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terça-feira, 26 de novembro de 2024

#Livros - O Homem do Casaco Vermelho, de Julian Barnes

 

Foto da capa do livro 'O Homem do Casaco Vermelho' de Julian Barnes, publicado pela Quetzal. A imagem destaca uma parte do icônico quadro 'Dr. Pozzi at Home', de John Singer Sargent, com ênfase no longo casaco vermelho que captura a atenção, simbolizando tanto a elegância quanto os mistérios que permeiam a narrativa. A combinação da arte clássica e a literatura moderna convida o leitor a mergulhar na intrigante história contada por Barnes.

Sinopse

No verão de 1885, três cavalheiros franceses chegaram a Londres para alguns dias de «compras decorativas e intelectuais». Um era príncipe, outro era conde e o terceiro era um plebeu com apelido italiano que, alguns anos antes, fora retratado numa das extraordinárias telas de John Singer Sargent. Era ele Samuel Pozzi, médico da melhor sociedade, ginecologista pioneiro e livre-pensador - um homem racional, de espírito científico e com uma vida privada conturbada. 

Em fundo, a Belle Époque parisiense, um período de muito glamour e prazer, mas com um lado negro também - de histeria, narcisismo, decadência e violência. 

O Homem do Casaco Vermelho é, assim, em simultâneo, um original e vívido retrato da Belle Époque - e dos seus heróis, vilões, escritores, artistas e pensadores - e de um homem à frente do seu tempo. Um livro cheio de espírito e profundamente documentado, que mostra e defende a frutuosa e duradoura troca de ideias através do Canal da Mancha que fez a grandeza da Europa. 


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Opinião 

Julian Barnes é um dos autores mais proeminentes da literatura contemporânea, conhecida pela sua prosa elegante e perspicaz. Nascido em 1946, na Inglaterra, Barnes construiu uma carreira marcada por uma diversidade de géneros, que vão do romance à crítica literária, passando por ensaios e contos. O seu trabalho frequentemente explora temas como a memória, a identidade e a complexidade das relações humanas. Com uma escrita que combina erudição e acessibilidade, conquistou diversos prémios, incluindo o Booker Prize. No livro O Homem do Casaco Vermelho, encontramos um ensaio sobre uma época que começa com um trio em viagem de Paris para Londres e que acompanhamos num registo que nos apresenta as maiores figuras da sociedade francesa e também da inglesa. Comprei-o na última visita que fiz à Feira do Livro de Lisboa, embora não soubesse bem o que esperar desta leitura, que foi toda uma descoberta. 


Passado entre o final do século XIX e o início do século XX, conta-nos sobre a Belle Époque, um período histórico complexo e que combina conceitos contrastantes que conviviam simultaneamente. A narrativa é rica em elementos do quotidiano, com os cenários que refletem a vida urbana e as interações sociais que moldam os nossos personagens. Esta ambientação torna-se um personagem em si mesmo, detalhado e cativante, que nos transporta para o passado histórico e cultural e que nos leva a refletir sobre a inexorabilidade do tempo. Ao explorar a figura dum homem como Samuel Pozzi, sem ascendência nobre mas com notoriedade e dinheiro, leva-nos a entender o quanto a subjetividade molda a nossa percepção do passado. 


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Por outro lado, a identidade é explorada na tensão entre o eu individual, que temos poucas evidências para analisar, e as influências externas, como o ambiente social e as relações interpessoais. No caso de Pozzi, as suas relações foram com as figuras mais famosas da sua época, com quem conseguiu manter amizades duradouras, mesmo com as personalidades mais distintas e até problemáticas. Era um homem da ciência, um médico inovador e que revolucionou a forma como a ginecologia era encarada, que se rodeava de gente bonita, rica e bem sucedida, nobres falidos mas eruditos, burgueses interessantes e artistas das mais variadas áreas. Assim, O Homem do Casaco Vermelho proporciona uma viagem pela vida e curiosidades de algumas das personalidades mais icónicas desta época, como Oscar Wilde ou Sarah Bernhard, só para dar dois dos exemplos mais conhecidos. 


"A arte sobrevive aos caprichos individuais, ao orgulho familiar, à ortodoxia da sociedade; a arte tem sempre o tempo do lado dela." 


A prosa de Barnes é marcada por uma precisão quase cirúrgica, aliada a uma poética que confere ritmo e intensidade às suas reflexões. Através duma alternância habilidosa entre o passado e o presente, o autor revela gradualmente as camadas de memória que conseguimos captar sobre a vida do seu protagonista, ao mesmo tempo que faz paralelismos com situações ocorridas nos dias de hoje, como sendo frutos colhidos dessa herança criada na Belle Époque. Esta combinação de profundidade emocional e formalidade estilística marca a obra como um estudo da condição humana, sendo também significativas as histórias que escolhemos contar. No caso de Barnes, a figura de Pozzi no famoso quadro que o retrata num longo casaco vermelho serviu de mote e despertou-lhe a curiosidade sobre uma figura e uma época onde a Europa se começou a fragmentar e as diferenças entre os Ingleses e os continentais deixaram de ser apenas sobre posse de território e poder, para passarem a ser conduzidas para preconceitos que, em última instância, culminaram na decisão do Reino Unido sair da União Europeia e voltar a isolar-se na sua ilha. 


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Na obra, a linha do tempo gira em torno da vida de três figuras principais, que servem de mote para explorar tudo e todos os que sabemos que o rodearam, e que refletem bem as nuances da sociedade francesa do século XIX. O já referido Samuel Pozzi, que é retratado como um homem de múltiplas facetas: culto, carismático, bonito e audacioso, navega entre os círculos sociais e intelectuais da sua época com uma facilidade impressionante, desafiando as convenções do seu tempo. Montesquiou, o poeta e esteta, é um dandy que encarna a busca pelo belo e a frivolidade; a sua aparência extravagante e as suas opiniões incisivas sobre a arte e a vida revelam um espírito crítico e acutilante que foi acumulando inimizades no caminho sem qualquer pejo. Edmond de Polignac, por sua vez, é um aristocrata que, apesar da sua posição privilegiada, lida com a decadência que assola os príncipes deste tempo, onde o dinheiro é cada vez mais escasso e o seu poder proporcionalmente reduzido, a menos que aceitem unir-se aos novos ricos, que são agora os donos do dinheiro. 


"Lembra-nos que o aprazível estudo-de-uma-vida que estamos a ler, apesar de todos os pormenores, dimensão e notas de pé de página que apresente, apesar de todas as certezas factuais e hipóteses seguras que contenha, pode apenas ser uma versão pública de uma vida pública e uma versão parcial de uma vida privada." 


Inegável é a elegância subtil e a profundidade que marcam a prosa de Julian Barnes. O autor tece imagens vívidas que evocam os lugares, as obras e as personagens que descreve. Esta abordagem, além de enriquecer a narrativa, convida o leitor a uma contemplação mais profunda sobre a época que explora e as consequências deste modo de vida para a sociedade europeia. Ao longo desta leitura, fui-me deliciando com esta época glamourosa e, ao mesmo tempo, marcada pelo decadentismo, numa Paris repleta de figuras internacionais famosas e talentosas. Reconheci muitos nomes, outros foram uma total descoberta, muitas curiosidades foram apresentadas sobre estas figuras e a forma como se relacionavam entre si, com amizades momentâneas, ódios de estimação, relações de inveja pura e até amores clandestinos ou nem tanto. 


No fundo, é uma tentativa de biografia de figuras públicas, de quem não se sabe tudo, sobretudo no que toca à vida privada e familiar, de uma época controversa que marcou a política e a cultura da Europa, com a perfeita consciência das suas limitações factuais, pois é preciso entender que há coisas que nunca vão sair da intimidade das pessoas se elas não quiserem, se elas não partilharem de alguma forma. É uma obra que transcende o mero entretenimento literário, tornando-se num documento histórico que permite conhecer uma época, com os seus costumes próprios e uma cultura efervescente. Talvez não fosse uma leitura que à primeira vista me interessasse, mas revelou-se muito mais interessante e instigante do que estava à espera depois de tomar conhecimento sobre o que tratava e estou muito curiosa para conhecer melhor o trabalho de Julian Barnes num futuro próximo. Agora, quero muito conhecer a tua opinião! Já leste o livro? Conhecias o trabalho literário de Julian Barnes? Gostas de ensaios? Qual a personalidade que mais te cativou? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

#Filmes - O Pai

 

Em uma cena impactante do filme 'O Pai', Anthony Hopkins, no papel de um pai idoso, está sentado pensativamente em uma poltrona, enquanto sua filha, interpretada por Olivia Colman, observa-o com um olhar de preocupação e amor. A expressão em seus rostos transmite a profundidade emocional da relação deles, refletindo os desafios da demência e a busca desesperada por conexão e compreensão.

Sinopse

Sozinho no seu apartamento em Londres, Anthony foi sempre um homem independente. Agora com 81 anos, mostra uma grande resistência em aceitar a proposta de Anne, a filha, para que tenha alguém em casa para cuidar de si. Para o velho senhor, consentir é assumir uma incapacidade que considera não ter. Mas Anne, que em breve se mudará para Paris, precisa de saber que o pai não ficará entregue a si mesmo. Nesse processo, Anthony sente-se de tal modo pressionado que começa a duvidar de si, de Anne e da própria concepção da realidade. 

Com assinatura do realizador e dramaturgo Florian Zeller, um drama sobre envelhecimento, sanidade e perda de autonomia, que adapta a peça homónima da sua autoria. 

Na 78.ª edição dos Globos de Ouro, este filme foi nomeado nas categorias melhor actor (Anthony Hopkins), actriz secundária (Olivia Colman), filme dramático e argumento; nos BAFTA, teve seis nomeações, acabando por ganhar prémios de melhor actor e argumento adaptado. Com seis nomeações para Óscares, recebeu o de melhor actor e argumento adaptado. 


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Opinião 

O Pai é um aclamado drama psicológico, lançado em 2020, e dirigido pelo reconhecido Florian Zeller. O filme traz Anthony Hopkins numa actuação magistral que lhe rendeu diversos prémios, incluindo o Oscar de Melhor Actor. O elenco principal conta ainda com Olivia Colman, Mark Gatiss e Imogen Poots, que juntos trazem à vida uma narrativa profunda e sensível sobre a experiência da demência e as suas implicações para a vida das pessoas afetadas e dos seus familiares. Explorando a experiência dum homem idoso, que enfrenta os desafios da demência, a narrativa mergulha na mente de Anthony, um homem inteligente e teimoso, cuja realidade começa a desvanecer-se à medida que a sua memória se deteriora. 


O filme retrata a angustiante confusão e a solidão que acompanham esta condição, além de oferecer uma visão intimista do impacto que a demência tem nas relações familiares, especialmente entre Anthony e a sua filha, Anne. Numa época em que o envelhecimento da população e questões relacionadas à demência e a doenças neurodegenerativas estão cada vez mais presentes na sociedade, o filme provoca uma profunda reflexão sobre os desafios do cuidado, a fragilidade da memória e a relação entre pais e filhos. A narrativa, estruturada de forma a colocar o espectador directamente na mente confusa do protagonista, gera um impacto emocional significativo, permitindo que o público vivencie a desorientação e a tristeza que acompanham a perda gradual da autonomia e da identidade. Assim, humaniza e dá voz a uma realidade que muitos preferem ignorar, promovendo empatia e compreensão numa questão que afeta inúmeras famílias. 


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A trama desenrola-se num mundo nebuloso e desconcertante, onde a percepção da realidade do protagonista se fragmenta. Sabemos que estamos em Londres, mas à medida que ele tenta entender as mudanças no seu ambiente e nas pessoas ao seu redor, o espectador é levado a experimentar a sua confusão e angústia. Anthony é um homem orgulhoso e teimoso, que luta para manter a sua independência no meio do caos da sua deterioração mental, ao passo que a sua filha, Anne, vivida por Olivia Colman, é a única âncora emocional na sua vida, embora também esteja claramente sobrecarregada pelo peso da responsabilidade e pela dor de ver o seu pai se perder na sua própria mente. A dinâmica entre Anthony e Anne é central para a narrativa, revelando não só a fragilidade da condição humana, mas também o profundo amor e o desgaste que a doença traz às relações familiares. 


Na cena emocionante do filme 'O Pai', Anthony Hopkins, que interpreta Anthony, aparece ao lado de sua filha Anne, interpretada por Olivia Colman, e da cuidadora Laura, em um ambiente acolhedor que reflete a luta contra o avanço da demência. A expressão de preocupação e afeto no rosto de Anne contrasta com a confusão de Anthony, capturando a complexidade das relações familiares e o impacto da doença sobre a vida cotidiana. A sala, com seus móveis clássicos, é um retrato íntimo do lar, simbolizando tanto a segurança quanto os desafios enfrentados por aqueles que lidam com a perda da memória.

Tudo se desenrola num ambiente intimista e claustrofóbico, predominantemente situado no apartamento de Anthony. Este espaço torna-se num personagem por si só, refletindo a confusão interna e a fragilidade da mente do idoso. A decoração é acolhedora, mas ao mesmo tempo, descompassada, com objectos e móveis que parecem mudar de lugar, simbolizando a instabilidade da percepção de Anthony. À medida que a narrativa avança, o cenário transcende o simples espaço físico, tornando-se num labirinto emocional que espelha as experiências de perda, solidão e a procura desesperada por compreensão e conexão. 


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Quanto às atuações, Hopkins consegue captar de maneira impressionante a fragilidade e a confusão que acompanham o avanço da demência, criando uma representação visceral da perda progressiva da realidade e da identidade. A sua habilidade em alternar entre momentos de lucidez e desorientação é angustiante, oferecendo ao espectador um vislumbre autêntico da experiência de viver com esta condição. Por seu lado, Olivia Colman, apresenta a complexidade e a dor desta dinâmica familiar na sua interpretação. O conflito interno da personagem é palpável, revelando uma filha que, apesar do seu amor incondicional, se vê sufocada pela responsabilidade e pelo temor de perder o pai. A direção de Florian Zeller cria uma experiência cinematográfica profundamente imersiva e perturbadora. A escolha de ângulos de câmera, a manipulação do espaço e os cortes temporais imprecisos geram uma sensação de desorientação que mimetiza a deterioração da memória. 



Estamos perante um filme profundamente tocante que oferece uma representação sem precedentes da experiência destruidora da demência. As actuações são duma intensidade e veracidade impressionantes, a narrativa mergulha o espectador na mente do protagonista, permitindo uma empatia rara e intenso pelos desafios enfrentados por aqueles que vivem com a doença. O Pai é muito mais que uma simples experiência cinematográfica, sendo um repto à empatia e à compreensão, tornando-se especialmente relevante numa sociedade que, muitas vezes, luta para lidar com questões relacionadas à saúde mental e ao cuidado dos idosos. É um testemunho poderoso da humanidade no meio do sofrimento e uma obra que provavelmente ficará gravada na memória afetiva de quem a assiste. 


Pela minha parte, só posso recomendar O Pai a todos os que procuram uma experiência cinematográfica profunda e impactante, especialmente para aqueles que têm especial interessa em temas relacionados com a demência, o envelhecimento e as complexidades das relações familiares na terceira idade. Além disso, o filme pode ser uma oportunidade para que familiares e cuidadores compreendam melhor os desafios do envelhecimento, promovendo empatia e diálogo sobre a importância do cuidado e da compreensão destas pessoas. Agora, quero te convidar a partilhares as tuas impressões sobre este filme! Viste O Pai? O que sentiste com a interpretação magistral de Anthony Hopkins? Qual o momento que mais te marcou? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 19 de novembro de 2024

#Livros - Emma, de Jane Austen

 

A capa da edição de "Emma" publicada pela Relógio d'Água apresenta uma delicada gravura de uma mulher sentada em uma poltrona, imersa em um ambiente que exala charme e sofisticação. Vestida com um elegante vestido branco adornado com detalhes em amarelo, a figura evoca a graça e a independência da protagonista da história. O toque sutil das cores e o design clássico refletem o estilo atemporal de Jane Austen, convidando o leitor a mergulhar nas intrigas e sutilezas da sociedade britânica do século XIX. A imagem é um convite visual à jornada de autodescoberta e ao romance que permeia a narrativa.

Sinopse

Em Highburty, Inglaterra, no início do século XIX, conhecemos a história de Emma Woodhouse, uma jovem inteligente cuja convicção nas suas capacidades de casamenteira leva a uma série de desastres amorosos. Embora seja convencida de que nunca se irá casar, Emma acredita que é uma excelente promotora de casamentos entre os seus conhecidos. Ela efetivamente orquestrou o recente casamento da sua antiga governanta, Miss Taylor, e do viúvo Mr. Weston. 

Emma está determinada a gerar outro casamento após um tal sucesso: toma Harriet Smith como sua protegida e decide de imediato encontrar-lhe um marido. Procura transformar Harriet numa dama, melhorar as suas escolhas, particularmente no que toca às suas afeições amorosas. Ela persuade Harriet a deixar Robert Martin, o jovem agricultor que gosta dela, e a perseguir Mr. Elton, o clérigo da cidade. 

Austen constrói um universo social cheio de erros amorosos, descuidos sociais, e vários exemplos de costumes sociais ridículos. Ao fazê-lo, destaca como a sociedade gera expectativas irrealistas - mas também sublinha de que forma as pessoas se apoiam em convenções sociais para conseguirem sobreviver. 


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Opinião 

Emma, publicado em 1815, é um dos romances mais célebres da autora inglesa Jane Austen. A obra passa-se na pequena cidade de Highbury e gira em torno da vida de Emma Woodhouse, uma jovem rica e determinada, conhecida pela sua beleza e inteligência. Na sua busca por se tornar uma "casamenteira", Emma interfere nos relacionamentos dos outros, acreditando que pode guiar os destinos amorosos dos seus amigos, especialmente da ingénua Harriet Smith. No entanto, a sua confiança excessiva na sua própria habilidade para ler corações e avaliar compatibilidades leva-a a uma série de mal-entendidos e situações cómicas. Talvez seja um dos livros mais populares da autora, e que tinha deixado para trás na senda de ler toda a sua obra, precisamente por acreditar que não seria o meu favorito, o que se comprovou com a leitura. 


Jane Austen, nascida em 1775 na Inglaterra, é uma das autoras mais famosas da literatura clássica, conhecida pela sua habilidade para explorar as nuances das relações sociais e a condição feminina numa sociedade rigidamente estruturada. As suas obras oferecem sempre uma crítica mordaz à sociedade da sua época, e apresentam, de forma consistente, personagens femininas complexas e memoráveis que desafiam os papéis tradicionais que se espera delas. Austen é admirada pelo seu estilo elegante, ironia pungente e profunda compreensão da psicologia humana, influenciando gerações de escritores e leitores. No que me toca, tem sido uma viagem deliciosa esta pela obra desta autora e só lamento que esteja prestes a chegar ao fim. 


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A protagonista, Emma Woodhouse, é uma jovem rica, inteligente, determinada, que se destaca pela sua personalidade autoconfiante e pelas suas opiniões fortes sobre o mundo ao seu redor. Ambiciosa na sua busca por fazer o bem, Emma vê-se como uma mão amiga na vida dos outros, especialmente na tentativa de orquestrar relacionamentos amorosos entre os seus conhecidos. Para quem gosta tanto de promover estes casamentos nas suas relações, para si afirma que prefere ficar solteira, uma vez que é uma rica herdeira que não precisa de marido para ocupar um lugar na sociedade e viver confortavelmente. Emma é marcada por um espírito independente, uma habilidade de manipulação social que roça a arrogância e a soberba, mas que culmina na sua capacidade de reconhecer as suas falhas e no quanto o desejo de ajudar pode conduzir os amigos por caminhos infelizes. 


"Os reais males da situação de Emma eram, na verdade, a possibilidade de levar em demasia a sua avante e certa propensão para pensar um pouco bem de mais de si própria; tais inconvenientes ameaçavam estragar algumas das suas alegrias." 


Neste livro, os personagens secundários desempenham papéis cruciais que complementam e contrastam com a nossa irritante protagonista. Mr. Knightley, amigo leal e crítico de Emma, serve como a sua consciência moral, desafiando as suas falhas e incentivando o seu crescimento pessoal, porque acredita que ela pode ser bem melhor do que se mostra ser no início do livro. Harriet Smith, por outro lado, representa a inocência e a vulnerabilidade, com a sua dependência de Emma, influenciada pelas opiniões da amiga rica que a introduz numa sociedade cujo acesso sempre lhe esteve vedado e que, no fundo, nunca teve real interesse para pertencer, a não ser pela sua nova amizade. Já Mr. Elton, com o seu orgulho e ambição, é um exemplo de como o status social podes distorcer a percepção do carácter, revelando a natureza superficial das classes sociais da época. 


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No romance, a dinâmica entre os personagens é crucial para o desenvolvimento da trama e para a exploração dos temas centrais da obra. Assim, a interação entre Emma e Mr. Knightley, o único que a desafia e que melhor a conhece, introduz uma tensão que leva ao seu crescimento pessoal. A relação entre Emma e Harriet, a sua amiga de classe inferior, reflete a superficialidade das distinções sociais da época e o quanto esta poderia ter sido a grande vítima das acções e dos mal-entendidos de Emma. Aqui, Jane Austen mergulha nas complexidades do amor e dos relacionamentos, contrapondo o amor romântico idealizado à amizade genuína e ao amor familiar. Além de retratar o romantismo da época, também expõe falhas e verdades sobre os laços que unem as pessoas, mostrando que o amor verdadeiro é frequentemente encontrado nas relações mais simples e autênticas. 


"A natureza humana é tão benevolente para com aqueles que se encontram em situações interessantes, que, acerca de qualquer jovem que case ou morra, é certo, ouvir sempre as melhores referências." 


Como já referi, este foi o livro que menos me agarrou da autora até ao momento e a culpa é claramente desta protagonista tão irritante, manipuladora e até arrogante, que acredita que pode moldar o destino daqueles que a rodeiam. É verdade que, à medida que a narrativa avança, começa a entender o quanto errou e a enfrentar as consequências das suas acções e das suas percepções distorcidas sobre amor e amizade. Ganha alguma redenção e todos conseguem o seu final feliz, mas Emma não ganhou mesmo o meu coração e permanece uma mulher desocupada e prepotente na minha opinião. No entanto, apesar do meu desagrado com Emma, é inegável que voltamos a encontrar a prosa refinada e incisiva de Jane Austen, que é sempre um deleite. O uso de diálogos espirituosos e observações astutas tornem a leitura ainda mais envolvente e agradável. Sem esquecer o humor refinado e a ironia afiada, temos os ingredientes certos para oferecer uma experiência de leitura espectacular. 


A narrativa acaba por dar destaque ao crescimento pessoal de Emma, promovendo uma crítica social às convenções da época, como é apanágio da autora. Em suma, Emma combina humor, romance e uma profunda exploração do carácter humano ou da falta dele. Sabemos o medo que muita gente tem dos clássicos, mas Jane Austen pode muito bem ser uma porta de entrada acessível e cativante, para desmistificar esse medo irracional. Obra rica em nuances que, ao longo das suas páginas, desafia os leitores a refletirem sobre temas como a classe social, o amor e a autodescoberta, que precisa ser lida e descoberta como parte do trabalho brilhante que Jane Austen nos deixou. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste Emma? O que achaste desta protagonista tão diferente? O final surpreendeu-te? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

#Places - Sabores da Margem

 

Espetadas suculentas de carne grelhadas na brasa, apresentadas em um prato rústico, cercadas por ervas frescas e acompanhadas de um molho especial, ressaltando a essência do restaurante 'Sabores da Margem', localizado em Atalaia.

O restaurante Sabores da Margem situa-se na zona da Atalaia, bem perto do Montijo, numa zona de fácil acesso e que oferece um bom parque para estacionamento à frente do espaço. Destaca-se pela sua proposta de oferecer uma experiência gastronómica autêntica e acolhedora, baseada nas cozinhas portuguesa, angolana e brasileira. Além do ambiente cuidadosamente decorado, também se compromete em proporcionar um serviço atencioso, tornando cada visita numa ocasião especial, ideal para famílias, grupos de amigos ou casais que desejam desfrutar duma bela refeição. 


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Antes da minha visita ao restaurante, a expectativa era bastante alta. Conhecia bem o trabalho duma das donas deste novo espaço e foi por conhecê-la que decidimos ir descobrir o seu novo projecto profissional. A localização, perto do nosso local de trabalho, também foi um factor para ser o eleito para um jantar de colegas de trabalho conviverem e passarem um bom bocado, ao mesmo tempo que saboreavam pratos saborosos e de qualidade elevada. Infelizmente, fomos durante a semana, por isso não pudemos desfrutar da música ao vivo que costuma ser oferecida pelo espaço nos fins de semana. Terá de ficar para uma próxima visita essa experiência. 


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A decoração do espaço é uma mistura entre modernidade e rusticidade, com elementos em madeira clara, que criam um ambiente convidativo e descontraído. A iluminação suave proporciona um ambiente intimista, ideal para jantares românticos ou encontros com amigos. Ao chegar, fomos calorosamente recebidos pela equipa, que logo demonstrou simpatia e profissionalismo desde o primeiro momento. Felizmente, fizemos reserva, porque rapidamente a sala encheu depois de termos chegado e de estarmos acomodados na nossa mesa. Nem todos chegaram ao mesmo tempo, portanto demoramos a fazer o nosso pedido de comida, ficando pela bebida para acompanhar o início da conversa dos que chegaram primeiro. 


Imagem em destaque com duas fotos: à esquerda, um jarro de sangria de maracujá colorido e refrescante, decorado com fatias de frutas frescas que emanam um aroma tropical. À direita, vista da sala do restaurante "Sabores da Margem", mostrando mesas elegantemente dispostas e ao fundo o logotipo do restaurante, que adiciona um toque acolhedor ao ambiente.

O Sabores da Margem oferece um menu diversificado que reflete a riqueza cultural das gastronomias que se propõe explorar. Os pratos principais incluem desde opções de peixes grelhados, até carnes suculentas que prometem agradar todos os paladares. Entre as especialidade da casa encontra-se o o Bacalhau à Brás, a Grelhada Mista, o Choco Frito ou o Bacalhau à Lagareiro. A apresentação dos pratos, que podes ver com os teus próprios olhos no seu Instagram, é incrível e deixa-nos logo com água na boca e com vontade de provar tudo. Pela nossa parte, optámos pela Tábua que trazia vários espetos com diferentes carnes e que permitia partilhar cada uma com três pessoas. Encomendámos duas, com a ideia de, caso alguém ficasse com fome, pedir depois mais alguma coisa para complementar. O primeiro ponto negativo foi o tempo de espera que consideramos muito acima do razoável. O segundo foi que a carne de boi tinha acabado, portanto, não a conseguimos provar nas nossas tábuas. Por fim, mesmo com a demora em chegar à mesa, a carne de frango chegou à mesa mal cozinhado em certos pontos. 


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Ainda assim, a carne de porco, os corações e as salsichas estavam muito saborosas e, por causa da rutura da carne, ainda tivemos a oportunidade de experimentar o queijo coalho grelhado, que me deixou rendida ao seu sabor espectacular e com muita vontade de voltar a comer essa iguaria. Como acompanhamento das tábuas, veio para a mesa batata frita, arroz, feijão e farofa, que foi sendo reabastecido conforme as nossas necessidades ao longo da refeição. Como referi, antes da comida pedimos logo a bebida após a chegada da primeira parte do grupo. Escolhemos a Sangria de Maracujá, que era tão, mas tão boa, que nos acompanhou em toda a refeição. Longe daquelas sangrias sem graça que são servidas na maior parte dos restaurantes acessíveis, esta tinha uma combinação de sabores extraordinária, com o álcool na medida certa, doce sem ser enjoativa, que deixava um sabor peculiar a cada gole. Era viciante e é o que mais recomendo se fores visitar este espaço. Precisas mesmo experimentar e deliciar-te com esta Sangria cinco estrelas. 


Imagem que apresenta um jarro de sangria de maracujá vibrante ao lado de uma tábua recheada com espetos de diversas carnes grelhadas, acompanhados por porções de arroz, feijão e farofa, destacando a variedade e a riqueza dos sabores oferecidos pelo restaurante 'Sabores da Margem', na Atalaia.

Outro pormenor delicioso é o bilhete que acompanha cada jarro que vem para a mesa e que dá muita vontade de fotografar e partilhar nas redes sociais, além de contribuir para muitas risadas e divertimento entre amigos que só se querem divertir. Já o serviço continuou a destacar-se pela simpatia e atenção que sempre nos foi dispensada ao longo de toda a refeição, demonstrando uma constante preocupação com o nosso bem-estar e procurando contribuir positivamente para a qualidade da experiência. Foi este cuidado e o genuíno interesse de toda a equipa que muito contribuiu para tornar esta experiência ainda mais memorável. Quanto aos preços praticados, considero que apresentam uma boa relação entre a qualidade e a quantidade dos pratos oferecidos. Os menus de almoço que são disponibilizados durante a semana são ainda mais convidativos e acessíveis, podendo muito bem ser uma excelente opção para quem precisa de comer fora na região. 


Em suma, aqui vais encontrar pratos com uma boa qualidade, elaborados com ingredientes frescos, um atendimento atencioso e muito acolhedor, onde cada detalhe vai contribuir para que a tua refeição seja memorável. Portanto, se procuras um restaurante novo para viveres uma experiência gastronómica bem especial, tens aqui no Sabores da Margem o lugar certo. Perfeito para famílias, casais, grupos de amigos e até jantares de Natal, o ambiente descontraído e acolhedor convida a longas refeições acompanhadas de boa conversa. Também os apreciadores da culinária portuguesa, angolana e brasileira vão aqui encontrar pratos do agrado dos seus paladares. Pela minha parte, quero muito voltar para experimentar outros pratos e sabores, e poder ver a animação que proporcionam com a música ao vivo e poder esquecer em definitivo o que correu menos bem nesta primeira experiência. Agora, quero saber o que tens a dizer sobre este restaurante! Já conheces este novo espaço? O que achaste dos pratos, da decoração e do atendimento? Qual a tua recomendação para uma próxima visita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

#Livros - Rainhas de Portugal, de Francisco da Fonseca Benevides

 

Capa do livro 'Rainhas de Portugal' de Francisco da Fonseca Benevides, publicando pela Cultura Editora. A imagem mostra o tronco de uma mulher vestindo um lindo vestido antigo de cor clara, adornado com colares de pérolas, evocando a elegância e a riqueza da corte portuguesa. O fundo da capa é sóbrio, destacando a figura feminina que representa a temática central do livro sobre a história das rainhas de Portugal.

Sinopse

A verdadeira história das mulheres que governaram Portugal

Descubra quem foram as mulheres que estiveram na base da edificação do nosso país. Conheça os seus amores e as suas desilusões. Os casamentos, as lutas pelo poder, as maquinações e as histórias curiosas de cada época. Conheça os mais de trinta reis e as mais de quarenta rainhas que governaram Portugal desde a fundação da monarquia até à implantação da república. 

Rainhas de Portugal é um livro fundamental para se conhecer melhor a nossa História. 


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Opinião 

Francisco da Fonseca Benevides foi um destacado historiador e escritor português, reconhecido pelas suas contribuições significativas à Literatura, ao conhecimento da História de Portugal, além de outras áreas científicas. A proposta deste Rainhas de Portugal seria apresentar a perspectiva das figuras femininas pouco exploradas na historiografia tradicional, revelando a influência destas monarcas na política, na cultura e na sociedade portuguesa ao longo dos séculos. São figuras frequentemente relegadas para segundo plano nos registros históricos, mas que desempenharam papéis cruciais na manutenção da estabilidade do reino, nas alianças dinásticas e nas mudanças sociais e culturais que moldaram o país. 


A valorização das mulheres na História enriquece muito o nosso entendimento do passado e ainda pode inspirar novas gerações a reconhecerem e celebrarem a contribuição das mulheres em todas as esferas da sociedade. Confesso que desconhecia totalmente este livro, que foi escrito no século XIX, e só o descobri porque encontrei um exemplar perdido nas caixas das oportunidades da Cultura Editora, na Feira do Livro de Lisboa, e não lhe resisti. O autor apresenta um relato sobre as rainhas, desde as figuras mais icónicas até àquelas menos lembradas, terminando na esposa de D. Luís, o rei que se encontrava no trono na altura em que o livro foi publicado, o que significa que fica em falta a última rainha, D. Amélia. Baseado numa pesquisa histórica, não deixa, ainda assim, de ser datado, revelando uma forma de interpretar o papel das mulheres com um viés que rasa o machismo em determinados momentos, e que as coloca, na grande maioria, como figuras acessórias. 


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Ainda assim, conseguimos encontrar feitos políticos e ainda as influências culturais e sociais destas mulheres, revelando as suas lutas, conquistas e o impacto que tiveram na formação da identidade portuguesa. De referir que nem todas as mulheres retratadas no livro ocuparam, de facto, o trono português. Foram colocadas também as esposas de reis que faleceram antes de poderem alcançar o trono ou que só foram casar depois do trono português já não pertencer ao seu marido. No caso das primeiras rainhas, compreendo que existe pouca informação, mas à medida que os séculos vão passando, percebemos que muitas vezes parece que a existência duma rainha serve como desculpa para falar dos feitos e obras do rei com quem casou, sendo a mulher apenas uma sombra misteriosa que, por vezes, serviu mesmo para assegurar a sucessão do trono e pouco mais. 


"Em posição bem crítica ficou a bela viúva do conde D. Henrique, faltando-lhe a rija e valente espada do seu marido, na difícil situação em que se encontrava o governo do país; felizmente para Portugal, não era só a beleza física que adornava a rainha D. Teresa; a filha de Ximena Nunes escondia fina astúcia e hábil diplomacia sob uma formosura invulgar." 


O autor aborda temas como a luta pelo poder num contexto predominantemente masculino, a influência das rainhas nas decisões dinásticas e nas alianças internacionais. Entre as principais figuras apresentadas, destaco a rainha D. Teresa, a primeira a exercer influência política significativa e que primeiro se declarou rainha deste território, uma rainha de direito próprio, como herdeira do seu pai, de quem recebeu o governo do então Condado Portucalense. Em Portugal, nunca existiu a lei sálica, portanto, as mulheres nunca foram impedidas de herdar o trono. No entanto, apenas tivemos duas rainhas reinantes. D. Maria I foi a primeira a governar o país por direito próprio, mas que acabou relegada para segundo plano pelos problemas de saúde. Já D. Maria II, por seu lado, agarrou o governo nas mãos sem medos ou pudores, e não se esquivou a participar na vida pública, num momento em que se estreava o modelo constitucional no nosso país. 


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No livro, Benevides adopta um estilo de escrita baseado no rigor histórico, com muitas referências a fontes primárias e secundárias e documentos que servem de base para a maioria das conclusões que são partilhadas. Sempre que existe controvérsia, são partilhadas as várias teorias dos historiadores, embora indique aquela com a qual se identifica e considera a correcta. Utiliza uma prosa clara e acessível, ainda que própria do século XIX, o que significa que não é utilizada uma linguagem ou pensamento moderno, como o que estamos habituados ou até à espera se, como eu, não souberes de antemão da data de publicação original da obra. São intercalados dados factuais com algumas curiosidades que humanizam estas personagens históricas, ao mesmo tempo que tomamos consciência que existem bastantes escândalos e casos inusitados na História da Monarquia portuguesa. Algo que me interessou foi a forma como contextualiza as épocas em que cada rainha viveu, em termos sociais, políticos e culturais, algo que influencia as suas decisões e torna mais fácil de entender os acontecimentos. 


"Quanto aos casamentos, que tão repetidamente se fizeram entre os príncipes portugueses e castelhanos, não realizaram as venturas, a glória e o poder que, por vezes, se esperava deles, e, frequentemente, em vez de cimentarem a aliança e a paz entre os povos, produziram, ou não puderam impedir, discórdias e guerras, algumas das quais bem desastrosas." 


Com uma estrutura bem organizada, dividida em capítulos, cada um dedicado a uma rainha específica, sempre respeitando a ordem cronológica. Tendo em consideração a época em que foi publicado pela primeira vez, Rainhas de Portugal deu uma contribuição significativa para a compreensão da História de Portugal, procurando destacar o papel que as mulheres desempenharam na formação política e social do país. Quanto ao livro físico e as suas características, tenho de referir que alguns aspectos interferiram com a qualidade e fluidez da leitura. Apesar do papel ser bem diagramado e com um tom bem confortável, o mesmo não se pode dizer do tamanho da letra nem da mancha que provocou cansaço quando tentava ler mais do que um capítulo por dia, agravado quando os capítulos começaram a ficar maiores nas rainhas mais recentes. 


Em suma, encontramos uma análise rica da vida das rainhas, dos factos e da sua influência no seu tempo, embora o foco seja desviado frequentemente para os seus maridos e os seus feitos ou erros de governação. Contudo, o relato é cuidadoso e bem documentado, além de ter o mérito de reunir todas estas mulheres, mesmo as mais obscuras e tantas vezes esquecidas. Apesar de não ter sido uma leitura extraordinária, acho que pode agradar aos que se interessam pela História de Portugal e, especificamente, pelo papel das rainhas na evolução do país. Este livro pode muito bem ser um ponto de partida para ter um conhecimento geral sobre estas mulheres, para depois seguires para as biografias das rainhas que mais te interessaram. Agora, quero saber a tua opinião! Já conhecias este livro? O que achaste da abordagem sobre as rainhas? Qual a que mais te interessa? Alguma cuja trajetória te tenha surpreendido? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

#Documentário - Elvis & Priscilla: Conditional Love

 

Imagem romântica em tons de roxo do icônico casamento de Elvis Presley e Priscilla Beaulieu, capturando o amor e a felicidade do casal em um momento especial. Seus olhares entrelaçados refletem a intensidade de sua conexão e o início de uma história de amor marcada por glamour e desafios.

Sinopse

Elvis e Priscilla são um dos casais de celebridades mais famosos de todos os tempos. Mas a história que está por trás da fachada glamorosa é mais tóxica do que parece à primeira vista. 


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Opinião 

O documentário Elvis & Priscilla: Condicional Love pretende oferecer uma nova perspectiva sobre a icónica relação entre Elvis Presley e Priscilla Beaulieu, explorando não só os aspectos glamourosos da vida do Rei do Rock, mas também as complexidades emocionais e os desafios que marcaram a sua união. Através duma rica coleta de imagens de arquivo, entrevistas e relatos pessoais, revela como o amor deles foi moldado por fatores sociais e culturais da época, além de tensões decorrentes da fama e do crescente distanciamento. 


Elvis Presley emergiu na década de 1950 como um ícone revolucionário da música, unindo a influência do blues, country e gospel para criar um som que transformou a cultura pop. O seu carisma no palco e as suas inovações musicais tornaram-no numa estrela mundial e ainda no símbolo duma geração sedenta por novidade e liberdade de expressão. Priscilla Presley, por sua vez, entrou na vida de Elvis quando tinha apenas 14 anos, após conhecer o cantor na base aérea onde ele estava estacionado. A sua relação, marcada por amor, controvérsia e complexidade, tornou-se num dos romances mais emblemáticos do século XX. E é essa polémica relação entre Elvis e Priscilla, desde a adolescência até aos desdobramentos do seu casamento e posterior separação, que é explorada neste documentário. 


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À medida que o documentário avança, ele examina as pressões da fama, o impacto da indústria da música e as expectativas sociais da época, além de aprofundar a transformação de Priscilla, que passou de jovem apaixonada a mulher que procura a sua própria identidade. São destacados temas fundamentais como o amor, a fama e os conflitos. Através de relatos íntimos e imagens de arquivo, a obra revela-nos como amor entre o icónico cantor e a sua jovem esposa foi moldado não só pela paixão, mas também pela pressão da fama, que criou um ambiente de insegurança e ciúmes. O documentário aborda, ainda, os constantes conflitos que surgiram devido ao estilo de vida extravagante de Elvis e as expectativas sociais da época, questionando a natureza do amor que se desenvolveu entre o casal com o passar dos anos. 


Uma fotografia em preto e branco do icônico casal Elvis Presley e Priscilla Presley, capturada em um momento íntimo, onde eles estão abraçando ternamente sua filha recém-nascida. O contraste suave das sombras e luzes destaca a expressão de amor e proteção no rosto de Elvis, enquanto Priscilla demonstra um olhar de carinho e tranquilidade. Este retrato é um testemunho da sua vida familiar e da conexão profunda entre os três, simbolizando o lado mais pessoal da fama e da história do rei do rock.

No documentário, Elvis é retratado como uma figura bem complexa, marcada pela sua genialidade artística e uma personalidade susceptível a influências dos que o rodeiam, que nem sempre têm o seu melhor interesse em consideração. No fundo, era um homem vulnerável, que lutava para equilibrar a intensa pressão da fama com a sua vida pessoal, nunca conseguindo voltar a ter algo parecido com uma vida normal e banal. A sua magnética presença de palco contrasta com momentos de insegurança e solidão, revelando um Elvis que, apesar da sua imensa popularidade, muitas vezes se sentia aprisionado na sua própria imagem, obrigado a enquadrar-se nas expectativas de todo um país. Por outro lado, Priscilla emerge como uma figura inocente, cuja evolução reflete bem os altos e baixos do seu relacionamento com Elvis. Desde o início como jovem adolescente fascinada pela estrela do rock, Priscilla vê-se dividida entre as expectativas impostas pelo mundo da fama e as suas próprias aspirações. Ao longo do documentário, vemos o seu caminho repleto de desafios e a sua luta inglória para resgatar o marido da dependência química que o tornava apenas apto para os palcos, deixando-o prostrado o resto do tempo. 


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Temos aqui uma produção cuidadosa que apresenta diferentes perspectivas, que permite que o público entenda não só a idolatria em torno de Elvis, mas também os desafios e as contradições do relacionamento do casal, com problemas transversais a todos os casais, mas inflacionados pelo peso da fama e da exposição pública. Como já referi, é utilizada uma poderosa combinação de arquivos da época e entrevistas reveladoras para explorar esta complexa relação amorosa. Destaca-se ainda pelo seu estilo visual marcante e uma sonoridade envolvente, que juntos criam uma atmosfera nostálgica e íntima, que ainda evoca a estética dos anos 60, e nos transporta para o tempo em que a Elvismania estava no auge, culminando nos anos decadentes, mas que ainda moviam multidões e resultava em muito dinheiro, dinheiro esse que era desejado por todos os parasitas que vivam à custa do artista e que pouco faziam pela saúde dele. 



Assistir a este documentário é uma experiência fascinante por causa da sua narrativa envolvente que consegue capturar tanto a grandiosidade da vida do astro Elvis Presley, quanto os desafios emocionais que marcaram a sua relação com Priscilla. A profundidade emocional apresentada ao longo da obra é notável, proporcionando ao espectador uma nova perspectiva sobre o amor complicado e muitas vezes turbulento do casal, revelando camadas de vulnerabilidade e resiliência que vão além da imagem pública do Rei do Rock. Assim, o documentário destaca-se também por abordar questões profundas sobre relações de poder, dependência emocional e a construção da identidade. Ao explorar a dinâmica do casal, o filme oferece uma reflexão sobre como a fama e o estrelato podem influenciar as relações pessoais, colocando em evidência as dificuldades enfrentadas pela Priscilla para encontrar a sua própria voz enquanto estava à sombra dum ídolo do tamanho de Elvis. 


Portanto, se és fã de Elvis Presley, de Rock & Roll ou apenas apenas apaixonado por documentários sobre celebridades, Elvis & Priscilla: Condicional Love é uma obra imperdível. Vais poder revisitar a história dum dos casais mais emblemáticos da culturar pop, ficar a conhecer detalhes obscuros da sua relação e enriquecer a tua visão sobre o quanto são complexas as relações expostas à fama. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já viste o documentário? O que achaste desta relação tumultuosa? Qual foi o aspecto que mais te impactou? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

#Livros - O Espelho e a Luz, de Hilary Mantel

 

A foto de capa do livro "O Espelho e a Luz", de Hilary Mantel, apresenta um fundo em suaves tons de verde que evocam uma atmosfera de mistério e reflexão. Em destaque, uma elegante gravura de um leão dourado simboliza poder e nobreza, refletindo o tema central da obra sobre as intricadas relações de poder na corte de Henrique VIII. O design harmonioso e sofisticado captura a essência do final da trilogia, convidando o leitor a mergulhar na complexidade da vida de Thomas Cromwell e suas manobras no tumultuado cenário político da Inglaterra renascentista.

Sinopse

«Se não se pode dizer a verdade no momento da decapitação, quando poderá ela ser dita?» 

Inglaterra, maior de 1536. Ana Bolena está morta, decapitada no espaço de um batimento cardíaco por um executor francês contratado. Enquanto os seus restos mortais são recolhidos e votados ao esquecimento, Thomas Cromwell toma o pequeno-almoço com os vitoriosos. O filho do ferreiro de Putney emerge do banho de sangue daquela primavera para prosseguir a sua ascensão ao poder e à riqueza, enquanto o seu magnífico amo, Henrique VIII, se prepara para viver uma breve felicidade com a sua terceira rainha, Jane Seymour. 

Cromwell é um homem que conta apenas com a sua inteligência; não tem uma família importante que o apoie nem o seu próprio exército. Apesar da rebelião em solo nacional, dos traidores que conspiram no estrangeiro e da ameaça de invasão que coloca o regime de Henrique VIII à prova até ao ponto de rutura, a imaginação resoluta de Cromwell vislumbra um país novo no espelho do futuro. Mas poderá uma nação ou uma pessoa desfazer-se do passado como se de uma pele se tratasse? Continuarão os mortos a assombrá-lo? O que fareis - pergunta o embaixador de Espanha a Cromwell - quando, um dia, o rei se virar contra vós, como mais tarde ou mais cedo ele se vira contra todos os que lhe são próximos? 

Com O Espelho e a Luz, Hilary Mantel encerra de modo triunfante a trilogia que iniciou com Wolf Hall e O Livro Negro. Traça os derradeiros anos de Thomas Cromwell, o rapaz vindo do nada que ascende aos píncaros do poder, delineando um retrato preciso de predador e presa, de uma disputa feroz entre presente e passado, entre a vontade régia e a visão de um homem comum de uma nação moderna que se constrói a partir do conflito, da paixão e da coragem. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Hilary Mantel, amplamente reconhecida pelas suas contribuições à literatura histórica, tem sido uma muito agradável descoberta ao longo desta trilogia sobre Thomas Cromwell. O Espelho e a Luz traz o encerramento da trilogia, com mais um relato extraordinário sobre uma época única na História. Desde o primeiro volume, Mantel constrói uma narrativa rica em nuances, explorando as intrigas da corte de Henrique VIII, ao mesmo tempo que relata a ascensão e queda dum homem que, a partir de origens humildes, se transforma numa peça-chave no tabuleiro do poder. Com a sua prosa magistral, a autora oferece um retrato definitivo sobre um período tumultuado da História inglesa, revelando como os ecos das decisões de Cromwell ressoam até aos dias de hoje. 


Estamos a falar dum período marcado por profundas transformações religiosas, que culminaram na ruptura com a Igreja Católica e na criação da Igreja Anglicana, um movimento impulsionado pelo desejo do rei por um herdeiro masculino e pela sua paixão por Ana Bolena. Wolf Hall explora a infância e a juventude de Cromwell, as suas habilidades políticas e a sua lealdade ao cardeal Thomas Wolsey, culminando com a sua ascensão como conselheiro do rei. Já O Livro Negro concentra-se na trama para depor Ana Bolena, capturando os dilemas morais e políticos enfrentados por Cromwell enquanto navega pelas intrigas da corte, que o recebe sempre com desconfiança, mantendo a sua ambição e procurando a sua sobrevivência. Juntos, esses dois primeiros volumes oferecem um rico contexto sobre a complexidade do personagem, preparando o terreno para o desfecho explosivo de O Espelho e a Luz.


Podes ler também a minha opinião sobre Wolf Hall


O livro passa-se nos últimos anos da vida de Cromwell, tornando-se cada vez mais evidente o feito extraordinário para a época que foi a sua ascensão na corte Tudor. Após a execução de Ana Bolena, Cromwell enfrenta a desconfiança de novos aliados e inimigos, sem esquecer os velhos que afastou da ribalta e que não esquecem o seu desejo de ver cair o conselheiro de origens humildes e que parece indispensável ao rei. A busca pela legitimidade e estabilidade do reino traz desafios cada vez maiores, que leva Cromwell, após a morte da rainha Jane, a procurar uma nova aliança através do casamento dentro dos principados alemães, a única forma de obter apoio em caso de conflito contra a França e a Espanha, católicos que não aceitam a nova Igreja da Inglaterra. 


"São os seus conselheiros, a equipa mais cruel que alguma vez existiu, que carregam com os pecados dele, que aceitam ser pessoas piores, para que Henry possa ser melhor."


Neste desfecho, Hilary Mantel apresenta um Thomas Cromwell profundamente imerso num labirinto de conflitos políticos e pessoais, dele e do rei, que refletem a turbulência da corte inglesa do século XVI. A luta de Cromwell para equilibrar os seus interesses pessoais e os objectivos dinásticos de Henrique VIII revela a complexidade da sua personagem. Além disso, o peso das suas escolhas morais e as suas consequências - tanto para os seus aliados quanto para os seus inimigos - permeia a narrativa, gerando um retrato multifacetado da vida política do homem, que protegeu inimigos ou mostrou piedade para com as mulheres envolvidas nas conspirações contra o rei, tentando controlar a fúria do rei em certa medida. Através desta jornada, ele torna-se um espelho das suas próprias ilusões e verdades sombrias da era Tudor, a sua transformação culmina num reconhecimento doloroso de que, por mais que ele tenha moldado a História ao seu redor, ele também se torna numa vítima dela. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Livro Negro


A autora mergulha na dualidade moral dos personagens, questionando até onde um homem é capaz de ir por poder e influência, e como os valores éticos são distorcidos pela competição feroz. Com uma narrativa rica e intricada, revisitamos os eventos históricos que marcaram a História da Inglaterra enquanto exploramos as complexidades das relações humanas num contexto de poder, ambição e traição. Mantel utiliza uma prosa lírica e intimista, que permite ao leitor penetrar na mente dos personagens, revelando as suas motivações, medos e vulnerabilidades. A autora desafia a dicotomia entre herói e vilão, apresentando Cromwell como um homem multifacetado, cujas decisões morais são tão ambíguas quanto os jogos políticos que o cercam. Esta abordagem mostra a fragilidade das alianças e expõe a brutalidade duma época em que até os laços familiares podiam desfazer-se em nome da sobrevivência. Além de relatar a história dum homem no epicentro de eventos históricos, lança luz sobre o quanto influenciou as mudanças na Inglaterra do seu tempo e a forma como ajudou o rei a aproximar-se da religião em que acreditava e que gostaria de ver implementada no seu país. 


"O que é a vida de uma mulher? Não pensem que, por não ser um homem, ela não precisa de lutar. O quarto de dormir é o seu pátio de justas, onde mostra o que vale, e o seu teatro de guerra é o quarto isolado onde ela dá à luz."  


O Espelho e a Luz é uma obra que não só fecha um ciclo, como ainda eleva a narrativa histórica a um patamar de excelência literária. Mantel consegue, de maneira excepcional, entrelaçar a complexidade política da Inglaterra Tudor com os dilemas pessoais e morais do seu protagonista, tornando Cromwell uma figura ao mesmo tempo fascinante e trágica. Este volume final culmina num arco narrativo magistral, onde o desenvolvimento do personagem é tão intricadamente ligado aos eventos históricos que se tornam quase indissociáveis. Esta é mesmo uma conclusão digna para a trilogia, consolidando a obra como um marco na literatura histórica contemporânea e solidificando o lugar de Hilary Mantel como uma das grandes vozes da sua geração. São quase novecentas páginas que nos conduzem pelos últimos anos de Cromwell, que me proporcionaram uma visão bem diferente deste homem controverso e que tanta falta fez a Henrique VIII depois de ter caído em desgraça. 


No fundo, Cromwell, figura complexa e multifacetada, emerge como o arquétipo do político astuto do século XVI, capaz de ultrapassar as suas origens humildes e alcançar o lugar de homem de confiança do rei, que o coloca muito acima da sua posição de nascimento. O legado de Cromwell na História é incontornável e a sua trajetória meteórica continua a provocar debates sobre as complexas dinâmicas de poder que moldaram a Inglaterra moderna. A trilogia solidifica Cromwell como um personagem eterno, deixando um desejo de saber ainda mais sobre a veracidade da vida misteriosa deste homem tão peculiar, inteligente e capaz de chegar onde poucos sonharam chegar. Está certamente no topo de experiências de leituras deste ano e só posso recomendar a leitura para todos os que apreciam uma narrativa rica em detalhes históricos, sobretudo no que toca à Inglaterra Tudor e à corte de Henrique VIII. 


Agora, quero convidar-te a partilhar a tua opinião! Já leste a trilogia de Hilary Mantel? O que achaste da construção da figura de Thomas Cromwell? Qual o teu volume favorito? Que outras obras da autora recomendas? Conta-me tudo nos comentários! 


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quinta-feira, 31 de outubro de 2024

10 Livros Assustadores para ler no Halloween

 

Uma mesa decorada com abóboras esculpidas artisticamente, iluminadas por velas, criando uma atmosfera sombria e evocativa, perfeita para o Halloween. A imagem serve como introdução à lista de 10 livros assustadores que vão arrepiar e entretê-lo nesta temporada de sustos.

O Halloween chegou e nada melhor do que mergulhar numa boa história de terror para entrar no clima da noite mais arrepiante do ano. Para os amantes de livros, esta época é uma oportunidade perfeita para explorar narrativas sombrias, que nos fazem sentir a adrenalina a pulsar e as emoções à flor da pele. Com personagens intrigantes, ambientes macabros e tramas surpreendentes, os livros de terror transportam-nos para universos perturbadores onde as fronteiras entre a realidade e a fantasia se desfazem. 


Buy Me A Coffee

Hoje, reuni uma lista de 10 livros assustadores que prometem deixar-te colada às suas páginas até ao último minuto, com a luz acesa e o coração acelerado. Cada obra é uma viagem ao desconhecido, repleta de mistérios, criaturas sobrenaturais e reviravoltas de tirar o fôlego. Prepara-te para sentir calafrios e até descobrir que o verdadeiro terror pode estar bem mais perto do que imaginas. Vem nesta jornada literária e escolhe a tua próxima leitura de Halloween! 


1. Frankenstein, de Mary Shelley

Foi no estranho ano de 1816, o ano sem Verão, que a escritora Mary Shelley, depois de um sonho - ou seria um pesadelo? -, deu vida ao terrível monstro de Frankenstein, a primeira obra de ficção científica da história. O livro chegou, em 1818, às livrarias e o mundo nunca mais foi o mesmo... 

Frankenstein ou O Prometeu Moderno, simultaneamente um thriller gótico e um romance filosófico, conta-nos, através das cartas do capitão Robert Walton à sua irmã, a história do estudante Victor Frankenstein que, obcecado com a descoberta do segredo da criação da vida, cria um ser aterrador que acaba por abandonar à sua sorte. Solitário, incompreendido, maltratado e desprezado por todos, a criatura de Frankenstein lança-se numa jornada de busca por humanidade e amor, mas também de vingança contra o seu criador. 

Esta luta entre um monstro e o seu criador, entre o normal e o estranho, entre aquilo que separa o ser humano e a sua criação tem sido longamente tratada pela cultura pop e é, hoje, com as questões em torno da inteligência artificial, mais actual do que nunca. 


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Imagem atmosférica de capa para o livro 'Frankenstein' de Mary Shelley, destacada por um fundo roxo profundo. Raios brancos iluminam o cenário, enquanto uma lua cheia paira no céu, adornada por uma mão preta que evoca mistério e terror, refletindo a temática sombria da obra clássica.

2. O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux

Era uma vez a inocência e a obsessão... 

Ópera de Paris, século XIX. Um fantasma habita os subterrâneos, assombra o teatro e dá orientações de encenação aos diretores. Poderia ser uma comédia, se o amor por Christine não o transformasse numa sombra cadavérica que o leva a cometer os mais horrendos atos. 


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Imagem de uma máscara branca delicadamente decorada, simbolizando o mistério e a dualidade do personagem principal de 'O Fantasma da Ópera' de Gaston Leroux. A máscara repousa sobre um fundo escuro, evocando a atmosfera sombria e intrigante da história, ideal para o clima de Halloween.


3. Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice

Obra já clássica no seu género, Entrevista com o Vampiro é o primeiro volume da saga «Crónicas dos Vampiros» e granjeou o estatuto de livro de culto, comparável a Drácula de Bram Stoker. 

Das plantações oitocentistas do Luisiana aos becos sombrios e cenários sumptuosos de Paris, do Novo Mundo à Velha Europa, Claudia e Louis fogem de Lestat, o seu criador e companheiro imortal. E o cruel vampiro que tirara partido do desespero de Louis e da fragilidade da órfã Claudia, no bairro francês de Nova Orleães assolada pela peste, move-lhes uma perseguição sem tréguas no submundo parisiense, entre a trupe Théâtre des Vampires do misterioso Armand e criaturas das trevas. 

É com esta mescla de sangue, violência e erotismo ímpares, no pano de fundo da reflexão sobre a condição trágica que é a do vampiro condenado à imortalidade, que Anne Rice narra uma extraordinária história em que a crueldade e os sentimentos tenebrosos que percorrem as páginas resultam numa maravilhosa sinfonia poética que viria a inspirar muitos escritores, como Stephenie Meyer. 


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Foto de capa do livro 'Entrevista com o Vampiro' de Anne Rice, destacando um homem sombrio em primeiro plano, contra um fundo negro. Ao seu lado, uma rosa vermelha simboliza a dualidade entre beleza e terror, refletindo a profunda narrativa sobre a vida e as emoções de um vampiro.

4. A Volta do Parafuso, de Henry James 

Uma jovem mulher é contratada por um homem que assumiu a responsabilidade pelos seus sobrinhos após a morte dos seus pais. Miles frequenta um colégio, enquanto Flora, a sua irmã mais nova, vive com Sra. Grose, a governanta, em Bly. O tio das duas crianças não está interessado em criá-las e cede à nova tutora todo o controlo, instruindo-a explicitamente a não o contactar de forma alguma. 

Um dia, Miles regressa da escola, após a chegada de uma carta do diretor, declarando ter sido expulso. Miles nunca fala sobre o assunto, e a governanta hesita em levantar a questão. Ela receia que haja algum segredo horrível por detrás da expulsão, mas está demasiado encantada pelo rapaz para querer levantar o assunto. 


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Ilustração sombria de uma criança loura dormindo em um ambiente inquietante, inspirada no livro 'A Volta do Parafuso', de Henry James. A imagem evoca uma atmosfera de suspense e mistério, perfeita para o clima de Halloween.

5. Carrie, de Stephen King

Cinquenta anos depois da primeira edição, esta continua a ser a história de Carrie White, a rapariga inadaptada do liceu em Chamberlain, no Maine, que descobre gradualmente que consegue provocar o movimento de objetos apenas com o poder da mente. O seu dom, mas também a sua maldição, é firmemente reprimido, como tudo o resto em Carrie. Subjugada por uma mãe dominadora e ultrareligiosa e atormentada pelos colegas na escola, o seu desejo para se integrar conduzirá a um confronto dramático durante a noite do baile de finalistas. 


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Imagem de fundo negro com chamas laranja iluminando a silhueta de uma mulher, representando a capa do livro 'Carrie' de Stephen King. A obra, que explora temas de vingança e poder sobrenatural, é perfeita para quem busca uma leitura aterrorizante neste Halloween.

6. Drácula, de Bram Stoker 

Uma verdadeira obra-prima, Drácula transcendeu gerações, linguagem e cultura para tornar-se um dos romances mais populares alguma vez escritos. É por excelência uma história de suspense e horror, que ostenta um dos personagens mais terríveis que já nasceram na literatura: o conde Drácula, um espectro trágico e noturno que se alimenta do sangue dos vivos, e cujas paixões diabólicas depredam os inocentes, os desamparados, e os belos. Mas Drácula também se destaca como uma saga alegórica de um ser eternamente amaldiçoado cujas atrocidades noturnas refletem o lado sombrio da era extremamente moralista em que foi originalmente escrito - e os desejos corruptos que continuam a atormentar a condição humana moderna. 


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Imagem de capa do livro 'Drácula' de Bram Stoker, apresentando um fundo vermelho intenso, simbolizando o terror e o mistério da história, com impactantes asas de morcego pretas que evocam a presença inquietante do vampiro mais icônico da literatura.

7. Contos do Além, de Agatha Christie

A coletânea das histórias mais arrepiantes da Rainha do Crime. 

Visões mediúnicas, espectros que pairam nas sombras, encontros com seres divinos, misteriosas mensagens do Além, e até uma estranha troca entre um homem e um gato... 

Com a presença ocasional de Hercule Poirot e Miss Marple, este volume apresenta-nos o lado mais obscuro da escritora policial mais famosa do mundo. 

Essencial para os amantes do sobrenatural e os admiradores de Agatha Christie. 

Prepare-se para ficar acordado! 


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Capa do livro 'Contos do Além' de Agatha Christie, com fundo negro e tons de roxo. A silhueta de uma casa sombria se destaca ao fundo, evocando uma atmosfera misteriosa e assombrosa, perfeita para o Halloween.

8. Os Contos Mais Arrepiantes de H. P. Lovecraft 

Antes de H. P. Lovecraft, a literatura de horror resumia-se fundamentalmente a vampiros, fantasmas e bruxas. Depois dele, o género nunca mais foi o mesmo. Genial criador de mundos, pai das mais hediondas criaturas cósmicas e de uma Arkham tão real como Lisboa ou Nova Iorque, Lovecraft foi o pioneiro de um horror onde a humanidade é apenas uma centelha de sanidade num vasto universo de maleficência. Uma centelha fugaz que perde esperança de conto para conto. 

A sua visão do horror foi de tal forma influente que está presente na obra de Stephen King, Neil Gaiman, Guillermo del Toro, Alan Moore e muitos outros criadores, da literatura ao cinema, da BD à música. Até Stranger Things, série-sensação do momento, é uma homenagem ao imaginário de Lovecraft. 

Nesta edição de colecionador, ilustrada por 22 artistas nacionais, são apresentados os contos mais arrepiantes de Lovecraft, dando-nos a conhecer a evolução do seu estilo narrativo único e consolidando-o como um dos autores mais visionários da literatura americana. 


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Capa do livro "Os mais arrepiantes contos de H. P. Lovecraft", destacando um fundo roxo envolvente adornado com relevos prateados de elementos macabros, como tentáculos, criaturas sombrias e símbolos místicos, refletindo a atmosfera de terror e mistério característicos das obras do autor.

9. A Maldição de Hill House, de Shirley Jackson

Adaptado com êxito para cinema e televisão, A Maldição de Hill House é um dos mais perfeitos exemplos de terror e suspense em literatura. 

John Montague, especialista e estudioso do oculto, chega a Hill House em busca de algo concreto que possa provar a existência do sobrenatural. Acompanham-no, Theodora, a sua assistente, Luke, o futuro herdeiro da propriedade, e Eleanor, uma mulher solitária e frágil, já com experiência de encontros com poltergeists. Contudo, aquilo que, inicialmente, era apenas uma experiência em torno de fenómenos inexplicáveis torna-se, em pouco tempo, uma corrida pela sobrevivência, à medida que Hill House ganha poder e escolhe, de entre eles, aquele que quer para si. 

A Maldição de Hill House é um dos mais perfeitos exemplos do terror e do suspense em literatura. Fonte de inspiração para nomes como Stephen King ou Guillermo del Toro, confessos admiradores de Shirley Jackson, a história foi adaptada por duas vezes ao cinema em filmes de grande sucesso, bem como à televisão. 


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Capa do livro 'A Maldição de Hill House' de Shirley Jackson, com fundo azul e uma ilustração de uma casa amarela. Uma mão sinistra emerge pela porta, evocando uma sensação de mistério e terror.

10. Todos os Contos, de Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe é um dos autores mais publicados do mundo, conhecido pela genialidade expressa também nos seus famosos contos de terror e em algumas das histórias de detetives mais macabras jamais escritas, como A Queda da Casa de Usher, Os Crimes da Rua Morgue ou O Escaravelho de Ouro. Notável mestre do suspense, Poe também era poeta e, como demonstram os seus contos sobre hipnotismo e viagens no tempo, foi um pioneiro da ficção científica. 

A presente edição reúne todos os contos deste autor clássico da literatura universal e decorre da edição ilustrada anteriormente publicada em dois volumes. 


Wook | Bertrand 


Retrato de Edgar Allan Poe em um fundo intrigante de riscas cinzentas e brancas, simbolizando a atmosfera sombria e misteriosa de suas obras. A imagem evoca o espírito de 'Todos os Contos', uma coletânea que mergulha os leitores em histórias de terror e suspense, perfeitas para o Halloween.

Concluindo, a literatura de terror oferece um vasto universo de histórias que desafiam a imaginação e provocam arrepios. Neste Halloween, mergulha nos enredos sombrios e personagens memoráveis que habitam estas páginas. Quer sejas um fã do horror psicológico, dos monstros clássicos ou duma boa dose de suspense, a lista que apresentei é uma porta de entrada para experiências que vão muito além do susto, explorando as profundezas da mente humana e os medos que nos rodeiam. No entanto, se preferes ocupar a tua noite de Halloween em frente à televisão, tens aqui 10 Filmes para ver no Halloween


Espero que esta seleção inspire as tuas leituras neste Halloween, proporcionando-te uma noite memorável de arrepio e fascínio. Prepara-te para enfrentar as tuas próprias sombras e, quem sabe, descobrir um novo autor favorito ou um clássico do terror que te acompanhará nas noites frias de Outono. Qual a sugestão que mais chamou a tua atenção? Alguma que tenhas lido e recomendes? Deixa o teu comentário abaixo! 

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