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terça-feira, 16 de janeiro de 2024

#Livros - Olhos de Cão Azul, de Gabriel García Márquez

 

A capa do livro "Olhos de cão azul" publicado pela Dom Quixote é minimalista e elegante. Em um fundo branco puro e sereno, destaca-se uma bela ilustração de uma palmeira solitária que se ergue em direção ao céu. A imagem transmite uma sensação de calma e tranquilidade, capturando a essência da natureza e sua ligação com a narrativa do livro.  A palmeira, com seus galhos finos e suas folhas exuberantes, cria uma atmosfera de mistério e exotismo. Sua silhueta curva-se graciosamente, como se estivesse dançando ao ritmo do vento, evocando um ambiente tropical e desconhecido.  A combinação de cores sutil, com tons de verde delicados contrastando com o branco imaculado do fundo, confere uma sensação de serenidade e paz ao design da capa. Essa simplicidade visual cativa o leitor, convidando-o a explorar as profundezas do enredo cativante de Gabriel Garcia Marquez.  A escolha desta imagem icônica e evocativa retrata visualmente a temática do livro e cria uma conexão imediata entre o leitor e a história contada nas páginas de "Olhos de cão azul". A capa convida o leitor a mergulhar em um universo de emoção, amor e descobertas surpreendentes que aguardam dentro dessa obra magistral.

Sinopse

Escritos entre 1947 e 1955, os treze contos deste volume atestam o talento do colombiano. 

Gabriel García Márquez, Prémio Nobel de Literatura de 1982.

Consagrado primeiro como romancista, García Márquez só lançaria este Olhos de Cão Azul em 1974. 

Inclui um dos seus contos mais célebres Monólogo de Isabel vendo chover em Macondo. 

Este relato, hoje incluído em todas as antologias do conto latino-americano, foi a primeira pedra do gigantesco edifício que culminaria numa das obras literárias mais poderosas do nosso tempo, Cem Anos de Solidão


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Opinião 

Gabriel García Márquez, considerado um dos maiores escritores latino-americanos e um dos meus favoritos da vida, nasceu em Aracataca, na Colômbia, em 1927. A sua obra singular e marcante tornou-o um ícone da Literatura mundial, conquistando leitores de todas as idades e lugares do planeta. Márquez é sobejamente conhecido pelo seu estilo literário envolvente e pela sua capacidade de combinar a realidade com elementos fantásticos, criando assim um universo próprio e intrigante. Os seus romances e contos são reconhecidos pelas narrativas cativantes, personagens memoráveis e temas profundos que abordam questões sociais e políticas. Com Olhos de Cão Azul, o autor presenteia-nos com a sua prosa habilidosa e a sua visão original do mundo numa série de contos fantásticos. 


Olhos de Cão Azul traz consigo as características e elementos marcantes do universo do realismo mágico, género literário que se consagrou nas obras do escritor colombiano. Considerado um dos principais expoentes desta corrente literária, Márquez utiliza de uma narrativa surrealista e fantástica, misturando elementos do quotidiano com elementos imaginários e míticos. Esta obra é composta por doze histórias curtas, que abordam diferentes personagens e situações, revelando a maestria narrativa do autor ao explorar temas como solidão, amor, injustiça e o absurdo da existência. Foi publicado em 1974 e é um livro muito importante na trajetória literária do autor, sendo o favorito de muita gente. 


Podes ler também a minha opinião sobre Cem Anos de Solidão


A narrativa fragmentada e não linear de Olhos de Cão Azul é um recurso literário que se destaca ao transmitir as emoções e experiências dos personagens de forma mais intensa e impactante. Ao desviar-se da tradicional linearidade narrativa, o autor envolve-nos num emaranhado temporal que nos permite vivenciar os momentos de angústia, tristeza e alegria dos personagens de uma maneira mais realista e profunda. Ao abraçar esta narrativa não linear, García Márquez eleva a experiencia literária a outro patamar, tornando-a tão visceral e tocante quanto os sentimentos que permeiam a trama. Como é habitual encontrar nas obras do autor, o realismo mágico está aqui bem presente, criando um universo particular e único, conferindo-lhe ainda uma aura poética e sensorial, fazendo com que o leitor adentre nas profundezas da imaginação e da reflexão. 


"De repente, notou que se lhe tinha desmoronado a beleza, a beleza que chegara a doer-lhe fisicamente, como um tumor ou um cancro. Recordava ainda o peso desse privilégio que trouxera no corpo durante a adolescência e que agora tinha deixado cair - ninguém sabe onde - com um cansaço resignado, com um último gesto de animal decadente." 


Um aspecto fundamental na construção narrativa dos contos de Olhos de Cão Azul é a utilização dos objectos simbólicos ao longo da trama. São esses objectos que intensificam a atmosfera misteriosa da obra, ampliando as possibilidades interpretativas e aprofundando a compreensão do leitor sobre os temas abordados. Em todos os contos o autor mergulha profundamente na temática da solidão e da busca incessante por conexões emocionais, obrigando o leitor a refletir sobre a condição humana e as consequências devastadoras da falta de interações significativas. Nesta jornada emocionalmente provocativa, onde a morte tem um papel fundamental, ainda que por vezes subtil, somos confrontados com a realidade de que, sem conexões emocionais profundas, somos apenas seres à deriva num mundo repleto de isolamento e desesperança. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Amor nos Tempos de Cólera


As metáforas presentes na narrativa transcendem a simples descrição de personagens e situações, alcançando níveis mais profundos de significado, que senti nem sempre ter entendido na sua totalidade. Através das entrelinhas e das camadas de sentido encontradas nas metáforas e nos simbolismos, o autor instiga o imaginário do leitor e estimula a sua interpretação, enriquecendo a nossa conexão com a obra e deixando um desejo imenso de ler e reler e reler, vezes sem conta, com a certeza de que iremos perceber coisas novas a cada releitura. Pessoalmente, é o que conto fazer nos próximos anos, mantendo este livro por perto e regressando a ele sempre que possível. 


"Teria sido a respeitável senhora da casa se tivesse sido a mulher de um bom burguês ou a concubina de um homem sério, mas acostumou-se a viver numa única dimensão, como a linha recta, talvez porque os seus vícios ou as suas virtudes não pudessem conhecer-se de perfil." 


A verdade é que Olhos de Cão Azul é uma obra complexa que desperta diferentes perspectivas e análises ao longo da sua leitura. Do que não existe qualquer dúvida é da maestria narrativa do autor, com a inevitável presença de elementos do realismo mágico, típico da escrita de Gabriel García Márquez, que nos desafia e desperta a imaginação a cada nova história. Uma verdadeira aventura fascinante e perturbadora que precisa ser partilhada e divulgada. Talvez seja distração minha, mas nunca ouvi falar deste livro em Portugal, e só o descobri pelo vlog espectacular da Tatiana Feltrin, que me deixou em pulgas e com uma vontade imensa de pegar neste livro curto e mergulhar neste universo único, que nos permite até voltar a Macondo. 


Só posso deixar o convite para que leias Olhos de Cão Azul e te atrevas a mergulhar profundamente no universo íntimo e complexo criado por Gabriel García Márquez. Posso assegurar-te que será uma viagem inesquecível e que vai ficar contigo por muito tempo depois de ter terminado a leitura. No entanto, se ainda precisas de mais incentivos para iniciar esta leitura, podes ver o vlog que te referi acima, aposto que não vais resistir a este desafio. Agora quero saber de ti nos comentários. Já conheces este livro de contos de García Márquez? Que impressões te deixou esta leitura misteriosa? 


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Wook | Bertrand 

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