Sinopse
A história de Tristão e Isolda - os estranhos imortais do amor que constroem a sua tragédia sob as fatalidades de um sentimento imposto por artes da magia céltica, a paixão contra a qual os costumes e as leis são impotentes - mostrava-se como alternativa às sublimes lentidões de Wagner, e velos, e empolgante, e obediente a todo o saber que faz a eficiência dos contos repetidos pela tradição oral. A lenda de Tristão e Isolda chegava ao êxito editorial e era confirmada no amor-símbolo, na sua intensidade inultrapassável, a que El-Rei Dom Dinis ousou ainda assim em versos desafiar: «o mui namorado Tristan sey ben que non amou Iseu quant'eu vos amo.»
Joseph Bédier tinha sabido seduzir o grande público com uma história de ingenuidade selvagem, com uma prosa que evocava ao leitor francês a tradição de contar que ele conhecia em Perrault. E em 1938, quando uma inesperada e fulminante congestão cerebral o atingiu no seu retiro de Grand-Serre, no Drôme, soube-se pelos jornais que tinha morrido... aquele autor... que escrevia coisas importantes sobre a Idade Média, sem dúvida, mas era o renovador do romance de Tristão e Isolda que já festejava a sua centésima edição.
Opinião
Apesar de falarmos de nomes conhecidos de todos nós, nunca tinha lido nada sobre Tristão e Isolda e só conhecia pontas soltas desta tragédia antiga. A verdade é que quando se pensa que não se sabe nada, percebe-se que sabe-se algumas coisas; mas quando se lê o livro, ficamos com a consciência exacta do tanto que desconhecíamos. É um daqueles casos peculiares da literatura universal e dos mitos fundadores da nossa civilização.
Este livro de Joseph Bédier é uma adaptação francesa que procurou reunir em prosa o que nos chegou do verso que cantava os amores de Tristão e Isolda, reunindo os detalhes desta lenda num único livro. É uma proposta fascinante e que nos permite reconstruir de forma mais clara e reveladora o que aconteceu na vida destes dois personagens icónicos da Literatura. Começo por dizer que a linguagem é fácil de entender, o livro é relativamente curto, com menos de duzentas páginas, e o enredo é muito interessante, lembrando os mitos gregos e romanos, contado em capítulos relativamente curtos.
Podes ler também a minha opinião sobre Romeu e Julieta
Começamos por acompanhar a juventude de Tristão, a história dos seus pais e o motivo porque ficou órfão ainda recém-nascido, bem como o modo como foi criado e se desenvolveu corajoso e belo. Foi brilhantemente acompanhado e tudo foi feito para que se desenvolvesse forte e decidido, com os princípios e a moral que se espera de um homem nobre de sangue e de coração. É assim que começam as suas aventuras, das quais nunca foge, sem medo da morte, confiante de que vai conseguir ultrapassar os obstáculos que derrubaram outros que tentaram antes dele.
"Os amantes não podiam viver nem morrer um sem o outro. Se estavam separados, não era nem a vida nem a morte, mas sim a vida e a morte ao mesmo tempo."
É assim que se destaca, devido a alguns feitos notáveis, e que o colocam ao serviço de um rei que é também seu tio e que nutre por ele um carinho e confiança total. Por este rei consegue algumas vitórias importantes e recebe a missão de lhe encontrar uma esposa e a trazer para o seu reino para que seja feito o casamento. É desse modo que o seu destino se cruza com Isolda, a princesa que será a esposa do seu tio, e com quem vive uma história de amor trágica e repleta de reviravoltas.
Podes ler ainda a minha opinião sobre A Idade da Inocência
Para conquistar a noiva do seu tio também tem de ultrapassar obstáculos e viver aventuras perigosas, mas os problemas deste casal começam na viagem de regresso ao novo reino da futura rainha. A sua mãe era dotada de talento para preparar poções e remédios e, para assegurar a felicidade da filha com o seu futuro marido, entregou à sua aia uma bebida que deveria ser servida aos noivos na noite de núpcias que os faria apaixonarem-se irremediavelmente. A trama adensa-se quando, na ausência desta aia, Isolda e Tristão bebem esta bebida sem terem conhecimento do que se tratava na realidade.
"A ira de uma mulher é uma coisa temível, e há que se guardar dela! Quanto mais uma mulher tenha amado, mais cruelmente se vingará. O amor das mulheres chega depressa e depressa chega o seu ódio; e uma vez tenha vindo a sua inimizade, dura mais do que a amizade. Elas sabem temperar o amor, mas não o ódio."
Como podes imaginar este foi o factor determinante e que alterou a vida dos protagonistas de forma inexorável. A paixão que os atingiu foi fulminante e nada voltou a ser como era ou como era suposto ter sido. Procuram esconder de todos os seus sentimento, que não controlam nem conseguem alterar, mas a inveja e a maldade dos membros da corte tornam inevitável que sejam descobertos e expostos como traidores. Será que vão conseguir manter a farsa? Conseguirão preservar as suas vidas sem abrir mão do seu amor um pelo outro?
Esta é uma história fascinante e bem representativa da Idade Média e do modo de viver, pensar e estar nessa época distante. Aconselho vivamente a que conheças por ti tudo o que encerra este mito de Tristão e Isolda e te delicies com este romance arrebatado e repleto de aventuras épicas. No entanto, se ainda precisas de mais incentivos para ler este livro podes e deves ver o vídeo da Tatiana Feltrin. Já leste a história de Tristão e Isolda? Conheces a versão de Joseph Bédier? O que achas deste enredo complexo?
Sem comentários:
Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!