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terça-feira, 14 de junho de 2022

#Livros - Os Meus Problemas, de Miguel Esteves Cardoso

 

#Livros - Os Meus Problemas, de Miguel Esteves Cardoso

Sinopse

«As crónicas aqui reunidas são de tal forma extraordinárias que é difícil escolher a melhor. Li Os Meus Problemas de ponta a ponta, acabando por nomear dezoito. Após várias releituras, consegui atribuir o prémio a «A Felicidade». Os motivos que me levaram à escolha são variados, mas julgo que o factor decisivo foi o ter descoberto que existia alguém na minha pátria com a ousadia suficiente para se declarar feliz. Os portugueses de quem o Miguel nos fala são analisados com ternura, o que exige um tipo de prosa diferente da usada pelos intelectuais lusos obcecados com a questão da identidade nacional. Ele nunca teve de viver dentro de um labirinto da saudade, não foi obrigado a sentir medo de existir, nem se entregou à autoflagelação. 

A certa altura, o Miguel conseguiu escapar ao destino de um professor catedrático para se instalar na menos prestigiada profissão de jornalista. Foi uma escolha acertada. Nos jornais é hoje clara a divisão entre a época pré-MEC e a pós-MEC. Por outro lado, o que escreve sobrevive ao tempo, o que deve estar ligado ao facto de nunca se ter interessado pela conjuntura política. O que o fascina é o quotidiano.»

Do prefácio de Maria Filomena Mónica


Opinião

Penso que não exista português que não conheça Miguel Esteves Cardoso e as suas crónicas famosas e icónicas, que muitas vezes até aparecem partilhadas nas redes sociais, tal é o impacto que provocam nas pessoas. Pela minha parte, confesso que conhecia maioritariamente as suas crónicas relacionadas com a sua mulher, paixão da sua vida, que transmitem uma profundidade de sentimentos que me deixam até atordoada e me fazem por em causa o meu cinismo crónico. 


No entanto, confesso que estava curiosa para ler mais, de tanto que exaltam as suas qualidades enquanto cronista, e a diversidade de temas que aborda. Por isso, quando encontrei este exemplar de Os Meus Problemas, livro de crónicas publicadas nos anos 80, à venda por um preço impossível de ignorar, soube que tinha de ser meu. Inicialmente, não sabia este pormenor da data de publicação tão antiga das crónicas aqui reunidas, e quando soube fiquei a pensar que talvez não fosse a melhor escolha. Afinal, muitos anos se passaram, e os temas poderiam estar datados ou desactualizados. Não poderia estar mais equivocada. 


Podes ler também a minha opinião sobre Livro do Desassossego


Não encontrei uma única crónica que não fosse possível ler hoje, nos dias que correm, e que não fizesse sentido, tanto quanto deverá ter feito nos anos 80. Primeiro, destaco a forma brilhante, inteligente e sedutora como Miguel Esteves Cardoso escreve, que nos transporta para o seu mundo, ou melhor, para a sua visão de mundo. Com o seu jeitinho muito seu, faz-nos pensar sob o seu ponto de vista e damos por nós, mesmo em situações em que não era suposto concordar, a assentir, a compreender e até a dar-lhe razão. 


"As pessoas sozinhas, que esperam, que sabem o que é a solidão, no que ela tem de bom e no que ela tem de mau, são muito mais desejáveis do que as pessoas super-aderentes que andam de amante em amante, de amigo em amigo, «só para não estarem sozinhas»."


Os temas estão centrados nos sentimentos, nas emoções, nos relacionamentos interpessoais, mas também na peculiaridade do ser português, nas características que partilhamos enquanto povo. Talvez por isso sejam tão intemporais, pois são temas que não passam de moda, nem mudou assim tanto a forma como nos relacionamos, como sentimos e como somos portugueses, passados mais de trinta anos. Durante a leitura, damos por nós a sorrir, a soltar uma gargalhada, a esboçar um ar céptico ou descrente e, como bónus extra, também é possível que nos faça pensar e repensar a vida ou o amor ou os portugueses. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre A Célula Adormecida


São mais de quarenta crónicas, onde a política também ocupa o seu lugar, ou não fosse o Miguel também conhecido pela crítica nessa área. Recordo-me particularmente dos seus tempos no icónico A Noite da Má Língua, programa que fez história na SIC e que ganhou recentemente um podcast, embora o autor não se tenha reunido ao painel neste reencontro. Achei especial piada à crónica sobre os PALOPs, que me pareceu tão actual que poderia ter sido escrita ontem, que não ficaria melhor. Será pela escolha dos temas políticos que foram incluídos nesta coletânea? Ou será que em Portugal tudo sempre acaba por girar em torno do mesmo? 


"Os portugueses gostam das vitórias, mas não dos vencedores, da mesma maneira que odeiam as derrotas mas têm um fraquinho pelos derrotados. Olham para os vencedores e sentem um bocadinho de inveja. Olham para os vencidos e sentem um bocadinho de culpa." 


Pessoalmente, adorei a experiência de ler um livro de crónicas e, em especial, do grande Miguel Esteves Cardoso, que continua a não me desiludir. Agora, o objectivo é conseguir reunir todos os seus livros e transformá-lo num dos autores especiais da minha vida, aqueles que procuro ler um livro por ano, todos os anos sem falta. Já segues o trabalho do Miguel? Qual o teu livro favorito do autor? Qual recomendarias que leia em seguida? Conta-me tudo nos comentários! 


Podes encomendar o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e assim contribuir para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand

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