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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

#Livros - Dom Casmurro, de Machado de Assis


#Livros - Dom Casmurro, de Machado de Assis

Sinopse

Dom Casmurro é a alcunha de Bento Santiago que, velho e só, desvela as suas memórias. Uma promessa da mãe traça-lhe o destino como padre, mas Bento Santiago apaixonado abandona o seminário. Estuda Direito e casa-se com o seu grande amor, mas o ciúme e a desconfiança adensam-se. Suspeita que não é o pai biológico do filho do casal, Ezequiel, mas sim o seu grande amigo Escobar.

Opinião

Até tenho vergonha de dizer os anos que passaram desde que ouvi, pela primeira vez, falar de Machado de Assis até este momento em que, efectivamente, coloquei as mãos no primeiro exemplar de uma obra deste autor brasileiro tão especial. Mas este ano foi de vez e assim que encontrei este livro a um preço simpático nem pensei duas vezes e tratei logo de o comprar.

A primeira coisa que te quero dizer é que TENS mesmo de ler este autor! Aliás, é preciso ler esta pérola que é este livro. Faz muito lembrar o nosso Eça, mas sem aquelas descrições intermináveis de divisões de mansões gigantes. Sem esquecer aquele humor apimentado que os brasileiros colocam em tudo que fazem e que tanto os distingue dos demais, como já tinha constatado com a leitura de Hilda Furacão.

Neste livro ficamos a conhecer a história de vida de Dom Casmurro, pelas palavras do próprio. O narrador e protagonista vai desfiando as suas memórias, sempre tendencioso e com sentidos dúbios ao longo de todo o seu relato. No fundo, Bento conta-nos a sua vida com o secreto desejo de encontrar legitimidade para a sua solidão e justificar os seus comportamentos.

Aliás, mais do que um homem ou mulher, o verdadeiro protagonista de Dom Casmurro é o ciúme e as consequências que dele advém, quando pautamos a vida e as nossas decisões por esse sentimento vil. A bonita história de amor entre Bento e Capitu revela-se ensombrada pelo ciúme desde muito cedo. As desconfianças, pequenas a princípio, até um pouco infantis, são contadas como pequenos indícios à má conduta da mulher.

Tudo vai crescendo e ganhando proporções impossíveis de ignorar, até mesmo pela sua mulher, que não queria acreditar na acusação de Bento. Por fim, resta apenas a manutenção das aparências, para que todos pensem que Dom Casmurro continua a ser um marido querido e um pai extremoso. Aqui fica a grande crítica à sociedade da época e à sua exaltação pela aparência de pessoas de bem para os de fora, ainda que dentro de quatro paredes não fossem tão de bem assim.

A verdade é que este é um relato sem qualquer imparcialidade, nem versões de outros intervenientes na história. E dado que não existe qualquer situação flagrante que nos confirme a traição, a dúvida acompanha-nos durante toda a narrativa. Mas a dúvida é apenas nossa, dos leitores, porque o narrador não mostra qualquer instante, nem momentâneo, de pequena dúvida quanto ao pecado de que acusa a sua mulher e o seu melhor amigo.

A dúvida acaba por ser o combustível que alimenta a leitura, que não permite parar, pois estamos constantemente na busca pela prova, pelo pormenor, por mais pequeno que seja, que permita entender o que de facto aconteceu neste suposto triângulo amoroso. Quanto a conclusões cada um terá as suas que apenas podem ser pessoais. Devido à habilidade do brilhante Machado de Assis, essas conclusões serão fruto da experiência de vida do leitor, mais do que de qualquer outro factor.

Pela minha parte, fiquei rendida a este autor e agora ando em busca do próximo, que poderá muito bem ser Memórias Póstumas de Brás Cubas. No entretanto, aconselho-te também a ver este vídeo, de uma brasileira que faz uma análise muito interessante e completa de Dom Casmurro, além de apresentar também excelentes razões para que leias esta obra-prima da Literatura Brasileira.

Já conheces algum livro de Machado de Assis? Qual o teu favorito? 

"O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. Em tudo, se o rosto é igual, a fisionomia é diferente. Se só me faltassem os outros, vá, um homem consola-se mais ou menos das pessoas que perde; mas falto eu mesmo, e esta lacuna é tudo."

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