Sinopse
Conheça o pior vizinho do mundo.
Ove não é o típico vizinho com quem nos apeteça cruzar na rua. É um velho solitário e antipático que não gosta de pessoas. Afinal, hoje em dia ninguém respeita os sinais de trânsito, sabe fazer reciclagem corretamente, trocar um pneu ou sequer conhece os vários tipos de chaves de fendas que existem. Isto já para não falar sobre como preparar um café de cafeteira como deve ser! Ninguém está disposto a assumir responsabilidades. Não, agora é só facilitismos... está tudo na Internet e o café degusta-se instantâneo.
Como se não bastasse, perdeu a única pessoa que dava cor aos seus dias. E em troca ganha uns estranhos vizinhos, vindos sabe-se lá de que planeta, que parecem destinados a intrometerem-se no grande plano que Ove tem para a sua vida. Ou para o fim dela. É que por detrás do homem carrancudo há uma história de solidão e tristeza.
Mas uma série de circunstâncias fortuitas irá devolver-lhe aos poucos a fé na humanidade. E, ao mesmo tempo, as pessoas que o rodeiam começam a perceber que o bairro não seria o mesmo sem Ove. Seria um lugar mais frio, menos solidário e, por mais estranho que pareça, também muito menos divertido.
Peculiar e agridoce, enternecedor e hilariante, garantidamente capaz de nos fazer ir às lágrimas a cada página, Um Homem Chamado Ove é já um clássico dos tempos modernos.
Opinião
Não sou muito dada a seguir as tendências e as modas no que toca a livros novos. Sempre que existe muito burburinho em torno de um livro, regra geral, espero que isso passe e só mais tarde, se me cruzar com a obra, lhe dou uma oportunidade. Em 2016, recordo-me de ouvir falar deste livro, mas não dei muita atenção pelos motivos que já referi. Em 2023, pareceu-me essencial ler o livro porque queria muito ver o filme que conta com o extraordinário Tom Hanks como protagonista. Foi esta a alavanca para iniciar esta leitura e, apesar de todas as coisas boas que sempre se disseram sobre ele, nunca esperei que me fosse apaixonar tanto pelo rabugento Ove.
Para começar, Fredrik Backman escreve magistralmente e construiu a sua história e as suas personagens de uma forma brilhante. Mal dá para acreditar que este é o seu romance de estreia. Logo nas primeiras páginas fica claro o mau humor do protagonista, que parece roçar o absurdo sem termos contexto do que o leva a ser assim para todos que com ele se cruzam. É um homem de hábitos enraizados, que conduz um Saab desde sempre, que acorda sempre à mesma hora, que faz sempre a ronda ao bairro de manhã antes de tomar o pequeno almoço.
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Mas à medida que os capítulos se sucedem, vamos conhecendo mais sobre a sua infância e juventude, sobre o seu temperamento e o quanto este foi moldado pelo exemplo do seu pai, que perdeu muito cedo, mas que sempre foi o seu guia para escolher a opção certa, para se dirigir pelo caminho do correcto, mesmo que não seja esse o caminho que mais o poderia favorecer. A sua história de vida poderia ser trágica, não fosse a sua teimosia, quase obstinação, por lutar pelo que acha certo e, mesmo quando não consegue vencer o sistema, opta por ser a solução em vez de se lamentar.
"Todo o ser humano precisa de saber aquilo por que está a lutar. Era o que se dizia. E ela lutava por aquilo que era bom. Pelas crianças que nunca teve. E Ove lutou por ela."
No momento em que o encontramos, acabou de ser dispensado do trabalho, ao qual se dedicou por longas décadas, com um sentido de missão, pois é o tipo de homem que encontra realização no trabalho para se sentir útil para a sociedade. É enviado para casa para descansar, coisa que muito o desagrada e lhe permite abandonar-se aos pensamentos que tem tentado evitar nos últimos seis meses. Nesse espaço de tempo limitou-se a seguir as suas rotinas, sem parar para pensar na dor que sentia, na saudade e no vazio que a morte da esposa lhe deixou. Sem a sua companheira e sem o seu trabalho, sente que já nada lhe resta para fazer e o seu desejo é morrer para poder reencontrar a única mulher que amou durante toda a sua vida.
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Só que tudo e todos parecem determinados a atrapalhar os seus planos e estão constantemente a interromper as suas tentativas e até os preparativos. O primeiro intruso que aparece para atrapalhar são os novos vizinhos que se estão a mudar para a casa da frente. Até aqui não haveria razão para falar neles, só que o novo vizinho atropela a caixa de correio de Ove com o seu atrelado, o que enfurece o homem, que se vê obrigado a manobrar ele próprio o veículo para conseguir retirá-lo da frente da sua casa e acabar com o risco de maior destruição. Este primeiro encontro é decisivo e coloca as atitudes de Ove em perspectiva, pois a nova vizinha não tem medo nenhum do idoso mal humorado e não se inibe em momento nenhum de o colocar no seu lugar ou de o chamar a atenção. Claro está que também lhe pede ajuda, claramente procurando mantê-lo ocupado e sem tempo livre para se dedicar aos seus planos de morrer.
"Um dos momentos mais dolorosos na vida de cada um provavelmente acontece quando se atingiu uma idade em que há mais coisas para recordar do que para planear. E quando deixamos de ter o tempo à nossa frente, temos de encontrar outras coisas pelas quais viver. Memórias, talvez."
Aos poucos, Ove permite que estes novos vizinhos, com as filhas incluídas, entrem na sua vida e ocupem um espaço que lhe parecia que nunca tinha existido. Ensina a conduzir, dá boleias, torna-se um avô para as meninas. Os problemas ao seu redor também não param de surgir, que o impedem de abandonar este mundo sem os tentar resolver, pois é da sua natureza lutar contra o sistema pelo que acha certo. É uma viagem incrível, que nos absorve para este mundo que está inserido num bairro de classe média sueco, e que nos faz desejar muito ter um vizinho assim, tão justo, tão útil, tão generoso, ainda que desagradável e mal humorado.
Este é um livro profundo, sobre solidão na velhice, sobre a dor da viuvez, sobre o poder que uma comunidade de vizinhos pode ter na vida dos elementos que o compõem. Os temas são fortes e, por vezes, infelizes, mas sempre escritos com um tom alegre, divertido, ao ponto de, mesmo nos momentos mais tensos, ser possível sorrir com alguma piada ou comentário do narrador. Fiquei fã do Ove e também do seu criador e estou muito curiosa para ler outros livros escritos por ele, para perceber se este estilo particular se mantém. Acredito que a esmagadora maioria das pessoas já leu este livro, mas se fazes ainda parte da minoria, como eu fazia, convido-te a dares-lhe uma oportunidade porque não te vais arrepender. Mas se ainda precisas de mais incentivos para embarcar nesta leitura, podes ver o vídeo da Maria João Covas.
Já leste Um Homem Chamado Ove? O que achaste deste personagem peculiar? Gostaste da escrita de Backman? Que outros livros deste autor conheces e recomendas? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre este sueco e os seus livros!
Acredito que seja um livro fascinante de ler
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Feliz terça-feira de Carnaval. Saudações cordiais.
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Poema: “” É Carnaval: Brinque-se … ””…
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É mesmo! Não poderia recomendar mais!
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