Sinopse
Inglaterra está à beira da guerra decisiva com Napoleão, os impérios europeus degladiam-se, centenas de milhares de homens morrem nos campos de batalha e a classe alta de Londres continua feliz, a beber os seus cálices de Porto e Madeira e a não abdicar dos seus maiores excessos e luxos.
Na escola de Miss Pinkerton, as meninas Rebecca Sharp e Amelia Sedley tornam-se as melhores amigas. Becky é órfã e não tem rendimentos; Amelia pertence a uma família da burguesia endinheirada. Becky é ambiciosa, sedutora e falsa; Amelia é a personificação da inocência pura.
Juntas, vão passar os maiores momentos de paixão, sofrimento e vingança num cenário de exuberância e fausto que tem como pano de fundo os horrores das Guerras Napoleónicas.
Opinião
A Feira das Vaidades, escrito por William Thackeray, é uma obra icónica que nos transporta para a sociedade britânica do século XIX. Publicado em 1848, o livro destaca-se como uma sátira social e moral que expõe de forma brilhante a busca desenfreada pelo status e pela riqueza na época. Thackeray, renomado escritor, jornalista e caricaturista da era vitoriana, é conhecido pelas suas críticas contundentes à classe alta inglesa. Assim, em A Feira das Vaidades, ele apresenta-nos uma galeria de personagens fascinantes, meticulosamente delineados, revelando as suas ambições, hipocrisias e fracassos. Através duma narrativa irónica e perspicaz, Thackeray leva-nos a reflectir sobre os perigos da vaidade e da busca incessante por prestígio social, numa obra atemporal que continua a cativar leitores ao redor do mundo, mesmo em pleno século XXI.
Não é à toa que este livro é considerado um dos maiores clássicos da Literatura Inglesa do século XIX. Passado no período vitoriano, o livro retrata a sociedade britânica num momento de grande transformação tanto político quanto social. Durante o século XIX, a Inglaterra foi palco da Revolução Industrial, que trouxe consigo avanços tecnológicos e económicos, mas também desigualdades sociais e uma forte busca por status e poder. Tendo em conta este contexto, a sociedade vitoriana caracterizou-se pelo culto excessivo às aparências, à riqueza material e ao desejo desenfreado pelo sucesso social. A obra de Thackeray apresenta, com um estilo repleto de sátira e ironia, a vida glamorosa e superficial da nobreza, a procura por casamentos vantajosos, as intrigas e manipulações sociais, além de expor a fragilidade e a hipocrisia dos personagens inseridos neste universo. É assim que se desenvolve a narrativa, com uma visão crítica e irónica, revelando os contrastes e contradições da sociedade vitoriana, onde a moralidade e a integridade são frequentemente colocadas de lado em detrimento do prestígio e da ambição pessoal.
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Em A Feira das Vaidades, William Thackeray constrói personagens complexas e cativantes, com destaque para as duas protagonistas opostas: Becky Sharp e Amelia Sedley. Rebecca, uma mulher ambiciosa, esperta e manipuladora, é retratada como uma mulher determinada a alcançar a ascensão social a qualquer custo, seja seduzindo homens influentes ou manipulando situações para obter vantagem pessoal. A sua personalidade intrigante e perspicácia inabalável a transformam numa personagem fascinante de acompanhar ao longo da trama. Por outro lado, Amelia Sedley, amiga de infância de Becky, é apresentada como uma jovem ingénua e sonhadora, que vive no seu mundo encantado e acredita no amor romântico. A sua personalidade doce e meiga torna-a vulnerável a manipulações e decepções ao longo da narrativa. A análise e comparação destas duas personagens evidencia as diferentes facetas da sociedade retratada por Thackeray, destacando a ambição, a busca por status social e a fragilidade da ingenuidade dentro de um contexto marcado pela vaidade e superficialidade.
"Pergunto a mim mesmo se não será por os homens serem intimamente cobardes que tanto admiram a bravura e colocam o valor militar tão à frente de qualquer outra qualidade, quanto a recompensa e admiração."
Um dos pontos fortes desta obra é a análise profunda de temas como a vaidade, a moralidade e a ambição social. Através da protagonista Becky Sharp, retrata a busca incessante pelo prestígio, pela riqueza e pelo poder, que dão origem à vaidade e à ambição desmedida. O autor descreve meticulosamente as atitudes que são movidas pela ilusão de grandiosidade, expondo a hipocrisia e a falta de escrúpulos presentes na sociedade da época. Além disso, aqui também encontramos a questão da moralidade, onde o autor revela como os personagens, em busca da sua ascensão social, muitas vezes se desviam dos princípios éticos e morais. Apesar das mulheres serem as verdadeiras protagonistas, não podemos esquecer os homens que as acompanham. É o caso de Rawdon Crayley, um homem de força física e impulsividade, com uma natureza apaixonada e imprevisível, mas com capacidades intelectuais limitadas; e de George Osborne, um homem mais refinado, inteligente e sagaz, mas sensível e presa fácil das tentações que encontra na sociedade onde se move.
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Em contraste com os homens vaidosos, superficiais e de moral duvidosa que povoam as páginas de A Feira das Vaidades, encontra-se a figura notável e invulgar de William Dobbin. Diferente dos seus companheiros egoístas e egocêntricos, Dobbin é um homem de carácter sólido e uma lealdade inabalável, mesmo quando se apaixona pela noiva do seu melhor amigo. Sem se importar com as convenções sociais e as frivolidades da alta sociedade, ele destaca-se pela sua sinceridade, retidão e alma generosa. Enquanto os demais personagens batalham pela fama, status e riqueza, Dobbin mostra-se alheio a tais ambições, concentrando-se nas coisas verdadeiramente importantes da vida como a amizade, amor e compaixão. Esta personagem é uma autêntica lufada de ar fresco no meio de tanta hipocrisia, interesse, inveja e cobiça, tornando-se um contraponto marcante para o mundo fútil e vazio que Thackeray retrata tão habilmente.
"Ter sempre razão, avançar sempre por cima de tudo e todos, nunca ter dúvidas - não são estas as grandes qualidades com que a estupidez domina o mundo?"
No romance A Feira das Vaidades, é notável a exploração do estilo de escrita do autor e o uso duma linguagem satírica, que revela a sua capacidade de criticar a sociedade vitoriana da sua época de forma subtil e mordaz. Thackeray utiliza um narrador em terceira pessoa que mistura momentos de humor irónico com uma observação aguçada dos personagens e dos seus comportamentos egoístas e hipócritas. O seu estilo de escrita é cuidadosamente construído, com frases longas e uma profunda análise psicológica, de forma a retratar o mundo da alta sociedade como uma verdadeira feira de vaidades, onde as pessoas estão constantemente à procura de ascensão social e status, a qualquer preço. Através desta sua linguagem satírica, além de nos oferecer momentos muitos engraçados, o autor coloca a nu as falsidades e os excessos desta sociedade, revelando as consequências nefastas da busca desmedida pelo poder e pelo dinheiro.
Ao concluir esta leitura, consigo enfim perceber o quanto A Feira das Vaidades se destaca como uma verdadeira obra-prima da Literatura britânica do século XIX. O autor, William Thackeray, apresenta de forma magistral as nuances da sociedade da sua época, com as suas vaidades, hipocrisias e ambições. A relevância histórica do livro reside no retrato preciso da sociedade da época, revelando os bastidores das aparências e da hierarquia social rigidamente estabelecida. Além disso, a actualidade dos temas abordados é surpreendente, pois ainda hoje lidamos com situações semelhantes de pessoas que procuram sucesso a qualquer preço, mostrando que a natureza humana pouco mudou ao longo dos séculos. O que significa que A Feira das Vaidades continua a ser uma leitura actual e imprescindível para quem deseja compreender as facetas ocultas da natureza humana e da sociedade e reflectir sobre as escolhas que fazemos tendo em vista os nossos próprios interesses.
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Para os leitores em português, o livro encontra-se esgotado, o que espero que seja ultrapassado em breve. Se lês em inglês, podes encomendar o seu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais, e assim contribuir para as próximas leituras deste blog
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