Sinopse
A verdadeira história das mulheres que governaram Portugal
Descubra quem foram as mulheres que estiveram na base da edificação do nosso país. Conheça os seus amores e as suas desilusões. Os casamentos, as lutas pelo poder, as maquinações e as histórias curiosas de cada época. Conheça os mais de trinta reis e as mais de quarenta rainhas que governaram Portugal desde a fundação da monarquia até à implantação da república.
Rainhas de Portugal é um livro fundamental para se conhecer melhor a nossa História.
Opinião
Francisco da Fonseca Benevides foi um destacado historiador e escritor português, reconhecido pelas suas contribuições significativas à Literatura, ao conhecimento da História de Portugal, além de outras áreas científicas. A proposta deste Rainhas de Portugal seria apresentar a perspectiva das figuras femininas pouco exploradas na historiografia tradicional, revelando a influência destas monarcas na política, na cultura e na sociedade portuguesa ao longo dos séculos. São figuras frequentemente relegadas para segundo plano nos registros históricos, mas que desempenharam papéis cruciais na manutenção da estabilidade do reino, nas alianças dinásticas e nas mudanças sociais e culturais que moldaram o país.
A valorização das mulheres na História enriquece muito o nosso entendimento do passado e ainda pode inspirar novas gerações a reconhecerem e celebrarem a contribuição das mulheres em todas as esferas da sociedade. Confesso que desconhecia totalmente este livro, que foi escrito no século XIX, e só o descobri porque encontrei um exemplar perdido nas caixas das oportunidades da Cultura Editora, na Feira do Livro de Lisboa, e não lhe resisti. O autor apresenta um relato sobre as rainhas, desde as figuras mais icónicas até àquelas menos lembradas, terminando na esposa de D. Luís, o rei que se encontrava no trono na altura em que o livro foi publicado, o que significa que fica em falta a última rainha, D. Amélia. Baseado numa pesquisa histórica, não deixa, ainda assim, de ser datado, revelando uma forma de interpretar o papel das mulheres com um viés que rasa o machismo em determinados momentos, e que as coloca, na grande maioria, como figuras acessórias.
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Ainda assim, conseguimos encontrar feitos políticos e ainda as influências culturais e sociais destas mulheres, revelando as suas lutas, conquistas e o impacto que tiveram na formação da identidade portuguesa. De referir que nem todas as mulheres retratadas no livro ocuparam, de facto, o trono português. Foram colocadas também as esposas de reis que faleceram antes de poderem alcançar o trono ou que só foram casar depois do trono português já não pertencer ao seu marido. No caso das primeiras rainhas, compreendo que existe pouca informação, mas à medida que os séculos vão passando, percebemos que muitas vezes parece que a existência duma rainha serve como desculpa para falar dos feitos e obras do rei com quem casou, sendo a mulher apenas uma sombra misteriosa que, por vezes, serviu mesmo para assegurar a sucessão do trono e pouco mais.
"Em posição bem crítica ficou a bela viúva do conde D. Henrique, faltando-lhe a rija e valente espada do seu marido, na difícil situação em que se encontrava o governo do país; felizmente para Portugal, não era só a beleza física que adornava a rainha D. Teresa; a filha de Ximena Nunes escondia fina astúcia e hábil diplomacia sob uma formosura invulgar."
O autor aborda temas como a luta pelo poder num contexto predominantemente masculino, a influência das rainhas nas decisões dinásticas e nas alianças internacionais. Entre as principais figuras apresentadas, destaco a rainha D. Teresa, a primeira a exercer influência política significativa e que primeiro se declarou rainha deste território, uma rainha de direito próprio, como herdeira do seu pai, de quem recebeu o governo do então Condado Portucalense. Em Portugal, nunca existiu a lei sálica, portanto, as mulheres nunca foram impedidas de herdar o trono. No entanto, apenas tivemos duas rainhas reinantes. D. Maria I foi a primeira a governar o país por direito próprio, mas que acabou relegada para segundo plano pelos problemas de saúde. Já D. Maria II, por seu lado, agarrou o governo nas mãos sem medos ou pudores, e não se esquivou a participar na vida pública, num momento em que se estreava o modelo constitucional no nosso país.
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No livro, Benevides adopta um estilo de escrita baseado no rigor histórico, com muitas referências a fontes primárias e secundárias e documentos que servem de base para a maioria das conclusões que são partilhadas. Sempre que existe controvérsia, são partilhadas as várias teorias dos historiadores, embora indique aquela com a qual se identifica e considera a correcta. Utiliza uma prosa clara e acessível, ainda que própria do século XIX, o que significa que não é utilizada uma linguagem ou pensamento moderno, como o que estamos habituados ou até à espera se, como eu, não souberes de antemão da data de publicação original da obra. São intercalados dados factuais com algumas curiosidades que humanizam estas personagens históricas, ao mesmo tempo que tomamos consciência que existem bastantes escândalos e casos inusitados na História da Monarquia portuguesa. Algo que me interessou foi a forma como contextualiza as épocas em que cada rainha viveu, em termos sociais, políticos e culturais, algo que influencia as suas decisões e torna mais fácil de entender os acontecimentos.
"Quanto aos casamentos, que tão repetidamente se fizeram entre os príncipes portugueses e castelhanos, não realizaram as venturas, a glória e o poder que, por vezes, se esperava deles, e, frequentemente, em vez de cimentarem a aliança e a paz entre os povos, produziram, ou não puderam impedir, discórdias e guerras, algumas das quais bem desastrosas."
Com uma estrutura bem organizada, dividida em capítulos, cada um dedicado a uma rainha específica, sempre respeitando a ordem cronológica. Tendo em consideração a época em que foi publicado pela primeira vez, Rainhas de Portugal deu uma contribuição significativa para a compreensão da História de Portugal, procurando destacar o papel que as mulheres desempenharam na formação política e social do país. Quanto ao livro físico e as suas características, tenho de referir que alguns aspectos interferiram com a qualidade e fluidez da leitura. Apesar do papel ser bem diagramado e com um tom bem confortável, o mesmo não se pode dizer do tamanho da letra nem da mancha que provocou cansaço quando tentava ler mais do que um capítulo por dia, agravado quando os capítulos começaram a ficar maiores nas rainhas mais recentes.
Em suma, encontramos uma análise rica da vida das rainhas, dos factos e da sua influência no seu tempo, embora o foco seja desviado frequentemente para os seus maridos e os seus feitos ou erros de governação. Contudo, o relato é cuidadoso e bem documentado, além de ter o mérito de reunir todas estas mulheres, mesmo as mais obscuras e tantas vezes esquecidas. Apesar de não ter sido uma leitura extraordinária, acho que pode agradar aos que se interessam pela História de Portugal e, especificamente, pelo papel das rainhas na evolução do país. Este livro pode muito bem ser um ponto de partida para ter um conhecimento geral sobre estas mulheres, para depois seguires para as biografias das rainhas que mais te interessaram. Agora, quero saber a tua opinião! Já conhecias este livro? O que achaste da abordagem sobre as rainhas? Qual a que mais te interessa? Alguma cuja trajetória te tenha surpreendido? Conta-me tudo nos comentários!