doce e sonhadora Meg. Aqui temos uma apologia ao casamento e à vida doméstica, com todos os deveres que cabem a uma jovem esposa para providenciar um lar agradável e feliz para o seu amado marido. De qualquer modo, ainda que exagerado esse relato, faz sentido tendo em conta que o sonho desta jovem era casar com o homem pobre por quem se apaixonou, mesmo que para isso tenha de abdicar dos seus sonhos de uma vida mais luxuosa e glamourosa.
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Jo, que deveria ser a melhor personagem, independente, desejosa de viver da sua pena, sem sonhos de amor exagerados, torna-se na mais massacrada. Como se a sua personalidade diferente das outras fosse tolerável e engraçada quando era uma menina jovem, mas se torna-se impossível de se ver numa mulher adulta, ainda que solteira. A quantidade de revezes porque passa ao longo de todo o livro é irritante e parecem servir apenas para lhe mostrar que o seu papel ideal será o de esposa e mãe, como todas as outras. A frágil Beth permanece como o anjo da família e a sua ligação com a irmã mais rebelde é um contraponto que acorda o lado mais doce e cuidador de Jo.
"Podemos não concordar nesse aspecto, pois pertences ao velho grupo e eu ao novo: tu irás mais longe, mas eu divertir-me-ei mais."
Por fim, temos a esperta Amy, que se transformou numa linda mulher, elegante e obstinada a tornar-se numa artista das artes ou do lar, mas sempre a espalhar harmonia e elegância como uma verdadeira senhora da sociedade. E não me posso esquecer do vizinho companheiro, Laurie, que continua os seus estudos, determinado a conquistar a admiração e respeito de Jo. Novos personagens chegam à história, mas nenhum que faça sombra aos que já conhecemos, mas que contribuem para criar novas perspectivas e proporcionar novos pontos de vista para as nossas protagonistas.
Quem costuma ler romances, sabe que nos clássicos encontramos todos os enredos representados, só com mudanças de cenário e circunstância. Por isso, um leitor atento consegue, por vezes, prever para onde segue a narrativa e os interesses amorosos. Aqui também me aconteceu, embora tenha estado em negação por discordar em absoluto com essa reviravolta. Foi nesse momento que o livro me perdeu para sempre, mesmo que tenha continuado a leitura. Não me arrependo de ter lido, mas tenho a certeza que não voltarei a ler. Agora, só me resta dar uma oportunidade à última adaptação para o Cinema para decidir se faço as pazes com esta história ou não.
Já leste Boas Esposas? O que achas deste desfecho? Achas que faz sentido ou concordas comigo? Conta-me tudo nos comentários e vamos falar sobre este livro clássico!