Sinopse
Numa célebre noite de luta de galos, a sorte e o destino de Dionisio Pinzón mudam. Ao decidir salvar um galo dourado moribundo, Dionisio, de camponês pobre e miserável tornar-se-á um homem rico, conseguindo atrair para os seus braços La Caponera, mulher sensual e fascinante, objecto do desejo de todos. Contudo, Dionisio descobrirá que a vida dos homens não é muito diferente do destino dos galos de combate: pode-se vencer sucessivas lutas, mas, também, perder tudo num único revés.
Depois do êxito de A Planície em Chamas e Pedro Páramo, Juan Rulfo foi convidado a colaborar na nova vaga do cinema mexicano.
Desse projecto, nasce a novela O Galo de Ouro, escrita entre 1956 e 1958, mas só publicada em 1980, texto admirável que retrata a vertigem do jogo, da sorte e do amor.
Organizada pela Fundação Juan Rulfo, esta é a edição mais recente, completa e rigorosa de O Galo de Ouro, com fixação do texto corrigida e mais fiel ao estilo do escritor mexicano, que nunca chegou a revê-lo, embora tenha autorizado a sua publicação.
O volume é enriquecido com vários textos introdutórios, incluindo ainda um inédito de Juan Rulfo, a sinopse de O Galo de Ouro que escreveu para a produção do filme, e uma nova transcrição de A Fórmula Secreta, outra colaboração sua com o cinema.
Opinião
Nem acredito que esta é a última obra de Juan Rulfo que tenho na estante, sendo que não existe muito mais para ler. Um autor tão extraordinário deveria ter escrito até depois de morto, porque os leitores precisam dos seus livros, das suas palavras, das suas ideias disruptivas. Sem esquecer o seu estilo enxuto, sem adornos desnecessários para compor personagens e enredos fascinantes. Tenho tido o privilégio de ler muitos autores consagrados, tenho procurado os clássicos da Literatura Universal, mesmo quando sinto que não entendo tudo que o autor me quer dizer, mas nunca li nada que se pareça com os livros de Juan Rulfo.
A novela de hoje tem menos de cem páginas, mas retrata uma realidade latino-americana muito peculiar e que volta a reforçar a miséria de muitos dos habitantes do México da sua época. O protagonista é Dionisio Pinzón, um dos homens mais pobres do lugar San Miguel del Milagro, e que trabalhava como pregoeiro, que consistia em percorrer as ruas a gritar aos sete ventos os relatos dos animais ou das pessoas desaparecidas. Era assim que sustentava a sua pobre mãe, doente e debilitada, pois o próprio Dionisio era frágil e sem condições físicas para participar nas actividades normais da sua aldeia, ligadas à agricultura e à criação de gado.
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Até que é organizada na sua aldeia uma luta de galos, que atraí uma série de pessoas com os seus animais, outras para assistir e apostar e outras que vivem de entreter este público no meio das ditas lutas. É durante este período que toda a sua vida muda para sempre, depois de conseguir um milagre que o coloca ligado a este negócio escuso de uma forma impressionante e inesperada. A conquista deste pequeno momento de esperança e a perda da sua mãe, faz com que abandone a sua terra sem olhar para trás e parta em busca de uma vida melhor.
"Não, Pinzón, tu és como eu. O trabalho não foi feito para nós, por isso procuramos uma profissão mais ligeirinha. E qual melhor do que esta da jogatana, em que esperamos sentados que a sorte nos mantenha?"
Aos poucos, a sua vida melhora, até porque era difícil piorar. Claro que este não é um percurso sem percalços. Mas a verdade é que o seu destino se cruza com pessoas determinantes para a sua jornada rumo ao cumprimento dos seus sonhos e da sua sede de provar ao mundo que podia ser abastado, mesmo vindo de um lugar de misérias. Lorenzo abre-lhe o caminho, quando tudo parece estar perdido; Bernarda é a mulher que acredita será sua, apesar de saber do seu amor pela sua liberdade. A verdade é que todos os caminhos se abrem, torna-se próspero e decide regressar à sua terra com o pretexto de dar à mãe o funeral que ela merece e que antes não foi capaz. A verdade é que o seu desejo era mostrar àquelas pessoas o quanto conseguiu subir na vida e tornar-se superior a todas elas.
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O seu percurso amoroso com Bernarda é fascinante e perturbador, ao mesmo tempo. A relação de poderes entre os dois é sempre desigual, mas não permanece igual. No início, prevalece a força, a determinação e a independência de Bernarda, que só aceita Dionisio se este respeitar a sua necessidade de movimento, de não se fixar num só lugar por muito tempo. Só que o tempo passa, os anos e o estilo de vida errante causam os seus estragos e Bernarda perde a capacidade de cantar, ganha uma filha, e termina subjugada aos caprichos deste marido, que agora parece outro.
"Antes de Dionisio Pinzón ter transformado a sua humildade em soberba, ela colocara as suas condições e impusera a sua vontade. Agora, porém, já decaída a sua voz, mortas as suas forças, não lhe restava senão obedecer a uma vontade alheia e esquecer a sua própria existência."
Mais uma vez fico estupefacta com a capacidade do autor para nos apresentar personagens complexos, uma narrativa que se desenvolve em longos anos e com vários acontecimentos que dão ritmo e velocidade, tudo isto em tão poucas páginas. A leitura parece começar devagar, com calma, quase resignada, mas depois torna-se voraz, imparável e duvido que sejas capaz de parar de ler, chegada a dada altura, antes do final. Ler Juan Rulfo é um deleite e nem acredito no tempo que demorei a descobri-lo. Agora, terminada a sua obra, só me resta procurar textos que tenham sido publicados postumamente ou reler as suas maiores obras-primas.
Já conheces este autor mexicano? O que leste de Juan Rulfo? Qual a tua obra favorita? Deixa o teu comentário e vamos conversar sobre este autor extraordinário!
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