Sinopse
Gabriel García Márquez traça a história de uma paixão profunda que foi proibida durante meio século. Embora nunca pareça estar devidamente contido, o amor flui através do romance de mil maneiras: alegre, melancólico, enriquecedor e sempre surpreendente. Emocionante, O Amor nos Tempos de Cólera é definitivamente um dos livros mais importantes do século.
Ainda muito jovem, o telegrafista, violinista e poeta Gabriel Elígio García apaixonou-se por Luíza Márquez, mas o romance enfrentou a oposição do pai da rapariga, coronel Nicolas, que tentou impedir o casamento enviando a filha ao interior numa viagem dum ano. Para manter o seu amor, Gabriel montou, com a ajuda dos amigos telegrafistas, uma rede de comunicação que alcançava Luíza onde ela estivesse.
Essa é a história real dos pais de Gabriel García Márquez e foi o ponto de partida de O Amor nos Tempos de Cólera, que acompanha a paixão do telegrafista, violinista e poeta Florentino Ariza por Fermina Daza. O livro começou a ser escrito em 1984, em Cartagena de las Índias, no final do ano sabático que García Márquez se concedeu após receber o Prémio Nobel. Ali, o autor recolheu alguns dos episódios contados no livro, como a epidemia de cólera que assolou a cidade no final do século XIX ou o naufrágio do galeão espanhol San José, carregado de jóias.
O Amor nos Tempos de Cólera, como o seu próprio nome indica, é uma belíssima história de amor, daquelas pontuadas por cartas perfumadas e pétalas de flores prensadas entre as folhas. E não apenas uma simples história, mas um grande tratado do amor.
O tratado nunca escrito por Florentino Ariza, que guardava em três volumes três mil modelos de cartas para namorados, nos quais estavam todas as possibilidades do amor. O amor apaixonado da adolescência, o amor conjugal, o clandestino, o tímido, o amor sexual ou libertino. O tédio do amor, as suas lutas, esquecimentos, metamorfoses, as suas deslealdades e doenças, triunfos, angústias e prazeres. O amor por carta, o despertar desse amor, próximo ou distante, o amor louco. O amor de meio século, que encontra os amantes septuagenários tocando-se pela primeira vez. O amor que se guarda e espera, enfim, a sua realização.
Opinião
Depois de ter lido o meu primeiro livro de Gabriel García Márquez em 2018, volto a um dos seus grandes livros, daqueles aclamados pela grande maioria dos leitores. Não sei muito bem como, mas tenho poucos livros deste autor em casa e só agora, nos últimos anos, começo a explorar as suas obras devidamente. Vencedor de um Nobel da Literatura, Gabriel é um autor aclamado na América Latina, o seu talento é inquestionável, o seu legado é especial. A experiência de leitura deste autor é muito enriquecedora e entrega um mundo colorido, vívido, peculiar, com detalhes que crescem e tornam-se essenciais à compreensão dos seus livros. Pela minha parte, quero ler tudo o que este homem escreveu.
Publicado depois de ter recebido o tão almejado Prémio Nobel e baseado na história de amor dos seus pais, O Amor nos Tempos de Cólera é um livro onde encontramos o seu estilo narrativo, com alguma manipulação do tempo, mas com menos elementos do seu famoso realismo mágico. A história começa com a morte de Jeremiah de Saint-Amour, inválido de guerra fotógrafo e o jogador de xadrez que desafiava o conceituado médico da cidade, o doutor Juvenal Urbino. O médico idoso foi logo chamado a casa do amigo e foi responsável por tratar de todos os preparativos para o funeral, ocultando o suicídio, que já tinha sido anunciado por Jeremiah, que não aceitava chegar a velho e ser um peso na vida dos outros. Esta morte atrapalha a rotina metódica do médico e culmina em tragédia para o próprio.
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Isto não é spoiler, dado que acontece no primeiro capítulo do livro. Mas a verdade é que o próprio doutor Juvenal acaba por morrer no mesmo dia que o amigo, de uma forma absurda e quase cómica, que irei abster-me de comentar para não atrapalhar a tua leitura, caso ainda não tenhas lido. Juvenal era casado com Firmina, num casamento que contava com mais de cinquenta anos de duração, que tinha dado frutos, mas frutos fracos quando pensamos nas personalidades extraordinárias dos pais. Mas antes de se casar, Firmina esteve apaixonada por outro homem, o estranho Florentino Ariza. Depois da desgraça que assola a família de Firmina, do reencontro desagradável com este homem do seu passado, o livro segue com um salto de tempo ao passado, para nos falar destas figuras na juventude.
"Era ainda demasiado jovem para saber que a memória do coração elimina as más recordações e exalta as boas e que, graças a esse artifício, conseguimos suportar o passado."
Ficamos a conhecer a família de Firmina, que se resumia a um pai de reputação e negócios duvidosos, mas com ambições de ascensão social para a sua filha, e a uma tia solteira, mas romântica e que acreditava no poder do amor. Pelo lado de Florentino, foi criado pela mãe, mulher desenvolta, ainda que humilde, e que foi capaz de prover ao seu sustento e do seu filho de formas criativas e eficazes, sendo filho ilegítimo por parte de pai, o que o colocava um tanto ou quanto à margem da família paterna, pelo menos enquanto a esposa do pai foi viva. Os seus caminhos cruzam-se, por acaso, quando Florentino vai a casa de Firmina entregar uma comunicação chegada de telégrafo para o pai da jovem. O rapaz imediatamente se perde de amores por esta menina e passa a viver a sua vida em função dos momentos em que a pode ver e trocar bilhetes com ela, com a ajuda da tia.
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Este romance secreto vai crescendo aos poucos, sempre com contornos juvenis, sem encontros sexuais, quase de um modo platónico. O momento de viragem acontece quando o pai de Firmina descobre este romance e, considerando o noivo muito distante dos seus sonhos para o futuro da filha, decide por um ponto final nesta história. Depois do diálogo com os dois intervenientes não surtir efeito, opta por pegar em Firmina e fazer uma longa viagem de visita à família da mulher. Os anos vão passando, mas os jovens conseguem manter-se em contacto, mesmo nos lugares mais inóspitos graças aos conhecimentos de Florentino na rede de telégrafos. Quando o pai da moça acredita que o seu delírio de amor já passou, volta para casa, onde os apaixonados contam reencontrar-se em breve e prosseguir a relação secreta. Só que o reencontro do casal não acontece como imaginaram e Firmina parece ser acometida pelo arrependimento por se ter associado à ideia de um homem e não ao homem real que a esperava e decide terminar esta relação, sem dar oportunidade ao seu noivo para a tentar demover.
"Queria voltar a ser ela própria, recuperar tudo quanto tivera de ceder em meio século de uma servidão que a fizera feliz, sem dúvida, mas que, uma vez falecido o marido, não lhe deixava a ela nem os vestígios da sua identidade."
A vida dos dois, Firmina e Florentino, segue o seu rumo aparentemente normal. Firmina conhece Juvenal e acaba casada com um proeminente médico, que viajou pela Europa e regressa a casa com a modernidade que viu e que pretende aplicar na sua terra, cumprindo assim o sonho do seu pai de a ver casar acima da sua condição social. Por seu lado, Florentino consegue alcançar o sucesso na vida profissional, crescendo e ocupando um lugar nas empresas do seu tio paterno, conseguindo muitas amantes, de preferência viúvas sem sonhos de amor romântico, apenas com a vontade de matar o desejo do corpo e afastar a solidão. Mas mantém-se solteiro, esperando pacientemente pela sua amada, a teimosa Firmina, acreditando que um dia chegará o momento de a reconquistar e revelar-lhe o lugar que reservou para ela no seu coração e na sua vida.
Pela descrição podes pensar que estás perante uma bela história de amor, mas desengana-te. Florentino está longe de ser um herói romântico que esperou pela sua amada puramente. As suas relações são torpes, o que sente por Firmina roça a obsessão, a sua personalidade é excêntrica, embora seja muito realista nas suas análises. As críticas à sociedade também estão presentes e começa logo pelo título que fala de cólera, que pode ser a doença ou a ira das pessoas. É um romance complexo, bem construído, que não dá vontade de parar, e que aborda o tema da terceira idade de uma forma muito interessante e crua, sem floreados idealizados, que escondam ou disfarcem a realidade dos factos. Só posso dizer que foi uma viagem fascinante e que recomendo a toda a gente. Mas, se ainda assim, precisas de mais incentivos para pegar neste livro, podes ver também os vídeos da Tatiana Feltrin e do Ler Antes de Morrer.
Já leste O Amor nos Tempos de Cólera ou outro livro de Gabriel García Márquez? Consideraste que era uma linda história de amor ou nem por isso? Qual é o teu livro favorito deste autor colombiano? Deixa o teu comentário para continuarmos a conversar sobre este livro e sobre este autor extraordinário!
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