Sinopse
Os versos de Florbela Espanca remetem aos grandes temas universais do Amor e da Dor, escritos dentro de um universo feminino e frágil, mas que ao mesmo tempo revelam o sofrimento e amargura que a poetisa tão bem conheceu durante a sua vida.
São, no fundo, confissões que nos chegam das primeiras décadas do século XX, uma poesia que incita à reflexão por meio da mais pura expressão sentimental.
Opinião
Florbela Espanca foi uma poeta portuguesa do século XX conhecida pela sua intensidade lírica e pela sensibilidade nos seus textos. Nascida em Vila Viçosa, em 1894, Florbela enfrentou uma vida marcada por tragédias pessoais e emocionais, que acabaram por se refletir na sua poesia. Com uma escrita marcada por sentimentos profundos, a autora conquistou um lugar de destaque na literatura nacional, sendo considerada uma das maiores poetas da língua portuguesa. Nos seus poemas são explorados temas como o amor, a solidão, a morte e a melancolia. Os sonetos reunidos nesta obra, que compila vários livros da autora, refletem esta intensidade emocional e a sensibilidade peculiar de Florbela, que soube captar e expressar de forma única as inquietações e angústias da sua alma feminina num período marcado por repressões e tabus sociais.
Através duma linguagem poética sofisticada e melódica, Florbela Espanca convida-nos a entrar no seu mundo interior, permeado pela dor e pelo desejo, e a refletir sobre as complexidades do ser humano. Aqui, neste pequeno livro de bolso repleto de sonetos extraordinários, temos reunidos o Livro de Mágoas, de 1919, o Livro de Soror Saudade, de 1923, o Charneca em Flor, de 1930, o He Hum Não Querer Mais Que Bem Querer e, por fim, o Reliquiae, com os versos póstumos da autora. Inserido no meu desejo de ler mais poesia, esta foi mais uma obra que esteve na minha mesa de cabeceira e onde lia, pelo menos, um poema por dia. É um projecto que tem sido muito enriquecedor e que me permite explorar obras de arte que se encontram escondidas neste género literário. Apesar de ter contactado com a poesia desta autora na escola, foi um prazer descobrir mais do que escreveu na sua curta vida.
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Os temas explorados por Florbela tenho memória de os descobrir ainda na escola, mas após esta leitura ficaram muito mais expostos e claros para mim. Nos seus sonetos, a autora apresenta uma visão melancólica e nostálgica do amor, expressando sentimentos de solidão, abandono e desilusão. A morte também se faz presente na sua poesia, sendo abordada de forma crua e dolorosa, refletindo a própria fragilidade da existência humana. A melancolia perpassa por todos os versos, como um manto que envolve a alma da autora, revelando o seu constante estado de tristeza e desespero. Por fim, encontramos também uma busca incessante pela felicidade, onde Florbela parece lançar-se num caminho tortuoso atrás da plenitude e da paz interior, que parecem sempre escapar-lhe por entre os dedos.
"Beija-mas bem!... Que fantasia louca
Guardar assim, fechados, nestas mãos,
Os beijos que sonhei prà minha boca!..."
Nestes sonetos, é perceptível a profunda sensibilidade e intensidade emocional da autora, visível em casa verso. Os poemas revelam uma alma inquieta e romântica, mergulhada em sentimentos como amor, saudade, solidão e desilusão. A linguagem poética de Florbela Espanca transborda emoção e dor, tocando o leitor duma forma visceral. Cada soneto é como um grito de desespero ou um suspiro de paixão, demonstrando toda a fragilidade e grandiosidade dos sentimentos humanos, e obrigando a que nos identifiquemos com as suas palavras. No fundo, a poesia de Florbela é uma verdadeira celebração da intensidade dos afectos, o que faz com que os seus versos permaneçam vivos e impactantes mesmo após tantos anos da sua escrita.
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Ao longo dos sonetos aqui presentes, é possível notar a habilidade da autora para adaptar a forma clássica do soneto aos seus próprios temas e sentimentos. Mesmo seguindo as regras tradicionais do poema de quatorze versos, divididos em dois quartetos e dois tercetos, Florbela consegue imprimir a sua marca pessoal, explorando a melancolia, a paixão e a introspecção de maneira única. A sua sensibilidade e profundidade emocional transparecem em cada verso, mostrando que a forma clássica do soneto pode ser reinventada e renovada, mantendo a sua força e impacto mesmo após séculos de existência. Outro aspecto interessante, é a linguagem usada pela poeta, rica em metáforas e imagens poéticas, que criam uma atmosfera de beleza e tristeza que toca profundamente quem lê. Parecem melodias que cantam a alma humana e que revelam a complexidade das emoções, tendo sido até musicado aquele que se tornou o seu soneto mais famoso "Ser Poeta".
"E se um dia hei-de ser pó, cinza e nada
Que seja a minha noite uma alvorada,
Que me saiba perder... para me encontrar..."
Com a sua temática introspectiva, intensamente emocional e marcada por uma profunda melancolia, os sonetos de Florbela Espanca transcenderam as fronteiras do tempo e do espaço, tornando-se imortalizados como um marco na poesia lírica portuguesa. A intensidade e a sinceridade dos sentimentos expressos nas composições da autora ecoam até aos dias de hoje, influenciando e inspirando gerações de poetas e leitores em todo o mundo. A sua capacidade de transitar entre o amor e a dor, a esperança e a desilusão, conferem uma universalidade e atemporalidade aos seus versos, garantindo-lhe um lugar de destaque no cânone literário. Portanto, Sonetos, de Florbela Espanca, é um verdadeiro tesouro da poesia portuguesa, cujo impacto e importância ressoam ainda hoje na alma de todos aqueles que se deixam envolver pela sua beleza e profundidade.
A verdade é que Florbela Espanca deixou um legado poético de valor inestimável e que merecia muito mais atenção dos agentes culturais do nosso país. Enquanto isso não acontece, só posso convidar-te a ler esta obra encantadora, repleta de beleza e sensibilidade, num estilo que duvido que afaste mesmo os iniciados no mundo da poesia. Vais encontrar emoção e paixão em cada poema se te deixares envolver pela magia das suas palavras. Tenho a certeza que esta experiência de leitura te vai marcar e inspirar a olhar para a poesia com outros olhos. Agora, quero saber o que tens a dizer! Costumas ler poesia? O que já leste de Florbela Espanca? Qual o teu poema favorito? Conta-me tudo nos comentários!
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