expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

Subscreve a Newsletter

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Projecto Cinema - 1992 | O Silêncio dos Inocentes

 

Fita de filme clássica sobre um fundo branco, simbolizando a história do cinema e os vencedores do Oscar ao longo dos anos.

Estamos de volta à exploração da História e da evolução do Cinema através dos filmes vencedores do Óscar ao longo dos anos. Relembro que este projecto tem como objectivo oferecer uma visão aprofundada sobre as obras que marcaram épocas e influenciaram o cenário cinematográfico mundial. Hoje, vamos destacar o vencedor de 1992 na categoria de Melhor Filme: O Silêncio dos Inocentes, uma obra-prima que conquistou o público e a crítica e que permanece como um marco na História do Cinema. 


Buy Me A Coffee

A 64.ª edição da cerimónia destacou-se por reconhecer um filme que se tornou num ícone da cultura pop e uma marco incontornável na História do Cinema. Esta premiação foi particularmente significativa por marcar a primeira vez que um filme de suspense psicológico conquistou o prémio de Melhor Filme, refletindo uma mudança na preferência da Academia por obras que exploram temas complexos e profundos. A vitória de O Silêncio dos Inocentes também reforçou a importância de roteiros inteligentes e actuações marcantes, consolidando-se como uma obra de grande impacto cultural e crítico. Este Óscar destacou a capacidade do Cinema de abordar temas sombrios com inteligência e sensibilidade, influenciando gerações futuras de cineastas e espectadores. 


Acompanha todo o desenrolar do Projecto Cinema - Óscar de Melhor Filme 


O Silêncio dos Inocentes, realizado por Jonathan Demme e lançado em 1991, é um thriller psicológico, baseado no romance de Thomas Harris, que acompanha a jovem agente do FBI, Clarice Starling, enquanto procura a ajuda do brilhante, porém perigoso, canibal Doutor Hannibal Lecter, para capturar um serial killer conhecido como Buffalo Bill. O impacto do filme foi profundo e duradouro na época do seu lançamento e perdura até aos dias de hoje. A obra revolucionou o género de suspense ao combinar uma narrativa psicológica intensa com actuações memoráveis de Anthony Hopkins e Jodie Foster. A sua abordagem inovadora ao explorar os limites da mente humana e o uso de elementos de horror psicológico cativaram o público e elevaram o padrão dos thrillers na indústria cinematográfica. 


Poster do filme "O Silêncio dos Inocentes" mostrando o rosto de Jodie Foster com uma borboleta cobrindo sua boca, simbolizando o silêncio e o mistério do filme.

No filme somos apresentados a dois personagens centrais cujas complexidades e dinâmicas intensificam a narrativa. Clarice procura provar o seu valor enquanto enfrenta os seus próprios traumas pessoais e o desafio de ajudar a capturar um serial killer perigoso. Do outro lado, Hannibal Lecter, um brilhante psiquiatra preso pelos seus crimes enquanto canibal, é uma presença enigmática e perturbadora, cuja inteligência afiada e manipulação habilidosa desempenham um papel crucial na investigação. A relação tensa e ambígua entre Clarice e Hannibal é fundamental para o desenvolvimento da trama, explorando a inteligência, a manipulação e as lutas internas de cada personagem. 


Também os aspectos técnicos e estilísticos desempenha um papel fundamental na criação da atmosfera intensa e perturbadora que permeia todo o filme. A direcção destaca-se pelo uso de enquadramentos próximos e planos detalhados, que intensificam a conexão emocional com os personagens. A banda sonora, composta por Howard Shore, reforça o clima de suspense e tensão constante, enquanto que a edição ágil e precisa contribui para manter o ritmo frenética e a iluminação contrastante e o uso de cores sombrias ampliam a sensação de inquietação. Na cerimónia de 1992, conquistou um total de cinco estatuetas, consolidando-se como um dos grandes clássicos do Cinema. Assim, levou para casa, além do prémio para Melhor Filme, o Óscar de Melhor Argumento Adaptado, Melhor Realizador, Melhor Actor e Melhor Actriz. 



A verdade é que O Silêncio dos Inocentes é uma obra-prima que combina uma narrativa intensa com actuações marcantes, e que se tornou num marco na História do Cinema, muito graças à sua atmosfera tensa e ao retrato psicológico profundo, com destaque para a psicopatia, algo pouco abordado na época, quando o True Crime não era ainda um género generalizado e popular. Talvez por tudo isto, permanece actual e relevante, passados tantos anos desde a sua estreia. Se ainda não viste este filme, não sei onde andaste escondida, recomendo fortemente que o adiciones à tua lista de filmes a assistir com urgência e fiques por dentro deste pedaço da cultura cinematográfica que tem inspirado tantos outros e que se infiltrou na cultura pop desde então, com inúmeras referências noutras obras. 


Portanto, este é o momento para veres, ou reveres, esta obra de arte e deliciar-te com algo que roça a perfeição e te vai proporcionar momentos de entretenimento dos bons. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já viste O Silêncio dos Inocentes? O que achaste deste enredo sombrio? Qual o momento que mais te marcou? Tens alguma cena favorita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

#Livros - Gente Ansiosa, de Fredrik Backman

 

Imagem da capa do livro "Gente Ansiosa" de Fredrick Backman, publicado pela Porto Editora. O fundo é laranja vibrante, com uma ilustração de um casal de costas, lado a lado, sem se tocar, transmitindo uma sensação de distância e introspecção.

Sinopse

Visitar um apartamento que está à venda não costuma redundar numa situação de perigo. A menos que seja antevéspera de Ano Novo, e um ladrão inexperiente tenha decidido assaltar um banco onde não há dinheiro. Quando assim é, torna-se inevitável que não haja sequer um plano de fuga, e se acabe com uma data de reféns acidentais. 

Felizmente, podemos confiar na pronta intervenção das autoridades. A menos que os dois polícias responsáveis pelo caso não se entendam nem saibam o que fazer. 

Ainda assim, acreditamos que tudo correrá bem, em particular se os reféns permanecerem calmos. A menos que sejam os reféns mais idiotas de todos os tempos: uma analista bancária com ideias suicidas, uma adorável velhinha com motivações pouco transparentes, um casal reformado com uma paixão enorme pelo IKEA, duas recém-casadas, prestes a serem mães, que andam sempre às turras, uma agente imobiliária com entusiasmo a mais e talento a menos, e uma pessoa vestida de coelho. 

Com um sentido de humor excecional, que cativou milhões de leitores em todo o mundo, e personagens tão imperfeitas quanto tocantes, Fredrik Backman volta a surpreender com esta história sobre gente idiota e ansiosa e os laços invisíveis que (n)os unem. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Gente Ansiosa é o livro de Fredrick Backman de 2025, dado que entrou naquela lista de autores que procuro ler uma obra por ano, por serem extraordinários e para degustar melhor o que escreveram e não ficar logo órfã dos seus livros. Backman é o mais famoso escritor sueco contemporâneo, conhecido por explorar as emoções humanas, relacionamentos e a complexidade da vida quotidiana. Nos últimos anos, conquistou reconhecimento internacional com os seus livros que combinam humor, sensibilidade e uma profunda compreensão da condição humana, tudo temas que transcendem o tempo e as fronteiras geográficas, e que, por isso, tocam pessoas de todo o mundo. 


Neste livro, o autor explora os dilemas da vida moderna e os desafios enfrentados por indivíduos que lidam com ansiedade e inseguranças de diferentes origens. Através de histórias entrelaçadas e personagens profundamente humanos, nem sempre bons, nem sempre maus, Backman retrata diferentes trajetórias, histórias de vida até opostas, mas que têm em comum o desejo de ultrapassar os problemas e ser felizes. Em mais uma história sensível e cheia de suspense, convida-nos a refletir sobre a importância da empatia e do autoconhecimento na jornada de todos e cada um de nós. Os personagens principais são uma variedade de pessoas que representam diferentes aspectos da ansiedade e da solidão na sociedade moderna, obrigados a ficar juntos por muitas horas quando são feitos reféns por um ladrão pouco capaz, uma vez que tentou roubar um banco, daqueles modernos, que não têm dinheiro nas suas instalações. 


Podes ler também a minha opinião sobre A minha avó pede desculpa 


O livro aborda de maneira sensível e perspicaz o tema da ansiedade e da saúde mental, destacando como esses aspectos influenciam profundamente a vida das pessoas. Fica claro como é importante compreender, acolher e dialogar sobre estes temas, promovendo uma mensagem de empatia e aceitação. Numa narrativa que desmistifica preconceitos e incentiva uma atitude mais compassiva tanto consigo mesmo quanto com os outros, reforça que procurar ajuda e compreender os próprios limites são passos essenciais para uma vida mais equilibrada e onde a amizade pode fazer a diferença. Afinal, é nas relações interpessoais que podemos encontrar conforto e compreensão, mostrando que um gesto atencioso ou apenas ouvir com interesse pode transformar vidas e mudar destinos, que poderiam ser trágicos. É o que acontece quando o grupo de reféns se une para ajudar o ladrão de bancos falhado e entendemos que, no fundo, todos precisavam de ajuda e foi nesse contexto que a encontraram. 


"Mas também teve vontade de lhe dizer que o sistema económico ao qual dedicou a vida é o maior problema do mundo neste momento, porque o construímos demasiado forte. Esquecemo-nos de como somos ambiciosos, mas, acima de tudo, esquecemo-nos de como somos fracos. E agora está a esmagar-nos." 


Ao longo da leitura, mergulhamos nas nuances da vida quotidiana, onde as pequenas acções e as preocupações diárias revelam as complexidades do ser humano. Ficamos a entender que a ansiedade é uma experiência universal que pode afectar qualquer pessoa, independentemente da idade ou condição social, e como ela perturba as nossas relações, escolhas e percepções do mundo. Com as suas personagens cativantes e tão diferentes entre si, Backman evidencia que, por trás das aparências de normalidade, cada indivíduo enfrenta batalhas internas silenciosas. A cada novo capítulo conseguimos sentir as emoções e os conflitos dos personagens, chegando a ter o desejo de estender a mão e ajudar aquelas pessoas a sair dos lugares escuros onde estão, por trás das suas máscaras sociais e das mentiras que contam aos estranhos que com eles se cruzam. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Um Homem Chamado Ove 


No coração da narrativa temos um efeito de espelho e de abraço, com os seus personagens, com as suas ansiedades e pequenas neuroses, que parecem tão familiares quanto aqueles amigos que todos temos. O autor recorda-nos que a vida é feita de momentos imperfeitos, de dúvidas que parecem gigantes, e de encontros que, apesar de tudo, carregam uma esperança subtil e que podem até mudar tudo. Apesar dos temas serem sérios e até pesados, o autor consegue arrancar-nos sorrisos e gargalhadas, com o seu bom humor e o seu estilo próximo. Sem dramatizar o que já é dramático por si só, parece conseguir gerar mais empatia por aquelas pessoas cheias de problemas e que escondem segredos do passado ou o medo do futuro. A escrita de Backman está repleta de empatia e humanidade, o que cria uma atmosfera acolhedora e ao mesmo tempo impactante. Mesmo que demore a chegar a empatia por todos os personagens, ela chega e depois é impossível não se emocionar com a forma como tudo foi conduzido, como se uniram e decidiram resolver os problemas de cada um juntos e, desse modo, resolvem todos os problemas. 


"Depois, pensou numa escritora norte-americana que escrevera que a solidão é como a fome: só nos apercebemos do quão esfomeados estávamos quando começamos a comer." 


Este livro é absolutamente relevante, pela forma como aborda o medo do fracasso, a procura por aceitação ou o impacto do isolamento social. Se no final da leitura, estiveres mais consciente para quem te rodeia e para ti mesmo, talvez estejas um passo mais perto de viver numa sociedade mais inclusiva, acolhedora e empática. Com revelações surpreendentes ao longo da história, além de entreter, entrega assuntos interessantes, ensinamentos úteis nas entrelinhas e deixa uma impressão duradoura, que fica mesmo depois de termos terminado a leitura. Pessoalmente, ainda que não tenha destronado o meu livro favorito do autor, gostei muito de ler Gente Ansiosa e recomendo vivamente que descubras esta obra com tantas camadas que, tenho a certeza, irá tocar-te de diferentes formas e por muitos motivos. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste Gente Ansiosa? O que achaste desta narrativa surpreendente? Acompanhas o trabalho de Fredrik Backman? Qual o teu livro favorito do autor? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

#Viagens - Paço Ducal de Vila Viçosa

 

Mulher de costas usando chapéu, ao lado de um carro na estrada

A visita ao Paço Ducal de Vila Viçosa foi o mote que despoletou toda esta viagem que decidi fazer este Verão e que me permitiu explorar um dos mais emblemáticos exemplares do património histórico e arquitectónico português, símbolo do poder e da riqueza da Casa Ducal de Bragança. Este é um monumento que remonta ao século XVI, tendo sido construído como residência dos duques de Bragança, uma das mais influentes famílias nobres de Portugal. Situado em Vila Viçosa, no Alentejo, o edifício destaca-se pela combinação de diferentes estilos, reflexo das várias épocas de construção e ampliação ao longo dos séculos. Ao longo da História, o Paço desempenhou um papel central na vida política, social e cultural da nobreza portuguesa, especialmente a partir do período em que os duques de Bragança passaram a ocupar o trono nacional, após o domínio filipino.


Buy Me A Coffee

A construção do edifício começou em 1501 por decisão do quarto duque de Bragança, D. Jaime, com o propósito de ser a residência da família, numa época em que a paz permitia a saída das fortificações dos castelos. Os duques seguintes foram imprimindo a sua marca nesta casa que, após a subida ao trono, tornou-se numa das residências reais espalhadas pelo reino. Além da sua imponência estética, o edifício guarda valiosos vestígios de épocas passadas, tornando-se num importante símbolo do património histórico nacional. Não só desempenhou o papel administrativo e residencial da família, o palácio também foi palco de eventos históricos importantes, como as célebres Trocas das Princesas, que ocorreram em diferentes reinados. 


Podes ver também o Roteiro de Viagem entre Vila Viçosa e Elvas 


A fachada do Paço Ducal apresenta-se imponente e elegante, com 110 metros de comprimento, tornando-a única na arquitectura civil portuguesa e onde se revela inspiração clássica. Destaca-se pelo uso da pedra mármore da região, com janelas amplas e ornamentos discretos que realçam a sua grandiosidade. A porta de entrada convida-nos a adentrar num espaço repleto de História, onde os poderosos de então pisaram. Toda a praça é imponente, constituindo um quadrado onde todos os edifícios estão relacionados com a casa ducal, um espaço amplo que nos causa impacto logo na primeira imagem, e que tem ao centro a estátua do duque que se tornou rei, D. João IV. Esta foi a primeira paragem da minha viagem e é o lugar mais memorável logo à primeira vista. 


Montagem de fotos mostrando a fachada do Paço Ducal de Vila Viçosa, com sua arquitetura elegante e detalhes históricos, e uma imagem da estátua de D. João IV situada no centro da praça, destacando-se como símbolo da cidade.

Logo que entramos no edifício, na recepção onde compramos os bilhetes para a visita, somos imediatamente envolvidos por uma atmosfera de grandiosidade. Nesse espaço, enquanto aguardamos pelo início da visita guiada, podemos observar uma série de painéis com informações sobre a família, a fundação e o espaço que estamos prestes a conhecer. Também ficamos a saber que não são permitidas fotos ou filmagens no interior do palácio, o que é o motivo para ter tão poucas fotos relevantes para partilhar aqui. A visita guiada, que tem um custo de 8€, começa com a subida das escadas que serviam de acesso aos visitantes ilustres do palácio e que nos conduzem ao Andar Nobre, onde vamos encontrar todas as salas mais famosas e com as colecções mais icónicas deste espólio. As salas de aparato, onde eram recebidos embaixadores e gente importante da nobreza, impressionam pela sua decoração refinada, mobiliário antigo, esculturas, pinturas e tapeçarias, onde fica evidente o luxo desta residência. 


Podes ler ainda sobre o Café Restauração 


Nos aposentos reais é possível apreciar os quartos ricamente decorados pelos reis D. Carlos e D. Amélia, que muito apreciavam passar a época de caça neste palácio, que inclusivamente foi onde dormiram antes do regicídio, em 1908. Os objectos da época, os livros, as pinturas do artista D. Carlos, verdadeiramente impressionantes, permitem uma visão privilegiada do quotidiano e do modo de vida dos últimos reis da dinastia de Bragança. Cada espaço revela um pouco do passado aristocrático do local, convidando-nos a imaginar as ocasiões de gala e os momentos familiares que ali aconteceram. Os vastos salões e salas privadas são guarnecidos de fogões de sala, que permitiam aquecer os espaços no Inverno, e também grandes aquários de porcelana são distribuídos pelos aposentos, que serviam para, cheios de água, arrefecerem o ambiente no Verão quente alentejano. A iluminação é natural, pois o Paço não é provido de luz elétrica até hoje, o que confere uma recriação ainda mais fidedigna do que seria estar e viver neste lugar. 


Montagem de fotos do Claustro e dos Jardins do Paço Ducal de Vila Viçosa, mostrando o pátio com arcadas e colunas no Claustro, e áreas verdes bem cuidadas com árvores, caminhos e flores nos Jardins do palácio.

A decoração de todo o Paço revela um esplendor histórico e artístico que, graças às informações da nossa guia, conseguimos perceber as diferentes origens, autores, épocas e até aspectos curiosos dos diferentes elementos que compõem cada sala. Encontramos paredes adornadas com azulejos tradicionais, frescos mitológicos, que muitas vezes baptizam o espaço onde se encontram, detalhes em talha dourada, paredes forradas a seda, só para dar alguns exemplos. A Capela do Paço também impressiona pelos seus detalhes arquitectónicos, encontrando-se na encruzilhada entre o alimento para a alma e o alimento para o corpo, com a cozinha, que permanece no mesmo lugar desde o início e alberga uma colecção impressionante de panelas de cobre. Por fim, saímos para o Claustro, onde não existe entrada, e terminamos a visita nos Jardins, numa miniatura de Versalhes. 


Terminada a visita guiada ao Paço Ducal, escolhi ver a Sala do Tesouro, um espaço que alberga objectos valiosos e importantes, relacionados com a casa de Bragança, e que são pertença, na sua maioria, de um colecionador particular. É uma sala relativamente pequena, rodeada de expositores, seguros e modernos, onde todas as peças estão visíveis e com legendas que permitem compreender o que vemos, a sua origem e em que época foram feitos. Temos joias, moedas, medalhas, artefactos religiosos, pratas, todos com grande significado simbólico e histórico. As peças mais marcantes, na minha opinião, são a Cruz de Vila Viçosa, a Cruz de D. Catarina de Bragança e a Caravela-Cofre. Visitar esta colecção custa 2,50€ e, embora necessite do acompanhamento de um guia, não existe lugar a visita guiada. 


Embora tenha ficado com pena de não ter visitado a Colecção de Carruagens, que ficará para uma nova visita, esta foi uma experiência verdadeiramente enriquecedora e marcante, que cumpriu plenamente as minhas altas expectativas, e que reforça a minha convicção acerca da importância de valorizar e proteger o nosso património cultural para as futuras gerações. Portanto, se procuras uma experiência única, esta é uma visita imperdível. Para planeares a tua vista adequadamente, consulta todos os pormenores no site da Fundação Casa de Bragança. Mas agora, quero saber o que tens a dizer! Já conhecias o Paço Ducal de Vila Viçosa? Conheces esta região alentejana? Já fizeste alguma das visitas que têm disponíveis? O que mais desperta a tua curiosidade? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 9 de setembro de 2025

#Livros - Pais e Filhos, de Ivan Turguéniev

 

Ilustração de capa do livro "Pais e Filhos" de Ivan Turguéniev, publicada pela Relógio d'Água: retrato de um jovem com expressão pensativa, com a mão no bolso, vestindo roupas do século XIX, em estilo artístico clássico.

Sinopse

O jovem Bazárov tem tantas qualidades quanto transborda de impaciência e causticidade. Niilista, como de si próprio diz, antissocial e avesso a todos os tipos de autoridade, é mentor de Arkádi Kirsánov, que, terminados os estudos na universidade, regressa a casa na companhia de Bazárov. Rapidamente, esta figura, um corpo estranho agora infiltrado na família, transforma-se no combustível para grandes convulsões na propriedade e na vida dos Kirsánov, reflectindo, vivida e exemplarmente, as grandes mudanças que acontecem na Rússia do século XIX. 

Hoje considerado um dos grandes romances dos últimos duzentos anos, Pais e Filhos foi publicado em 1862 e causou grande celeuma, tanto entre as gerações mais novas como junto dos mais velhos - reaccionários, românticos ou radicais -, enquanto, pela Europa fora, Turguéniev recebia o elogio de autores como Flaubert, Maupassant e Henry James. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Pais e Filhos é uma obra emblemática do escritor russo Ivan Turguéniev, publicada originalmente em 1862. O livro retrata as complexas relações entre gerações, explorando os conflitos de valores e ideais que surgem na sociedade russa do século XIX. O autor, considerado um dos principais nomes do realismo russo, destacou-se pela sua habilidade para retratar a alma humana e as transformações sociais do seu tempo. A sua escrita combina sensibilidade, profundidade psicológica e uma crítica social aguda, o que faz das suas obras exemplos duradouros da literatura russa clássica. Publicado num período de profundas transformações sociais e políticas na Rússia, que enfrentava o impacto da emancipação dos servos, a crise do sistema feudal e o início de processos de modernização económica e intelectual. 


A história gira em torno do jovem Arkádi, que retorna à sua cidade natal e se depara com as tensões entre os ideais tradicionais dos seus familiares e as novas ideias dos jovens, especialmente as representadas pelo seu amigo, Bazárov, um niilista radical. Ao longo da narrativa são explorados temas como o amor, as diferenças geracionais, a luta entre o conservadorismo e o progresso, além das dificuldades de compreensão mútua entre as gerações. Além dos jovens já referidos, que são os grandes protagonistas, temos também o pai de Arkádi, Nikolai, um homem tradicional mas que se acha permeável às novas ideias, e o tio, Pavel, um janota conservador e aristocrata, que toma como modelo os ingleses. A relação entre os jovens e os mais velhos é marcada por tensões e diferenças de visão de mundo, refletindo o embate entre o idealismo juvenil e o conservadorismo paterno. 


Podes ler também a minha opinião sobre Humilhados e Ofendidos 


A narrativa revela a polaridade entre os mais velhos, que defendem os costumes e as convenções estabelecidas, e os jovens, que abraçam ideias mais liberais, ceticismo em relação às tradições e uma busca por mudanças sociais. Assim, Turguéniev explora duma forma realista e sensível as tensões geracionais, destacando as dificuldades de conciliar o passado e o presente, além de refletir sobre os desafios duma sociedade em transformação. Sem esquecer a importância do espírito crítico e da liberdade de pensamento na construção duma sociedade mais progressista, onde se coloca o jovem como uma peça-chave na evolução cultural e social da sua época. Mas a verdade é que muitos desses jovens enfrentavam uma crise de identidade, diante das mudanças rápidas e turbulentas da sociedade russa. O próprio Arkádi vive um conflito interno, dividido entre as suas raízes familiares e os novos ideais que deseja adoptar, o que impacta na formação da sua identidade pessoal e até coletiva. 


"Assim, se passaram dez anos, insipidamente, esterilmente, e com medonha rapidez. Em nenhum outro lugar o tempo voa como na Rússia; dizem que na prisão ele corre ainda mais depressa." 


A personalidade forte de Bazárov e o seu desprezo pelas normas estabelecidas colocam-no em contraste com o amigo Arkádi, mais sentimental e idealista, que mantém uma postura mais tradicional e emocional diante do mundo, ainda que não tenha consciência disso no início do livro. No fundo, as ideias e os conflitos entre elas são explorados sobretudo nas relações entre os diferentes personagens, e não só nas relações entre pais e filhos. Na relação com as mulheres, que aparecem de formas bem distintas ao longo do livro, entre amigos e até conhecidos de circunstância. Deste modo, o autor utiliza os seus personagens como símbolos das ideias conflitantes, enquanto cria uma narrativa que explora as tensões entre passado e futuro, conservador e progressista, individual e social. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Doutor Jivago 


A escrita de Ivan Turguéniev caracteriza-se pela sua elegância subtil, linguagem refinada e uma atenção minuciosa aos detalhes psicológicos dos seus personagens. Com uma prosa fluída, marcada pela forte sensibilidade e uma capacidade ímpar de captar as emoções humanas. Também revela uma preocupação com a moralidade, o amor e as questões existenciais, tornando-se uma leitura envolvente e carregada de significado. A linguagem utilizada vem desempenhar um papel fundamental na transmissão das ideias centrais da obra, o que reflete de forme precisa e sensível as tensões do período que se vivia. A escolha dum estilo claro e directo permite que as emoções e os conflitos dos personagens sejam comunicados de forma eficaz, o que facilita a compreensão das críticas a ambas as gerações. Como tal, a linguagem em Pais e Filhos funciona como uma ponte entre o leitor e as complexidades dos tema, que permanecem relevantes até hoje. 


"Em todo o caso eu digo que um homem que jogou toda a sua vida na carta do amor de uma mulher e, quando essa carta foi vencida, desanimou e desceu até ao ponto de não ser capaz de nada, esse homem não é um homem, é apenas do sexo masculino." 


Ao concluir esta leitura de mais um autor russo famoso, confesso que esperava mais. A culpa será, certamente, das expectativas altas que tinha e da minha experiência anterior com outros autores, sempre extraordinária e muito diferente de tudo o que tinha lido. Talvez agora esteja mais habituada ao estilo russo e o impacto tenha sido menor. Ou simplesmente, este não seja o livro certo do autor para me agarrar e despertar a vontade de ler a sua obra completa. No entanto, isso não significa que o livro não seja muito bom, com personagens complexos e questões sociais interessantes, capaz de provocar reflexões nos leitores sobre a natureza humana. Portanto, se procuras uma leitura instigante sobre as relações familiares, amorosas e intelectuais, esta é uma excelente escolha. Os interessados na literatura russa já devem ter este autor debaixo de olho, e os que apreciam emoções, dilemas éticos e uma visão crítica do mundo deviam ter também. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces Turguéniev? Leste Pais e Filhos? O que achaste desta história e destes protagonistas? Qual o teu favorito? Aconselhas outros livros deste autor? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

#Séries - Love is in the air

 

Eda e Serkan de pé lado a lado, sorrindo com confiança e carinho, em um cenário luminoso que reflete o clima romântico e alegre da série "Love is in the Air".

Sinopse

Na novela turca Love is in the air, acompanhamos a história de Eda Yildis, uma dedicada e brilhante estudante de paisagismo que mantém a sua faculdade através de uma bolsa de estudos. Ainda jovem, perdeu os seus pais e procurou focar nos seus estudos, buscando trilhar uma estável carreira de arquitecta paisagista. No entanto, ao esbarrar com Serkan Bolat, um famoso e arrogante empresário da área da arquitectura, Eda tem a sua vida virada de cabeça para baixo ao aceitar um acordo, onde os dois precisam fingir ser um casal apaixonado, tendo que conviver com uma pessoa tão diferente de si. Nutrindo um ódio mútuo, os dois são capazes de qualquer coisa para conquistarem os seus objectivos, mas o novo casal logo descobre que toda a mentira pode ter um fundo de verdade. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Love is in the air é uma famosa série turca que conquistou a audiência tanto na Turquia quanto internacionalmente e Portugal não foi excepção. Originalmente lançada em 2020, a produção destaca-se pela sua narrativa envolvente e personagens carismáticos, o que levou à conquista de fãs ao redor do mundo. Com uma mistura de humor, romance e drama, a série tornou-se um fenómeno de popularidade, o que se comprova pelos vídeos que podem ser vistos em todas as redes sociais, e que consolidou a produção turca como uma das mais assistidas na actualidade. Inserido no género de comédia romântica, caracteriza-se pela sua abordagem leve, humorística e voltada para histórias de amor e relacionamentos. O estilo da produção combina elementos tradicionais do drama romântico com toques de humor e situações quotidianas, criando uma narrativa envolvente e acessível ao público. 


A série narra a história duma jovem estudante, cheia de sonhos, que perde a sua bolsa de estudos por cancelamento do seu mecenas. Assim, Eda decide confrontar esse homem quando ele visita a sua universidade e expor que afinal não é quem diz ser. Entre mal-entendidos, momentos de humor e emoções profundas, a trama explora temas como amor, confiança e os desafios de seguir o coração. Esta nossa protagonista é uma jovem dedicada e sonhadora, que trabalha como florista no negócio da tia enquanto termina o seu curso de arquitecta paisagista. O seu encontro com Serkan Bolat, um arquitecto bem sucedido e reservado, dá início a uma relação cheia de conflitos e química intensa, que transparece a cada cena, mesmo que não se toquem, e que é reveladora da relação pessoal que construíram na vida real. 


Podes ler também sobre Amar Depois de Amar 


O enredo acompanha o desenvolvimento desta conexão inesperada, que começa com um confronto, torna-se num noivado de mentira, onde os sentimentos a fingir se tornam mais reais do que ambos admitem ou gostariam. No meio dos segredos e dos momentos emocionantes, lutam para equilibrar as suas emoções com as expectativas das suas famílias, amigos e das suas carreiras. O roteiro combina diálogos cativantes e situações divertidas, o que ajuda a criar uma narrativa envolvente que prende a atenção do público e nos faz torcer por este casal do início ao fim. A sintonia entre os actores, sobretudo o casal de protagonistas, reflete bem a evolução natural do relacionamento deles ao longo da série e contribui para o sucesso da história. Claro que é inevitável perceber alguns clichés e momentos previsíveis que, apesar de tudo, mantém o espectador interessado e expectante sobre o que virá a seguir para o seu casal favorito. 


Eda e Serkan, de mãos dadas, olham um para o outro com ternura enquanto o rio ao fundo reflete a luz do pôr do sol. O momento captura a antecipação e o amor que crescem entre eles, prestes a compartilhar um beijo inesquecível.

Também os personagens secundários desempenham aqui papéis essenciais que enriquecem a narrativa e aprofundam as dinâmicas do enredo, muito embora existam arcos que gostaria que tivessem sido melhor explorados ou até explicados. Personagens como Melô, a melhor amiga de Eda, ou os colegas de trabalho de Serkan na empresa, contribuem com as suas próprias histórias e personalidades distintas, proporcionando um ambiente mais realista e multifacetado. Entre momentos de tensão e risos, a narrativa desenrola-se com um ritmo ágil, e à medida que os obstáculos surgem, a química entre os protagonistas intensifica-se, revelando que, apesar das diferenças, o amor verdadeiro pode florescer nos lugares e nos momentos mais inesperados. 


Podes ver ainda o meu Top 10 de Novelas da Globo 


Inicialmente, chamou-me a atenção os inúmeros vídeos que me apareciam no feed do Facebook, e que despertaram a minha curiosidade para perceber o que teria levado às cenas que assistia. A química do casal, os desafios que enfrentam e o humor sempre presente, foram os factores determinantes para ter decidido começar a ver desde o início e compreender toda a história. Além disso, o ambiente vibrante e a banda sonora cativante também contribuíram para criar esta atmosfera leve e apaixonante que nos prende até ao último capítulo. E não podemos esquecer que a beleza dos actores é de tirar o fôlego e tenho a certeza que será um motivo forte para conquistar novos espectadores. Portanto, esta pode ser a série certa para ver nas férias, para quem gosta muito de comédias românticas leves e divertidas, com um toque de drama e personagens carismáticas. Os românticos de serviço, que adoram histórias de amor, com muita paixão e superação, vão encontrar aqui uma escolha acertada.



 A série turca está disponível na Prime Vídeo e também sei que passou nos canais do cabo, na versão dublada em português do Brasil e no original com legendas. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Acompanhaste esta história? Qual o teu personagem favorito? Também te apaixonaste por este casal tempestuoso? Que temporada preferes? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 2 de setembro de 2025

#Livros - 12 Regras para a Vida, de Jordan B. Peterson

 

Imagem da capa do livro "12 Regras para a Vida" de Jordan B. Peterson, publicado pela Lua de Papel. A capa apresenta um fundo branco limpo, com o título destacado em letras douradas, transmitindo uma sensação de elegância e importância.

Sinopse

Muito antes de existirem dinossauros, já as lagostas povoavam a Terra. Há 350 milhões de anos que obedecem a uma rígida estrutura hierárquica. As mais fortes têm direito ao melhor território, à melhor comida, às melhores fêmeas. As mais fracas vergam-se à autoridade - a ponto de caírem em depressão. A organização social das lagostas é o ponto de partida da primeira regra deste livro: Levante a Cabeça e Endireite as Costas. Não é uma metáfora: ou somos verticais ou somos esmagados. No limite, trata-se de uma escolha individual, e é de escolhas (e responsabilidades) que trata este livro. 

Para Jordan B. Peterson - um dos mais polémicos pensadores contemporâneos -, vivemos num mundo caracterizado ou pela ausência de valores ou pela entrega a crenças totalitárias. Ora, quando não há valores, falta-nos um sentido para a existência; mas se aderirmos cegamente a uma crença, colocamo-nos em confronto com as restantes. A alternativa é assumir as nossas responsabilidades individualmente. Quando o autor nos diz para pôr a nossa casa em ordem antes de criticarmos os outros ou para nos compararmos só connosco, está a oferecer-nos modelos de pensamento. 

Cada uma dessas regras, ancorada na mitologia, religião e filosofia, obriga-nos a repensar tudo aquilo em que acreditamos. 12 Regras Para a Vida é uma obra corajosa, transformadora, que nos revela "um dos mais importantes pensadores a ascender à ribalta mundial nos últimos anos" (segundo a revista Spectator). 

Findo o livro, nunca mais verá uma lagosta da mesma maneira. E se começar a levantar a cabeça e endireitar as costas, o triunfo não será do autor mas seu. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

12 Regras para a Vida é uma obra do famoso psicólogo clínico e professor Jordan B. Peterson. Conhecido pela sua abordagem que combina psicologia, filosofia, religião e ciência, Peterson explora princípios fundamentais para a organização da vida e o desenvolvimento pessoal. O livro apresenta doze regras práticas, baseadas em experiências pessoais, estudos académicos, pacientes e tradições antigas, com o objectivo de ajudar os leitores a encontrar significado, equilíbrio e responsabilidade no meio do caos do mundo moderno. Estamos perante uma figura influente no campo da psicologia e da cultura contemporânea, reconhecido pelas suas análises profundas sobre comportamento, moralidade e o papel do indivíduo na sociedade. 


O autor, oriundo do Canadá, além de professor, publica as suas análises sobre comportamento humano, filosofia e cultura, o que levou à publicação deste livro onde reúne doze regras, entre as muitas que escreveu ao longo do tempo. Com o livro e as suas palestras, ganhou destaque internacional, e foi cimentando a sua abordagem onde desafia ideias convencionais, promovendo a responsabilidade individual e o desenvolvimento pessoal. Neste livro, propõe que a disciplina, o autoconhecimento e a compreensão das próprias limitações são essenciais para enfrentar os desafios do quotidiano. Peterson enfatiza a importância de assumir responsabilidades, cultivar a integridade e procurar uma vida com propósito, num convite ao leitor para enfrentar o caos e a complexidade do mundo com coragem e reflexão. 


Podes ler também a minha opinião sobre 21 Lições para o Século XXI 


O livro apresenta uma estrutura organizada em torno das doze regras fundamentais que visam orientar os leitores para uma vida mais equilibrada, responsável e significativa. Cada regra é aprofundada em capítulos que combinam conceitos psicológicos, filosóficos e experiências pessoais do autor, da sua vida particular ou em consultório, oferecendo orientações práticas e reflexões profundas. Desde a importância de manter uma postura direita e cuidar de si mesmo até à necessidade de procurar significado em vez de apenas felicidade, as regras abordam aspectos diversos da existência humana, formando um guia progressivo que convida o leitor a refletir sobre as suas atitudes, valores e escolhas quotidianas. Esta estrutura sistemática permite que a obra funcione como um manual, que incentiva a implementação de pequenas mudanças, que podem levar a uma vida mais ordenada e com propósito. 


"Cada um de nós tem de assumir toda a responsabilidade que conseguir pela sua vida pessoal e também pela sociedade e pelo mundo. Cada um de nós deve dizer a verdade, consertar o que precisa de conserto e desmantelar e recriar o que é velho e ultrapassado." 


Com uma escrita clara e acessível, Peterson convida-nos a confrontar as nossas dificuldades e a assumir responsabilidades pessoais, enfatizando a importância da disciplina, da verdade e do significado como pilares para uma existência mais plena. O tom do livro é ao mesmo tempo sério e encorajador, estimulando uma busca contínua por crescimento pessoal e por compreensão do mundo ao nosso redor. Os conceitos de ordem e caos são explorados como elementos fundamentais da existência humana. Ele apresenta a ordem como um símbolo de estabilidade, segurança e estrutura, representando o mundo conhecido e controlável, enquanto o caos simboliza o desconhecido, a potencialidade e o risco de transformação. O autor argumenta que o equilíbrio entre estes dois polos é essencial para uma vida plena: ordem demais pode levar à rigidez e à repressão, enquanto caos excessivo pode gerar desordem e sofrimento. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Adapte-se 


Peterson defende que, diante do caos e das adversidades, a postura de enfrentar e aceitar a responsabilidade permite ao indivíduo estabelecer limites, criar sentido e promover a autossuperação. Esta forma de pensar incentiva uma postura proativa, na qual cada pessoa deve cuidar de si mesma e contribuir positivamente para o mundo ao seu redor, reconhecendo que a responsabilidade é a base para a liberdade verdadeira e o crescimento pessoal. Além de tudo isto, o autor incorpora muitos elementos religiosos, especialmente do cristianismo, para ilustrar símbolos de moralidade e redenção, reforçando a ideia de que a fé e os valores tradicionais podem servir de guia para quem procura uma vida equilibrada e com significado. Pessoalmente, considero que 12 Regras para a Vida apresenta uma abordagem instigante e muitas vezes provocativa sobre como podemos encontrar sentido e equilíbrio nas nossas vidas. 


"Acima de tudo, os pais querem a amizade dos filhos e estão dispostos a sacrificar o respeito para obtê-la. Isso não é bom. Uma criança pode ter muitos amigos, mas apenas dois pais - se tanto -, e os pais são bem mais importantes do que os amigos." 


No fundo, é uma leitura que provoca reflexões interessantes e desafio o leitor a assumir o controlo da sua própria jornada, mesmo que nem todas as regras toquem igualmente todos nós. Apesar de muito ser de senso comum, a verdade é que nem sempre pensamos, de forma consciente, sobre estes tópicos e são raras as vezes em que colocamos tudo em prática consistentemente. No entanto, aplicá-las, ainda que de forma gradual, pode promover melhorias na qualidade de vida de cada leitor, tanto na vida pessoal quanto na profissional. Implementar estas regras pode exigir disciplina, mas pode ser a receita para criar uma rotina mais estruturada, equilibrada e alinhada com os nossos valores. Este é o livro certo para quem deseja começar a compreender melhor a complexidade da existência humana e aprimorar a sua postura diante das adversidades. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conhecias este livro? O que achaste da experiência de leitura? Qual a regra que mais te marcou? O que pensas sobre este autor? Acompanhas o seu trabalho? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

#Places - Café Restauração

 

Prato de carne de porco à alentejana, servido em um restaurante tradicional em Vila Viçosa, apresentando cubos de porco dourados, amêijoas frescas, batatas a murro e temperos aromáticos, convidando para uma experiência gastronômica típica do Alentejo.

No meu recente passeio por Vila Viçosa, decidi almoçar no Café Restaurante Restauração, um local que tinha excelentes recomendações no Google e também foi aconselhado pela funcionária do Posto de Turismo. A minha visita ocorreu durante o pico do Verão, numa tarde ensolarada, durante a semana, quando o movimento na vila estava bastante calmo e tranquilo, o que me permitiu absorver o ambiente habitual deste lugar, onde facilmente viveria. No entanto, o ambiente no local estava bastante animado, com muita gente a almoçar ou a tomar café na esplanada, a usufruir da vista para a Praça central, com a Igreja de S. Bartolomeu dum lado e o Castelo na outra ponta. 


Buy Me A Coffee

O restaurante apresenta-se como um espaço que valoriza a tradição gastronómica alentejana, oferecendo um conceito de cozinha que harmoniza sabores autênticos com um toque contemporâneo. O seu estilo de cozinha reflete uma abordagem regional, onde se destacam os ingredientes locais frescos e as receitas tradicionais, reinterpretadas com criatividade e elegância, proporcionando aos clientes uma viagem saborosa e genuína pelo melhor da cozinha de Vila Viçosa. Situado no centro de Vila Viçosa, facilita o acesso tanto a moradores quanto a visitantes. É fácil chegar de carro e encontrar estacionamento na praça ou nas ruas ao redor, a poucos passos do restaurante. Além disso, é fácil o acesso a pé a partir dos maiores pontos turísticos e hotéis da zona, tornando a visita ainda mais conveniente e agradável. 


Podes ler também sobre a minha experiência no Maré Cheia 


O ambiente no interior é acolhedor e elegante, que combina elementos rústicos e contemporâneos, criando um espaço convidativo e sofisticado. A atmosfera é tranquila e acolhedora, perfeita para desfrutar duma refeição num clima de conforto e charme. No entanto, o que me encantou foi a esplanada com vistas generosas e uma sombra deliciosa, mesmo no clima quente do nosso Alentejo. No que diz respeito ao atendimento, ele destaca-se pela cordialidade e pela atenção dedicada aos clientes, por parte de todos os funcionários que me serviram durante esta refeição. Demonstrando um bom conhecimento do menu, os funcionários conseguem oferecer sugestões precisas e esclarecem as dúvidas com toda a simpatia. Além disso, o serviço é ágil, com rapidez na entrega dos pratos, o que muito contribui para uma experiência agradável. 


A primeira imagem mostra uma garrafa de água mineral transparente, com rótulo visível, sobre uma mesa de madeira. A segunda imagem apresenta uma salada tropical vibrante, com fatias de fruta, folhas verdes e ingredientes frescos, disposta em um prato branco.

A minha intenção era experimentar pratos típicos alentejanos, mas confesso que com o calor que fazia só me apetecia comer coisas frescas e a carta das saladas piscou-me o olho com muita vontade. Assim, para prato principal, escolhi a Salada Tropical, que estava deliciosa e bem servida. Como ainda teria de conduzir até Elvas, para acompanhar fiquei pela água fresca, embora tenha pena de não ter experimentado alguns dos vinhos interessantes da carta. Ficará para uma próxima, certamente. Para adoçar a boca, decidi escolher o clássico bolo de bolacha, que estava delicioso e que foi o encerramento perfeito para uma refeição leve e agradável. Ressalvo ainda que o restaurante dispõe de vários pratos vegetarianos, que me pareceram muito apelativos, e toda a ementa tem informação sobre substâncias intolerantes, o que a torna fácil de entender para quem tem restrições alimentares. 


Podes ler ainda sobre a minha experiência no Barrete Verde 


O Restauração oferece uma experiência gastronómica encantadora com uma faixa de preços moderadamente acessíveis, com opções variadas para diferentes carteiras. Os pratos individuais podem variar entre os 10 e os 25 euros, proporcionando uma excelente relação qualidade/preço. A verdade é que é impossível não se impressionar com a alta qualidade e consistência oferecidas ao longo de toda a experiência. Tanto o prato quanto a sobremesa apresentaram sabores bem equilibrados, ingredientes frescos e uma apresentação cuidada, refletindo o compromisso do restaurante com a excelência. Em suma, o restaurante oferece uma proposta gastronómica consistente, com uma combinação adequada de valor, técnica e qualidade. 


Imagem da esplanada do restaurante Restauração, com mesas ao ar livre rodeadas por plantas verdes e cadeiras confortáveis, perfeita para desfrutar de uma refeição ao ar livre. Ao lado, uma deliciosa porção de bolo de bolacha, decorada com camadas visíveis de biscoito e recheio cremoso, pronta para ser saboreada

Para concluir, posso assegurar que a experiência no Restauração, em Vila Viçosa, foi verdadeiramente memorável. A refeição apresentou uma combinação harmoniosa de sabores, com ingredientes frescos e de qualidade que ressaltam o cuidado na elaboração de cada prato, proporcionando uma sensação de satisfação e conforto. No geral, toda a experiência foi bastante positiva, deixando uma impressão duradoura de excelência que, com toda a certeza, convidam a uma nova visita no futuro. Este é um espaço que pode atender a diferentes públicos, com gostos bem diversos. Para quem está de passagem, numa visita casual, para casais, que procuram um ambiente romântico e intimista, e até para famílias e grupos, onde poderão encontrar opções de carne, peixe, marisco e vegetarianos, este espaço irá certamente encantar e conquistar. 


Mas agora quero saber a tua opinião! Já conheces o Restauração? É um espaço que recomendas? Que pratos aconselhas? Que outros restaurantes na região merecem uma visita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

#Livros - O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe

 

Capa do livro "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe, edição da Porto Editora. Fundo azul-escuro com pedaços de fotografias em preto e branco formando uma colagem, com o título e o nome do autor destacados sobre a imagem.

Sinopse

Raramente a literatura universal produziu um texto tão sensível e humano quanto este. O filho de mil homens é uma obra da ourivesaria literária de Valter Hugo Mãe. Uma experiência de amor pela humanidade que explica como, afinal, o sonho muda a vida. 

Crisóstomo, um pescador solitário, ao chegar aos quarenta anos de idade, decide fazer o seu próprio destino. Inventa uma família, como se o amor fosse sobretudo a vontade de amar. 

Sempre com a magnífica capacidade poética de Valter Hugo Mãe, esta história é um elogio a todos quantos resistem para além do óbvio. 

Com prefácio de Alberto Manguel

Através de um desdobramento magistral de personagens estranhas e únicas, Mãe oferece-nos uma espécie de catálogo da extraordinária variedade dos elementos da nossa espécie e das admiráveis qualidades de cada um deles.

Alberto Manguel, Prefácio


Buy Me A Coffee

Opinião 

Regresso a Valter Hugo Mãe com O filho de mil homens, que se coloca num Portugal rural para explorar, com uma prosa lírica e sem medo da ousadia lexical, a relação entre um homem e o filho que ele acolhe, questionando o que significa família, paternidade e pertencimento. A voz singular do autor, com a sua linguagem poética e experimental, convida-nos a sentir o peso do tempo, a fragilidade humana e a força da empatia. Autor português contemporâneo, que acredito que se irá tornar num clássico daqui a muitos anos, é reconhecido pela inventividade linguística e pela sensibilidade com que retrata pessoas comuns em situações extraordinárias. As suas obras destacam-se pela cadência de frases, pelo uso de neologismos e pela fusão do realismo com o inesperado. 


Publicado em 2011, O filho de mil homens surge num momento de afirmação da nova geração da literatura portuguesa, recebendo a atenção da crítica pela prosa poética, pelo ritmo cadenciado e pela imagética incomum. A obra ajudou a projectar Valter Hugo Mãe no panorama literário, funcionando como demonstração da sua voz singular e dum estilo que combina simplicidade aparente, musicalidade e sensibilidade para o humano marginalizado. Neste sentido, a obra dialoga tanto com o realismo social quanto com uma vertente mais sensível e experimental da língua, aproximando-se duma tradição portuguesa que privilegia a linguagem como matéria poética, a interioridade e as ambiguidades morais. Faz parte, assim, duma renovação da literatura que recusa a frieza narrativa e abre espaço para o humano vacilante, a memória e a beleza que coexistem com o grotesco quotidiano. 


Podes ler também a minha opinião sobre A máquina de fazer espanhóis 


Este romance mergulha numa vila onde o tempo parece entrelaçar a memória, o mito e o quotidiano. A história acompanha o desejo de um homem por ter um filho e criar uma família, numa narrativa que atravessa dor, afecto, riso e rituais simples do dia a dia e que se cruza com outras figuras que, apesar do seu passado, ainda podem ter esperança de que o amor lhes seja permitido. A voz que nos conduz nesta narrativa é suave e ao mesmo tempo firme, sem abrir mão da ternura. O resultado é uma prosa que parece respirar em sílabas simples, transformando o comum em mito, a perda em celebração e o afecto em força capaz de acolher o milhar de vozes que compõem a nossa casa interior. A linguagem tem uma musicalidade áspera, enquanto a narrativa não avança por milagres dramáticos, mas por gestos simples, por silêncios que pesam, por uma insistência no mínimo que revela tudo. É uma leitura que não grita, mas permanece, áspera e sensível, como quem aprende a ouvir a cadência do mundo. 


"Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser." 


O narrador adopta um registo coloquial, com frases curtas e ritmadas, quase cantadas, que aproximam o leitor da intimidade do cuidado entre pai e filho. O estilo funciona como veículo tanto do afecto quanto da crítica social, sem recorrer a argumentos abertamente discursivos, mas pela forma que mantém a radicalidade do humano. Também o ponto de vista molda o entendimento, pois pode aproximar-nos dos acontecimentos e das intenções, mas também exigir do leitor uma participação activa para discernir a verdade por trás das histórias contadas. O grande protagonista é Crisóstomo, o pescador que decide criar a sua família, mas também Isaura, a mulher sofrida, cuja vida de perdas e desilusões a leva até ao homem que lhe vai ensinar que a felicidade é possível desde que se decida a ser feliz; e o filho, Camilo, uma criança que já tinha perdido todas as figuras familiares, de sangue e de amor, e que encontra o pai que o ama neste pescador. Por fim, o Antonino, homossexual que lutou contra esta realidade por amor à mãe e desejo de não a voltar a desiludir, primeiro marido de Isaura, a quem não foi capaz de fazer feliz como marido. Mas foi nesta família invulgar que encontrou o lugar onde se sentia aceite e querido, sem julgamentos nem medo de ser quem era. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Ensaio sobre a Cegueira 


É em torno deste quarteto que surgem histórias paralelas, antigas e que nos explicam as razões para os encontrarmos sozinhos ao longo da trama. São vizinhos, parentes e outras pessoas da comunidade que funciona como espelho, juiz e palco para as tensões de vidas que procuram significado, pertencimento e dignidade. É esta dinâmica entre os personagens que é o verdadeiro motor da narrativa. O elo entre o homem que acolhe uma criança gera afecto, tensão e muitas questões e tem como consequência um desenrolar de uniões entre as pessoas que precisavam dessa família que o homem desejava. A construção da identidade é um entrelaçado de memórias, vínculos afectivos, antigos e recém criados, e práticas de linguagem que vão moldando quem cada personagem é e que poderá ser. Esses vínculos, essa família, vai muito para além da biologia, pois mostra que um filho pode ser o resultado de laços criados pela presença, pelo cuidado e pela partilha dum destino comum. 


"O toque de alguém, dizia ele, é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra." 


O impacto emocional vem todo da forma discreta mas profunda com que o autor se aproxima dos seus personagens, transformando o quotidiano, a fragilidade e o afecto em matéria poética, capaz de provocar surpresa, dor e até calor humano. A sensibilidade social aparece no olhar atento às estruturas de classe, às relações de poder e às formas de cuidado comunitário, tratadas sem jactância moralista, apenas com empatia e discernimento. No seu conjunto, o que funciona é essa confluência entre originalidade, impacto emocional, sensibilidade social e uma prosa que, apesar da aparente simplicidade, revela uma complexidade estética e humana notável. 


Recomendaria esta leitura a todos os apreciadores de literatura contemporânea lusófona, que valorizam uma linguagem poética e uma prosa que se desenrola em imagens simples, porém com uma carga emocional complexa. Jovens adultos ou adultos curiosos, vão aqui encontrar satisfação para o seu gosto por temas como memória, afecto, paternidade e pertencimento, e que valorizam narrativas que não seguem apenas a linha do tempo, mas capazes de nos levar pelo passado dos personagens, criando pontes inesperadas entre eles. Para mim faz sentido uma leitura calma e ponderada, para absorver todos os detalhes e a musicalidade do texto. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste O filho de mil homens? O que esta prosa despertou em ti? Qual o momento que mais te marcou? Tens algum personagem favorito? Que outros livros de Valter Hugo Mãe recomendas? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Projecto Cinema - 1986 | África Minha

 

Fita de filme sobre um fundo branco, representando o tema do projeto sobre os vencedores do Oscar de Melhor Filme, com referência ao vencedor de 1986, África Minha (Out of Africa).

Estou de volta com a série dedicada a todos os vencedores do Óscar na categoria de Melhor Filme. Hoje, vamos destacar o vencedor da cerimónia de 1986: África Minha. Baseado no livro de Karen Blixen, é dirigido por Sydney Pollack, o filme leva-nos a uma África colonial impressionante, onde amor, memória e uma visão intimista da vida no território africano se entrelaçam. Além de revisitar a obra que conquistou a estatueta dourada naquele ano, vamos também discutir os seus méritos artísticos, a abordagem estética e o contexto histórico que o tornaram um marca na história do Cinema. 


Buy Me A Coffee

Na 58.ª edição dos Óscares, África Minha saiu vitorioso, contando de forma épica a vida duma baronesa dinamarquesa que se muda para o Quénia colonial, acompanhando amores, escolhas difíceis e a imponente paisagem africana. Protagonizado por Meryl Streep e Robert Redford, o filme é lembrado pela sua cinematografia ampla, pela direcção elegante e pela banda sonora de John Barry, que lhe rendeu também o Óscar de Banda Sonora Original. Passada na África oriental sob domínio colonial britânico, nas primeiras décadas do século XX, a paisagem é a verdadeira protagonista, com savanas, campos de café, montanhas que se erguem ao longe e o céu vasto que parece não ter fim. O filme retrata, de forma romântica e ambígua, uma época de transição, entre o esplendor duma paisagem quase intocada e as tensões dum sistema colonial que molda relacionamentos, empregos e expectativas para o futuro da região. 


Acompanha todo o desenrolar do Projecto Cinema - Óscar de Melhor Filme 


O filme coloca a relação entre as pessoas e a natureza no centro da experiência, mostrando como a terra, o clima, os animais e as paisagens podem moldar decisões, relações e até identidades. É o encaixe entre um intenso drama romântico com uma visão de grande escala, aproveitando tanto a nostalgia por mundos exóticos quanto a fascinação por histórias de amor, descoberta e autoconhecimento em cenários grandiosos. A recepção inicial foi amplamente positiva entre críticos e público. A actuação de Meryl Streep e a realização de Sydney Pollack receberam elogios consistentes, a cinematografia de David Watkin e a banda sonora de John Barry foram destacadas como elementos de alto nível, e o filme destacou-se como um dos grandes vencedores da temporada de premiações, de forma geral. 


Pôster oficial do filme África Minha (Out of Africa), vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1986. A imagem mostra uma paisagem de savana africana ao pôr do sol, com tons quentes, e o título Out of Africa em letras douradas na parte superior, evocando o tema romântico-aventureiro da história.

África Minha conta a história real de Karen Blixen, condessa dinamarquesa que, no início do século XX, vai para o Quénia com o marido para gerir uma plantação de café. Entre a imensa savana, as dificuldades económicas e o isolamento duma vida de estrangeira em território colonial, Karen constrói uma existência disciplinada, marcada pela coragem e pela elegância, mas também pelo desejo de liberdade. O núcleo emocional do filme é o romance com o caçador Denys Finch Hatton, uma relação intensa que desafia as convenções da época e que se torna a verdadeira força motriz de Karen, mesmo diante das responsabilidades e tensões do casamento. 


Destacando-se pela produção de grande escala, o filme combinou locações reais no Quénia com cenários construídos para recriar com verossimilhança o ambiente da África colonial no início do século XX. Interiores e ambientes aristocráticos foram desenvolvidos em estúdios para alcançar o luxo da fazenda e das residências da época, complementados por uma direcção de arte que reforçou o contraste entre a opulência europeia e a paisagem africana. O filme é um exemplo marcante de como elementos técnicos e visuais ajudam a contar uma história. A cinematografia privilegia a vastidão africana com planos abertos e panorâmicas aéreas que capturam a luminosidade dourada das savanas, reforçada pela palete de tons quentes, que transmite a sensação de luz perpétua do continente. 



Além de Melhor Filme, também foi vencedor nas categorias de Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora, Melhor Direcção de Arte e Melhor Som. O sucesso foi retumbante, tanto que venceu ainda três Globos de Ouro e três BAFTA e consolidou o seu lugar como um grande marco do Cinema dos anos 80. A obra instaurou uma estética de sonho, que levou a um impacto cultural que vai além da sala de Cinema, influenciando a moda, fotografia de viagem e a percepção popular de África. Os debates em torno desta obra continuam a surgir, sobretudo, sobre a visão romântica do colonialismo e a memória histórica. Portanto, convido-te a ver ou rever este vencedor do Óscar do ano em que eu nasci, que ainda tem muito para entregar, mesmo passados tantos anos, e que proporciona um momento cinematográfico inesquecível. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Já viste África Minha? Que momento mais te marcou? Qual o teu personagem favorito? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

#Livros - Memorial de Aires, de Machado de Assis

 

Capa do livro "Memorial de Aires" publicado pela Tinta da China: fundo de cor rosa escuro com letras pretas elegantes exibindo o título e o nome do autor, Machado de Assis.

Sinopse

O último romance de Machado de Assis marca o nascimento de uma NOVA COLECÇÃO da Tinta-da-China, dedicada ao melhor da literatura brasileira e coordenada por Abel Barros Baptista e Clara Rowland. Memorial de Aires é o último romance de Machado de Assis, publicado no ano da sua morte (1908). Obra extremamente depurada, é a segunda atribuída ao conselheiro Aires, diplomata aposentado, que apareceu no romance anterior, Esaú e Jacó (1904), onde é personagem e autor ficcional. Agora, escreve um conjunto de anotações quotidianas, o Memorial, nos anos de 1888 e 1889.

No cenário da abolição da escravatura, Aires é uma figura complexa como testemunha e comentador: acompanha o velho casal Aguiar e a sua orfandade às avessas, enquanto na escrita se dedica à bela viúva Fidélia, e se envolve nos meandros divagantes do seu próprio e inesperado desejo. Ao mesmo tempo terno e cruel, o livro oscila entre o apontamento disperso e a narrativa escorreita, sempre contido e conciso, enquanto a sombra discreta do Fausto perpassa melancólica, quase indiferente... 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Memorial de Aires é a obra que me permitiu regressar ao escritor brasileiro Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura e de quem já tinha muitas saudades. Publicado em 1908, o livro apresenta-se na forma de um memorial escrito pelo Conselheiro Aires, um personagem que narra as suas memórias e reflexões sobre a sociedade carioca do final do século XIX, além das suas experiências pessoais e políticas. É sempre um deleite regressar à sua linguagem refinada, ironia subtil e profunda análise psicológica, características que permeiam toda a sua obra. Como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Machado deixou um legado literário que combina humor, crítica social e uma visão perspicaz da condição humana, consolidando-se como uma das figuras mais importantes da Literatura brasileira, lugar inteiramente merecido. 


O Brasil era marcado pela transição do Império para a República e os movimentos realistas e naturalistas consolidavam-se na literatura. Este Memorial de Aires, reflete uma fase de maturidade do autor, apresentando-se como um romance de memórias, que se foca num período de apenas dois anos, que combina elementos do realismo com uma visão crítica da sociedade brasileira da sua época. Com um narrador em primeira pessoa, que oferece uma visão subjectiva e muitas vezes ambígua dos acontecimentos, revela as suas nuances com humor. O referido narrador é Aires, um aposentado que decide escrever as suas memórias e reflexões sobre a vida e a sociedade onde se movimenta. 


Podes ler também a minha opinião sobre Quincas Borba 


Como personagens principais, além do próprio Aires, temos os seus amigos que contribuem para a trama. Destacam-se o casal Aguiar, idosos sem filhos, que suscitam a amizade de todos que com eles privam e que, no momento que Aires os conhece, protege a jovem viúva Fidélia. Com o seu cinismo, custa a crer a Aires que uma jovem tão bela permaneça fiel a um marido morto e acaba por apostar com a sua irmã que Fidélia voltará a casar, sendo esta aposta o fio condutor destas memórias e que obriga o conselheiro a acompanhar de mais perto a vida desta mulher e da família que a acolhe. É assim que são abordados, de forma subtil, temas de amor, ciúme e as complexas relações humanas. O livro explora estas relações, evidenciando as contradições, as hipocrisias e as estratégias de convivência que permeiam as interações sociais. Machado utiliza uma linguagem irónica e o seu olhar crítico para mostrar como o amor está entrelaçado às dinâmicas sociais, enquanto oferece uma visão realista e ao mesmo tempo delicada do universo emocional dos seus personagens. 


"Deixo aqui esta página com o fim único de me lembrar que o acaso também é corregedor de mentiras. Um homem que começa mentindo disfarçada ou descaradamente acaba muita vez exato e sincero." 


Aqui encontras um retrato do Brasil do século XIX, pelas memórias dum homem que, embora não seja um herói ou uma figura grandiosa, revela-se uma testemunha perspicaz da sua época. A narrativa, conduzida na primeira pessoa, confere uma sensação de intimidade e confidência, como se estivéssemos a conversar com o próprio Aires, ouvindo as suas histórias e observações com atenção. A linguagem é elegante, repleta de subtilezas e ironias que Machado de Assis domina com maestria, deixando transparecer um humor discreto. Assim, com a sua prosa refinada, o autor constrói um quadro de memórias e reflexões, onde o humor e a melancolia caminham de mãos dadas, revelando a complexidade do personagem que, entre devaneios e lembranças, procura compreender-se e compreender o mundo ao seu redor. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre A Mão e a Luva 


No fundo, Machado apresenta uma visão perspicaz e sempre irónica da sociedade brasileira do século XIX, enquanto nos revela as suas contradições, vaidades e hipocrisias. Com o seu personagem e narrador, evidencia a influência do passado aristocrático, a lentidão das mudanças sociais e a manutenção dos valores tradicionais, muitas vezes vazios. Faz, deste modo, uma crítica à superficialidade das relações sociais e à procura por status, revelando uma sociedade marcada pelo conservadorismo, pela desigualdade e pela resistência às transformações. É assim que a sua visão revela tanto o atraso quando a complexidade do Brasil daquele período, destacando as nuances e as fissuras duma sociedade em transição. Como sempre, Machado demonstra uma notável profundidade psicológica ao retratar os seus personagens. Essa complexidade é evidenciada pela forma como as suas emoções, desejos e dúvidas se entrelaçam. 


"Quero dizer que, cansado de ouvir e de falar a língua francesa, achei vida nova e original na minha língua, e já agora quero morrer com ela na boca e nas orelhas." 


Mais uma vez, Machado não desilude e proporcionou uma leitura rica e envolvente, marcada pela narrativa inteligente e irónica que já lhe conhecemos. A obra consegue misturar o humor com a crítica social, despertando no leitor uma sensação de admiração pela perspicácia do autor. É uma leitura agradável e instigante, acompanhada do retrato dos valores e comportamentos da sua época. Afinal, ler Machado de Assis é sempre um estímulo para o pensamento crítico e para a compreensão das complexidades do comportamento humano, não fosse este autor incontornável na literatura brasileira e para a língua portuguesa. Esta é uma obra da fase madura do autor, pelo que aconselho que comeces pelas anteriores, talvez até alguma das mais conhecidas, para melhor entender o seu estilo e as temáticas recorrentes, e começar o vício que é ler Machado de Assis. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste este livro? O que achaste deste livro invulgar? Qual personagem mais te marcou? Costumas ler Machado de Assis? Qual o teu livro favorito deste autor? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

Subscreve a Newsletter