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terça-feira, 23 de agosto de 2022

#Livros - A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne

 

#Livros - A Letra Escarlate, de Nathaniel Hawthorne

Sinopse

Na América puritana, o peito das mulheres adúlteras era marcado com uma letra escarlate, a marca da infâmia. Nesta sociedade quase totalitária, onde a vontade individual se verga ao peso da moralidade, uma mulher, Hester, será ostracizada, perseguida e vilipendiada por um crime que não é crime - amar fora do casamento. Mas ela ergue-se em todo o seu esplendor. Resiste e persiste. Indomável. Além de Hester, duas outras personagens permanecem na memória do leitor. Arthur Dimmesdale, o amante cobarde, torturado pelo peso da culpa, incapaz de assumir a sua relação. E Roger Chillingworth, o marido traído, de espírito vingativo, atormentando a vida dos amantes. 

Psicologicamente denso, de uma simbologia complexa, este é o primeiro dos grandes romances americanos. Uma obra única. Uma obra imortal. Um verdadeiro monumento à literatura. 


Opinião

A única referência que tinha sobre este título era uma lembrança difusa de um filme dos anos 90, que nem sei bem se cheguei a assistir. Entretanto, estou a fazer a colecção de Romances Eternos e, entre tantos livros que tenho recebido, cada um mais lindo que o outro, alguns que já tenho ou já li, este saltou-me à vista e despertou a minha curiosidade, pois sempre ouvi dizer que o filme não fazia justiça ao livro de modo nenhum. E foi assim que A Letra Escarlate, também traduzido como A Letra Encarnada, furou a fila de leituras. 


Para começar, posso já dizer que valeu bem a pena antecipar esta leitura porque o livro é inacreditável de tão bom. Primeiro, a escrita do autor é incrível, além de cuidada, é feita com pormenores delicados, escondendo mais do que aquilo que revela nas palavras. Sinto que as palavras não são suficientes para explicar o que este livro entrega e a forma como o faz. A sua subtileza, os subterfúgios que o autor utiliza para nos contar alguma coisa, ao mesmo tempo que esconde o essencial, a crítica a vários sectores da sociedade puritana, esta combinação faz com que este seja mesmo um livro extraordinário. 


Podes ler também a minha opinião sobre Jane Eyre 


O primeiro capítulo parece fora do contexto, pois estamos à espera de saber da história de uma mulher adúltera, e somos brindados com um relato da vida na alfândega, lugar onde o autor trabalhou e, portanto, revela-se uma descrição do que teria sido a sua experiência profissional, mas também serve para nos contar que foi desse modo que tomou conhecimento desta história que é contada como um relato verídico do que aconteceu muitos anos antes da data em que é escrito A Letra Escarlate


"Esta longa ligação de uma família com um lugar, o seu lugar de nascença e morte, cria uma espécie de parentesco entre o homem e o lugar, independentemente de qualquer encanto da paisagem ou da gente que o cerca. Não é amor, mas instinto." 


Passado este preâmbulo, somos apresentados à invulgar Hester, que se encontra em praça pública, com a filha recém nascida nos braços, a cumprir parte da pena que lhe foi dada pelo tribunal por ter pecado ao ter um filho que não é do seu marido ausente. Inicialmente, não nos são dados muitos detalhes sobre esta mulher, a sua vida ou o seu passado, o que me fez questionar porque estava aquela mulher sozinha, dado que ninguém faz filhos sozinho; e onde estava o marido traído, que não se via referência em parte alguma. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre A Idade da Inocência


Aos poucos vamos entendendo melhor o que se está, de facto, a passar e como foi que Hester chegou àquele lugar de humilhação pública. Vinda de Inglaterra, foi enviada para Salem pelo seu marido que iria juntar-se-lhe em seguida, só que os anos se passaram e ele nunca chegou. A comunidade começou a comentar a situação inusitada e todos já imaginavam que o pobre homem teria morrido no caminho, ainda que não fosse possível provar que esta mulher era viúva pela ausência de notícias sobre este homem misterioso. Tudo se adensa quando, no momento em que se encontra no palanque, para ser observada por todos e servir de exemplo para todas as mulheres, apercebe-se da presença, entre a multidão que a cerca, do seu marido a fitá-la. 


"Os dias do futuro longínquo seguir-se-iam, sempre com o mesmo fardo para ela erguer e transportar, mas nunca depor; pois os dias acumulados e os anos juntos não fariam mais que amontoar a sua angústia sobre o monte antigo da vergonha. Por todos eles fora, abandonando a sua individualidade, ela se tornaria o símbolo geral, para que apontassem o pregador e o moralista, e no qual pudessem encarnar e tornar vivida a imagem da fraqueza feminina e da paixão pecaminosa." 


Ficamos a saber ainda que Hester recusou-se a contar quem era o pai da criança e, por esse motivo, a sua pena foi ligeiramente mais pesada do que seria, dado que todos acreditavam que o marido teria morrido. Depois de ser recolhida à sua cela, passado o suplício público, recebe a visita do homem que se apresentou como médico, Chillingworth, mas que na verdade era o seu marido ausente. Este mostra-se compreensivo para com a esposa adúltera, mas pede-lhe explicações sobre o responsável pela sua infâmia, o que a nossa protagonista continua a manter segredo, recusando-se a partilhar a identidade do homem por quem se apaixonou. Assim, o novo habitante da cidade pede-lhe segredo da sua verdadeira identidade para fugir à vergonha e ao escândalo, e partilha que vai se dedicar a descobrir a verdade sobre esse homem e procurar a sua vingança. 


É aqui que o enredo realmente começa e onde a capacidade do autor se revela para nos mostrar e ocultar ao mesmo tempo informação relevante ou acessória. Quero ainda destacar que estamos perante uma tradução do extraordinário Fernando Pessoa, que é tão boa que continua a ser usada nos dias de hoje, não só em Portugal. Outro aspecto que quero salientar é a qualidade destas edições requintadas. Sim, o exterior conquistou muitos leitores, mas nunca esperei que o interior acompanhasse, confesso. Papel de excelente qualidade, letra confortável de ser lida mesmo para míopes, fonte e cor do papel, tudo claramente pensado para que seja lido e não apenas um objecto decorativo. 


Depois de tudo isto, não entendo o que esperas para ler este livro incrível de Hawthorne. No entanto, se ainda precisas de mais incentivos ou queres saber mais sobre a obra, aconselho-te a veres o vídeo da Tatiana Feltrin, que faz um trabalho incrível no Youtube. Seja qual for a versão que tenhas ou que venhas a comprar, lê A Letra Escarlate e mergulha neste mundo dúbio e misterioso, complexo e rico. Não te vais arrepender! 


Conheces esta obra da Literatura americana? O que sentiste ao ler A Letra Escarlate? Leste mais alguma coisa do autor? Conta-me tudo nos comentários! 


Podes encomendar o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribuir para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand | Book Depository 

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