Sinopse
Considerado por muitos o romance dos romances, Madame Bovary é um livro apaixonante sobre a idealização do amor romântico, o adultério e o suicídio.
Emma Bovary, a protagonista, é uma jovem bonita e requintada para os padrões provincianos da sociedade em que vive. Presa num casamento que a aborrece, aspira às grandes emoções que encontra nas páginas dos livros que lê compulsivamente.
A vida, o marido e a sua imaginação não são suficientes. Arranja um amante, e mais outro, mas nenhum é capaz de satisfazer os seus anseios. Revoltada com a sua vida, Emma perseguirá os seus sonhos, com consequências trágicas.
Além da densidade psicológica das personagens intervenientes, Madame Bovary é uma obra que se destaca também pela prosa esmerada e pelo realismo narrativo.
Opinião
O tempo passou e finalmente consegui ler o clássico Madame Bovary. É um livro tão forte e marcante da nossa civilização, que todos conhecemos este nome e sabemos bastante da sua história, mesmo sem ter lido o livro. Mais, este livro eclipsou toda a restante obra de Flaubert, que permanece ignorada pela maioria de nós. Pessoalmente, nem o nome de qualquer outra coisa que tenha escrito conheço, nem de ouvir falar. Portanto, as expectativas quanto a este livro famoso eram muito altas e foram totalmente ultrapassadas pela positiva.
Tudo começa acompanhando os pais Bovary e o Charles, na sua infância e juventude, bem como o seu primeiro casamento. Aliás, quando Charles conhece Ema, ainda é um homem casado e, portanto, seria impossível a ligação entre os dois. Talvez seja esta impossibilidade que encantou a romântica Emma e a fez acreditar que estava perante um homem extraordinário, que lhe iria arrebatar e tirar da sua vida monótona, mas cujo amor era impossível ser vivido. A beleza da jovem alimenta os sonhos românticos de Charles, que se encontrava desiludido com o seu casamento que estava longe de ser o que tinha imaginado.
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Importa referir que Charles não tem nada de extraordinário. É um homem comum, banal, medíocre até, que procura levar a vida conforme o que esperam dele, sem grandes sonhos de grandeza, glória ou fama. Quando fica viúvo, as esperanças de conseguir conquistar Ema voltam, embora se sinta envergonhado por ter estes sentimentos tão pouco tempo após a morte da esposa. O pai da rapariga, tendo percebido o interesse do médico, procura resolver este problema, pois acredita que a sua filha poderá ser feliz com este jovem, ao mesmo tempo que se livra do encargo que ela será se não se casar.
"Era ele que poderia ser tomado como a virgem da véspera, enquanto recém-casada nada deixava descobrir por onde se pudesse adivinhar qualquer coisa."
Passado o tempo necessário ao luto, o casamento de Charles e Emma acontece e o amor do noivo só aumenta com o passar dos dias. Cada vez está mais apaixonado pela mulher, não lhe vendo qualquer defeito e considerando-se um sortudo por ter conquistado uma esposa tão superior aos seus méritos. Por seu lado, Emma descobre que o casamento está longe de corresponder aos seus ideias românticos, alimentados pelas suas leituras de romances. Não se sente arrebatada, apaixonada loucamente pelo marido, capaz de loucuras. E por não encontrar essas sensações, sente que foi enganada e se precipitou ao casar-se com Charles.
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Entretanto, engravida e vive a expectativa das sensações da maternidade, almejando por dar à luz um filho varão, que irá dar continuidade ao nome da família. A desilusão chega quando nasce uma menina, e Emma volta a sentir-se defraudada pois não sente pela filha o que esperava sentir. De desilusão em desilusão, sendo cada vez mais dominada pelo tédio da sua vida, entrega-se a paixões com amantes sucessivos. Primeiro, de forma platónica, pois sente-se uma heroína romântica por se recusar a ceder aos desejos para manter a virtude e a honra. Só que o entusiasmo dura pouco, e logo acaba por se envolver com outro homem com quem vive um amor arrebatador.
"Emma assemelhava-se a todas as amantes; e o encanto que tinha proporcionado a novidade, pouco a pouco, caindo como a roupa que se despe, deixava a nu a eterna monotonia da paixão, que tem sempre as mesmas formas e a mesma linguagem."
Passado o fogo da paixão, o tédio instala-se também nestes relacionamentos. Enquanto que os amantes de Emma a olham apenas como uma mulher bonita, como uma conquista inconsequente; Emma Bovary persegue o ideal amoroso que não sobrevive ao contacto com a realidade de nenhuma relação mais prolongada. Ao mesmo tempo que acumula relações extraconjugais, acumula também dívidas infinitas. A culpa destas dívidas é da falta de noção de Emma, que quer viver uma vida que não pode sustentar, e do seu marido permissivo, que fecha os olhos a estes excessos.
Em suma, estamos perante um livro que critica a sociedade da sua época e que, ainda assim, poderia perfeitamente aplicar-se aos dias de hoje. As expectativas sempre a frustrar a protagonista, o tédio que a invade e não abandona por muito dinheiro que gaste, por muitos amantes que encontre. Hoje, moralmente não nos choca, mas retrata muito bem o que todos sentimos na vida que levamos tanto tempo passado da sua publicação. Se ainda não leste e não te consegui convencer, aconselho-te a ver os vídeos da Tatiana Feltrin e do Literatura Fundamental.
Já leste Madame Bovary? Conheces outros livros do autor? Conseguiste identificar a nossa sociedade na vida da Emma? Conta-me tudo nos comentários!
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