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terça-feira, 19 de novembro de 2024

#Livros - Emma, de Jane Austen

 

A capa da edição de "Emma" publicada pela Relógio d'Água apresenta uma delicada gravura de uma mulher sentada em uma poltrona, imersa em um ambiente que exala charme e sofisticação. Vestida com um elegante vestido branco adornado com detalhes em amarelo, a figura evoca a graça e a independência da protagonista da história. O toque sutil das cores e o design clássico refletem o estilo atemporal de Jane Austen, convidando o leitor a mergulhar nas intrigas e sutilezas da sociedade britânica do século XIX. A imagem é um convite visual à jornada de autodescoberta e ao romance que permeia a narrativa.

Sinopse

Em Highburty, Inglaterra, no início do século XIX, conhecemos a história de Emma Woodhouse, uma jovem inteligente cuja convicção nas suas capacidades de casamenteira leva a uma série de desastres amorosos. Embora seja convencida de que nunca se irá casar, Emma acredita que é uma excelente promotora de casamentos entre os seus conhecidos. Ela efetivamente orquestrou o recente casamento da sua antiga governanta, Miss Taylor, e do viúvo Mr. Weston. 

Emma está determinada a gerar outro casamento após um tal sucesso: toma Harriet Smith como sua protegida e decide de imediato encontrar-lhe um marido. Procura transformar Harriet numa dama, melhorar as suas escolhas, particularmente no que toca às suas afeições amorosas. Ela persuade Harriet a deixar Robert Martin, o jovem agricultor que gosta dela, e a perseguir Mr. Elton, o clérigo da cidade. 

Austen constrói um universo social cheio de erros amorosos, descuidos sociais, e vários exemplos de costumes sociais ridículos. Ao fazê-lo, destaca como a sociedade gera expectativas irrealistas - mas também sublinha de que forma as pessoas se apoiam em convenções sociais para conseguirem sobreviver. 


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Opinião 

Emma, publicado em 1815, é um dos romances mais célebres da autora inglesa Jane Austen. A obra passa-se na pequena cidade de Highbury e gira em torno da vida de Emma Woodhouse, uma jovem rica e determinada, conhecida pela sua beleza e inteligência. Na sua busca por se tornar uma "casamenteira", Emma interfere nos relacionamentos dos outros, acreditando que pode guiar os destinos amorosos dos seus amigos, especialmente da ingénua Harriet Smith. No entanto, a sua confiança excessiva na sua própria habilidade para ler corações e avaliar compatibilidades leva-a a uma série de mal-entendidos e situações cómicas. Talvez seja um dos livros mais populares da autora, e que tinha deixado para trás na senda de ler toda a sua obra, precisamente por acreditar que não seria o meu favorito, o que se comprovou com a leitura. 


Jane Austen, nascida em 1775 na Inglaterra, é uma das autoras mais famosas da literatura clássica, conhecida pela sua habilidade para explorar as nuances das relações sociais e a condição feminina numa sociedade rigidamente estruturada. As suas obras oferecem sempre uma crítica mordaz à sociedade da sua época, e apresentam, de forma consistente, personagens femininas complexas e memoráveis que desafiam os papéis tradicionais que se espera delas. Austen é admirada pelo seu estilo elegante, ironia pungente e profunda compreensão da psicologia humana, influenciando gerações de escritores e leitores. No que me toca, tem sido uma viagem deliciosa esta pela obra desta autora e só lamento que esteja prestes a chegar ao fim. 


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A protagonista, Emma Woodhouse, é uma jovem rica, inteligente, determinada, que se destaca pela sua personalidade autoconfiante e pelas suas opiniões fortes sobre o mundo ao seu redor. Ambiciosa na sua busca por fazer o bem, Emma vê-se como uma mão amiga na vida dos outros, especialmente na tentativa de orquestrar relacionamentos amorosos entre os seus conhecidos. Para quem gosta tanto de promover estes casamentos nas suas relações, para si afirma que prefere ficar solteira, uma vez que é uma rica herdeira que não precisa de marido para ocupar um lugar na sociedade e viver confortavelmente. Emma é marcada por um espírito independente, uma habilidade de manipulação social que roça a arrogância e a soberba, mas que culmina na sua capacidade de reconhecer as suas falhas e no quanto o desejo de ajudar pode conduzir os amigos por caminhos infelizes. 


"Os reais males da situação de Emma eram, na verdade, a possibilidade de levar em demasia a sua avante e certa propensão para pensar um pouco bem de mais de si própria; tais inconvenientes ameaçavam estragar algumas das suas alegrias." 


Neste livro, os personagens secundários desempenham papéis cruciais que complementam e contrastam com a nossa irritante protagonista. Mr. Knightley, amigo leal e crítico de Emma, serve como a sua consciência moral, desafiando as suas falhas e incentivando o seu crescimento pessoal, porque acredita que ela pode ser bem melhor do que se mostra ser no início do livro. Harriet Smith, por outro lado, representa a inocência e a vulnerabilidade, com a sua dependência de Emma, influenciada pelas opiniões da amiga rica que a introduz numa sociedade cujo acesso sempre lhe esteve vedado e que, no fundo, nunca teve real interesse para pertencer, a não ser pela sua nova amizade. Já Mr. Elton, com o seu orgulho e ambição, é um exemplo de como o status social podes distorcer a percepção do carácter, revelando a natureza superficial das classes sociais da época. 


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No romance, a dinâmica entre os personagens é crucial para o desenvolvimento da trama e para a exploração dos temas centrais da obra. Assim, a interação entre Emma e Mr. Knightley, o único que a desafia e que melhor a conhece, introduz uma tensão que leva ao seu crescimento pessoal. A relação entre Emma e Harriet, a sua amiga de classe inferior, reflete a superficialidade das distinções sociais da época e o quanto esta poderia ter sido a grande vítima das acções e dos mal-entendidos de Emma. Aqui, Jane Austen mergulha nas complexidades do amor e dos relacionamentos, contrapondo o amor romântico idealizado à amizade genuína e ao amor familiar. Além de retratar o romantismo da época, também expõe falhas e verdades sobre os laços que unem as pessoas, mostrando que o amor verdadeiro é frequentemente encontrado nas relações mais simples e autênticas. 


"A natureza humana é tão benevolente para com aqueles que se encontram em situações interessantes, que, acerca de qualquer jovem que case ou morra, é certo, ouvir sempre as melhores referências." 


Como já referi, este foi o livro que menos me agarrou da autora até ao momento e a culpa é claramente desta protagonista tão irritante, manipuladora e até arrogante, que acredita que pode moldar o destino daqueles que a rodeiam. É verdade que, à medida que a narrativa avança, começa a entender o quanto errou e a enfrentar as consequências das suas acções e das suas percepções distorcidas sobre amor e amizade. Ganha alguma redenção e todos conseguem o seu final feliz, mas Emma não ganhou mesmo o meu coração e permanece uma mulher desocupada e prepotente na minha opinião. No entanto, apesar do meu desagrado com Emma, é inegável que voltamos a encontrar a prosa refinada e incisiva de Jane Austen, que é sempre um deleite. O uso de diálogos espirituosos e observações astutas tornem a leitura ainda mais envolvente e agradável. Sem esquecer o humor refinado e a ironia afiada, temos os ingredientes certos para oferecer uma experiência de leitura espectacular. 


A narrativa acaba por dar destaque ao crescimento pessoal de Emma, promovendo uma crítica social às convenções da época, como é apanágio da autora. Em suma, Emma combina humor, romance e uma profunda exploração do carácter humano ou da falta dele. Sabemos o medo que muita gente tem dos clássicos, mas Jane Austen pode muito bem ser uma porta de entrada acessível e cativante, para desmistificar esse medo irracional. Obra rica em nuances que, ao longo das suas páginas, desafia os leitores a refletirem sobre temas como a classe social, o amor e a autodescoberta, que precisa ser lida e descoberta como parte do trabalho brilhante que Jane Austen nos deixou. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste Emma? O que achaste desta protagonista tão diferente? O final surpreendeu-te? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 14 de novembro de 2024

#Places - Sabores da Margem

 

Espetadas suculentas de carne grelhadas na brasa, apresentadas em um prato rústico, cercadas por ervas frescas e acompanhadas de um molho especial, ressaltando a essência do restaurante 'Sabores da Margem', localizado em Atalaia.

O restaurante Sabores da Margem situa-se na zona da Atalaia, bem perto do Montijo, numa zona de fácil acesso e que oferece um bom parque para estacionamento à frente do espaço. Destaca-se pela sua proposta de oferecer uma experiência gastronómica autêntica e acolhedora, baseada nas cozinhas portuguesa, angolana e brasileira. Além do ambiente cuidadosamente decorado, também se compromete em proporcionar um serviço atencioso, tornando cada visita numa ocasião especial, ideal para famílias, grupos de amigos ou casais que desejam desfrutar duma bela refeição. 


Buy Me A Coffee

Antes da minha visita ao restaurante, a expectativa era bastante alta. Conhecia bem o trabalho duma das donas deste novo espaço e foi por conhecê-la que decidimos ir descobrir o seu novo projecto profissional. A localização, perto do nosso local de trabalho, também foi um factor para ser o eleito para um jantar de colegas de trabalho conviverem e passarem um bom bocado, ao mesmo tempo que saboreavam pratos saborosos e de qualidade elevada. Infelizmente, fomos durante a semana, por isso não pudemos desfrutar da música ao vivo que costuma ser oferecida pelo espaço nos fins de semana. Terá de ficar para uma próxima visita essa experiência. 


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A decoração do espaço é uma mistura entre modernidade e rusticidade, com elementos em madeira clara, que criam um ambiente convidativo e descontraído. A iluminação suave proporciona um ambiente intimista, ideal para jantares românticos ou encontros com amigos. Ao chegar, fomos calorosamente recebidos pela equipa, que logo demonstrou simpatia e profissionalismo desde o primeiro momento. Felizmente, fizemos reserva, porque rapidamente a sala encheu depois de termos chegado e de estarmos acomodados na nossa mesa. Nem todos chegaram ao mesmo tempo, portanto demoramos a fazer o nosso pedido de comida, ficando pela bebida para acompanhar o início da conversa dos que chegaram primeiro. 


Imagem em destaque com duas fotos: à esquerda, um jarro de sangria de maracujá colorido e refrescante, decorado com fatias de frutas frescas que emanam um aroma tropical. À direita, vista da sala do restaurante "Sabores da Margem", mostrando mesas elegantemente dispostas e ao fundo o logotipo do restaurante, que adiciona um toque acolhedor ao ambiente.

O Sabores da Margem oferece um menu diversificado que reflete a riqueza cultural das gastronomias que se propõe explorar. Os pratos principais incluem desde opções de peixes grelhados, até carnes suculentas que prometem agradar todos os paladares. Entre as especialidade da casa encontra-se o o Bacalhau à Brás, a Grelhada Mista, o Choco Frito ou o Bacalhau à Lagareiro. A apresentação dos pratos, que podes ver com os teus próprios olhos no seu Instagram, é incrível e deixa-nos logo com água na boca e com vontade de provar tudo. Pela nossa parte, optámos pela Tábua que trazia vários espetos com diferentes carnes e que permitia partilhar cada uma com três pessoas. Encomendámos duas, com a ideia de, caso alguém ficasse com fome, pedir depois mais alguma coisa para complementar. O primeiro ponto negativo foi o tempo de espera que consideramos muito acima do razoável. O segundo foi que a carne de boi tinha acabado, portanto, não a conseguimos provar nas nossas tábuas. Por fim, mesmo com a demora em chegar à mesa, a carne de frango chegou à mesa mal cozinhado em certos pontos. 


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Ainda assim, a carne de porco, os corações e as salsichas estavam muito saborosas e, por causa da rutura da carne, ainda tivemos a oportunidade de experimentar o queijo coalho grelhado, que me deixou rendida ao seu sabor espectacular e com muita vontade de voltar a comer essa iguaria. Como acompanhamento das tábuas, veio para a mesa batata frita, arroz, feijão e farofa, que foi sendo reabastecido conforme as nossas necessidades ao longo da refeição. Como referi, antes da comida pedimos logo a bebida após a chegada da primeira parte do grupo. Escolhemos a Sangria de Maracujá, que era tão, mas tão boa, que nos acompanhou em toda a refeição. Longe daquelas sangrias sem graça que são servidas na maior parte dos restaurantes acessíveis, esta tinha uma combinação de sabores extraordinária, com o álcool na medida certa, doce sem ser enjoativa, que deixava um sabor peculiar a cada gole. Era viciante e é o que mais recomendo se fores visitar este espaço. Precisas mesmo experimentar e deliciar-te com esta Sangria cinco estrelas. 


Imagem que apresenta um jarro de sangria de maracujá vibrante ao lado de uma tábua recheada com espetos de diversas carnes grelhadas, acompanhados por porções de arroz, feijão e farofa, destacando a variedade e a riqueza dos sabores oferecidos pelo restaurante 'Sabores da Margem', na Atalaia.

Outro pormenor delicioso é o bilhete que acompanha cada jarro que vem para a mesa e que dá muita vontade de fotografar e partilhar nas redes sociais, além de contribuir para muitas risadas e divertimento entre amigos que só se querem divertir. Já o serviço continuou a destacar-se pela simpatia e atenção que sempre nos foi dispensada ao longo de toda a refeição, demonstrando uma constante preocupação com o nosso bem-estar e procurando contribuir positivamente para a qualidade da experiência. Foi este cuidado e o genuíno interesse de toda a equipa que muito contribuiu para tornar esta experiência ainda mais memorável. Quanto aos preços praticados, considero que apresentam uma boa relação entre a qualidade e a quantidade dos pratos oferecidos. Os menus de almoço que são disponibilizados durante a semana são ainda mais convidativos e acessíveis, podendo muito bem ser uma excelente opção para quem precisa de comer fora na região. 


Em suma, aqui vais encontrar pratos com uma boa qualidade, elaborados com ingredientes frescos, um atendimento atencioso e muito acolhedor, onde cada detalhe vai contribuir para que a tua refeição seja memorável. Portanto, se procuras um restaurante novo para viveres uma experiência gastronómica bem especial, tens aqui no Sabores da Margem o lugar certo. Perfeito para famílias, casais, grupos de amigos e até jantares de Natal, o ambiente descontraído e acolhedor convida a longas refeições acompanhadas de boa conversa. Também os apreciadores da culinária portuguesa, angolana e brasileira vão aqui encontrar pratos do agrado dos seus paladares. Pela minha parte, quero muito voltar para experimentar outros pratos e sabores, e poder ver a animação que proporcionam com a música ao vivo e poder esquecer em definitivo o que correu menos bem nesta primeira experiência. Agora, quero saber o que tens a dizer sobre este restaurante! Já conheces este novo espaço? O que achaste dos pratos, da decoração e do atendimento? Qual a tua recomendação para uma próxima visita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 12 de novembro de 2024

#Livros - Rainhas de Portugal, de Francisco da Fonseca Benevides

 

Capa do livro 'Rainhas de Portugal' de Francisco da Fonseca Benevides, publicando pela Cultura Editora. A imagem mostra o tronco de uma mulher vestindo um lindo vestido antigo de cor clara, adornado com colares de pérolas, evocando a elegância e a riqueza da corte portuguesa. O fundo da capa é sóbrio, destacando a figura feminina que representa a temática central do livro sobre a história das rainhas de Portugal.

Sinopse

A verdadeira história das mulheres que governaram Portugal

Descubra quem foram as mulheres que estiveram na base da edificação do nosso país. Conheça os seus amores e as suas desilusões. Os casamentos, as lutas pelo poder, as maquinações e as histórias curiosas de cada época. Conheça os mais de trinta reis e as mais de quarenta rainhas que governaram Portugal desde a fundação da monarquia até à implantação da república. 

Rainhas de Portugal é um livro fundamental para se conhecer melhor a nossa História. 


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Opinião 

Francisco da Fonseca Benevides foi um destacado historiador e escritor português, reconhecido pelas suas contribuições significativas à Literatura, ao conhecimento da História de Portugal, além de outras áreas científicas. A proposta deste Rainhas de Portugal seria apresentar a perspectiva das figuras femininas pouco exploradas na historiografia tradicional, revelando a influência destas monarcas na política, na cultura e na sociedade portuguesa ao longo dos séculos. São figuras frequentemente relegadas para segundo plano nos registros históricos, mas que desempenharam papéis cruciais na manutenção da estabilidade do reino, nas alianças dinásticas e nas mudanças sociais e culturais que moldaram o país. 


A valorização das mulheres na História enriquece muito o nosso entendimento do passado e ainda pode inspirar novas gerações a reconhecerem e celebrarem a contribuição das mulheres em todas as esferas da sociedade. Confesso que desconhecia totalmente este livro, que foi escrito no século XIX, e só o descobri porque encontrei um exemplar perdido nas caixas das oportunidades da Cultura Editora, na Feira do Livro de Lisboa, e não lhe resisti. O autor apresenta um relato sobre as rainhas, desde as figuras mais icónicas até àquelas menos lembradas, terminando na esposa de D. Luís, o rei que se encontrava no trono na altura em que o livro foi publicado, o que significa que fica em falta a última rainha, D. Amélia. Baseado numa pesquisa histórica, não deixa, ainda assim, de ser datado, revelando uma forma de interpretar o papel das mulheres com um viés que rasa o machismo em determinados momentos, e que as coloca, na grande maioria, como figuras acessórias. 


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Ainda assim, conseguimos encontrar feitos políticos e ainda as influências culturais e sociais destas mulheres, revelando as suas lutas, conquistas e o impacto que tiveram na formação da identidade portuguesa. De referir que nem todas as mulheres retratadas no livro ocuparam, de facto, o trono português. Foram colocadas também as esposas de reis que faleceram antes de poderem alcançar o trono ou que só foram casar depois do trono português já não pertencer ao seu marido. No caso das primeiras rainhas, compreendo que existe pouca informação, mas à medida que os séculos vão passando, percebemos que muitas vezes parece que a existência duma rainha serve como desculpa para falar dos feitos e obras do rei com quem casou, sendo a mulher apenas uma sombra misteriosa que, por vezes, serviu mesmo para assegurar a sucessão do trono e pouco mais. 


"Em posição bem crítica ficou a bela viúva do conde D. Henrique, faltando-lhe a rija e valente espada do seu marido, na difícil situação em que se encontrava o governo do país; felizmente para Portugal, não era só a beleza física que adornava a rainha D. Teresa; a filha de Ximena Nunes escondia fina astúcia e hábil diplomacia sob uma formosura invulgar." 


O autor aborda temas como a luta pelo poder num contexto predominantemente masculino, a influência das rainhas nas decisões dinásticas e nas alianças internacionais. Entre as principais figuras apresentadas, destaco a rainha D. Teresa, a primeira a exercer influência política significativa e que primeiro se declarou rainha deste território, uma rainha de direito próprio, como herdeira do seu pai, de quem recebeu o governo do então Condado Portucalense. Em Portugal, nunca existiu a lei sálica, portanto, as mulheres nunca foram impedidas de herdar o trono. No entanto, apenas tivemos duas rainhas reinantes. D. Maria I foi a primeira a governar o país por direito próprio, mas que acabou relegada para segundo plano pelos problemas de saúde. Já D. Maria II, por seu lado, agarrou o governo nas mãos sem medos ou pudores, e não se esquivou a participar na vida pública, num momento em que se estreava o modelo constitucional no nosso país. 


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No livro, Benevides adopta um estilo de escrita baseado no rigor histórico, com muitas referências a fontes primárias e secundárias e documentos que servem de base para a maioria das conclusões que são partilhadas. Sempre que existe controvérsia, são partilhadas as várias teorias dos historiadores, embora indique aquela com a qual se identifica e considera a correcta. Utiliza uma prosa clara e acessível, ainda que própria do século XIX, o que significa que não é utilizada uma linguagem ou pensamento moderno, como o que estamos habituados ou até à espera se, como eu, não souberes de antemão da data de publicação original da obra. São intercalados dados factuais com algumas curiosidades que humanizam estas personagens históricas, ao mesmo tempo que tomamos consciência que existem bastantes escândalos e casos inusitados na História da Monarquia portuguesa. Algo que me interessou foi a forma como contextualiza as épocas em que cada rainha viveu, em termos sociais, políticos e culturais, algo que influencia as suas decisões e torna mais fácil de entender os acontecimentos. 


"Quanto aos casamentos, que tão repetidamente se fizeram entre os príncipes portugueses e castelhanos, não realizaram as venturas, a glória e o poder que, por vezes, se esperava deles, e, frequentemente, em vez de cimentarem a aliança e a paz entre os povos, produziram, ou não puderam impedir, discórdias e guerras, algumas das quais bem desastrosas." 


Com uma estrutura bem organizada, dividida em capítulos, cada um dedicado a uma rainha específica, sempre respeitando a ordem cronológica. Tendo em consideração a época em que foi publicado pela primeira vez, Rainhas de Portugal deu uma contribuição significativa para a compreensão da História de Portugal, procurando destacar o papel que as mulheres desempenharam na formação política e social do país. Quanto ao livro físico e as suas características, tenho de referir que alguns aspectos interferiram com a qualidade e fluidez da leitura. Apesar do papel ser bem diagramado e com um tom bem confortável, o mesmo não se pode dizer do tamanho da letra nem da mancha que provocou cansaço quando tentava ler mais do que um capítulo por dia, agravado quando os capítulos começaram a ficar maiores nas rainhas mais recentes. 


Em suma, encontramos uma análise rica da vida das rainhas, dos factos e da sua influência no seu tempo, embora o foco seja desviado frequentemente para os seus maridos e os seus feitos ou erros de governação. Contudo, o relato é cuidadoso e bem documentado, além de ter o mérito de reunir todas estas mulheres, mesmo as mais obscuras e tantas vezes esquecidas. Apesar de não ter sido uma leitura extraordinária, acho que pode agradar aos que se interessam pela História de Portugal e, especificamente, pelo papel das rainhas na evolução do país. Este livro pode muito bem ser um ponto de partida para ter um conhecimento geral sobre estas mulheres, para depois seguires para as biografias das rainhas que mais te interessaram. Agora, quero saber a tua opinião! Já conhecias este livro? O que achaste da abordagem sobre as rainhas? Qual a que mais te interessa? Alguma cuja trajetória te tenha surpreendido? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 7 de novembro de 2024

#Documentário - Elvis & Priscilla: Conditional Love

 

Imagem romântica em tons de roxo do icônico casamento de Elvis Presley e Priscilla Beaulieu, capturando o amor e a felicidade do casal em um momento especial. Seus olhares entrelaçados refletem a intensidade de sua conexão e o início de uma história de amor marcada por glamour e desafios.

Sinopse

Elvis e Priscilla são um dos casais de celebridades mais famosos de todos os tempos. Mas a história que está por trás da fachada glamorosa é mais tóxica do que parece à primeira vista. 


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Opinião 

O documentário Elvis & Priscilla: Condicional Love pretende oferecer uma nova perspectiva sobre a icónica relação entre Elvis Presley e Priscilla Beaulieu, explorando não só os aspectos glamourosos da vida do Rei do Rock, mas também as complexidades emocionais e os desafios que marcaram a sua união. Através duma rica coleta de imagens de arquivo, entrevistas e relatos pessoais, revela como o amor deles foi moldado por fatores sociais e culturais da época, além de tensões decorrentes da fama e do crescente distanciamento. 


Elvis Presley emergiu na década de 1950 como um ícone revolucionário da música, unindo a influência do blues, country e gospel para criar um som que transformou a cultura pop. O seu carisma no palco e as suas inovações musicais tornaram-no numa estrela mundial e ainda no símbolo duma geração sedenta por novidade e liberdade de expressão. Priscilla Presley, por sua vez, entrou na vida de Elvis quando tinha apenas 14 anos, após conhecer o cantor na base aérea onde ele estava estacionado. A sua relação, marcada por amor, controvérsia e complexidade, tornou-se num dos romances mais emblemáticos do século XX. E é essa polémica relação entre Elvis e Priscilla, desde a adolescência até aos desdobramentos do seu casamento e posterior separação, que é explorada neste documentário. 


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À medida que o documentário avança, ele examina as pressões da fama, o impacto da indústria da música e as expectativas sociais da época, além de aprofundar a transformação de Priscilla, que passou de jovem apaixonada a mulher que procura a sua própria identidade. São destacados temas fundamentais como o amor, a fama e os conflitos. Através de relatos íntimos e imagens de arquivo, a obra revela-nos como amor entre o icónico cantor e a sua jovem esposa foi moldado não só pela paixão, mas também pela pressão da fama, que criou um ambiente de insegurança e ciúmes. O documentário aborda, ainda, os constantes conflitos que surgiram devido ao estilo de vida extravagante de Elvis e as expectativas sociais da época, questionando a natureza do amor que se desenvolveu entre o casal com o passar dos anos. 


Uma fotografia em preto e branco do icônico casal Elvis Presley e Priscilla Presley, capturada em um momento íntimo, onde eles estão abraçando ternamente sua filha recém-nascida. O contraste suave das sombras e luzes destaca a expressão de amor e proteção no rosto de Elvis, enquanto Priscilla demonstra um olhar de carinho e tranquilidade. Este retrato é um testemunho da sua vida familiar e da conexão profunda entre os três, simbolizando o lado mais pessoal da fama e da história do rei do rock.

No documentário, Elvis é retratado como uma figura bem complexa, marcada pela sua genialidade artística e uma personalidade susceptível a influências dos que o rodeiam, que nem sempre têm o seu melhor interesse em consideração. No fundo, era um homem vulnerável, que lutava para equilibrar a intensa pressão da fama com a sua vida pessoal, nunca conseguindo voltar a ter algo parecido com uma vida normal e banal. A sua magnética presença de palco contrasta com momentos de insegurança e solidão, revelando um Elvis que, apesar da sua imensa popularidade, muitas vezes se sentia aprisionado na sua própria imagem, obrigado a enquadrar-se nas expectativas de todo um país. Por outro lado, Priscilla emerge como uma figura inocente, cuja evolução reflete bem os altos e baixos do seu relacionamento com Elvis. Desde o início como jovem adolescente fascinada pela estrela do rock, Priscilla vê-se dividida entre as expectativas impostas pelo mundo da fama e as suas próprias aspirações. Ao longo do documentário, vemos o seu caminho repleto de desafios e a sua luta inglória para resgatar o marido da dependência química que o tornava apenas apto para os palcos, deixando-o prostrado o resto do tempo. 


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Temos aqui uma produção cuidadosa que apresenta diferentes perspectivas, que permite que o público entenda não só a idolatria em torno de Elvis, mas também os desafios e as contradições do relacionamento do casal, com problemas transversais a todos os casais, mas inflacionados pelo peso da fama e da exposição pública. Como já referi, é utilizada uma poderosa combinação de arquivos da época e entrevistas reveladoras para explorar esta complexa relação amorosa. Destaca-se ainda pelo seu estilo visual marcante e uma sonoridade envolvente, que juntos criam uma atmosfera nostálgica e íntima, que ainda evoca a estética dos anos 60, e nos transporta para o tempo em que a Elvismania estava no auge, culminando nos anos decadentes, mas que ainda moviam multidões e resultava em muito dinheiro, dinheiro esse que era desejado por todos os parasitas que vivam à custa do artista e que pouco faziam pela saúde dele. 



Assistir a este documentário é uma experiência fascinante por causa da sua narrativa envolvente que consegue capturar tanto a grandiosidade da vida do astro Elvis Presley, quanto os desafios emocionais que marcaram a sua relação com Priscilla. A profundidade emocional apresentada ao longo da obra é notável, proporcionando ao espectador uma nova perspectiva sobre o amor complicado e muitas vezes turbulento do casal, revelando camadas de vulnerabilidade e resiliência que vão além da imagem pública do Rei do Rock. Assim, o documentário destaca-se também por abordar questões profundas sobre relações de poder, dependência emocional e a construção da identidade. Ao explorar a dinâmica do casal, o filme oferece uma reflexão sobre como a fama e o estrelato podem influenciar as relações pessoais, colocando em evidência as dificuldades enfrentadas pela Priscilla para encontrar a sua própria voz enquanto estava à sombra dum ídolo do tamanho de Elvis. 


Portanto, se és fã de Elvis Presley, de Rock & Roll ou apenas apenas apaixonado por documentários sobre celebridades, Elvis & Priscilla: Condicional Love é uma obra imperdível. Vais poder revisitar a história dum dos casais mais emblemáticos da culturar pop, ficar a conhecer detalhes obscuros da sua relação e enriquecer a tua visão sobre o quanto são complexas as relações expostas à fama. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já viste o documentário? O que achaste desta relação tumultuosa? Qual foi o aspecto que mais te impactou? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 5 de novembro de 2024

#Livros - O Espelho e a Luz, de Hilary Mantel

 

A foto de capa do livro "O Espelho e a Luz", de Hilary Mantel, apresenta um fundo em suaves tons de verde que evocam uma atmosfera de mistério e reflexão. Em destaque, uma elegante gravura de um leão dourado simboliza poder e nobreza, refletindo o tema central da obra sobre as intricadas relações de poder na corte de Henrique VIII. O design harmonioso e sofisticado captura a essência do final da trilogia, convidando o leitor a mergulhar na complexidade da vida de Thomas Cromwell e suas manobras no tumultuado cenário político da Inglaterra renascentista.

Sinopse

«Se não se pode dizer a verdade no momento da decapitação, quando poderá ela ser dita?» 

Inglaterra, maior de 1536. Ana Bolena está morta, decapitada no espaço de um batimento cardíaco por um executor francês contratado. Enquanto os seus restos mortais são recolhidos e votados ao esquecimento, Thomas Cromwell toma o pequeno-almoço com os vitoriosos. O filho do ferreiro de Putney emerge do banho de sangue daquela primavera para prosseguir a sua ascensão ao poder e à riqueza, enquanto o seu magnífico amo, Henrique VIII, se prepara para viver uma breve felicidade com a sua terceira rainha, Jane Seymour. 

Cromwell é um homem que conta apenas com a sua inteligência; não tem uma família importante que o apoie nem o seu próprio exército. Apesar da rebelião em solo nacional, dos traidores que conspiram no estrangeiro e da ameaça de invasão que coloca o regime de Henrique VIII à prova até ao ponto de rutura, a imaginação resoluta de Cromwell vislumbra um país novo no espelho do futuro. Mas poderá uma nação ou uma pessoa desfazer-se do passado como se de uma pele se tratasse? Continuarão os mortos a assombrá-lo? O que fareis - pergunta o embaixador de Espanha a Cromwell - quando, um dia, o rei se virar contra vós, como mais tarde ou mais cedo ele se vira contra todos os que lhe são próximos? 

Com O Espelho e a Luz, Hilary Mantel encerra de modo triunfante a trilogia que iniciou com Wolf Hall e O Livro Negro. Traça os derradeiros anos de Thomas Cromwell, o rapaz vindo do nada que ascende aos píncaros do poder, delineando um retrato preciso de predador e presa, de uma disputa feroz entre presente e passado, entre a vontade régia e a visão de um homem comum de uma nação moderna que se constrói a partir do conflito, da paixão e da coragem. 


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Opinião 

Hilary Mantel, amplamente reconhecida pelas suas contribuições à literatura histórica, tem sido uma muito agradável descoberta ao longo desta trilogia sobre Thomas Cromwell. O Espelho e a Luz traz o encerramento da trilogia, com mais um relato extraordinário sobre uma época única na História. Desde o primeiro volume, Mantel constrói uma narrativa rica em nuances, explorando as intrigas da corte de Henrique VIII, ao mesmo tempo que relata a ascensão e queda dum homem que, a partir de origens humildes, se transforma numa peça-chave no tabuleiro do poder. Com a sua prosa magistral, a autora oferece um retrato definitivo sobre um período tumultuado da História inglesa, revelando como os ecos das decisões de Cromwell ressoam até aos dias de hoje. 


Estamos a falar dum período marcado por profundas transformações religiosas, que culminaram na ruptura com a Igreja Católica e na criação da Igreja Anglicana, um movimento impulsionado pelo desejo do rei por um herdeiro masculino e pela sua paixão por Ana Bolena. Wolf Hall explora a infância e a juventude de Cromwell, as suas habilidades políticas e a sua lealdade ao cardeal Thomas Wolsey, culminando com a sua ascensão como conselheiro do rei. Já O Livro Negro concentra-se na trama para depor Ana Bolena, capturando os dilemas morais e políticos enfrentados por Cromwell enquanto navega pelas intrigas da corte, que o recebe sempre com desconfiança, mantendo a sua ambição e procurando a sua sobrevivência. Juntos, esses dois primeiros volumes oferecem um rico contexto sobre a complexidade do personagem, preparando o terreno para o desfecho explosivo de O Espelho e a Luz.


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O livro passa-se nos últimos anos da vida de Cromwell, tornando-se cada vez mais evidente o feito extraordinário para a época que foi a sua ascensão na corte Tudor. Após a execução de Ana Bolena, Cromwell enfrenta a desconfiança de novos aliados e inimigos, sem esquecer os velhos que afastou da ribalta e que não esquecem o seu desejo de ver cair o conselheiro de origens humildes e que parece indispensável ao rei. A busca pela legitimidade e estabilidade do reino traz desafios cada vez maiores, que leva Cromwell, após a morte da rainha Jane, a procurar uma nova aliança através do casamento dentro dos principados alemães, a única forma de obter apoio em caso de conflito contra a França e a Espanha, católicos que não aceitam a nova Igreja da Inglaterra. 


"São os seus conselheiros, a equipa mais cruel que alguma vez existiu, que carregam com os pecados dele, que aceitam ser pessoas piores, para que Henry possa ser melhor."


Neste desfecho, Hilary Mantel apresenta um Thomas Cromwell profundamente imerso num labirinto de conflitos políticos e pessoais, dele e do rei, que refletem a turbulência da corte inglesa do século XVI. A luta de Cromwell para equilibrar os seus interesses pessoais e os objectivos dinásticos de Henrique VIII revela a complexidade da sua personagem. Além disso, o peso das suas escolhas morais e as suas consequências - tanto para os seus aliados quanto para os seus inimigos - permeia a narrativa, gerando um retrato multifacetado da vida política do homem, que protegeu inimigos ou mostrou piedade para com as mulheres envolvidas nas conspirações contra o rei, tentando controlar a fúria do rei em certa medida. Através desta jornada, ele torna-se um espelho das suas próprias ilusões e verdades sombrias da era Tudor, a sua transformação culmina num reconhecimento doloroso de que, por mais que ele tenha moldado a História ao seu redor, ele também se torna numa vítima dela. 


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A autora mergulha na dualidade moral dos personagens, questionando até onde um homem é capaz de ir por poder e influência, e como os valores éticos são distorcidos pela competição feroz. Com uma narrativa rica e intricada, revisitamos os eventos históricos que marcaram a História da Inglaterra enquanto exploramos as complexidades das relações humanas num contexto de poder, ambição e traição. Mantel utiliza uma prosa lírica e intimista, que permite ao leitor penetrar na mente dos personagens, revelando as suas motivações, medos e vulnerabilidades. A autora desafia a dicotomia entre herói e vilão, apresentando Cromwell como um homem multifacetado, cujas decisões morais são tão ambíguas quanto os jogos políticos que o cercam. Esta abordagem mostra a fragilidade das alianças e expõe a brutalidade duma época em que até os laços familiares podiam desfazer-se em nome da sobrevivência. Além de relatar a história dum homem no epicentro de eventos históricos, lança luz sobre o quanto influenciou as mudanças na Inglaterra do seu tempo e a forma como ajudou o rei a aproximar-se da religião em que acreditava e que gostaria de ver implementada no seu país. 


"O que é a vida de uma mulher? Não pensem que, por não ser um homem, ela não precisa de lutar. O quarto de dormir é o seu pátio de justas, onde mostra o que vale, e o seu teatro de guerra é o quarto isolado onde ela dá à luz."  


O Espelho e a Luz é uma obra que não só fecha um ciclo, como ainda eleva a narrativa histórica a um patamar de excelência literária. Mantel consegue, de maneira excepcional, entrelaçar a complexidade política da Inglaterra Tudor com os dilemas pessoais e morais do seu protagonista, tornando Cromwell uma figura ao mesmo tempo fascinante e trágica. Este volume final culmina num arco narrativo magistral, onde o desenvolvimento do personagem é tão intricadamente ligado aos eventos históricos que se tornam quase indissociáveis. Esta é mesmo uma conclusão digna para a trilogia, consolidando a obra como um marco na literatura histórica contemporânea e solidificando o lugar de Hilary Mantel como uma das grandes vozes da sua geração. São quase novecentas páginas que nos conduzem pelos últimos anos de Cromwell, que me proporcionaram uma visão bem diferente deste homem controverso e que tanta falta fez a Henrique VIII depois de ter caído em desgraça. 


No fundo, Cromwell, figura complexa e multifacetada, emerge como o arquétipo do político astuto do século XVI, capaz de ultrapassar as suas origens humildes e alcançar o lugar de homem de confiança do rei, que o coloca muito acima da sua posição de nascimento. O legado de Cromwell na História é incontornável e a sua trajetória meteórica continua a provocar debates sobre as complexas dinâmicas de poder que moldaram a Inglaterra moderna. A trilogia solidifica Cromwell como um personagem eterno, deixando um desejo de saber ainda mais sobre a veracidade da vida misteriosa deste homem tão peculiar, inteligente e capaz de chegar onde poucos sonharam chegar. Está certamente no topo de experiências de leituras deste ano e só posso recomendar a leitura para todos os que apreciam uma narrativa rica em detalhes históricos, sobretudo no que toca à Inglaterra Tudor e à corte de Henrique VIII. 


Agora, quero convidar-te a partilhar a tua opinião! Já leste a trilogia de Hilary Mantel? O que achaste da construção da figura de Thomas Cromwell? Qual o teu volume favorito? Que outras obras da autora recomendas? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

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