Sinopse
Sevilha, 1915 - Vale do Paraíba, 1945: trinta anos da história do século XX correm ao longo das páginas deste romance, com cenário no Alentejo, Espanha e Brasil. Através da saga dos Ribera Flores, proprietários rurais alentejanos, somos transportados para os anos tumultuosos da primeira metade de um século marcado por ditaduras e confrontos sangrentos, onde o caminho que conduz à liberdade parece demasiado estreito e o preço a pagar demasiado alto. Entre o amor comum à terra que os viu nascer e o apelo pelo novo e desconhecido, entre os amores e desamores de uma vida e o confronto de ideias que os separam, dois irmãos seguem percursos diferentes, cada um deles buscando à sua maneira o lugar da coerência e da felicidade.
Rio das Flores resulta de um minucioso e exaustivo trabalho de pesquisa histórica, que serve de pano de fundo a um enredo de amores, paixões, apego à terra e às suas tradições e, simultaneamente, à vontade de mudar a ordem estabelecida das coisas. Três gerações sucedem-se na mesma casa de família, tentando manter imutável o que a terra uniu, no meio da turbulência causada por décadas de paixões e ódios como o mundo nunca havia visto. No final sobrevivem os que não se desviaram do seu caminho.
Opinião
Dois anos se passaram desde a última vez que li um livro de Miguel Sousa Tavares e não foi de todo por falta de vontade. Depois das experiências anteriores, queria tanto ler este romance, Rio das Flores, mas tendo em conta que se encontra esgotado e não tinha vontade de comprar um livro usado pelo preço de um novo, a coisa demorou mais do que gostaria. Aliás, constato que até o último livro do autor, que foi lançado em 2018, está neste momento esgotado também.Eu sei que estamos a falar de um dos autores portugueses mais vendidos, mas parece-me muito invulgar que a sua obra fique esgotada desta forma por tanto tempo sem que novas edições sejam lançadas, nem uma mera nova tiragem que devolva estas obras às livrarias físicas e online. Será que alguém me consegue explicar a razão para este estranho acontecimento dos livros esgotados por tempo indeterminado?
Podes ler também a minha opinião sobre Equador
Passando agora ao livro propriamente dito, em Rio das Flores, voltamos ao Alentejo rural do início do século XX, onde vamos acompanhar várias gerações da família Ribera Flores. Trata-se de uma família abastada, que vive da exploração das terras que foram herdadas ao longa das gerações anteriores e com raízes familiares em Espanha também. O patriarca é um homem inteligente mas tradicionalista, que gosta de discutir política à mesa rodeado por amigos que podem perfeitamente conviver com opiniões contrárias.
"Tenho medo de uma coisa que tu não temes: que, depois de conhecer a liberdade, de ter viajado e vivido em países livres, não me volte a habituar a viver de outra maneira. Tenho medo que a liberdade se torne um vício, enquanto que agora é apenas uma saudade."
É nesse ambiente geográfico e familiar que os dois filhos do proprietário alentejano crescem e são educados da mesma forma, tornando-se em homens diametralmente opostos em tudo o que se possa imaginar. Os únicos elos de ligação entre Diogo e Pedro eram o amor um ao outro, à família e à terra que os viu nascer. Apesar do protagonista ser claramente o Diogo Ribera Flores, Pedro é essencial porque funciona como contraste com o irmão e revela o quanto o primeiro fugiu dos padrões e das convenções que seriam de esperar de alguém como ele.
Podes ler ainda a minha opinião sobre Madrugada Suja
Historicamente, acompanhamos uma época repleta de voltas e reviravoltas tanto em Portugal como no mundo. Através das opiniões variadas dos personagens, acompanhamos as repercussões da queda da Monarquia, os anos da primeira República e a ascensão das ditaduras em Portugal, em Espanha, na Alemanha e até no Brasil. Para apimentar a história, as mulheres compõem o painel e são verdadeiramente interessantes. É o caso da mãe dos rapazes, mulher discreta mas com uma forma de pensar invulgar; a esposa de Diogo, cigana e pobre que se vê ascender socialmente através do casamento; e a namorada de Pedro, artista e que lhe mostra outras formas de ver o mundo.
"Eu, Diogo Ribera Flores, filho do campo e do sequeiro, herdeiro de sobreiro, azinheiras e oliveiras, alentejano por berço e condenação perpétua, deixei mulher e filhos, deixei mãe e irmão, deixei terra e Pátria, deixei esse ar espesso e opressivo de um Portugal amordaçado, para flutuar neste balão gigante sobre o mar e sobre a vida, esperando que no fim da viagem haja um Novo Mundo à minha espera."
Apesar das mulheres de que te falei, continuo com a sensação que o autor se sente mais confortável a revelar a mente masculina e o quanto é possível ser complexa sem deixar de ser simples e repleta de instintos. Este foi mais um livro incrível, repleto de personagens fascinantes e apaixonantes, com os quais queremos conviver e, mesmo após o término do livro, sentimos que mais poderia ser dito. Pelo menos, eu não me importaria de saber que outros acontecimentos trariam os anos a esta família peculiar.
Como referi anteriormente, não vais encontrar este livro à venda nas livrarias, mas acredito que facilmente encontrarás algum exemplar usado e em bom estado para que possas também descobrir mais um romance espectacular deste autor tão polémico. Já leste alguma coisa de Miguel Sousa Tavares? Qual o teu livro favorito do autor?
Adenda: Entretanto uma nova edição deste livro chegou às livrarias, por isso, podes encomendar o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti: