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terça-feira, 16 de agosto de 2022

#Livros - Paris é uma Festa, de Ernest Hemingway

 

#Livros - Paris é uma Festa, de Ernest Hemingway

Sinopse

Em 1921, um jovem Ernest Hemingway chega a Paris decidido a abandonar o jornalismo e a iniciar carreira como escritor. De bolsos vazios e com a cabeça povoada de sonhos, percorre as ruas de uma cidade vibrante nos dias de pós-Primeira Guerra Mundial, senta-se nos seus cafés para escrever, recolhe-se em retiros apaixonados com a sua primeira mulher, Hadley, e partilha aprendizagens e aventuras com algumas das mais fulgurantes figuras do panorama literário da época, como Ezra Pound, F. Scott Fitzgerald ou a madrinha desta - por si apelidada - «geração perdida», Gertrud Stein. Situada entre a crónica e o romance, Paris é uma Festa é a memória destes anos e a obra mais pessoal e reveladora de Hemingway. Deixada inacabada pelo autor, seria publicada postumamente, em 1964. 


Opinião

Depois de ter lido o meu primeiro Hemingway no ano passado e logo com um dos seus livros mais icónicos, fiquei com muita vontade de ler mais livros deste autor norte americano. Para esta escolha, em especial do título, também contribuiu ser o penúltimo livro que me faltava ler da remessa que comprei na última Feira do Livro de Lisboa. Agora, fica só a faltar pegar no livro que comprei com a consciência de que não seria uma leitura para breve, ou seja, Dom Quixote de la Mancha. 


Quanto a este livro, Paris é uma Festa, só posso dizer que é uma delícia e um privilégio conhecer Paris, a vida de um jovem escritor, o meio artístico e tantas figuras do panorama cultural da época pelos olhos e pela experiência de Ernest Hemingway. É óbvio que estamos perante um livro de memórias, contado como se estivesse a ser escrito no momento exacto dos acontecimentos, mas que sabemos que foi escrito longos anos passados dos factos que narra. Portanto, é natural que a memória falhe e alguns detalhes, muitos diálogos sejam apenas fruto de uma lembrança vaga que foi ficcionada para contar o que o autor pretendia passar para os seus leitores. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Velho e o Mar


A sua vida em Paris está longe de ser sumptuosa, glamourosa ou sofisticada. Até porque esta época está localizada no início da sua carreira como escritor, quando o dinheiro não abunda, até porque decide abandonar o jornalismo para seguir este apelo pela escrita de ficção. Assim, vive em Paris com a sua primeira esposa e o seu primeiro filho também, vivendo num bairro modesto, em instalações com o mínimo dos confortos, e nem sempre com dinheiro no bolso para se alimentar. Aliás, os seus relatos da sensação de fome, de como essa sensação, passadas algumas horas, lhe agudizava os sentidos e lhe permitia apreciar melhor a paisagem, obras de arte e tudo em geral. 


"Mas Paris é uma cidade muito antiga; nós éramos jovens e ali nada era simples, nem sequer a pobreza, nem o dinheiro ganho de surpresa, nem o luar, nem o bem e o mal, nem a respiração de quem junto de nós dormisse ao luar" 


Conta também sobre as suas estranhas escolhas, as opções que o casal fazia e que os fazia viver ainda pior do que poderiam ter vivido. Hemingway nunca se privava de trabalhar em cafés onde consumia com frequência, ou de gastar dinheiro destinado a outros fins e depois pedir emprestado. Ou ainda, dedicar-se a apostar em corridas de cavalo. Isto só para dar alguns exemplos, porque as situações deste género são mais que muitas ao longo de todo o relato desses anos. Outro aspecto fascinante deste livro é a forma poética com que é escrito. Alterna momentos banais, descritivos de um dia a dia de trabalho artístico, com considerações que te fazem pensar ou simplesmente maravilhar com a beleza das palavras. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Grande Gatsby


Outro aspecto fascinante deste registo biográfico em tom de memórias da juventude, é a quantidade de gente famosa, talentosa e de várias áreas da cultura com quem se cruzou ao longo desses anos e com quem teve amizades das mais diversas, com contornos pessoais num tom de quem já nada tem a perder e de quem sabe que a maioria dessas figuras já cá não se encontravam para se defender ou rebater as suas afirmações. Figuras como Ezra Pound, Gertrud Stein ou o mais apetecível e controverso Fitzgerald, com quem teve uma amizade profunda, mas com quem se chateou a dada altura, tendo sido testemunha da relação deste com a sua perturbada mulher, não se tendo privado de partilhar connosco as suas impressões desta relação complexa e tóxica. 


"Dizem que as sementes daquilo que havemos de realizar se encontram todas já dentro de nós, mas sempre me pareceu que, naqueles que troçam da vida, as sementes se encontram cobertas de melhor terra e de uma percentagem mais alta de adubo." 


Este é um relato que fala sobre tantas coisas que fica difícil aqui incluir todos os temas ou assuntos que aborda. Para terminar, quero ainda destacar a sua importância no que toca ao acto da escrita. Acredito que qualquer aspirante a escritor pode e deve ler Paris é uma Festa e aprender com os métodos de Hemingway, inspirar-se com a sua forma de encarar a profissão, os seus métodos de trabalho e até a sua filosofia sobre o que devia fazer um bom escritor para não corromper a sua ética profissional. Mas se precisas de mais incentivos para ler este livro, aconselho-te a veres o vídeo da Tatiana Feltrin e ouvires os seus argumentos. 


Já leste este livro de Hemingway? O que achas deste autor? Qual a tua obra favorita que me aconselhas em seguida? Conta-me tudo nos comentários! 


Podes encomendar o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribuir para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand | Book Depository

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