Sinopse
«Tomai este caminho e obtereis a remissão dos vossos pecados, seguros na indestrutível glória do Reino Sagrado.»
Assim falou o Papa Urbano II em 1095, palavras de estímulo aos cristãos para seguirem o caminho do Santo Sepulcro e libertarem a cidade de Jerusalém de séculos de governação islâmica. O apelo a esta união por parte de Urbano II, com a promessa da salvação para todos os que tomassem a cruz, desencadearia um conflito religioso numa escala épica.
Príncipes cristãos, seguidos por legiões de fiéis, iniciaram uma cadência de guerras santas contra os inimigos de Cristo que imergiriam a Europa e o Mediterrâneo num banho de sangue - de Alepo, no Levante, ao Al-Andalus, no Ocidente. Em Os Cruzados, Dan Jones apresenta uma perspetiva particular sobre um conflito medieval entre a cristandade e o islão que se manteve aceso durante quase quatro séculos e cujos ecos ainda hoje se fazem ouvir.
Mais do que uma simples exposição dos acontecimentos das Cruzadas, Dan Jones oferece-nos um enquadramento histórico com base numa sequência de episódios emocionantes. Os cruzados são mulheres e homens, cristãos das Igrejas do Oriente e do Ocidente, muçulmanos sunitas e xiitas, árabes, judeus, turcos, egípcios, berberes e mongóis e até um grupo viquingue.
Dan Jones tem uma magnífica aptidão para redigir esta narrativa histórica estimulante. Nunca até aqui a época das Cruzadas foi retratada de modo tão intenso e vibrante, nem a sua história relatada com tanto entusiasmo.
Opinião
Descobri este livro por mero acaso, enquanto passeava pelo Continente e estava a espreitar as suas promoções de livros, isto antes de ir de férias. O título chamou a minha atenção, sem sequer imaginar quem seria o autor. Só depois de iniciar a leitura, dias depois, é que os meus olhos pousaram na orelha e vi a foto do autor. Foi aí que se fez luz e percebi que conhecia sim Dan Jones, dos vídeos no Youtube contando episódios de História da Inglaterra.
Se tinha dúvidas que esta seria uma leitura enriquecedora, elas ficaram totalmente esclarecidas. Este é um relato completo, empolgante, que nos transporta para os lugares e para a mentalidade da época, compondo todo o cenário de forma brilhante, com uma contextualização histórica muito importante que nos permite compreender os acontecimentos e os desenvolvimentos. O livro está dividido em três partes, contando ainda com uma introdução, inúmeros mapas dos lugares e da evolução das conquistas e perdas cristãs, um epílogo e vários apêndices. Nesta parte temos um breve resumo de quem foram as principais personalidades, listas com os reis e rainhas de Jerusalém, os Papas e os Imperadores, as notas, uma bibliografia com as principais fontes usadas pelo autor e um muito útil índice remissivo, que torna esta obra excelente para consultas futuras.
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Acompanhamos aqui o que acontecia na Europa e que contribuiu para que a Primeira Cruzada fosse lançada e as razões sociais e políticas que levaram a que tivesse uma adesão muito forte em diversos domínios. Os próprios líderes destes países poderosos aceitaram o repto e vão em cruzada para conquistar a Terra Santa. Era uma época em que os reis eram combatentes também, liderando os seus exércitos, tendo de ser guerreiros poderosos para conseguirem manter as coroas nas suas cabeças e expulsar os invasores que sempre gostavam de ocupar mais dos seus territórios. As fronteiras ainda eram alteradas com frequência e a maioria dos países que hoje conhecemos na Europa ainda não estavam definidos, existindo uma enorme divisão de reinos rivais.
"Esta guerra, pela qual homens e mulheres haviam percorrido milhares de quilómetros em condições sofríveis, gastando fortunas de uma vida e confiando as almas a Deus, não durou mais do que cinco dias."
Assim, os maiores líderes da Europa decidem unir-se e partir em busca de glória, novas conquistas e riquezas e ainda salvar a alma, ganhando um lugar no céu, por combater em seu nome. Durante séculos muitos foram os homens, simples ou nobres, que rumaram a esses territórios em busca da salvação da alma e da conquista de glórias para o seu nome. É durante as Cruzadas e por causa delas que surgem novas ordens religiosas e militares em simultâneo, como os famosos Templários ou os Hospitalários. Estes e outros foram fundamentais para o sucesso desta empreitada e por isso se tornaram poderosas peças no tabuleiro das influências.
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Este empreendimento, como já antes referi, decorreu durante séculos e, como podes imaginar, muitas foram as figuras que se envolveram, fomentaram, incentivaram, divulgaram e corromperam as Cruzadas. O título é claro, o foco está nas pessoas como forma de contar o que aconteceu durante esta época tumultuada e confusa. Os Papas, reis e imperadores são usados como protagonistas, mas também se encontram muitas figuras do lado oposto, que nos apresentam uma prespectiva diferente deste conflito. Os muçulmanos, por vezes, perdidos nos seus conflitos internos, tornaram-se alvos fáceis, até que se uniram ou resolveram os seus problemas e colocaram um ponto final na ocupação cristã.
"O caminho passava a estar limpo para um líder que unisse a Síria e o Egipto sob governação sunita, fazendo-o sob a bandeira da jihad: uma ideologia de guerra santa tão poderosa e, talvez, ainda mais duradoura do que a da cruzada cristã latina."
Outro aspecto interessante neste livro é a importância que o autor dá às mulheres importantes das Cruzadas, colocando as suas crónicas em destaque e realçando o papel que tiveram durante esses anos transformadores e fundadores da Idade Média. Além disso, temos aqui um pouco da história de personalidades famosas como Saladino, Ricardo Coração de Leão, Francisco de Assis, Gengis Khan, Leonor da Aquitânia, só para dar alguns exemplos.
Por fim, não posso ignorar o fascinante que é ler sobre a reconquista cristã na Península Ibérica, sobretudo em Portugal. O nosso país surge quando o fervor das Cruzadas estava em altas e nos nossos portos aportavam muitos estrangeiros que iam para a Terra Santa depois de terem tomado a cruz. O nosso primeiro rei, aproveitando a oportunidade deste reforço, tenta convencer estes homens a ajudar no seu projecto de expulsar os muçulmanos da Europa, antes de partir. Graças a esses reforços, as suas conquistas vão se somando, tendo ganho inclusive, o apoio do Papa para esse propósito, tanto em Portugal como em Espanha (que ainda não era um país, mas um conjunto de reinos independentes).
Portanto, se gostas de História, de aventuras, de combates ferozes ou das Cruzadas no geral, este é o livro que precisas de ler. Conheces Dan Jones? O que achas da sua escrita? Já leste o seu outro bestseller Os Templários? Conta-me tudo nos comentários!
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