Sinopse
A vida do Grande Nivelli, o mágico judeu que encanta Praga, muda quando os nazis invadem a Checoslováquia. A Segunda Guerra Mundial começa e ele é deportado com a família. O seu destino é o de milhões de judeus. Auschwitz.
O português Francisco Latino sempre foi considerado um bruto na Legião Estrangeira. Mas o seu coração amolece durante o certo de Leninegrado, onde integra a Divisão Azul espanhola e se apaixona por uma russa. Até que as SS o levam...
O mágico judeu e o soldado português unem os seus destinos em Auschwitz-Birkenau. A magia do Grande Nivelli será chamada a desempenhar um papel central num evento largamente desconhecido, mas que se revelou a maior conspiração levada a cabo pelas vítimas contra o Holocausto.
Opinião
Como já é do conhecimento geral, sempre que sai um novo livro de José Rodrigues dos Santos é certo e sabido que corro a comprar e, em 2020, o autor voltou a lançar dois livros seguidos, só que desta vez o segundo seria a continuação do primeiro. Tendo em conta que não gosto de esperar pelo fim das histórias, comprei os dois e, se adicionarmos o factor Holocausto à questão, poderia muito bem ser o momento perfeito.
Pois que, no final da primeira parte, não foi o caso de sucesso que estava à espera e a que estou habituada. Talvez a fasquia esteja muito elevada quando se tratam de histórias passadas em Auschwitz, ou as personagens não sejam as mais interessantes ou bem desenvolvidas. Até os ganchos no final de cada capítulo só começaram a prender-me na recta final do livro e essa é uma técnica que Rodrigues dos Santos costuma dominar com brilhantismo.
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Contudo, existem partes mais bem conseguidas do que outras e ainda não desisti totalmente da história. Aliás, este é claramente o preâmbulo para os eventos mais densos que se seguem. A trajetória dos dois protagonistas é contada de forma lenta e gradual, o que deveria causar suspense, mas que acaba por entediar por se focar em coisas demasiado acessórias. Nos últimos capítulos, claramente, percebemos que o verdadeiro enredo vai começar a ficar mais duro e pesado.
"Viviam por isso obcecados por coisas belas, por momentos bons, talvez porque a arte lhes proporcionava uma evasão da miséria a que se reduzira a sua existência."
Não que seja possível estar perante um relato leve ou agradável. Os momentos passados nas trincheiras são interessantes e, sobretudo, o percurso da família de Levin, desde Praga até Auschwitz, é angustiante. Principalmente, porque sabemos, ao contrário dos próprios, qual o plano que os alemães têm para os judeus. A forma como procuram abraçar a normalidade e, em especial, que as crianças não percam a sua infância, é enternecedora.
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Claro que o militar português se torna menor perante a enormidade das atrocidades que vamos acompanhando perante os judeus. Talvez seja nesse aspecto que a narrativa falha, porque o contraponto entre os dois protagonistas não é de forma alguma equilibrado. Na fase final, quando ambos chegam a Auschwitz, aí sim, entramos em contacto com duas visões semelhantes, ainda que de lados opostos. Um enquanto prisioneiro, outro enquanto SS.
"Vivera muitos anos entre eles, em rigor nascera alemão, e sabia que eram inteligentes. Mas também não ignorava que havia algo de profundamente irracional na sua racionalidade, algo de genial e ao mesmo tempo insano; bastava ver os seus espantosos contributos para a ciência e para a filosofia e em paralelo a crendice infantil na astrologia, na parapsicologia (...). Como era possível que tanto génio encerrasse tanta loucura, que tanto racionalismo descambasse em tamanha irracionalidade?"
Tendo em conta tudo o que disse até agora, não irei abandonar a continuação da história, mas irei fazer uma pausa e só mais tarde darei seguimento a esta leitura, que acredito será melhor que o início. E talvez por saber que o se segue será mais duro e temo que não exista um final feliz possível para o que vamos assistir, preciso de ler coisas mais positivas para ganhar coragem para descobrir como irá terminar a aventura dos protagonistas em Birkenau.
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Wook | Bertrand