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terça-feira, 13 de maio de 2025

#Livros - Vera Lagoa, de Maria João da Câmara

 

Imagem da capa do livro "Vera Lagoa - Um diabo de saias", publicado pela Oficina do Livro. A foto mostra a jornalista Vera Lagoa usando uma camisola preta e um colar de pérolas. Ela está segurando o queixo com a mão, exibindo uma expressão pensativa e confiante.

Sinopse

Poucas mulheres marcaram tanto o século XX português como Vera Lagoa. De carácter destemido e opiniões fortes, a sua voz livre foi uma lufada de ar fresco no jornalismo português. Na coluna Bisbilhotices, no Diário Popular, comentou a sociedade do final do Estado Novo de forma atrevida, mordaz, indiscreta ao ponto de provocar o escândalo. No pós-25 de Abril, foi das raras vozes independentes, dissonantes, sem compromissos nem cálculo, que se atreveu a criticar os novos poderes instituídos. 

Pela mão da historiadora Maria João da Câmara chega-nos finalmente a sua biografia. De uma menina marcada pela figura trágica do pai até à jovem precoce no trabalho, no casamento e na maternidade; de uma habitué dos ambientes intelectuais e artísticos sofisticados da Lisboa do pós-guerra - onde encontra Amália Rodrigues, Sttau Monteiro, Cesariny, Natália Correia, Ary dos Santos e José Manuel Tengarrinha, o amor da sua vida - à sua entrada nos meios oposicionistas e apoio à candidatura de Humberto Delgado, em 1956. 

Da invenção por desespero do pseudónimo Vera Lagoa para o Diário Popular de Pinto Balsemão, à sua grande esperança, e posterior desilusão, com o regime democrático, registadas de forma corajosa e contundente no seu jornal O Diabo, Vera Lagoa - Um diabo de saias é o registo do percurso tão notável quanto acidentado de uma mulher à frente do seu tempo. 

Fruto de uma pesquisa admirável com recurso a diversas fontes históricas, nomeadamente ao arquivo pessoal de Vera Lagoa e a entrevistas com familiares, amigos e colaboradores que a conheceram de perto, através da história desta mulher, Maria João da Câmara dá a conhecer uma sociedade, se não desconhecida, pelo menos esquecida, que vale a pena conhecer: a sociedade portuguesa na segunda metade do século passado. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Vera Lagoa - Um diabo de saias, de Maria João da Câmara, é uma obra que mergulha na trajetória de Maria Armanda Falcão, uma das primeiras mulheres a assumir uma posição de destaque no jornalismo português, desafiando preconceitos e conquistando o seu espaço numa época marcada pelo forte machismo, antes e depois da Revolução dos Cravos. A autora, Maria João da Câmara, reconhecida escritora e historiadora, dedica-se a retratar com sensibilidade e rigor a vida e o legado desta figura emblemática, enquanto oferece ao leitor uma narrativa envolvente e informativa que celebra a luta por igualdade e por liberdade em Portugal. Ao mesmo tempo que combina elementos biográficos e analíticos, o livro destaca a importância do protagonismo feminino em contextos de repressão e resistência. 


O livro apresenta a trajetória duma mulher marcada pela sua personalidade forte e com uma vida repleta de experiências marcantes. A narrativa fala do seus sentimentos e das suas decisões, explorando temas como a coragem, a liberdade e a resistência, enquanto nos conta sobre a construção da sua personalidade e da sua identidade no meio dos desafios do quotidiano, numa era profundamente marcada pela Ditadura. A sua vida atribulada e fascinante, leva-nos a refletir sobre as múltiplas facetas duma personagem que desafiou convenções e sempre procurou afirmar o seu espaço no mundo, sem aceitar qualquer restrição intelectual ou de género. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Dever de Deslumbrar


Esta biografia é marcada pela linguagem acessível, que dialoga directamente com o leitor. O estilo da autora combina elementos de humor, ironia e muita sensibilidade, o que contribui para uma leitura fluida e cativante. A autora consegue captar brilhantemente as nuances do quotidiano e das relações humanas, revelando a mulher por trás do mito, e um país que passou décadas à procura do caminho da liberdade para todos. Já Maria Armanda Falcão é audaciosa e irreverente, que desafia as convenções e os padrões tradicionais de comportamento e que toda a sua vida defendeu os seus princípios, nunca se vendendo, fosse qual fosse o preço a pagar. Mulher forte, destemida e com uma visão crítica sobre as questões da sociedade ao seu redor, capaz de criticar amigos e estender a mão e pedir justiça para antigos inimigos. Vera Lagoa simboliza uma voz de resistência e autonomia num contexto social muitas vezes opressivo e restritivo, quer em Ditadura, quer nos primeiros passos da Democracia, em Portugal. 


"Vera Lagoa era, como veremos, uma mulher inteligente, forte e corajosa. E as mulheres fortes são, muitas vezes, mal-amadas, porque mal-entendidas. Arrojada, cínica, cáustica, verdadeira, inconformada, destemida, vaidosa, polémica, seriam muitos os epítetos que poderíamos apor para caracterizar Maria Armanda Falcão." 


Ao longo da sua história, diversas figuras desempenham papéis essenciais na construção e na revelação da sua personalidade. Entre elas, destaca-se o pai, que representa as suas raízes e que é a fonte onde foi beber, de onde retirou os princípios e valores que defendeu toda a vida, onde primeiro entendeu o valor da liberdade e o quanto era essencial viver numa sociedade onde diferentes formas de pensar pudessem conviver, sem medo de prisões, torturas e mortes. Também os amigos próximos são peças fundamentais para esta mulher cujo único medo era a solidão. Alguns permanecem ao seu lado desde sempre, mas outros vão caindo à medida que se revolta contra o novo regime e se recusa a ser permissiva com os ataques contra a liberdade, contra o direito de criticar o poder instituído, qual ditadura, mas agora de esquerda. Por outro lado, chegaram os amigos de direita, onde descobriu que também existia gente séria e com vontade de tornar Portugal no que sonhou. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Pessoa: Uma Biografia


Não fosse esta uma biografia duma mulher de forte personalidade, logo o protagonismo feminino teria de ser um dos temas centrais de toda a narrativa. A autora destaca a luta de Vera por autonomia, reconhecimento e liberdade de expressão, evidenciando o papel fundamental das mulheres para a resistência e como a sua voz foi a única que se ouviu perante injustiças durante muito tempo. O seu eterno desejo de romper com as imposições sociais, evidencia a coragem de Vera Lagoa em desafiar os padrões tradicionais e exercer a sua liberdade de expressão e de escolha. Ao mesmo tempo, ficamos a conhecer tudo o que esta mulher enfrentou, todas as adversidades, os ataques e as lutas em que participou e que tornaram o seu nome incontornável na segunda metade do século XX. 


"O 25 de Abril foi um dos grandes sonhos de toda a minha vida. Alvorada da esperança, recebida com lágrimas de alegria. Mas tudo se desfez mais depressa que um sonho. Transformou-se num pesadelo." 


A obra destaca-se pela originalidade ao fazer o registo importante da vida e da personalidade de Vera Lagoa, pseudónimo de Maria Armanda Falcão. A profundidade com que a autora investiga os aspectos históricos, sociais e pessoais desta figura confere ao livro uma riqueza de detalhes que enriquece a leitura e oferece uma compreensão multifacetada da sua trajetória e do momento que se vivia no país. Além disso, o estilo de Maria João da Câmara é marcado por uma narrativa envolvente e sensível, que combina uma linguagem acessível com uma escrita elegante, sendo assim capaz de transmitir emoções com maestria, sem esquecer os registos deixados pela própria biografada nas suas crónicas, editoriais e nos livros que publicou ao longo da carreira. 


Confesso que tinha grandes expectativas sobre este livro, tanto que foi determinante para decidir as minhas visitas à Feira do Livro de Lisboa no ano passado. E agora, terminada a leitura, todas as expectativas se cumpriram e até foram ultrapassadas. A leitura foi incrível, com uma abordagem envolvente e provocadora, como a própria biografada, mas sempre duma forma sensível e inteligente, permitindo ver melhor a mulher por trás do mito. Outro aspecto muito agradável são as fotografias que são partilhadas e que permitem visualizar esta figura em diferentes momentos da sua vida, e constatar o quanto sempre se movimentou em diversos meios da sociedade, sendo capaz de se adaptar sempre. Fiquei também muito curiosa e com muita vontade de ler mais do que escreveu e gostaria muito de ver reeditados os seus livros de crónicas que retratam a sua personalidade, mas também a época tumultuada em que viveu. 


Numa época em que tanto se fala das celebrações do 25 de Abril, aqui está uma vida pautada pela luta pela liberdade e que foi capaz de ter um olhar crítico, mesmo quando o entusiasmo era generalizado e todos acreditavam que os sonhos se iriam cumprir. Mas agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste a biografia de Vera Lagoa? Já conhecias esta figura tão importante? Que aspecto mais te interessou na sua história? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

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