Sinopse
3 Mulheres é uma série de ficção que, a partir das biografias e da intervenção cultural e cívica da escritora Natália Correia, da editora Snu Abecassis e da jornalista Vera Lagoa (pseudónimo de Maria Armanda Falcão), recorda os últimos anos do Estado Novo entre 1961 e 1973, do início da Guerra Colonial à véspera da Revolução de Abriil.
A vida, a história e os percursos cruzados destas 3 mulheres: Snu Abecassis, Natália Correia e Maria Armanda Falcão. Um exemplo de coragem e compromisso com os tempos futuros de um país e de uma sociedade.
3 Mulheres de palavra. Fazem revolução.
Opinião
3 Mulheres é uma série portuguesa que retrata a vida de três mulheres emblemáticas da sociedade portuguesa do século XX: Natália Correia, Vera Lagoa e Snu Abecassis. A série aborda a história dessas mulheres que desafiaram os padrões e preconceitos da época, lutando por liberdade, igualdade e independência. Natália Correia, poeta e escritora, foi uma figura importante da cultura portuguesa, conhecida pela sua personalidade forte e pela sua postura subversiva. Vera Lagoa, pseudónimo de Maria Armanda Falcão, editora e ativista política, foi uma pioneira na luta pelos direitos das mulheres e pela liberdade de expressão, antes e depois do 25 de Abril. Snu Abecassis, empresária e fundadora da editora D. Quixote, foi uma mulher que marcou a sociedade portuguesa pela sua atitude empreendedora e independente. Juntas, estas mulheres deixaram um legado de coragem e determinação que continua a inspirar gerações.
A série é dividida em duas temporadas, em que a primeira se passa nos anos sessenta, anos quentes que antecederam a Revolução dos Cravos, e a segunda acontece no pós 25 de Abril, quando tudo era incerteza e ninguém sabia o que esperar do dia seguinte. É este momento crucial na História de Portugal que divide a série, permitindo conhecer o país reprimido pela Ditadura e ter o contraponto com o que aconteceu depois desse dia, com a conquista de muitas liberdades, mas não todas certamente. A Revolução de Abril foi um movimento militar e civil que resultou na queda do governo de Marcelo Caetano e do Estado Novo e na restauração da democracia em Portugal. Neste contexto de mudanças políticas e sociais, a série acompanha a vida de três mulheres que procuram o seu lugar e a forma de fazer a diferença.
Podes ler também a minha opinião sobre Santa Evita
Estamos perante um documento histórico extraordinário, mesmo tratando-se duma obra de ficção. Quando vi a série, já tinha assistido ao filme Snu e já tinha terminado a leitura do livro Snu e a Vida Privada com Sá Carneiro e, por isso, muita coisa já sabia da vida de Snu Abecassis e consegui perceber as liberdades criativas que foram tomadas pelos autores, mas que não perturbam em nada o verdadeiro legado da sua vida, do seu trabalho e da sua história de amor. Quanto a Natália Correia, apenas li o seu romance A Madona, onde se percebe a sua linguagem elaborada muito bem retratada na série pela talentosa e lindíssima Soraia Chaves. No entanto, tirando isso e agora a série, sei muito pouco sobre esta mulher carismática, o que conto resolver em breve depois de ter lido um dos fantásticos presentes de aniversário que foi a biografia da poeta O Dever de Deslumbrar. A que menos conheço é a polémica Vera Lagoa, fundadora de vários jornais, autora de crónicas demolidoras que lhe trouxeram problemas, tanto que até foi vítima dum atentado à bomba.
Em 3 Mulheres podemos observar a trajetória destas três mulheres que enfrentam inúmeros desafios num contexto conservador e opressivo da sociedade portuguesa dos anos 60 e 70. Depois, temos as consequências da Revolução para cada uma das protagonistas, que foram marcantes e influenciaram significativamente as suas trajetórias depois de 74. Snu continuou ligada à D. Quixote, onde publicava livros que permitiam entender o mundo novo que se abria e informar os seus leitores sobre as questões políticas mais pertinentes para o futuro do país, mas viu o seu casamento esmorecer e acabou por se apaixonar perdidamente por Sá Carneiro, com quem viveu uma relação também ela revolucionária. Formaram um casal disruptivo na sociedade ainda muito conservadora e que prometia construir um país moderno e eficiente, assente nas suas convicções políticas. Infelizmente, nunca saberemos que Portugal teríamos se não tivessem morrido tão cedo.
Podes ler ainda a minha opinião sobre Madre Paula
Natália Correia, depois de ter sofrido um processo de censura à sua Antologia Poética e um processo em tribunal que poderia ter culminado com a sua prisão efectiva durante o Estado Novo, tem no seu bar, O Botequim, um antro de liberdade, onde se reúnem figuras importantes desta nova sociedade e onde são discutidas ideias tão diferentes quanto possível. No entanto, não se limita a escrever e promover a discussão. Depois da Revolução, entende que precisa de deixar o seu contributo na vida política e acaba por aceitar concorrer às eleições e torna-se Deputada. Por fim, temos Vera Lagoa, que teve um grande contributo para proteger agentes de Esquerda perseguidos, ligados ao Partido Comunista, mas que não se sente representada por este partido em tempos de democracia, entendendo que, tal como o Fascismo, procuram silenciar os que lhes tecem críticas. No fim, acaba por refugiar-se na Direita e no Jornalismo, onde não tem medo de atacar os poderes instituídos, sejam eles de que quadrante forem. Perde amizades antigas, mas constrói uma fama de mulher forte, destemida e até inconveniente.
Aqui temos uma ode à Liberdade e ao papel essencial das mulheres para a construção do país que hoje herdamos. Ao longo dos episódios, somos confrontados com as dificuldades enfrentadas por cada uma delas numa sociedade machista e repressora. Através das suas histórias, somos levados a refletir sobre a importância destas mulheres na luta pela igualdade de género e pela liberdade, e como os seus actos de coragem e determinação foram fundamentais para que outras mulheres pudessem desfrutar dos direitos que hoje têm. Aliás, nos dias que correm, 3 Mulheres inspira-nos a continuar a lutar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos, independentemente do género, possam viver livremente e com dignidade. Esta série é mais uma prova da importância de resgatar a nossa História recente e com ela entender melhor o país que temos hoje.
É uma importante retrospectiva sobre períodos críticos do século XX em Portugal, revelando o quanto a luta cultural foi essencial, seja pelo Jornalismo, pela Literatura e pelo mercado editorial. Foi uma viagem fascinante pela vida de mulheres carismáticas e determinadas como foram Natália Correia, Vera Lagoa e Snu Abecassis, e que nos permite também conhecer outras figuras famosas de várias áreas da sociedade portuguesa e faz um retrato vivo do que foi ser vítima da repressão e também os tumultos após a conquista da tão desejada liberdade. Em 2024, comemoramos cinquenta anos do 25 de Abril e esta série pode muito bem ser uma forma de descobrires mais sobre esta época conturbada e determinante para todos nós, portugueses. Agora, está na hora de deixares o teu comentário abaixo! Já viste esta série? Qual a tua personagem favorita? O que mais te surpreendeu na narrativa? Aceita o desafio e vamos conversar sobre este tema tão interessante e fascinante!
Sem comentários:
Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!