Sinopse
A revolução espanhola ocupa um lugar-charneira na obra de George Orwell, escrita no final da guerra civil espanhola (1936-1939) a partir da sua própria experiência na frente de combate, Homenagem à Catalunha é uma obra ímpar, onde o autor descreve, com o agudo poder de observação que o caracteriza, o confronto entre os vários grupos revolucionários, incluindo as suas clivagens internas, e os fascistas. De facto, Orwell tinha uma franqueza rara entre a esquerda militante: dizia o que via mesmo que isso pusesse em causa o que até então havia pensado, oferecendo-nos aqui um retrato lúcido das peripécias da guerra civil.
Opinião
Dos tantos livros que vieram comigo na última edição da Feira do Livro de Lisboa, este é já o quarto que termino e acredito que antes do ano acabar ainda virei falar de outro. As compras foram muitas e tenho pouca convicção de que irei ler todos antes da próxima edição, mas isso não é desculpa para os deixar na estante, não é verdade? Depois de ter lido os livros mais famosos de George Orwell, quero continuar a ler o que escreveu, porque tem um estilo irónico e sarcástico fantástico e também porque toca em temas fundamentais para todos nós, sem que seja um peso ler ou sequer difícil de compreender a sua mensagem.
É precisamente o que acontece neste livro, Homenagem à Catalunha, onde nos conta a sua experiência pessoal na guerra civil espanhola. O facto de ser uma narração na primeira pessoa, fruto dos meses que viveu e participou no conflito, já seriam motivos suficientes para ser de uma importância extraordinária para todos os que querem entender o que aconteceu e o ambiente que se vivia na época. Apesar de Orwell ser abertamente de esquerda, já deu muitas provas do seu espírito crítico e da sua capacidade de emitir opiniões e impressões contrárias às suas convicções e do seu partido. É por isso que as suas impressões sobre este conflito tão polémico são tão importantes e relevantes.
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Esteve em Barcelona, viveu o ambiente da cidade, presenciou as emoções fervilhantes de esperança e determinação da classe trabalhadora, num momento em que todos acreditavam que seria possível viver como iguais, sem diferenças de classes ou hierarquias. Os burgueses esconderam-se ou fugiram, e muitos disfarçavam-se na multidão vestindo roupas que os poderiam fazer parecer trabalhadores comuns. Determinado a participar e contribuir para o sucesso desta revolução de trabalhadores, George Orwell decide alistar-se nas milícias e seguir para a frente de combate.
"Dizem que são precisas mil balas para matar um homem e, por aquele andar, só dali a vinte anos mataria o meu primeiro fascista."
Como viveu esta experiência pessoalmente, consegue relatar os poucos recursos que existiam na frente de combate da Catalunha, embora tenha percebido que a falta de hierarquia militar não atrapalhava a organização da milícia nem diminuía o seu empenhamento e dedicação à causa. A falta de armas era compensada pela enorme coragem de todos os envolvidos. É curioso também perceber quais as impressões que os espanhóis e a sua particular forma de estar na vida provocaram num prático inglês, pouco habituado a toda aquela expansividade e que não conseguia compreender muito bem as prioridades deste povo, tão diferente do seu.
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Apesar do foco estar no ambiente militar que viveu, na sua experiência pessoal na frente, nos problema que encontrou, nas pessoas que conheceu e no que o esperava quando, depois de ter sido atingido no pescoço, voltou a Barcelona, ainda assim, existem muitas considerações políticas e alguns esclarecimentos que ajudam a compreender melhor o ambiente dos partidos, das suas rivalidades, das várias fações que se digladiavam e procuravam que as suas ideias vencessem mesmo antes dos fascistas serem vencidos de verdade. É um relato que procura clarificar algumas inverdades que foram difundidas no calor do momento, sobretudo nos países estrangeiros que, à distância, parecem não ter percebido o que realmente se passava em Espanha nesses anos turbulentos.
"O certo é que todas as guerras sofrem uma espécie de degradação progressiva a cada mês que passa, porque coisas como liberdade individual e imprensa verdadeira não são, pura e simplesmente, compatíveis com a eficiência militar."
Confesso que sei muito pouco sobre a guerra civil de Espanha e achei esta leitura tão interessante que fiquei com uma sincera curiosidade sobre o tema, sobre o qual gostaria de saber mais, de ler outros relatos, de perceber o que hoje, passados tantos anos dos acontecimentos, qual é a leitura dos historiadores sobre o que se viveu no país. O tema é interessante realmente, mas acredito que o estilo particular de Orwell muito contribua para que o leitor fique preso ao seu relato e perceber quais as experiências que viveu e quais as conclusões que tirou delas.
Já conheces o trabalho de George Orwell? O que leste do autor? Já conhecias esta Homenagem à Catalunha? Conta-me tudo nos comentários!
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