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terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Centenário de José Saramago

 

Centenário de José Saramago

Em Novembro, celebrou-se o centenário do nascimento do nosso escritor maior, José Saramago. Se o seu talento e a sua obra não fosse suficiente, é ainda o único Nobel da Literatura de Língua Portuguesa, ou seja, só encontro razões para conhecer melhor o autor e tenho como objectivo de vida ler tudo o que escreveu. A sua obra é extensa mas como retiro prazer destas leituras tenho procurado ler um livro por ano, para que este prazer dure mais tempo e possa descobrir novas histórias de Saramago ainda durante alguns anos. 


Sempre me espanto quando descubro um leitor que ainda não se rendeu ao talento extraordinário de José Saramago, mas a verdade é que existem, muitos fruto da obrigação de ler Memorial do Convento na escola, numa fase em que podemos ser demasiado novos para entender o fascínio do enredo. No entanto, acho que todos deveriam dar uma nova oportunidade ao escritor e encontrar o livro certo para começar esta aventura, que acabamos por desejar que nunca termine. 


A minha homenagem ao nosso Nobel chega agora e com ela pretendo percorrer a minha experiência de leitura, a lista de espera e a lista de desejos. O que significa que irei eleger o meu Top 3 de leituras que já concluí, o Top 3 dos livros que já moram na minha estante mas estão em lista de espera e ainda o meu Top 3 dos livros que quero comprar porque ainda não moram em minha casa. Espero que com esta lista de livros de Saramago te inspires e tires algum da estante e comeces a leitura que, aposto, será uma experiência extraordinária. Vamos começar? 


Top 3 Livros Lidos de José Saramago


1. As Intermitências da Morte


Centenário de José Saramago - As Intermitências da Morte

Depois de séculos sendo odiada pela humanidade, a morte resolve pendurar o chapéu e abandonar o ofício. O acontecimento incomum, que a princípio parece uma benção, logo expõe as intrincadas relações entre Igreja, Estado e a vida quotidiana. 

"Não há nada no mundo mais nu que um esqueleto", escreve José Saramago diante da representação tradicional da morte. Só mesmo um grande romancista para desnudar ainda mais a terrível figura. 

Apesar da fatalidade, a morte também tem os seus caprichos. E foi nela que o primeiro escritor de língua portuguesa a receber o Prémio Nobel da Literatura buscou o material para o seu novo romance, As Intermitências da Morte. Cansada de ser detestada pela humanidade, a ossuda resolve suspender as suas actividades. De repente, num certo país fabuloso, as pessoas simplesmente param de morrer. E o que no início provoca um verdadeiro clamor patriótico, logo se revela um grave problema. 

Idosos e doentes agonizam nos seus leitor sem poder "passar desta para melhor". Os empresários das funerárias vêem-se "brutalmente desprovidos da sua matéria-prima". Hospitais e lares de terceira idade enfrentam uma superlotação crónica, que não pára de aumentar. O negócio das companhias de seguros entra em crise. O primeiro-ministro não sabe o que fazer, enquanto o cardeal se desconsola, porque "sem morte não há ressurreição, e sem ressurreição não há igreja". 

Um por um, ficam expostos os vínculos que ligam o Estado, as religiões e o quotidiano à mortalidade comum de todos os cidadãos. Mas, na sua intermitência, a morte pode a qualquer momento retomar os afazeres de sempre. Então, o que vai ser da nação já habituada ao caos da vida eterna? 

Ao fim ao cabo, a própria morte é o personagem principal desta "ainda que certa, inverídica história sobre as intermitências da morte". É o que basta para Saramago, misturando o bom humor e a amargura, tratar da vida e da condição humana. 


Wook | Bertrand 


2. O Evangelho Segundo Jesus Cristo


Centenário de José Saramago - O Evangelho Segundo Jesus Cristo

«O Evangelho segundo Jesus Cristo, dizia, é o romance que gerou mais polémica e é a causa de ter mudado a minha residência de Lisboa para Lanzarote, em Espanha. É um livro que não projectei, porque jamais me havia passado pela cabeça escrever uma vida de Jesus, havendo tantas e sendo tão diferentes as interpretações que dessa vida se fizeram, destrutivas por vezes, ou, pelo contrário, obedecendo às imposições restritivas do dogma e da tradição. Enfim, sobre o filho de José e Maria, disse-se de tudo, logo não seria necessário um livro mais, e ainda menos o que viria a escrever um ateu como eu. Simplesmente, o homem põe e a circunstância dispõe e aqui está o que me impeliu a uma tarefa cuja complexidade ainda hoje me assusta». 

José Saramago in A Estátua e a Pedra


Wook | Bertrand


3. O Homem Duplicado


Centenário de José Saramago - O Homem Duplicado

Tertuliano Máximo Afonso, professor de História no ensino secundário, «vive só e aborrece-se», «esteve casado e não se lembra do que o levou ao matrimónio, divorciou-se e agora não quer nem lembrar-se dos motivos por que se separou», à cadeira de História «vê-a ele desde há muito tempo como um fadiga sem sentido e um começo sem fim». 

Uma noite, em casa, ao rever um filme na televisão, «levantou-se da cadeira, ajoelhou-se diante do televisor, a cara tão perto do ecrã quanto lhe permitia a visão, Sou eu, disse, e outra vez sentiu que se lhe eriçavam os pelos do corpo». 

Depois desta inesperada descoberta, de um homem exactamente igual a si, Tertuliano Máximo Afonso, o que vive só e se aborrece, parte à descoberta desse outro homem. 


Wook | Bertrand 


Top 3 Lista de Espera de José Saramago


1. Ensaio Sobre a Cegueira


Centenário de José Saramago - Ensaio Sobre a Cegueira

Um homem fica cego, inexplicavelmente, quando se encontra no seu carro no meio do trânsito. A cegueira alastra como «um rastilho de pólvora». Um cegueira coletiva. 

Romance contundente. Saramago a ver mais longe. Personagens sem nome. Um mundo com as contradições da espécie humana. Não se situa em nenhum tempo específico. É um tempo que pode ser ontem, hoje ou amanhã. As ideias a virem ao de cima, sempre na escrita de Saramago. A alegoria. O poder da palavra a abrir os olhos, face ao risco de uma situação terminal generalizada. A arte da escrita ao serviço da preocupação cívica. 


Wook | Bertrand 


2. Caim


Centenário de José Saramago - Caim

«A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele.»

José Saramago 


Wook | Bertrand 


3. Memorial do Convento


Centenário de José Saramago - Memorial do Convento

«Um romance histórico inovador. Personagem principal, o Convento de Mafra. O escritor aparta-se da descrição engessada, privilegiando a caracterização de uma época. Segue o estilo: "Era uma vez um rei que fez promessas de levantar um convento em Mafra... Era uma vez a gente que construiu esse convento... Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes... Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido". Tudo, "era uma vez...". Logo a começar por "D. João, quinto do nome na tabela real, irá esta noite ao quarto de sua mulher, D. Maria Ana Josefa, que chegou há mais de dois anos da Áustria para dar infantes à coroa portuguesa e até hoje ainda não emprenhou (...)". Depois, a sobressair, essa espantosa personagem, Blimunda, ao encontro de Baltasar. Milhares de léguas andou Blimunda, e o romance correu mundo, na escrita e na ópera (numa adaptação do compositor italiano Azio Corghi). Para a nossa memória ficam essas duas personagens inesquecíveis, um Sete Sóis e o outro Sete Luas, a passearem o seu amor pelo Portugal violento e inquisitorial dos tristes tempos do rei D. João V.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)


Wook | Bertrand


Top 3 Lista de Desejos de José Saramago


1. Levantado do Chão


Centenário de José Saramago - Levantado do Chão

A transformação social. A contestação. Personagens em diálogos. As cruentas desigualdades sociais. Surgem as perguntas proibidas. Vai-se adquirindo consciência e espaço, para que tudo se levante do chão. Um livro composto por 34 capítulos. No 17.º está a tortura e a morte de Germano Santos Vidigal. Germano, o nome que significa irmão, o homem da lança. Apesar de vencido, o sacrifício da sua vida indica o caminho. «Já o encontraram. Levam-no dois guardas, para onde quer que nos voltemos não se vê outra coisa, levam-no da praça, à saída da porta do setor seis juntam-se mais dois, e agora parece mesmo de propósito, é tudo a subir, como se estivéssemos a ver uma fita sobre a vida de Cristo, lá em cima é o calvário, estes são os centuriões de bota rija e guerreiro suor, levam as lanças engatilhadas, está um calor de sufocar, alto.»

As mulheres são também chamadas à primeira linha das decisões neste belo romance de Saramago. O diálogo monossilábico entre marido e mulher da família Mau-Tempo vai-se alterando. Interessante observar uma narrativa que vai da submissão ao sentido de libertação, através de gerações.

Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998


Wook | Bertrand


2. História do Cerco de Lisboa


Centenário de José Saramago - História do Cerco de Lisboa

«Há muito que Raimundo Silva não entrava no castelo. Decidiu-se a ir lá. O autor conta a história de um narrador que conta uma história, entre o real e o imaginário, o passado e o presente, o sim e o não. Num velho prédio do bairro do Castelo, a luta entre o campeão angélico e o campeão demoníaco. Raimundo Silva quer ver a cidade. Os telhados. O Arco Triunfal da Rua Augusta, as ruínas do Carmo. Sobe à muralha do lado e São Vicente. Olha o Campo de Santa Clara. Ali assentou arraiais D. Afonso Henriques e os seus soldados. Raimundo Silva "sabe por que se recusaram os cruzados a auxiliar os portugueses a cercar e a tomar a cidade, e vai voltar para casa para escrever a História do Cerco de Lisboa. Uma obra em que um revisor lisboeta introduz a palavra "não" num texto do século XII sobre a conquista de Lisboa aos mouros pelos cruzados.» (Diário de Notícias, 9 de Outubro de 1998)


Wook | Bertrand


3. Ensaio Sobre a Lucidez


Centenário de José Saramago - Ensaio Sobre a Lucidez

Num país indeterminado decorre, com toda a normalidade, um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que na capital cerca de 70% dos eleitores votaram em branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número de votos brancos ultrapassa os 80%. 

Receoso e desconfiado, o governo, em vez de se interrogar sobre os motivos que terão os eleitores para votar em branco, decide desencadear uma vasta operação policial para descobrir qual o foco infeccioso que está a minar a sua base política e eliminá-lo. E é assim que se desencadeia um processo de rutura violenta entre o poder político e o povo, cujos interesses aquele deve supostamente servir e não afrontar.


Wook | Bertrand


Para terminar, quero só referir que, enquanto ainda estou a ler a obra de Saramago, quero também ler a sua biografia que foi lançada este ano. Refiro-me ao livro As 7 Vidas de José Saramago, que me parece de leitura obrigatória para todos os apaixonados por este autor incrível. Desejo sinceramente que esta lista invulgar sirva para te ajudar a dar uma oportunidade ao nosso Nobel e descubras o mundo extraordinário que ele nos deixou generosamente. 


Costumas ler Saramago? Qual o teu livro favorito? Qual recomendarias a quem queira descobrir o autor? Conta-me tudo nos comentários e vamos discutir os seus livros! 

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