Sinopse
A voz do seu protagonista, o anti-herói Holden Caulfield, encontrou eco nos anseios e angústias das camadas mais jovens, tornando-o numa figura icónica do inconformismo. Da mesma forma, os temas da identidade, da sexualidade, da alienação, e do medo de existir, tratados numa linguagem desassombrada e profundamente original, fizeram de The Catcher in the Rye um símbolo da contracultura dos anos 50 e 60. Mas, passados sessenta anos sobre a sua primeira publicação, vendidos mais de 65 milhões de exemplares em quase todas as línguas, e instituído marco incontornável da literatura mundial, À Espera no Centeio mantém toda a actualidade e a frescura da rebelião.
Opinião
Este é um livro que se encontra esgotado em Portugal, e que só é possível encontrar procurando por exemplares usados ou em inglês, para os que conseguem ler nessa língua. Parece inacreditável que não tenha sido ainda lançada uma nova edição no nosso país, tal é a importância deste livro. Mal visto, por ser muitas vezes associado a assassinos e psicopatas, é um retrato da sociedade americana dos anos 50 e 60, que nos transporta para esse tempo, para esse lugar, para esse modo de estar e de ser dos jovens peculiares dessa época.
O livro é escrito na primeira pessoa pelo nosso estranho protagonista, Holden Caulfield, um jovem que acaba de ser expulso de mais um colégio, após ter tido mau aproveitamento na maioria das disciplinas. A única onde tem boas notas sem grande esforço e com genuíno prazer é Inglês, tudo o resto é para ele um total aborrecimento e não tem qualquer espécie de vontade ou desejo de se esforçar, de agradar aos professores ou aos pais, nem tão pouco quer ser melhor aluno por orgulho ou ambição, ambos conceitos que a sua personalidade não alcança.
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É escrito quase como se fosse um diário, que conta sobre os seus últimos dias antes de sair do colégio e antes de regressar a casa dos pais, a quem vai dar mais uma desilusão e onde teme o castigo que virá depois do fracasso. Pelas suas palavras ficamos a conhecer os seus colegas de quarto, alguns professores que o marcaram e foram importantes de alguma forma para si, e temos um retrato muito vívido dos seus irmãos, mais até do que dos seus pais. Como se estes últimos estivessem distantes de si, enquanto que os irmãos, mesmo o que morreu, fossem o mais próximo que alguém conseguiu chegar de si mesmo.
"O que realmente me agrada é um desses livros que, quando estamos a lê-lo, gostaríamos que tivesse escrito por um amigo nosso a quem pudéssemos telefonar sempre que desejássemos. Mas isso é uma coisa que raramente acontece."
Mas desengane-se quem pensa que estamos perante um rapaz burro ou idiota. Pelo contrário, é extremamente inteligente, com uma cultura acima da média, sobretudo se tivermos em conta a idade do Holden, com 16 anos apenas. No entanto, é preguiçoso, o que lhe dificulta muito a vida nas escolas por onde tem passado ao longo da sua educação formal. Além disso, logo no início, conta-nos que ele é um mentiroso compulsivo, que mente mesmo sem qualquer razão aparente. E é isso mesmo que acontece ao longo de todo o livro. Ao mesmo tempo que nos conta isto, conta-nos também episódios em que notamos claramente que estava a mentir para as pessoas sem sequer se tentar justificar ou esclarecer-nos. Isto sem contar com as inúmeras vezes com que nos deparamos com declarações contraditórias feitas por si mesmo. Num momento, por exemplo, está a dizer-nos que nunca se embebeda, por mais que beba, ficando apenas ligeiramente entorpecido, para passadas poucas páginas nos relatar uma bebedeira descomunal que apanha, com pormenores obviamente indicadores e que contradizem o que foi dito antes.
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A complexidade da obra e do seu protagonista é tal que muitas discussões foram tidas em torno deste livro, com gente a defender e outros tantos a atacar. Porque Holden critica e questiona tudo o que o rodeia, desde o sistema de ensino, à sexualidade dos jovens, passando pela hipocrisia e falsidades das pessoas no geral, às amizades que nunca são desinteressadas e verdadeiras. No fundo, não quer crescer e não aceita que terá de entrar na vida adulta, compactuando com as regras e a sociedade que despreza. É um livro escrito de forma simples, com a linguagem que seria própria de um adolescente da época, mas repleto de temas profundos e tantas referências literárias, que fazem pensar, que nos obrigam a colocar em causa tudo o que damos por garantido e certo, ao ponto de se tornar muito irritante.
"Quando as pessoas sabem muito de literatura, levamos muito tempo até descobrirmos se são de facto estúpidas ou não."
Tudo se passa num curto espaço de tempo, a sua leitura é acessível e cativante, embora não vá explorar este título, tão controverso, e tão difícil de captar a sua essência. Em Portugal, chegou a ser traduzido como Uma Agulha no Palheiro, o que fazia com que se perdesse a mensagem e o entendimento da passagem que vai fazer luz sobre a expressão À Espera no Centeio, ou, como ficou no Brasil, O Apanhador no Campo de Centeio. No entanto, se ainda precisas de mais incentivos para leres este livro extraordinário do Salinger, podes ver os vídeos da Tatiana Feltrin e do Literatura Fundamental.
Conheces este livro icónico da cultura norte americana? Já leste? Que sensações te provocou? Conta-me tudo nos comentários!
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