Sinopse
O Livro do Desassossego é um dos maiores feitos literários do século XX. Obra-prima póstuma, retrato da cidade de Lisboa e do seu retratista, compõe-se de centenas de fragmentos, oscilando entre diário íntimo, prosa poética e narrativa, num conjunto fundamental para compreender o lugar de Fernando Pessoa na criação da consciência do mundo moderno.
Nesta nova edição, Jerónimo Pizarro, reconhecido estudioso pessoano, regressa às fontes dos textos que Fernando Pessoa pretendia incorporar no Livro do Desassossego. Com uma nova organização, melhorando a decifração de quase todos os fragmentos, este livro reúne os atributos para se tornar na edição de referência.
Opinião
Devo dizer que este livro me fez companhia na mesa de cabeceira por mais de um ano e, desde que terminei, só deixou saudades. Nem acredito que demorei tanto tempo a dedicar-me à leitura da obra inacreditável de Fernando Pessoa e de todos os seus heterónimos, conceito elevado ao expoente máximo pelo português cuja vida está envolva em grande mistério onde os factos se confundem com a ficção e tudo ajudou à criação do mito que o colocou a par dos gigantes como o próprio pretendia e almejava.
Neste Livro do Desassossego encontramos um exercício gigantesco de escrita criativa, onde se misturam reflexões filosóficas, devaneios aparentemente sem sentido, banalidades triviais, descrições poéticas e até pensamentos sobre o propósito da Literatura. E estou apenas a dar alguns exemplos que me ocorrem só de memória, sem ter de voltar a folhear o livro nem regressar às inúmeras marcações que deixei no meu exemplar.
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Não estamos perante uma história de ficção pura, embora se possa encontrar muita ao longo das suas páginas, por isso é a escolha perfeita para ter sempre por perto e agarrar de forma aleatória, ler, pensar sobre o assunto e, por vezes, ficar com uma ideia na cabeça a martelar incessantemente. Não será um livro para ler de fio a pavio de uma assentada. Tem entradas curtas e longa, que podem ser lidas da forma que se preferir. No entanto, é muito difícil continuar a ler após reter certas passagens que nos vão incomodar ou perturbar ou simplesmente espantar e deslumbrar.
"Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra."
Não tem a ver com o tamanho dos textos nem tão pouco do próprio livro. Tem a ver com a profundidade que se vai encontrar que nos vai obrigar a pensar em assuntos que nem queríamos. O impacto tem mais a ver connosco e com a nossa experiência de vida e até com o momento que estamos a viver quando o lermos e por isso é tão diferente quantas pessoas existem no mundo.
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Para os que apreciam a Língua Portuguesa e para todos os que sonham ser escritores, esta é uma leitura fascinante porque mostra onde nos pode levar a criatividade, a beleza da nossa língua e o que distingue o génio dos restantes mortais, que até podem ser muito bons e escrever muito bem, mas não são Pessoa. Camões terá fundado as bases do Português ao criar a nossa Epopeia, enquanto Fernando Pessoa parece ter pegado em tudo o que nos vai na alma e colocado no papel, sob todas as formas literárias, assumindo as diferentes personalidades nacionais com uma sensibilidade ímpar, e elevou-nos, portugueses, a Património da Humanidade.
"Conquistei, palmo a pequeno palmo, o terreno interior que nascera meu. Reclamei, espaço a pequeno espaço, o pântano em que me quedara nulo. Pari meu ser infinito, mas tirei-me a ferros de mim mesmo."
Hoje que comemoramos o Dia Mundial da Criatividade este parece ser o livro certo para começares a ler já, porque te vai inspirar, incomodar, incentivar e estimular como poucos seriam capazes de fazer. Para isso, podes encomendar o teu exemplar - e contribuir para as próximas leituras no blog - na Wook, com 10% de desconto em cartão e portes grátis. Se ainda tens dúvidas, aconselho-te o vídeo da Tatiana, que é só a melhor Booktuber entre todas.
"Nada disso me interessa, nada disso desejo. Mas amo o Tejo porque há uma cidade grande à beira dele. Gozo o céu porque o vejo de um quarto andar de rua da Baixa. Nada o campo ou a natureza me pode dar que valha a majestade irregular da cidade tranquila, sob o luar, vista da Graça ou de São Pedro de Alcântara. Não há para mim flores como, sob o sol, o colorido variadíssimo de Lisboa."
Já leste Fernando Pessoa fora da escola? Qual o teu heterónimo preferido?
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