Sinopse
Coração das Trevas é um romance escrito pelo escritor anglo-polonês Joseph Conrad e antes da sua publicação em 1902, apareceu como uma série em três partes, publicado pela Blackwood Edinburgh Magazine entre os meses de Fevereiro e Abril de 1899. É amplamente considerado pela crítica especializada internacional como uma das cem mais importantes obras da literatura mundial do século XX e parte do cânone ocidental.
A história trata das experiências de Charles Marlow, um aventureiro inglês que obteve uma posição junto a uma companhia de comércio belga como capitão de um barco fluvial a vapor nos territórios das colónias africanas para transportar marfim do interior para os portos exportadores. No entanto, a sua tarefa mais urgente é descobrir o paradeiro de Mr. Kurtz, um dos mais famosos administradores dos entrepostos da colónia, cujo destino é ignorado por todos.
Conrad construiu uma narrativa simbólica com uma história dentro da própria história, ou uma narrativa moldura: Marlow narra suas aventuras para um grupo de amigos a bordo de um navio ancorado no estuário do rio Tamisa, do anoitecer ao amanhecer do dia seguinte. A passagem do tempo e o céu escurecido de um pôr-do-sol sobre Londres, enquadram a atmosfera densa e pesada dessa história dentro da história. A narrativa conradiana é extremamente nítida e revela em poucas palavras a relação mais profunda e cruel entre colonizadores e colonizados refletida dentro dos meandros da selva africana, na medida em que o leitor adentra na psique das suas personagens.
Coração das Trevas serviu como história base para a produção de Francis Ford Coppola - Apocalipse Now! - de 1979, o filme, famoso pela atuação de Marlon Brandocomo Kurtz, transpôs a história das regiões africanas para o sudeste asiático durante os conflitos entre os Estados Unidos da América e as forças socialistas do então Vietname do Norte.
O lançamento de Coração das Trevas pela Compasso dos Ventos Editora apresenta pela primeira vez esta magnífica e importante obra de Joseph Conrad em uma inédita edição bilíngue, resgatando toda a magnificência de uma das maiores obras da literatura ocidental.
Opinião
Muito tinha ouvido, muita coisa tinha lido sobre este livro e tinha algum receio de começar esta leitura por perceber que se tratava de um assunto pesado. Afinal, estamos a falar dos colonizadores mais sanguinários que se conhece e que devastaram as terras, os animais e as gentes dos locais por onde passaram. Em nenhum momento é dito textualmente que se trata do Congo belga, mas fica claro nos detalhes que é disso mesmo que se trata, sobretudo pelas descrições.
Estamos perante um livro curto, divido em três capítulos, que não fosse o caso de ser um assunto tão pesado, poderia ser lido de uma assentada. A linguagem é simples, fácil de entender, ainda que nem sempre sejam contadas as situações de forma clara e explícita. Existe uma aura de dúvida em todos os factos narrados, como se fosse apenas uma versão da história ou a percepção de quem está a contar os eventos que viveu.
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A origem deste livro está numa viagem que o próprio autor fez ao Congo, que deveria ter durado dois anos, mas que foi de tal modo traumatizante que apenas ficou por lá seis meses. Foi uma experiência tão forte que passados alguns anos, surgiu este livro, publicado inicialmente por fascículos, e só mais tarde reunido num livro único que se tornou indispensável e rapidamente num clássico do século XX. Principalmente, porque relata de forma subtil mas reveladora tudo o que aconteceu nos anos negros em que o Congo foi dominado pelo rei dos belgas.
"À caça de ouro ou em busca de fama, todos tinham saído por este rio, empunhando a espada, e muitas vezes o facho, mensageiros dos poderes da Terra, portadores de uma centelha do fogo sagrado."
A forma como é narrada, com um distanciamento de quem conta uma história que não viveu, mas que lhe foi contada por outras pessoas, vem aumentar a desconfiança sobre o que está a ser contado, e também retira a responsabilidade a esse narrador sobre os acontecimentos que está a contar. Afinal, grande parte desses acontecimentos não foram vividos por ele e, portanto, não havia nada que pudesse fazer.
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A forma como é descrita a viagem pelo rio em forma de serpente, de um modo sombrio, negro, repleto de sombras e de figuras misteriosas, é a viagem até ao coração das trevas que existe nesse lugar e que torna o coração dos homens, também eles mais sombrios e repletos de trevas. Um claro contraste entre a imagem romântica do colonialismo de quem vive na metrópole e a imagem com que se deparam ao contactar com a realidade do que acontece nas colónias. As descrições sobre os nativos são devastadoras e revelam o quanto eram mal tratados, explorados, agredidos.
"Éramos viajantes numa terra pré-histórica, numa terra com o aspecto de um planeta desconhecido. Podíamos imaginar-nos como os primeiros homens, apoderando-nos de uma herança amaldiçoada, dominada à custa de uma profunda angústia e de um esforço desmedido."
A personagem mais importante será o Mr. Kurtz, o homem que controla o posto mais rentável de extração de marfim de toda a região. Conta-se que ele se encontra doente e a missão será resgatá-lo e arranjar forma de que regresse à civilização para poder ser tratado. Ao longo da viagem vamos conhecendo várias facetas deste homem poderoso. Os que contam sobre a sua veia artística e sobre os seus dons de oratória. Os que, sendo escravizados, o consideram um deus. Uma personalidade complexa e fascinante. Aliás, como todo o livro. Complexo e fascinante.
Estamos perante um livro perturbador e que não deixa ninguém indiferente. É tão denso, em tão poucas páginas, que tenho a certeza que muita coisa ficou por entender de tudo o que o autor quer contar. No entanto, se ainda precisas de mais razões para ler O Coração das Trevas, podes e deves ver o vídeo da Tatiana Feltrin. Já leste o livro de Joseph Conrad? O que achas deste assunto do colonialismo?
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