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quinta-feira, 28 de agosto de 2025

#Places - Café Restauração

 

Prato de carne de porco à alentejana, servido em um restaurante tradicional em Vila Viçosa, apresentando cubos de porco dourados, amêijoas frescas, batatas a murro e temperos aromáticos, convidando para uma experiência gastronômica típica do Alentejo.

No meu recente passeio por Vila Viçosa, decidi almoçar no Café Restaurante Restauração, um local que tinha excelentes recomendações no Google e também foi aconselhado pela funcionária do Posto de Turismo. A minha visita ocorreu durante o pico do Verão, numa tarde ensolarada, durante a semana, quando o movimento na vila estava bastante calmo e tranquilo, o que me permitiu absorver o ambiente habitual deste lugar, onde facilmente viveria. No entanto, o ambiente no local estava bastante animado, com muita gente a almoçar ou a tomar café na esplanada, a usufruir da vista para a Praça central, com a Igreja de S. Bartolomeu dum lado e o Castelo na outra ponta. 


Buy Me A Coffee

O restaurante apresenta-se como um espaço que valoriza a tradição gastronómica alentejana, oferecendo um conceito de cozinha que harmoniza sabores autênticos com um toque contemporâneo. O seu estilo de cozinha reflete uma abordagem regional, onde se destacam os ingredientes locais frescos e as receitas tradicionais, reinterpretadas com criatividade e elegância, proporcionando aos clientes uma viagem saborosa e genuína pelo melhor da cozinha de Vila Viçosa. Situado no centro de Vila Viçosa, facilita o acesso tanto a moradores quanto a visitantes. É fácil chegar de carro e encontrar estacionamento na praça ou nas ruas ao redor, a poucos passos do restaurante. Além disso, é fácil o acesso a pé a partir dos maiores pontos turísticos e hotéis da zona, tornando a visita ainda mais conveniente e agradável. 


Podes ler também sobre a minha experiência no Maré Cheia 


O ambiente no interior é acolhedor e elegante, que combina elementos rústicos e contemporâneos, criando um espaço convidativo e sofisticado. A atmosfera é tranquila e acolhedora, perfeita para desfrutar duma refeição num clima de conforto e charme. No entanto, o que me encantou foi a esplanada com vistas generosas e uma sombra deliciosa, mesmo no clima quente do nosso Alentejo. No que diz respeito ao atendimento, ele destaca-se pela cordialidade e pela atenção dedicada aos clientes, por parte de todos os funcionários que me serviram durante esta refeição. Demonstrando um bom conhecimento do menu, os funcionários conseguem oferecer sugestões precisas e esclarecem as dúvidas com toda a simpatia. Além disso, o serviço é ágil, com rapidez na entrega dos pratos, o que muito contribui para uma experiência agradável. 


A primeira imagem mostra uma garrafa de água mineral transparente, com rótulo visível, sobre uma mesa de madeira. A segunda imagem apresenta uma salada tropical vibrante, com fatias de fruta, folhas verdes e ingredientes frescos, disposta em um prato branco.

A minha intenção era experimentar pratos típicos alentejanos, mas confesso que com o calor que fazia só me apetecia comer coisas frescas e a carta das saladas piscou-me o olho com muita vontade. Assim, para prato principal, escolhi a Salada Tropical, que estava deliciosa e bem servida. Como ainda teria de conduzir até Elvas, para acompanhar fiquei pela água fresca, embora tenha pena de não ter experimentado alguns dos vinhos interessantes da carta. Ficará para uma próxima, certamente. Para adoçar a boca, decidi escolher o clássico bolo de bolacha, que estava delicioso e que foi o encerramento perfeito para uma refeição leve e agradável. Ressalvo ainda que o restaurante dispõe de vários pratos vegetarianos, que me pareceram muito apelativos, e toda a ementa tem informação sobre substâncias intolerantes, o que a torna fácil de entender para quem tem restrições alimentares. 


Podes ler ainda sobre a minha experiência no Barrete Verde 


O Restauração oferece uma experiência gastronómica encantadora com uma faixa de preços moderadamente acessíveis, com opções variadas para diferentes carteiras. Os pratos individuais podem variar entre os 10 e os 25 euros, proporcionando uma excelente relação qualidade/preço. A verdade é que é impossível não se impressionar com a alta qualidade e consistência oferecidas ao longo de toda a experiência. Tanto o prato quanto a sobremesa apresentaram sabores bem equilibrados, ingredientes frescos e uma apresentação cuidada, refletindo o compromisso do restaurante com a excelência. Em suma, o restaurante oferece uma proposta gastronómica consistente, com uma combinação adequada de valor, técnica e qualidade. 


Imagem da esplanada do restaurante Restauração, com mesas ao ar livre rodeadas por plantas verdes e cadeiras confortáveis, perfeita para desfrutar de uma refeição ao ar livre. Ao lado, uma deliciosa porção de bolo de bolacha, decorada com camadas visíveis de biscoito e recheio cremoso, pronta para ser saboreada

Para concluir, posso assegurar que a experiência no Restauração, em Vila Viçosa, foi verdadeiramente memorável. A refeição apresentou uma combinação harmoniosa de sabores, com ingredientes frescos e de qualidade que ressaltam o cuidado na elaboração de cada prato, proporcionando uma sensação de satisfação e conforto. No geral, toda a experiência foi bastante positiva, deixando uma impressão duradoura de excelência que, com toda a certeza, convidam a uma nova visita no futuro. Este é um espaço que pode atender a diferentes públicos, com gostos bem diversos. Para quem está de passagem, numa visita casual, para casais, que procuram um ambiente romântico e intimista, e até para famílias e grupos, onde poderão encontrar opções de carne, peixe, marisco e vegetarianos, este espaço irá certamente encantar e conquistar. 


Mas agora quero saber a tua opinião! Já conheces o Restauração? É um espaço que recomendas? Que pratos aconselhas? Que outros restaurantes na região merecem uma visita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 26 de agosto de 2025

#Livros - O filho de mil homens, de Valter Hugo Mãe

 

Capa do livro "O filho de mil homens", de Valter Hugo Mãe, edição da Porto Editora. Fundo azul-escuro com pedaços de fotografias em preto e branco formando uma colagem, com o título e o nome do autor destacados sobre a imagem.

Sinopse

Raramente a literatura universal produziu um texto tão sensível e humano quanto este. O filho de mil homens é uma obra da ourivesaria literária de Valter Hugo Mãe. Uma experiência de amor pela humanidade que explica como, afinal, o sonho muda a vida. 

Crisóstomo, um pescador solitário, ao chegar aos quarenta anos de idade, decide fazer o seu próprio destino. Inventa uma família, como se o amor fosse sobretudo a vontade de amar. 

Sempre com a magnífica capacidade poética de Valter Hugo Mãe, esta história é um elogio a todos quantos resistem para além do óbvio. 

Com prefácio de Alberto Manguel

Através de um desdobramento magistral de personagens estranhas e únicas, Mãe oferece-nos uma espécie de catálogo da extraordinária variedade dos elementos da nossa espécie e das admiráveis qualidades de cada um deles.

Alberto Manguel, Prefácio


Buy Me A Coffee

Opinião 

Regresso a Valter Hugo Mãe com O filho de mil homens, que se coloca num Portugal rural para explorar, com uma prosa lírica e sem medo da ousadia lexical, a relação entre um homem e o filho que ele acolhe, questionando o que significa família, paternidade e pertencimento. A voz singular do autor, com a sua linguagem poética e experimental, convida-nos a sentir o peso do tempo, a fragilidade humana e a força da empatia. Autor português contemporâneo, que acredito que se irá tornar num clássico daqui a muitos anos, é reconhecido pela inventividade linguística e pela sensibilidade com que retrata pessoas comuns em situações extraordinárias. As suas obras destacam-se pela cadência de frases, pelo uso de neologismos e pela fusão do realismo com o inesperado. 


Publicado em 2011, O filho de mil homens surge num momento de afirmação da nova geração da literatura portuguesa, recebendo a atenção da crítica pela prosa poética, pelo ritmo cadenciado e pela imagética incomum. A obra ajudou a projectar Valter Hugo Mãe no panorama literário, funcionando como demonstração da sua voz singular e dum estilo que combina simplicidade aparente, musicalidade e sensibilidade para o humano marginalizado. Neste sentido, a obra dialoga tanto com o realismo social quanto com uma vertente mais sensível e experimental da língua, aproximando-se duma tradição portuguesa que privilegia a linguagem como matéria poética, a interioridade e as ambiguidades morais. Faz parte, assim, duma renovação da literatura que recusa a frieza narrativa e abre espaço para o humano vacilante, a memória e a beleza que coexistem com o grotesco quotidiano. 


Podes ler também a minha opinião sobre A máquina de fazer espanhóis 


Este romance mergulha numa vila onde o tempo parece entrelaçar a memória, o mito e o quotidiano. A história acompanha o desejo de um homem por ter um filho e criar uma família, numa narrativa que atravessa dor, afecto, riso e rituais simples do dia a dia e que se cruza com outras figuras que, apesar do seu passado, ainda podem ter esperança de que o amor lhes seja permitido. A voz que nos conduz nesta narrativa é suave e ao mesmo tempo firme, sem abrir mão da ternura. O resultado é uma prosa que parece respirar em sílabas simples, transformando o comum em mito, a perda em celebração e o afecto em força capaz de acolher o milhar de vozes que compõem a nossa casa interior. A linguagem tem uma musicalidade áspera, enquanto a narrativa não avança por milagres dramáticos, mas por gestos simples, por silêncios que pesam, por uma insistência no mínimo que revela tudo. É uma leitura que não grita, mas permanece, áspera e sensível, como quem aprende a ouvir a cadência do mundo. 


"Não adianta sonhar com o que é feito apenas de fantasia e querer aspirar ao impossível. A felicidade é a aceitação do que se é e se pode ser." 


O narrador adopta um registo coloquial, com frases curtas e ritmadas, quase cantadas, que aproximam o leitor da intimidade do cuidado entre pai e filho. O estilo funciona como veículo tanto do afecto quanto da crítica social, sem recorrer a argumentos abertamente discursivos, mas pela forma que mantém a radicalidade do humano. Também o ponto de vista molda o entendimento, pois pode aproximar-nos dos acontecimentos e das intenções, mas também exigir do leitor uma participação activa para discernir a verdade por trás das histórias contadas. O grande protagonista é Crisóstomo, o pescador que decide criar a sua família, mas também Isaura, a mulher sofrida, cuja vida de perdas e desilusões a leva até ao homem que lhe vai ensinar que a felicidade é possível desde que se decida a ser feliz; e o filho, Camilo, uma criança que já tinha perdido todas as figuras familiares, de sangue e de amor, e que encontra o pai que o ama neste pescador. Por fim, o Antonino, homossexual que lutou contra esta realidade por amor à mãe e desejo de não a voltar a desiludir, primeiro marido de Isaura, a quem não foi capaz de fazer feliz como marido. Mas foi nesta família invulgar que encontrou o lugar onde se sentia aceite e querido, sem julgamentos nem medo de ser quem era. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Ensaio sobre a Cegueira 


É em torno deste quarteto que surgem histórias paralelas, antigas e que nos explicam as razões para os encontrarmos sozinhos ao longo da trama. São vizinhos, parentes e outras pessoas da comunidade que funciona como espelho, juiz e palco para as tensões de vidas que procuram significado, pertencimento e dignidade. É esta dinâmica entre os personagens que é o verdadeiro motor da narrativa. O elo entre o homem que acolhe uma criança gera afecto, tensão e muitas questões e tem como consequência um desenrolar de uniões entre as pessoas que precisavam dessa família que o homem desejava. A construção da identidade é um entrelaçado de memórias, vínculos afectivos, antigos e recém criados, e práticas de linguagem que vão moldando quem cada personagem é e que poderá ser. Esses vínculos, essa família, vai muito para além da biologia, pois mostra que um filho pode ser o resultado de laços criados pela presença, pelo cuidado e pela partilha dum destino comum. 


"O toque de alguém, dizia ele, é o verdadeiro lado de cá da pele. Quem não é tocado não se cobre nunca, anda como nu. De ossos à mostra." 


O impacto emocional vem todo da forma discreta mas profunda com que o autor se aproxima dos seus personagens, transformando o quotidiano, a fragilidade e o afecto em matéria poética, capaz de provocar surpresa, dor e até calor humano. A sensibilidade social aparece no olhar atento às estruturas de classe, às relações de poder e às formas de cuidado comunitário, tratadas sem jactância moralista, apenas com empatia e discernimento. No seu conjunto, o que funciona é essa confluência entre originalidade, impacto emocional, sensibilidade social e uma prosa que, apesar da aparente simplicidade, revela uma complexidade estética e humana notável. 


Recomendaria esta leitura a todos os apreciadores de literatura contemporânea lusófona, que valorizam uma linguagem poética e uma prosa que se desenrola em imagens simples, porém com uma carga emocional complexa. Jovens adultos ou adultos curiosos, vão aqui encontrar satisfação para o seu gosto por temas como memória, afecto, paternidade e pertencimento, e que valorizam narrativas que não seguem apenas a linha do tempo, mas capazes de nos levar pelo passado dos personagens, criando pontes inesperadas entre eles. Para mim faz sentido uma leitura calma e ponderada, para absorver todos os detalhes e a musicalidade do texto. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste O filho de mil homens? O que esta prosa despertou em ti? Qual o momento que mais te marcou? Tens algum personagem favorito? Que outros livros de Valter Hugo Mãe recomendas? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Projecto Cinema - 1986 | África Minha

 

Fita de filme sobre um fundo branco, representando o tema do projeto sobre os vencedores do Oscar de Melhor Filme, com referência ao vencedor de 1986, África Minha (Out of Africa).

Estou de volta com a série dedicada a todos os vencedores do Óscar na categoria de Melhor Filme. Hoje, vamos destacar o vencedor da cerimónia de 1986: África Minha. Baseado no livro de Karen Blixen, é dirigido por Sydney Pollack, o filme leva-nos a uma África colonial impressionante, onde amor, memória e uma visão intimista da vida no território africano se entrelaçam. Além de revisitar a obra que conquistou a estatueta dourada naquele ano, vamos também discutir os seus méritos artísticos, a abordagem estética e o contexto histórico que o tornaram um marca na história do Cinema. 


Buy Me A Coffee

Na 58.ª edição dos Óscares, África Minha saiu vitorioso, contando de forma épica a vida duma baronesa dinamarquesa que se muda para o Quénia colonial, acompanhando amores, escolhas difíceis e a imponente paisagem africana. Protagonizado por Meryl Streep e Robert Redford, o filme é lembrado pela sua cinematografia ampla, pela direcção elegante e pela banda sonora de John Barry, que lhe rendeu também o Óscar de Banda Sonora Original. Passada na África oriental sob domínio colonial britânico, nas primeiras décadas do século XX, a paisagem é a verdadeira protagonista, com savanas, campos de café, montanhas que se erguem ao longe e o céu vasto que parece não ter fim. O filme retrata, de forma romântica e ambígua, uma época de transição, entre o esplendor duma paisagem quase intocada e as tensões dum sistema colonial que molda relacionamentos, empregos e expectativas para o futuro da região. 


Acompanha todo o desenrolar do Projecto Cinema - Óscar de Melhor Filme 


O filme coloca a relação entre as pessoas e a natureza no centro da experiência, mostrando como a terra, o clima, os animais e as paisagens podem moldar decisões, relações e até identidades. É o encaixe entre um intenso drama romântico com uma visão de grande escala, aproveitando tanto a nostalgia por mundos exóticos quanto a fascinação por histórias de amor, descoberta e autoconhecimento em cenários grandiosos. A recepção inicial foi amplamente positiva entre críticos e público. A actuação de Meryl Streep e a realização de Sydney Pollack receberam elogios consistentes, a cinematografia de David Watkin e a banda sonora de John Barry foram destacadas como elementos de alto nível, e o filme destacou-se como um dos grandes vencedores da temporada de premiações, de forma geral. 


Pôster oficial do filme África Minha (Out of Africa), vencedor do Oscar de Melhor Filme em 1986. A imagem mostra uma paisagem de savana africana ao pôr do sol, com tons quentes, e o título Out of Africa em letras douradas na parte superior, evocando o tema romântico-aventureiro da história.

África Minha conta a história real de Karen Blixen, condessa dinamarquesa que, no início do século XX, vai para o Quénia com o marido para gerir uma plantação de café. Entre a imensa savana, as dificuldades económicas e o isolamento duma vida de estrangeira em território colonial, Karen constrói uma existência disciplinada, marcada pela coragem e pela elegância, mas também pelo desejo de liberdade. O núcleo emocional do filme é o romance com o caçador Denys Finch Hatton, uma relação intensa que desafia as convenções da época e que se torna a verdadeira força motriz de Karen, mesmo diante das responsabilidades e tensões do casamento. 


Destacando-se pela produção de grande escala, o filme combinou locações reais no Quénia com cenários construídos para recriar com verossimilhança o ambiente da África colonial no início do século XX. Interiores e ambientes aristocráticos foram desenvolvidos em estúdios para alcançar o luxo da fazenda e das residências da época, complementados por uma direcção de arte que reforçou o contraste entre a opulência europeia e a paisagem africana. O filme é um exemplo marcante de como elementos técnicos e visuais ajudam a contar uma história. A cinematografia privilegia a vastidão africana com planos abertos e panorâmicas aéreas que capturam a luminosidade dourada das savanas, reforçada pela palete de tons quentes, que transmite a sensação de luz perpétua do continente. 



Além de Melhor Filme, também foi vencedor nas categorias de Melhor Realizador, Melhor Argumento Adaptado, Melhor Fotografia, Melhor Banda Sonora, Melhor Direcção de Arte e Melhor Som. O sucesso foi retumbante, tanto que venceu ainda três Globos de Ouro e três BAFTA e consolidou o seu lugar como um grande marco do Cinema dos anos 80. A obra instaurou uma estética de sonho, que levou a um impacto cultural que vai além da sala de Cinema, influenciando a moda, fotografia de viagem e a percepção popular de África. Os debates em torno desta obra continuam a surgir, sobretudo, sobre a visão romântica do colonialismo e a memória histórica. Portanto, convido-te a ver ou rever este vencedor do Óscar do ano em que eu nasci, que ainda tem muito para entregar, mesmo passados tantos anos, e que proporciona um momento cinematográfico inesquecível. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Já viste África Minha? Que momento mais te marcou? Qual o teu personagem favorito? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 19 de agosto de 2025

#Livros - Memorial de Aires, de Machado de Assis

 

Capa do livro "Memorial de Aires" publicado pela Tinta da China: fundo de cor rosa escuro com letras pretas elegantes exibindo o título e o nome do autor, Machado de Assis.

Sinopse

O último romance de Machado de Assis marca o nascimento de uma NOVA COLECÇÃO da Tinta-da-China, dedicada ao melhor da literatura brasileira e coordenada por Abel Barros Baptista e Clara Rowland. Memorial de Aires é o último romance de Machado de Assis, publicado no ano da sua morte (1908). Obra extremamente depurada, é a segunda atribuída ao conselheiro Aires, diplomata aposentado, que apareceu no romance anterior, Esaú e Jacó (1904), onde é personagem e autor ficcional. Agora, escreve um conjunto de anotações quotidianas, o Memorial, nos anos de 1888 e 1889.

No cenário da abolição da escravatura, Aires é uma figura complexa como testemunha e comentador: acompanha o velho casal Aguiar e a sua orfandade às avessas, enquanto na escrita se dedica à bela viúva Fidélia, e se envolve nos meandros divagantes do seu próprio e inesperado desejo. Ao mesmo tempo terno e cruel, o livro oscila entre o apontamento disperso e a narrativa escorreita, sempre contido e conciso, enquanto a sombra discreta do Fausto perpassa melancólica, quase indiferente... 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Memorial de Aires é a obra que me permitiu regressar ao escritor brasileiro Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura e de quem já tinha muitas saudades. Publicado em 1908, o livro apresenta-se na forma de um memorial escrito pelo Conselheiro Aires, um personagem que narra as suas memórias e reflexões sobre a sociedade carioca do final do século XIX, além das suas experiências pessoais e políticas. É sempre um deleite regressar à sua linguagem refinada, ironia subtil e profunda análise psicológica, características que permeiam toda a sua obra. Como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Machado deixou um legado literário que combina humor, crítica social e uma visão perspicaz da condição humana, consolidando-se como uma das figuras mais importantes da Literatura brasileira, lugar inteiramente merecido. 


O Brasil era marcado pela transição do Império para a República e os movimentos realistas e naturalistas consolidavam-se na literatura. Este Memorial de Aires, reflete uma fase de maturidade do autor, apresentando-se como um romance de memórias, que se foca num período de apenas dois anos, que combina elementos do realismo com uma visão crítica da sociedade brasileira da sua época. Com um narrador em primeira pessoa, que oferece uma visão subjectiva e muitas vezes ambígua dos acontecimentos, revela as suas nuances com humor. O referido narrador é Aires, um aposentado que decide escrever as suas memórias e reflexões sobre a vida e a sociedade onde se movimenta. 


Podes ler também a minha opinião sobre Quincas Borba 


Como personagens principais, além do próprio Aires, temos os seus amigos que contribuem para a trama. Destacam-se o casal Aguiar, idosos sem filhos, que suscitam a amizade de todos que com eles privam e que, no momento que Aires os conhece, protege a jovem viúva Fidélia. Com o seu cinismo, custa a crer a Aires que uma jovem tão bela permaneça fiel a um marido morto e acaba por apostar com a sua irmã que Fidélia voltará a casar, sendo esta aposta o fio condutor destas memórias e que obriga o conselheiro a acompanhar de mais perto a vida desta mulher e da família que a acolhe. É assim que são abordados, de forma subtil, temas de amor, ciúme e as complexas relações humanas. O livro explora estas relações, evidenciando as contradições, as hipocrisias e as estratégias de convivência que permeiam as interações sociais. Machado utiliza uma linguagem irónica e o seu olhar crítico para mostrar como o amor está entrelaçado às dinâmicas sociais, enquanto oferece uma visão realista e ao mesmo tempo delicada do universo emocional dos seus personagens. 


"Deixo aqui esta página com o fim único de me lembrar que o acaso também é corregedor de mentiras. Um homem que começa mentindo disfarçada ou descaradamente acaba muita vez exato e sincero." 


Aqui encontras um retrato do Brasil do século XIX, pelas memórias dum homem que, embora não seja um herói ou uma figura grandiosa, revela-se uma testemunha perspicaz da sua época. A narrativa, conduzida na primeira pessoa, confere uma sensação de intimidade e confidência, como se estivéssemos a conversar com o próprio Aires, ouvindo as suas histórias e observações com atenção. A linguagem é elegante, repleta de subtilezas e ironias que Machado de Assis domina com maestria, deixando transparecer um humor discreto. Assim, com a sua prosa refinada, o autor constrói um quadro de memórias e reflexões, onde o humor e a melancolia caminham de mãos dadas, revelando a complexidade do personagem que, entre devaneios e lembranças, procura compreender-se e compreender o mundo ao seu redor. 


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No fundo, Machado apresenta uma visão perspicaz e sempre irónica da sociedade brasileira do século XIX, enquanto nos revela as suas contradições, vaidades e hipocrisias. Com o seu personagem e narrador, evidencia a influência do passado aristocrático, a lentidão das mudanças sociais e a manutenção dos valores tradicionais, muitas vezes vazios. Faz, deste modo, uma crítica à superficialidade das relações sociais e à procura por status, revelando uma sociedade marcada pelo conservadorismo, pela desigualdade e pela resistência às transformações. É assim que a sua visão revela tanto o atraso quando a complexidade do Brasil daquele período, destacando as nuances e as fissuras duma sociedade em transição. Como sempre, Machado demonstra uma notável profundidade psicológica ao retratar os seus personagens. Essa complexidade é evidenciada pela forma como as suas emoções, desejos e dúvidas se entrelaçam. 


"Quero dizer que, cansado de ouvir e de falar a língua francesa, achei vida nova e original na minha língua, e já agora quero morrer com ela na boca e nas orelhas." 


Mais uma vez, Machado não desilude e proporcionou uma leitura rica e envolvente, marcada pela narrativa inteligente e irónica que já lhe conhecemos. A obra consegue misturar o humor com a crítica social, despertando no leitor uma sensação de admiração pela perspicácia do autor. É uma leitura agradável e instigante, acompanhada do retrato dos valores e comportamentos da sua época. Afinal, ler Machado de Assis é sempre um estímulo para o pensamento crítico e para a compreensão das complexidades do comportamento humano, não fosse este autor incontornável na literatura brasileira e para a língua portuguesa. Esta é uma obra da fase madura do autor, pelo que aconselho que comeces pelas anteriores, talvez até alguma das mais conhecidas, para melhor entender o seu estilo e as temáticas recorrentes, e começar o vício que é ler Machado de Assis. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste este livro? O que achaste deste livro invulgar? Qual personagem mais te marcou? Costumas ler Machado de Assis? Qual o teu livro favorito deste autor? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 14 de agosto de 2025

#Viagens - Roteiro de Viagem: Vila Viçosa & Elvas

 

Uma mulher de chapéu de palha de costas, com a cabeça fora do carro em movimento, na estrada que conecta Vila Viçosa e Elvas, durante uma viagem de dois dias pelo interior de Portugal.

Hoje, venho partilhar a minha experiência de dois dias a explorar as encantadoras Vila Viçosa e Elvas, no coração do Alentejo. O objectivo é revelar as belezas, a História e a cultura destes destinos, proporcionando uma visão das atracções, monumentos e momentos marcantes que vivi durante a minha viagem, a primeira que fiz sozinha e que serviu para cumprir uma das minhas resoluções para 2025. Espero, assim, inspirar-te a descobrir estes tesouros portugueses, repletos de charme e História, bem perto de nós, perfeitos para uma escapadinha de poucos dias, sem nos levar à falência. Ambos os lugares são reconhecidos pelo seu património, sendo que Elvas é considerada Património Mundial pela UNESCO, o que os torna destinos imperdíveis para quem deseja explorar a herança do Alentejo. 


Buy Me A Coffee

Antes de embarcar nesta viagem, as minhas expectativas estavam muito elevadas, especialmente pelo charme histórico e cultural que a região oferece. Escolhi estes destinos pela sua rica herança arquitetônica, as suas fortalezas e fruto da influência da leitura do livro Filipe I de Portugal, de Isabel Stilwell, a melhor escritora portuguesa de romances históricos. Depois, vi o vídeo do Paulo Rezzutti sobre o Paço Ducal e fiquei com ainda mais vontade de visitar este lugar. Como o alojamento em Vila Viçosa era muito caro, optei por seguir para Elvas em busca de alojamento mais acessível, pela proximidade entre os dois lugares e até a sua relação histórica. 


Dia 1: Vila Viçosa


Ao chegar a Vila Viçosa pela manhã, fui imediatamente envolvida pela sua atmosfera encantadora e luminosa. As ruas estreitas convidam a uma caminhada tranquila enquanto a vista do Castelo, imponente no horizonte, despertam uma sensação de curiosidade. A vila exala um charme antigo, evidenciado pelos detalhes arquitetônicos das suas casas e pela vibração pacífica que parece envolver cada canto. Logo nesse primeiro momento, percebi que Vila Viçosa é um lugar onde o passado e o presente se encontram harmoniosamente, prometendo uma experiência rica em descobertas e encantos históricos. 


Paço Ducal de Vila Viçosa

Uma das principais atracções, que me motivaram a visitar esta vila, foi o Paço Ducal, um magnífico exemplo da arquitectura barroca e renascentista, e que foi a primeira paragem que fiz, assim que cheguei. As salas, decoradas com móveis antigos, tapeçarias e obras de arte, oferecem uma visão fascinante do estilo de vida da nobreza portuguesa em diferentes épocas. Além disso, os jardins ao redor do palácio, ao estilo de Versalhes, ajudam a tornar a visita uma experiência ainda mais inesquecível. O Paço é um marco histórico de grande relevância na região, tendo sido residência dos duques de Bragança desde o século XVI, só deixando de ser quando D. João IV sobe ao trono português. Construído inicialmente em estilo renascentista, o palácio foi posteriormente ampliado e renovado ao longo dos séculos, refletindo as transformações arquitectónicas e culturais de cada época. Com várias colecções no seu interior, que também podem ser visitadas, permite aos visitantes apreciar a grandiosidade e a herança cultural do período. 


Fachada do Paço Ducal de Vila Viçosa com detalhes arquitetônicos clássicos e jardins bem cuidados ao redor, sob um céu claro.

Igreja de São Bartolomeu

Em seguida, e antes de parar para almoçar, segui até à Praça da República e fui explorar a Igreja de São Bartolomeu, também conhecida como Igreja de S. João Evangelista. Situada no coração do centro histórico, esta Igreja é um exemplo impressionante da arquitectura religiosa do século XVII, com a fachada principal revestida de mármore local, com planta em cruz latina, nave única com capelas laterais, transepto e ampla capela mor, alçados revestidos de azulejos azuis e brancos e um grande retábulo de talha dourada. 


Fachada da Igreja de São Bartolomeu em Vila Viçosa, com detalhes arquitetônicos tradicionais e elementos religiosos, sob um céu claro.

Após esta visita, no início da Praça, fui dar um passeio por este centro histórico de Vila Viçosa, onde fiquei encantada com a beleza e a riqueza arquitectónica da vila. Repleta de cafés e lojas tradicionais, encontramos um ambiente perfeito para apreciar a cultura local e contemplar o charme típico deste Alentejo. Junto à Câmara Municipal, está o Posto de Turismo, onde entrei para pedir aconselhamento sobre onde almoçar. A funcionária, muito simpática, forneceu várias sugestões interessantes e ainda me ofereceu um mapa da cidade, onde estão identificados as diferentes atracções, algumas que desconhecia por completo. Portanto, se estiveres a pensar visitar este região, aconselho-te que passes pelo Posto de Turismo, porque vais ser muito bem recebida e obter dicas preciosas. Uma das opções mais acessíveis estava fechada para férias, a outra não me senti muito bem recebida, por isso, acabei por escolher almoçar na esplanada do Restauração, onde fui muito bem atendida, comi bem e pude desfrutar do ambiente fantástico daquela Praça, onde podia facilmente viver. 


Castelo de Vila Viçosa

Depois de almoço, fui explorar o magnífico Castelo de Vila Viçosa, uma fortificação que remonta ao século XIII e que oferece vistas deslumbrantes da vila e do seu entorno. O castelo revela a História da região e o papel estratégico que desempenhou ao longo dos séculos na defesa do país. Além disso, visitei o Museu da Caça e de Arqueologia, localizado na alcáçova do Castelo, também pertencente à Fundação Casa de Bragança, que alberga uma interessante colecção de artefactos que remontam às épocas romana e medieval, bem como instrumentos de caça e animais embalsamados. 


Castelo de Vila Viçosa com suas torres medievais e muralhas, sob um céu claro, destacando-se na paisagem histórica da cidade.

Igreja de Nossa Senhora da Conceição

Por fim, ainda dentro do recinto do Castelo, fui visitar a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, uma das joias da região. Este templo, edificado no local onde o Condestável Nuno Álvares Pereira mandou edificar a ermida de Santa Maria do Castelo, impressiona pelo seu estilo e pela beleza dos seus detalhes ornamentais. A santa foi coroada rainha e padroeira de Portugal por D. João IV e, desde então, os nossos reis deixaram de usar coroa, que passou a ser posse exclusiva de Nossa Senhora, neste que será o Altar de Portugal e o Trono da Rainha. 


Fachada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Vila Viçosa, com detalhes arquitetônicos religiosos e um céu claro ao fundo.

Inicialmente, o meu plano era ficar alojada em Vila Viçosa, mas confesso que, por ser um lugar mais pequeno, a oferta não é muita e os preços são um tanto ou quanto salgados. Vi alojamentos incríveis, mas não se enquadravam no meu orçamento. Assim, bem perto, estava Elvas, Património Mundial da UNESCO, com um centro histórico fascinante e muitos alojamentos acessíveis e bem localizados. A viagem foi rápida, com uma estrada bem conservada e que oferece belas paisagens do interior alentejano, tornando trajecto ainda mais prazeroso. Esta facilidade de acesso permitiu aproveitar ao máximo o dia e explorar com calma as atracções de ambas as cidades. 


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Dia 1: Elvas


Ao chegar, então, a Elvas, fui imediatamente cativada pela sua imponência histórica e pela atmosfera de cidade fortificada. As muralhas e as fortificações de granito revelam uma cidade que guarda séculos de História e resistência. As ruas estreitas e o centro antigo transmitem um charme antigo, convidando a explorar cada recanto. À minha espera estava a recepcionista do alojamento, que me aconselhou onde estacionar, me foi buscar e me acompanhou até ao espaço, numa rua onde não passam carros, o que logo prometia paz e sossego para a estadia. Depois de fazer o check-in com a simpática Margarida, pude instalar-me no quarto, pequeno, limpo e acolhedor, arrumar a bagagem e logo tratei de ir dar uma volta pelas redondezas para aproveitar ao máximo esse primeiro dia. 


Torre Fernandina

A primeira atracção que me surgiu foi a Torre Fernandina, um dos marcos mais emblemáticos da região. Esta torre histórica remonta ao período medieval e oferece uma vista privilegiada sobre a cidade, embora não tenha sido possível visitar desta vez, por se encontrar temporariamente indisponível. É uma construção do século XIV, alteração feita à segunda cerca islâmica que servirá, a partir de finais do século XV, como cadeia. 


achada da Torre Fernandina em Elvas, mostrando sua arquitetura militar histórica com detalhes em pedra e ameias, destacando-se contra o céu azul.

Igreja de São Domingos

Em seguida, desci uma zona pedonal repleta de lojas típicas, cafés e restaurantes, e dei por mim junto à Igreja de São Domingos, uma verdadeira joia arquitectónica e cultural da região. Foi fundado em 1267 e sofreu várias alterações a partir do século XV. Funcionava em São Domingos um convento, mas também uma albergaria e um hospício, demolido durante as Guerras da Restauração. Em 1834, após a extinção das ordens monásticas, o que restou do convento foi secularizado ao albergar um quartel militar, e hoje faz parte do Museu Militar de Elvas. Infelizmente, não consegui visitar o seu interior desta vez. Lá terá de ficar para uma próxima visita. 


Fachada da Igreja de São Domingos em Elvas, com detalhes arquitetônicos em pedra e um céu claro ao fundo.

Durante este pequeno passeio pelo centro histórico de Elvas, pude apreciar a rica herança cultural da cidade. Depois de descer quase até ao Museu Militar, o que custou foi subir de novo até à zona do alojamento, bem perto da Praça da República. O calor era muito, mas nas ruas existiam repuxos de água junto aos edifícios que ajudavam a refrescar o ambiente e tornavam o passeio muito mais agradável, mesmo nas horas de mais calor. No final da tarde, regressei, então, ao alojamento e optei por encomendar o jantar, por pura preguiça. Ainda por cima, o espaço incluía uma cozinha com frigorifico, micro-ondas e com café e chá grátis, além duma agradável zona de refeições. Portanto, na primeira noite, fiquei no quarto, a descansar do muito que caminhei ao longo do dia e a desfrutar do fresco do ar condicionado, depois de tomar um banho revigorante. 


Dia 2: Elvas


No dia seguinte, acordei cedo, tomei café no alojamento e fumei o meu cigarro, antes de partir para mais um dia à aventura para descobrir os encantos de Elvas. Na noite anterior, já tinha reservado o pequeno almoço através da Too Good To Go, e sabia que tinha de apanhar a minha box no Vila Galé às 10:30. Como tal, organizei a direcção a seguir tendo isso em consideração. 


Muralhas Seiscentistas 

Já no primeiro dia, naquele primeiro passeio, consegui vislumbrar as Fortificações de Elvas, mergulhando na grandiosidade das suas impressionantes estruturas militares. Estas fortificações, construídas com uma arquitectura robusta e detalhada, representam um exemplo notável da engenharia militar da época, projetadas para proteger a cidade de invasões, e reforçadas ao estilo holandês durante a Guerra da Restauração. Hoje, são um exemplo original do século XVII que no seu estado de autenticidade são únicas no mundo, pelo seu elevado estado de conservação, além de proporcionarem uma vista panorâmica muito especial. 


Muralhas seiscentistas de Elvas, mostrando suas robustas paredes de pedra e torres de defesa, com o céu aberto ao fundo.

Pelourinho + Porta do Tempre + Igreja das Dominicas

Entretanto, chegada ao Largo de Santa Clara, encontramos vários pontos de interesse. Primeiro, o Pelourinho, originalmente encontrado na Praça da República, colocado no século XVI, erigido em mármore, ao estilo manuelino. Entretanto, foi destruído e só em 1940 é reconstruído, utilizando as partes originais, a partir duma gravura, e colocado neste novo local. Numa ponta do Largo, encontramos a Porta do Tempre, também conhecido como Arco do Dr. Santa Clara, que faz parte da primeira cintura árabe. No outro extremo, existe a Igreja das Dominicas, que fazia parte do convento de freiras dominicanas, onde nasceu um dos mais célebres doces da cidade, a ameixa de Elvas. O Convento foi demolido, mas ainda podemos visitar esta bela Igreja com planta octogonal, total revestimento a azulejos do século XVII, a capela-mor quinhentista e as capelas laterais em talha dourada. 


Pelourinho de pedra, antigo e imponente, localizado na praça central de Elvas, com detalhes arquitetônicos tradicionais e ao fundo o edifício histórico da cidade. Porta do Tempre, antiga entrada fortificada da cidade, com arcos de pedra e detalhes medievais, destacando-se na muralha de Elvas.

Igreja de Santa Maria de Alcáçova 

Passada a Porta do Tempre, chegamos ao Largo da Alcáçova, onde se encontra esta Igreja, na zona mais antiga da cidade. Foi construída no século XIII, no local onde se encontrava a principal mesquita de Elvas. Começou por ser pertencente da coroa, que a doou à Ordem de Avis em 1303. Não consegui entrar, infelizmente, pois quando por lá passei estava fechada, mas sei que a entrada é gratuita. 


Igreja de Santa Maria de Alcáçova em Elvas, com sua fachada histórica e detalhes arquitetônicos tradicionais, sob céu claro, durante minha viagem de dois dias na região.

Castelo de Elvas

No ponto mais algo da cidade, vais encontrar o impressionante Castelo de Elvas, uma obra de fortificação islâmica. Este foi o palco de importantes acontecimentos da nossa História, como tratados de paz, trocas de princesas e banquetes de casamentos reais. A entrada é gratuita, mas tem de se pagar para subir e percorrer as muralhas. No exterior, há um miradouro extraordinário que proporciona vistas panorâmicas sobre a envolvente, que vale muito a pena espreitar. 


Castelo de Elvas com suas muralhas imponentes, destacando-se sob um céu claro, evidenciando sua arquitetura histórica e a fortificação que domina a paisagem.

Igreja de Nossa Senhora da Assunção

De volta à Praça da República, não podia deixar de visitar a Antiga Sé de Elvas, a Igreja de Nossa Senhora da Assunção. É a principal Igreja de Elvas, com um carácter fortificado, com uma torre como fachada. Originalmente manuelino, foi sofrendo alterações ao longo dos séculos, recebendo outras influências, onde se destaca a capela-mor e o grandioso órgão de tubos. 


Fachada da Igreja da Nossa Senhora da Assunção em Elvas, com arquitetura histórica, detalhes em pedra e portas de madeira, sob céu claro.

Igreja de São Lourenço 

Por fim, terminei o dia na Igreja de São Lourenço, referida nos documentos históricos desde 1332, embora este edifício tenha sido edificado no século XVI. No exterior logo se destaca o painel de azulejos do século XIX, com a representação de São Lourenço. Mais uma vez, não consegui visitar o interior, embora seja possível. 


Fachada da Igreja de São Lourenço em Elvas, destacando sua arquitetura histórica com detalhes em pedra e torre sineira, sob céu claro.

Durante este meu passeio ficaram evidentes as riquezas culturais que Elvas nos proporciona e fiquei convencida do quanto acertei com esta escolha para pernoitar. Claro que o calçado confortável é essencial, e mesmo assim, não me livrei de uma ou outra ferida ligeira. É uma cidade que convida a andar a pé, e que, em cada esquina, esconde património e História. Naturalmente que, quando cheguei, também procurei o Posto de Turismo, localizado na Praça da República, para obter mais informações e conselhos. Gratuito só mesmo o mapa digital, porque o físico custa 1,50€. Depois, manifestei a intenção de fazer a visita guiada ao Forte de Nossa Senhora da Graça, mas foi-me dito apenas que estava sujeito a disponibilidade, sem qualquer outro detalhe que me permitisse perceber se iria conseguir dentro do tempo da minha visita à região. Uma pena, porque gostava muito de lá ter ido, mas terá de ficar para uma próxima e não fiquei com muita vontade de voltar a pedir conselhos neste Posto de Turismo. 


Podes ver ainda a minha visita à José Maria da Fonseca


Dia 3: Elvas


Depois do merecido descanso, e ainda bem que optei por ficar a descansar em vez de fazer a viagem de regresso depois do longo passeio, chegou o último dia e a hora de voltar a casa. Mas, antes desse regresso, ainda houve tempo para mais um pequeno passeio de manhã. 


Ermida de Nossa Senhora da Conceição

À saída da cidade fortificada, temos a Porta da Esquina e no seu topo foi construída, no século XVII, a Capela de Nossa Senhora da Conceição. O templo, com uma planta semi-esférica, foi alvo de modificações nos séculos seguintes, mas continua a destacar-se na paisagem e só lamento que estivesse fechado o seu interior. 


Imagem da Ermida de Nossa Senhora da Conceição em Elvas, com sua arquitetura tradicional, situada em um ambiente tranquilo e rodeada por vegetação, refletindo a história e a religiosidade da região.

Aqueduto da Amoreira

Por fim, à saída da cidade muralhada, conseguimos ver o monumental Aqueduto da Amoreira, obra que contribuiu para o crescimento e desenvolvimento da cidade, colmatados os problemas de abastecimento de água. Desenvolve-se numa extensão de mais de cinco quilómetros que chegam a superar os 30 metros de altura. 


Vista do Aqueduto da Amoreira em Elvas, mostrando seus arcos históricos de pedra que se estendem ao longo do horizonte, com o céu azul ao fundo.

Saída da bolha da cidade velha, começamos a ver a cidade que cresceu fora dos muros e que, durante dois dias, esteve fora do meu alcance, como se tivesse feito uma viagem no tempo. Assim, chegou o momento de me despedir e iniciar a viagem de regresso a casa. Foi incrível perceber que posso, consigo e gosto de viajar sozinha e acredito que muito tenha contribuído esta atmosfera tranquila, a beleza arquitectónica e a hospitalidade local. Foi uma oportunidade incrível para explorar o património português, desfrutando de momentos de descanso e descoberta num cenário de grande charme. 


No entanto, tenho consciência de que ficou por ver muita coisa, as quais vou listar abaixo, pois pode ser do teu interesse conhecer estes lugares e também porque, no futuro, quero voltar e assim já sei onde tenho de ir. 


Outros locais a visitar em Vila Viçosa e Elvas: 

  • Igreja dos Agostinhos
  • Colecção de Coches
  • Casa Florbela Espanca
  • Museu Militar de Elvas
  • Forte de Nossa Senhora da Graça
  • Museu de Arte Contemporânea
  • Casa da História Judaica


Nas próximas semanas, conto explorar mais alguns dos lugares que visitei, onde poderei contar melhor a sua história, importância e dar uso às muitas fotos que tirei nestas visitas, bem como mais detalhes sobre onde comi e onde dormi. Se queres visitar estes lugares, planeia a tua viagem com alguma antecedência, para aproveitares ao máximo e encontrares os melhores preços nos alojamentos. Não deixes de experimentar a gastronomia local e de verificar os horários de funcionamento das atracções que mais te interessam. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já visitaste Vila Viçosa e Elvas? Conheces esta região do Alentejo? Quais os lugares que mais gostaste ou que mais ficaste com vontade de conhecer? Tens alguma sugestão a acrescentar? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

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