Sinopse
Em 1953, dois anos antes de Pedro Páramo, com o qual obteria a consagração internacional como um dos escritores mais influentes do século XX e da literatura de língua espanhola, Juan Rulfo publica esta sua primeira obra, um volume de contos. Desde logo, a novidade da sua prosa impressiona e desperta a atenção, nomeadamente pela profundidade das personagens, onde camponeses que lutam pela subsistência, caciques brutais e revolucionários sanguinários se cruzam e coexistem num cenário árido e pobre, carregado de solidão, violência e morte.
Uma obra fundamental e intemporal da língua hispânica e da literatura universal: um verdadeiro clássico moderno. Influenciou de forma decisiva autores distinguidos com o Prémio Nobel de Literatura, como Gabriel García Márquez e Octávio Paz.
Opinião
A minha descoberta de Juan Rulfo tem sido arrebatadora e, como tal, não descansei enquanto não li mais deste autor extraordinário. Infelizmente, não existem muitas obras, mas o que temos disponível é um caso sério e tornou-se num marco que revolucionou toda a literatura latino-americana e até, podemos dizer, a literatura mundial. O autor viveu uma vida isolada e deixou de publicar novos livros muito cedo, mas o que nos deixou deve ser conhecido, divulgado e espalhado pelos quatro cantos do mundo.
Hoje, vamos falar sobre o livro de contos que Juan Rulfo publicou antes do famoso e incontornável Pedro Páramo. São 18 contos aqui reunidos, com a linguagem própria e o estilo único que conhecemos na obra mais célebre do autor, que fazem um retrato de um México perdido no tempo e no espaço, como se restasse dele apenas uma memória difusa. O seu estilo seco, directo, sem palavras decorativas, pode ser encontrado em cada um dos contos, sem excepção. E, ao mesmo tempo, existe a sensibilidade de quem compreende cada uma das personagens e entende os seus sofrimentos, as suas dores, a sua vida difícil.
Podes ler também a minha opinião sobre Pedro Páramo
A miséria, a pobreza, até a violência das pessoas e dos lugares estão sempre presentes. Numa simbiose que nos faz entender que uma resulta da outra. O lugar miserável, pobre, violento, transfere essas características para as pessoas que nele habitam, como se só os que conseguem ser como ele pudessem sobreviver nessas paragens inóspitas e abandonadas pela civilização como a conhecemos. Com brilhantismo, mistura o seu realismo mórbido com a fantasia, de onde os temas que o preocupam e que atingem o seu México ficam ainda mais evidentes e despidos, à vista de todos que estiverem dispostos a ler o que escreveu.
"Agora que sabia bastante bem que o iam matar, tinha-lhe entrado uma vontade tão grande de viver como só a pode sentir um recém-ressuscitado."
É um arrebatamento ler a obra deste autor original e único, e no final de cada conto temos a sensação de ter lido algo incrível e extraordinário. Os elementos fantásticos são colocados sem nunca pôr em causa a credibilidade da história, encaixando de forma perfeita em todas as narrativas, em todos os enredos. Quanto mais leio os livros do autor, vejo vídeos que falam sobre a sua obra, mais compreendo a dificuldade de colocar em palavras as sensações que ele nos provoca.
Podes ler ainda a minha opinião sobre Cem Anos de Solidão
Temos histórias de vingança, de morte, de desespero, de injustiça, de resignação, de pobreza extrema e miséria, de arrependimento, de remorsos, de silêncio e de solidão. Com premissas fortes e que ficam connosco muito tempo depois de terminada a leitura. Temos títulos como Deram-nos a Terra, que conta sobre camponeses a quem foi dada terra, no seguimento da reforma agrária ocorrida no México após a Revolução, mas cuja terra é estéril e inóspita; É que somos muito pobres, que nos conta a vida de uma família extremamente pobre, que tinha como única riqueza uma vaca que seria o dote da filha mais nova e que tinha como propósito evitar que esta tivesse o mesmo destino que as irmãs mais velhas; Talpa, que conta a história de um homem muito doente e debilitado, que é casado com uma mulher bonita que acaba por se envolver com o cunhado.
"Todos os dias acordava esmagado pelo pai, que o considerava um cobarde e um assassino e, se não o quis matar, pelo menos tentou que morresse de fome para se esquecer da sua existência. Mas viveu. Pelo contrário, o pai ia-se abaixo com o passar do tempo. E vocês e eu e todos sabemos que o tempo é mais pesado do que a mais pesada carga que um homem pode suportar. Assim, embora ele mantivesse os seus rancores, foi-lhe minguando o ódio, até transformar as suas duas vidas numa solidão viva."
Sobre Pedro Páramo, encontramos milhares de artigos e vídeos pela Internet a fora, mas sobre A Planície em Chamas, pouca coisa de facto existe. Em português não encontrei nada e o vídeo mais interessante que achei foi sobre a totalidade da curta obra de Juan Rulfo do canal Trotalibros, que, apesar de ser em castelhano, é muito fácil de entender e nos entrega informação útil e dicas de leitura interessantes. Como sempre, Rulfo não desilude e só fico triste por me faltar ler apenas mais uma das suas obras. Que pena que tenha parado de escrever tão cedo.
Já leste alguma coisa do autor? Gostas de ler contos? Se leste a obra, qual a tua favorita? Conta-me tudo nos comentários!
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