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terça-feira, 5 de novembro de 2024

#Livros - O Espelho e a Luz, de Hilary Mantel

 

A foto de capa do livro "O Espelho e a Luz", de Hilary Mantel, apresenta um fundo em suaves tons de verde que evocam uma atmosfera de mistério e reflexão. Em destaque, uma elegante gravura de um leão dourado simboliza poder e nobreza, refletindo o tema central da obra sobre as intricadas relações de poder na corte de Henrique VIII. O design harmonioso e sofisticado captura a essência do final da trilogia, convidando o leitor a mergulhar na complexidade da vida de Thomas Cromwell e suas manobras no tumultuado cenário político da Inglaterra renascentista.

Sinopse

«Se não se pode dizer a verdade no momento da decapitação, quando poderá ela ser dita?» 

Inglaterra, maior de 1536. Ana Bolena está morta, decapitada no espaço de um batimento cardíaco por um executor francês contratado. Enquanto os seus restos mortais são recolhidos e votados ao esquecimento, Thomas Cromwell toma o pequeno-almoço com os vitoriosos. O filho do ferreiro de Putney emerge do banho de sangue daquela primavera para prosseguir a sua ascensão ao poder e à riqueza, enquanto o seu magnífico amo, Henrique VIII, se prepara para viver uma breve felicidade com a sua terceira rainha, Jane Seymour. 

Cromwell é um homem que conta apenas com a sua inteligência; não tem uma família importante que o apoie nem o seu próprio exército. Apesar da rebelião em solo nacional, dos traidores que conspiram no estrangeiro e da ameaça de invasão que coloca o regime de Henrique VIII à prova até ao ponto de rutura, a imaginação resoluta de Cromwell vislumbra um país novo no espelho do futuro. Mas poderá uma nação ou uma pessoa desfazer-se do passado como se de uma pele se tratasse? Continuarão os mortos a assombrá-lo? O que fareis - pergunta o embaixador de Espanha a Cromwell - quando, um dia, o rei se virar contra vós, como mais tarde ou mais cedo ele se vira contra todos os que lhe são próximos? 

Com O Espelho e a Luz, Hilary Mantel encerra de modo triunfante a trilogia que iniciou com Wolf Hall e O Livro Negro. Traça os derradeiros anos de Thomas Cromwell, o rapaz vindo do nada que ascende aos píncaros do poder, delineando um retrato preciso de predador e presa, de uma disputa feroz entre presente e passado, entre a vontade régia e a visão de um homem comum de uma nação moderna que se constrói a partir do conflito, da paixão e da coragem. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Hilary Mantel, amplamente reconhecida pelas suas contribuições à literatura histórica, tem sido uma muito agradável descoberta ao longo desta trilogia sobre Thomas Cromwell. O Espelho e a Luz traz o encerramento da trilogia, com mais um relato extraordinário sobre uma época única na História. Desde o primeiro volume, Mantel constrói uma narrativa rica em nuances, explorando as intrigas da corte de Henrique VIII, ao mesmo tempo que relata a ascensão e queda dum homem que, a partir de origens humildes, se transforma numa peça-chave no tabuleiro do poder. Com a sua prosa magistral, a autora oferece um retrato definitivo sobre um período tumultuado da História inglesa, revelando como os ecos das decisões de Cromwell ressoam até aos dias de hoje. 


Estamos a falar dum período marcado por profundas transformações religiosas, que culminaram na ruptura com a Igreja Católica e na criação da Igreja Anglicana, um movimento impulsionado pelo desejo do rei por um herdeiro masculino e pela sua paixão por Ana Bolena. Wolf Hall explora a infância e a juventude de Cromwell, as suas habilidades políticas e a sua lealdade ao cardeal Thomas Wolsey, culminando com a sua ascensão como conselheiro do rei. Já O Livro Negro concentra-se na trama para depor Ana Bolena, capturando os dilemas morais e políticos enfrentados por Cromwell enquanto navega pelas intrigas da corte, que o recebe sempre com desconfiança, mantendo a sua ambição e procurando a sua sobrevivência. Juntos, esses dois primeiros volumes oferecem um rico contexto sobre a complexidade do personagem, preparando o terreno para o desfecho explosivo de O Espelho e a Luz.


Podes ler também a minha opinião sobre Wolf Hall


O livro passa-se nos últimos anos da vida de Cromwell, tornando-se cada vez mais evidente o feito extraordinário para a época que foi a sua ascensão na corte Tudor. Após a execução de Ana Bolena, Cromwell enfrenta a desconfiança de novos aliados e inimigos, sem esquecer os velhos que afastou da ribalta e que não esquecem o seu desejo de ver cair o conselheiro de origens humildes e que parece indispensável ao rei. A busca pela legitimidade e estabilidade do reino traz desafios cada vez maiores, que leva Cromwell, após a morte da rainha Jane, a procurar uma nova aliança através do casamento dentro dos principados alemães, a única forma de obter apoio em caso de conflito contra a França e a Espanha, católicos que não aceitam a nova Igreja da Inglaterra. 


"São os seus conselheiros, a equipa mais cruel que alguma vez existiu, que carregam com os pecados dele, que aceitam ser pessoas piores, para que Henry possa ser melhor."


Neste desfecho, Hilary Mantel apresenta um Thomas Cromwell profundamente imerso num labirinto de conflitos políticos e pessoais, dele e do rei, que refletem a turbulência da corte inglesa do século XVI. A luta de Cromwell para equilibrar os seus interesses pessoais e os objectivos dinásticos de Henrique VIII revela a complexidade da sua personagem. Além disso, o peso das suas escolhas morais e as suas consequências - tanto para os seus aliados quanto para os seus inimigos - permeia a narrativa, gerando um retrato multifacetado da vida política do homem, que protegeu inimigos ou mostrou piedade para com as mulheres envolvidas nas conspirações contra o rei, tentando controlar a fúria do rei em certa medida. Através desta jornada, ele torna-se um espelho das suas próprias ilusões e verdades sombrias da era Tudor, a sua transformação culmina num reconhecimento doloroso de que, por mais que ele tenha moldado a História ao seu redor, ele também se torna numa vítima dela. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Livro Negro


A autora mergulha na dualidade moral dos personagens, questionando até onde um homem é capaz de ir por poder e influência, e como os valores éticos são distorcidos pela competição feroz. Com uma narrativa rica e intricada, revisitamos os eventos históricos que marcaram a História da Inglaterra enquanto exploramos as complexidades das relações humanas num contexto de poder, ambição e traição. Mantel utiliza uma prosa lírica e intimista, que permite ao leitor penetrar na mente dos personagens, revelando as suas motivações, medos e vulnerabilidades. A autora desafia a dicotomia entre herói e vilão, apresentando Cromwell como um homem multifacetado, cujas decisões morais são tão ambíguas quanto os jogos políticos que o cercam. Esta abordagem mostra a fragilidade das alianças e expõe a brutalidade duma época em que até os laços familiares podiam desfazer-se em nome da sobrevivência. Além de relatar a história dum homem no epicentro de eventos históricos, lança luz sobre o quanto influenciou as mudanças na Inglaterra do seu tempo e a forma como ajudou o rei a aproximar-se da religião em que acreditava e que gostaria de ver implementada no seu país. 


"O que é a vida de uma mulher? Não pensem que, por não ser um homem, ela não precisa de lutar. O quarto de dormir é o seu pátio de justas, onde mostra o que vale, e o seu teatro de guerra é o quarto isolado onde ela dá à luz."  


O Espelho e a Luz é uma obra que não só fecha um ciclo, como ainda eleva a narrativa histórica a um patamar de excelência literária. Mantel consegue, de maneira excepcional, entrelaçar a complexidade política da Inglaterra Tudor com os dilemas pessoais e morais do seu protagonista, tornando Cromwell uma figura ao mesmo tempo fascinante e trágica. Este volume final culmina num arco narrativo magistral, onde o desenvolvimento do personagem é tão intricadamente ligado aos eventos históricos que se tornam quase indissociáveis. Esta é mesmo uma conclusão digna para a trilogia, consolidando a obra como um marco na literatura histórica contemporânea e solidificando o lugar de Hilary Mantel como uma das grandes vozes da sua geração. São quase novecentas páginas que nos conduzem pelos últimos anos de Cromwell, que me proporcionaram uma visão bem diferente deste homem controverso e que tanta falta fez a Henrique VIII depois de ter caído em desgraça. 


No fundo, Cromwell, figura complexa e multifacetada, emerge como o arquétipo do político astuto do século XVI, capaz de ultrapassar as suas origens humildes e alcançar o lugar de homem de confiança do rei, que o coloca muito acima da sua posição de nascimento. O legado de Cromwell na História é incontornável e a sua trajetória meteórica continua a provocar debates sobre as complexas dinâmicas de poder que moldaram a Inglaterra moderna. A trilogia solidifica Cromwell como um personagem eterno, deixando um desejo de saber ainda mais sobre a veracidade da vida misteriosa deste homem tão peculiar, inteligente e capaz de chegar onde poucos sonharam chegar. Está certamente no topo de experiências de leituras deste ano e só posso recomendar a leitura para todos os que apreciam uma narrativa rica em detalhes históricos, sobretudo no que toca à Inglaterra Tudor e à corte de Henrique VIII. 


Agora, quero convidar-te a partilhar a tua opinião! Já leste a trilogia de Hilary Mantel? O que achaste da construção da figura de Thomas Cromwell? Qual o teu volume favorito? Que outras obras da autora recomendas? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog 


Wook | Bertrand 

quinta-feira, 31 de outubro de 2024

10 Livros Assustadores para ler no Halloween

 

Uma mesa decorada com abóboras esculpidas artisticamente, iluminadas por velas, criando uma atmosfera sombria e evocativa, perfeita para o Halloween. A imagem serve como introdução à lista de 10 livros assustadores que vão arrepiar e entretê-lo nesta temporada de sustos.

O Halloween chegou e nada melhor do que mergulhar numa boa história de terror para entrar no clima da noite mais arrepiante do ano. Para os amantes de livros, esta época é uma oportunidade perfeita para explorar narrativas sombrias, que nos fazem sentir a adrenalina a pulsar e as emoções à flor da pele. Com personagens intrigantes, ambientes macabros e tramas surpreendentes, os livros de terror transportam-nos para universos perturbadores onde as fronteiras entre a realidade e a fantasia se desfazem. 


Buy Me A Coffee

Hoje, reuni uma lista de 10 livros assustadores que prometem deixar-te colada às suas páginas até ao último minuto, com a luz acesa e o coração acelerado. Cada obra é uma viagem ao desconhecido, repleta de mistérios, criaturas sobrenaturais e reviravoltas de tirar o fôlego. Prepara-te para sentir calafrios e até descobrir que o verdadeiro terror pode estar bem mais perto do que imaginas. Vem nesta jornada literária e escolhe a tua próxima leitura de Halloween! 


1. Frankenstein, de Mary Shelley

Foi no estranho ano de 1816, o ano sem Verão, que a escritora Mary Shelley, depois de um sonho - ou seria um pesadelo? -, deu vida ao terrível monstro de Frankenstein, a primeira obra de ficção científica da história. O livro chegou, em 1818, às livrarias e o mundo nunca mais foi o mesmo... 

Frankenstein ou O Prometeu Moderno, simultaneamente um thriller gótico e um romance filosófico, conta-nos, através das cartas do capitão Robert Walton à sua irmã, a história do estudante Victor Frankenstein que, obcecado com a descoberta do segredo da criação da vida, cria um ser aterrador que acaba por abandonar à sua sorte. Solitário, incompreendido, maltratado e desprezado por todos, a criatura de Frankenstein lança-se numa jornada de busca por humanidade e amor, mas também de vingança contra o seu criador. 

Esta luta entre um monstro e o seu criador, entre o normal e o estranho, entre aquilo que separa o ser humano e a sua criação tem sido longamente tratada pela cultura pop e é, hoje, com as questões em torno da inteligência artificial, mais actual do que nunca. 


Wook | Bertrand 


Imagem atmosférica de capa para o livro 'Frankenstein' de Mary Shelley, destacada por um fundo roxo profundo. Raios brancos iluminam o cenário, enquanto uma lua cheia paira no céu, adornada por uma mão preta que evoca mistério e terror, refletindo a temática sombria da obra clássica.

2. O Fantasma da Ópera, de Gaston Leroux

Era uma vez a inocência e a obsessão... 

Ópera de Paris, século XIX. Um fantasma habita os subterrâneos, assombra o teatro e dá orientações de encenação aos diretores. Poderia ser uma comédia, se o amor por Christine não o transformasse numa sombra cadavérica que o leva a cometer os mais horrendos atos. 


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Imagem de uma máscara branca delicadamente decorada, simbolizando o mistério e a dualidade do personagem principal de 'O Fantasma da Ópera' de Gaston Leroux. A máscara repousa sobre um fundo escuro, evocando a atmosfera sombria e intrigante da história, ideal para o clima de Halloween.


3. Entrevista com o Vampiro, de Anne Rice

Obra já clássica no seu género, Entrevista com o Vampiro é o primeiro volume da saga «Crónicas dos Vampiros» e granjeou o estatuto de livro de culto, comparável a Drácula de Bram Stoker. 

Das plantações oitocentistas do Luisiana aos becos sombrios e cenários sumptuosos de Paris, do Novo Mundo à Velha Europa, Claudia e Louis fogem de Lestat, o seu criador e companheiro imortal. E o cruel vampiro que tirara partido do desespero de Louis e da fragilidade da órfã Claudia, no bairro francês de Nova Orleães assolada pela peste, move-lhes uma perseguição sem tréguas no submundo parisiense, entre a trupe Théâtre des Vampires do misterioso Armand e criaturas das trevas. 

É com esta mescla de sangue, violência e erotismo ímpares, no pano de fundo da reflexão sobre a condição trágica que é a do vampiro condenado à imortalidade, que Anne Rice narra uma extraordinária história em que a crueldade e os sentimentos tenebrosos que percorrem as páginas resultam numa maravilhosa sinfonia poética que viria a inspirar muitos escritores, como Stephenie Meyer. 


Wook | Bertrand 


Foto de capa do livro 'Entrevista com o Vampiro' de Anne Rice, destacando um homem sombrio em primeiro plano, contra um fundo negro. Ao seu lado, uma rosa vermelha simboliza a dualidade entre beleza e terror, refletindo a profunda narrativa sobre a vida e as emoções de um vampiro.

4. A Volta do Parafuso, de Henry James 

Uma jovem mulher é contratada por um homem que assumiu a responsabilidade pelos seus sobrinhos após a morte dos seus pais. Miles frequenta um colégio, enquanto Flora, a sua irmã mais nova, vive com Sra. Grose, a governanta, em Bly. O tio das duas crianças não está interessado em criá-las e cede à nova tutora todo o controlo, instruindo-a explicitamente a não o contactar de forma alguma. 

Um dia, Miles regressa da escola, após a chegada de uma carta do diretor, declarando ter sido expulso. Miles nunca fala sobre o assunto, e a governanta hesita em levantar a questão. Ela receia que haja algum segredo horrível por detrás da expulsão, mas está demasiado encantada pelo rapaz para querer levantar o assunto. 


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Ilustração sombria de uma criança loura dormindo em um ambiente inquietante, inspirada no livro 'A Volta do Parafuso', de Henry James. A imagem evoca uma atmosfera de suspense e mistério, perfeita para o clima de Halloween.

5. Carrie, de Stephen King

Cinquenta anos depois da primeira edição, esta continua a ser a história de Carrie White, a rapariga inadaptada do liceu em Chamberlain, no Maine, que descobre gradualmente que consegue provocar o movimento de objetos apenas com o poder da mente. O seu dom, mas também a sua maldição, é firmemente reprimido, como tudo o resto em Carrie. Subjugada por uma mãe dominadora e ultrareligiosa e atormentada pelos colegas na escola, o seu desejo para se integrar conduzirá a um confronto dramático durante a noite do baile de finalistas. 


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Imagem de fundo negro com chamas laranja iluminando a silhueta de uma mulher, representando a capa do livro 'Carrie' de Stephen King. A obra, que explora temas de vingança e poder sobrenatural, é perfeita para quem busca uma leitura aterrorizante neste Halloween.

6. Drácula, de Bram Stoker 

Uma verdadeira obra-prima, Drácula transcendeu gerações, linguagem e cultura para tornar-se um dos romances mais populares alguma vez escritos. É por excelência uma história de suspense e horror, que ostenta um dos personagens mais terríveis que já nasceram na literatura: o conde Drácula, um espectro trágico e noturno que se alimenta do sangue dos vivos, e cujas paixões diabólicas depredam os inocentes, os desamparados, e os belos. Mas Drácula também se destaca como uma saga alegórica de um ser eternamente amaldiçoado cujas atrocidades noturnas refletem o lado sombrio da era extremamente moralista em que foi originalmente escrito - e os desejos corruptos que continuam a atormentar a condição humana moderna. 


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Imagem de capa do livro 'Drácula' de Bram Stoker, apresentando um fundo vermelho intenso, simbolizando o terror e o mistério da história, com impactantes asas de morcego pretas que evocam a presença inquietante do vampiro mais icônico da literatura.

7. Contos do Além, de Agatha Christie

A coletânea das histórias mais arrepiantes da Rainha do Crime. 

Visões mediúnicas, espectros que pairam nas sombras, encontros com seres divinos, misteriosas mensagens do Além, e até uma estranha troca entre um homem e um gato... 

Com a presença ocasional de Hercule Poirot e Miss Marple, este volume apresenta-nos o lado mais obscuro da escritora policial mais famosa do mundo. 

Essencial para os amantes do sobrenatural e os admiradores de Agatha Christie. 

Prepare-se para ficar acordado! 


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Capa do livro 'Contos do Além' de Agatha Christie, com fundo negro e tons de roxo. A silhueta de uma casa sombria se destaca ao fundo, evocando uma atmosfera misteriosa e assombrosa, perfeita para o Halloween.

8. Os Contos Mais Arrepiantes de H. P. Lovecraft 

Antes de H. P. Lovecraft, a literatura de horror resumia-se fundamentalmente a vampiros, fantasmas e bruxas. Depois dele, o género nunca mais foi o mesmo. Genial criador de mundos, pai das mais hediondas criaturas cósmicas e de uma Arkham tão real como Lisboa ou Nova Iorque, Lovecraft foi o pioneiro de um horror onde a humanidade é apenas uma centelha de sanidade num vasto universo de maleficência. Uma centelha fugaz que perde esperança de conto para conto. 

A sua visão do horror foi de tal forma influente que está presente na obra de Stephen King, Neil Gaiman, Guillermo del Toro, Alan Moore e muitos outros criadores, da literatura ao cinema, da BD à música. Até Stranger Things, série-sensação do momento, é uma homenagem ao imaginário de Lovecraft. 

Nesta edição de colecionador, ilustrada por 22 artistas nacionais, são apresentados os contos mais arrepiantes de Lovecraft, dando-nos a conhecer a evolução do seu estilo narrativo único e consolidando-o como um dos autores mais visionários da literatura americana. 


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Capa do livro "Os mais arrepiantes contos de H. P. Lovecraft", destacando um fundo roxo envolvente adornado com relevos prateados de elementos macabros, como tentáculos, criaturas sombrias e símbolos místicos, refletindo a atmosfera de terror e mistério característicos das obras do autor.

9. A Maldição de Hill House, de Shirley Jackson

Adaptado com êxito para cinema e televisão, A Maldição de Hill House é um dos mais perfeitos exemplos de terror e suspense em literatura. 

John Montague, especialista e estudioso do oculto, chega a Hill House em busca de algo concreto que possa provar a existência do sobrenatural. Acompanham-no, Theodora, a sua assistente, Luke, o futuro herdeiro da propriedade, e Eleanor, uma mulher solitária e frágil, já com experiência de encontros com poltergeists. Contudo, aquilo que, inicialmente, era apenas uma experiência em torno de fenómenos inexplicáveis torna-se, em pouco tempo, uma corrida pela sobrevivência, à medida que Hill House ganha poder e escolhe, de entre eles, aquele que quer para si. 

A Maldição de Hill House é um dos mais perfeitos exemplos do terror e do suspense em literatura. Fonte de inspiração para nomes como Stephen King ou Guillermo del Toro, confessos admiradores de Shirley Jackson, a história foi adaptada por duas vezes ao cinema em filmes de grande sucesso, bem como à televisão. 


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Capa do livro 'A Maldição de Hill House' de Shirley Jackson, com fundo azul e uma ilustração de uma casa amarela. Uma mão sinistra emerge pela porta, evocando uma sensação de mistério e terror.

10. Todos os Contos, de Edgar Allan Poe

Edgar Allan Poe é um dos autores mais publicados do mundo, conhecido pela genialidade expressa também nos seus famosos contos de terror e em algumas das histórias de detetives mais macabras jamais escritas, como A Queda da Casa de Usher, Os Crimes da Rua Morgue ou O Escaravelho de Ouro. Notável mestre do suspense, Poe também era poeta e, como demonstram os seus contos sobre hipnotismo e viagens no tempo, foi um pioneiro da ficção científica. 

A presente edição reúne todos os contos deste autor clássico da literatura universal e decorre da edição ilustrada anteriormente publicada em dois volumes. 


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Retrato de Edgar Allan Poe em um fundo intrigante de riscas cinzentas e brancas, simbolizando a atmosfera sombria e misteriosa de suas obras. A imagem evoca o espírito de 'Todos os Contos', uma coletânea que mergulha os leitores em histórias de terror e suspense, perfeitas para o Halloween.

Concluindo, a literatura de terror oferece um vasto universo de histórias que desafiam a imaginação e provocam arrepios. Neste Halloween, mergulha nos enredos sombrios e personagens memoráveis que habitam estas páginas. Quer sejas um fã do horror psicológico, dos monstros clássicos ou duma boa dose de suspense, a lista que apresentei é uma porta de entrada para experiências que vão muito além do susto, explorando as profundezas da mente humana e os medos que nos rodeiam. No entanto, se preferes ocupar a tua noite de Halloween em frente à televisão, tens aqui 10 Filmes para ver no Halloween


Espero que esta seleção inspire as tuas leituras neste Halloween, proporcionando-te uma noite memorável de arrepio e fascínio. Prepara-te para enfrentar as tuas próprias sombras e, quem sabe, descobrir um novo autor favorito ou um clássico do terror que te acompanhará nas noites frias de Outono. Qual a sugestão que mais chamou a tua atenção? Alguma que tenhas lido e recomendes? Deixa o teu comentário abaixo! 

terça-feira, 29 de outubro de 2024

#Livros - Todos os Contos, de Clarice Lispector

 

A capa do livro "Todos os Contos", publicado pela Relógio d'Água, apresenta uma poderosa imagem em preto e branco do rosto de Clarice Lispector. A fotografia revela um olhar profundo e penetrante, com especial ênfase em seus olhos expressivos, que parecem carregar as complexidades e nuances da psique humana, refletindo uma intensa batalha entre a vulnerabilidade e a força. O fundo neutro destaca ainda mais a silhueta da autora, convidando o leitor a mergulhar no mundo intrincado de suas narrativas. O design minimalista da capa complementa o conteúdo do livro, que reúne a essência da literatura de Lispector, marcada pela exploração de temas existenciais e pela busca incessante por significado.

Sinopse

Autora de romances e contos que figuram entre os mais emblemáticos da literatura brasileira, Clarice Lispector é considerada uma das mais importantes escritoras do século XX. A sua popularidade alcançou níveis surpreendentes nas últimas décadas, especialmente após o fenómeno da internet, mas a sua figura e a sua obra seguem exercendo sobre leitores o mesmo e fascinante estranhamento que causaram desde a sua estreia literária, em 1943. Nesta coletânea, que reúne pela primeira vez todos os contos da autora num único volume, organizado pelo biógrafo Benjamin Moser, é possível conhecer Clarice por inteiro, desde os primeiros escritos, ainda na adolescência, até as últimas linhas. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Clarice Lispector, nascida em 1920 na Ucrânia, chegada ao Brasil ainda criança, tornou-se numa das vozes mais influentes da literatura brasileira do século XX. Formada em Direito, Lispector cedo se dedicou à escrita, tendo publicado o seu primeiro romance, Perto do Coração Selvagem, em 1943, que imediatamente a colocou como uma autora de destaque. A sua prosa introspectiva e intensa, marcada por uma linguagem única e uma profunda exploração da psicologia humana, revolucionou a narrativa moderna no Brasil. Em Todos os Contos, temos uma obra que reúne a essência multifacetada da escrita da autora, apresentando uma coletânea significativa das suas narrativas breves que exploram a complexidade da experiência humana. Os contos abrangem temas como a identidade, a solidão e o amor, refletindo a habilidade única da autora para capturar emoções e nuances da existência. 


Cada história é um convite à reflexão, revelando a profundidade psicológica e a sensibilidade que tornaram Lispector numa das vozes mais icónicas da literatura brasileira. Através de Todos os Contos, somos conduzidos por um universo onde o quotidiano se mistura ao extraordinário, e onde cada palavra é carregada de significado e beleza. Estes contos foram escritos em diferentes períodos da vida da autora, entre as décadas de 1940 e 1970, refletindo a evolução do seu estilo e das suas inquietações existenciais. Muitos destes contos foram publicados inicialmente em revistas e jornais, embora depois tenham sido reaproveitados e, algumas vezes, colocados em livros de contos da autora, depois de serem revistos pela mesma. Esta coletânea, que demorou muito a ser construída e publicada, é organizada de maneira a proporcionar uma imersão profunda na multiplicidade de temas e estilos que permeiam a obra da autora. Os contos estão dispostos de forma cronológica e são mais de oitenta, com uma diversidade notável. 


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Ao longo das narrativas, os personagens defrontam-se com as suas próprias existências, muitas vezes em momentos de introspecção e crise. Através de monólogos internos e situações quotidianas, os contos abordam a dualidade entre o eu e o outo, o íntimo e o externo, sugerindo que a verdadeira identidade não é uma construção fixa, mas um processo dinâmico e multifacetado. A solidão e o isolamento também são temas recorrentes na sua obra. Vamos encontrar personagens que vivem um constante combate interno, muitas vezes imersos em mundos próprios, desconectados da realidade que os cerca. A solidão não é aqui apenas uma condição física, mas uma experiência psicológica que revela a fragilizada relação do ser humano consigo mesmo e com o outro. Em muitos contos, a procura por uma conexão genuína transforma-se num labirinto de angústia e incompreensão, onde os personagens parecem escravizados pelas suas próprias emoções e pensamentos. 


"Desde pequena tinha visto e sentido a predominância das ideias dos homens sobre a das mulheres. Mamãe antes de casar, segundo tia Emília, era um foguete, uma ruiva tempestuosa, com pensamentos próprios sobre liberdade e igualdade das mulheres. Mas veio papai, muito sério e alto, com pensamentos próprios também, sobre... liberdade e igualdade das mulheres. O mal foi a coincidência de matéria. Houve um choque. E hoje mamãe cose e borda e canta no piano e faz bolinhos aos sábados, tudo pontualmente e com alegria. Tem ideias próprias, ainda, mas se resumem numa: a mulher deve seguir o marido, como a parte acessória segue a essencial." 


São ainda explorados aspectos profundos das relações humanas, revelando a complexidade e a fragilidade dos vínculos que unem as pessoas. Ao examinar as subtilezas dos relacionamentos familiares, amorosos e de amizade, a autora convida o leitor refletir sobre a dualidade da proximidade e da distância, mostrando que, muitas vezes, mesmo aqueles que estão mais próximos podem estar irremediavelmente distantes. Incontornável é também a forma profunda e sensível como explora a condição feminina. As personagens femininas são, quase sempre, as protagonistas com os seus dilemas complexos e até confusos. Clarice Lispector coloca a nu as nuances da experiência feminina, abordando questões como o desejo, a maternidade, a sexualidade e a insatisfação, revelando como essas vivências moldam a vida interna das suas protagonistas. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Quincas Borba


Clarice apresenta um estilo de escrita singular que mistura crueza e sensibilidade de maneira extraordinária. A sua utilização da linguagem é ao mesmo tempo visceral e poética, criando uma atmosfera onde as emoções são expostas na sua forma mais pura e, por vezes, dolorosa. A autor recorre a uma prosa intimista, repleta de subtilezas, que força o leitor a confrontar as complexidades da condição humana. O contraste entre a dureza da realidade e a delicadeza da percepção cativa-nos e faz com que ler Clarice se torne num vício. Além disso, a combinação de introspecção, fluxo de consciência e simbolismo enriquece a leitura e suscita uma conexão íntima entre o leitor e as inquietações existenciais presentes em cada conto. Comecei a ler Clarice, precisamente, pelos contos, com Laços de Família, e tem sido um caminho de sucesso para começar a mergulhar nesta autora tão peculiar e que aconselho aos que têm receio de iniciar a sua descoberta. 


"No fundo sou sozinha. Há verdades que nem a Deus eu contei. E nem a mim mesma. Sou um segredo fechado a sete chaves. Por favor me poupem. Estou tão só." 


A verdade é que esta coletânea oferece uma visão multifacetada da obra da autora, desde os primeiros anos até à maturidade. Lispector desafia-nos a mergulhar em universos íntimos e frequentemente desconcertantes, onde o trivial se entrelaça com o sublime. Para mim, foi mais uma experiência de leitura transformadora, quase visceral. Cada conto revela um universo particular, onde personagens complexos enfrentam dilemas, solidões e epifanias que acabam por, inevitavelmente, encontrar paralelo na minha própria vida. Lispector transcende o mero contar de histórias, ela provoca reflexões e inquietações nos seus leitores, com uma obra que não se esgota com apenas uma leitura, sendo inevitável releituras ao longo da vida, que trarão, com certeza, outras reflexões. 


Parece-me uma leitura ideal para os que apreciam a literatura que desafia e provoca, que explora temas universais, com a magistral voz duma das maiores escritoras de língua portuguesa. Agora, quero convidar-te a partilhar as tuas impressões sobre Todos os Contos e Clarice Lispector. Já leste os contos da autora? Qual o que mais te marcou? Que aspecto do estilo de Clarice mais te impressiona? Já te aventuraste nos romances? Que outras obras da autora me recomendarias? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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Wook 

quinta-feira, 24 de outubro de 2024

#Séries - Doce

 

Quatro actrizes sentadas num sofá, representando as vocalistas da banda feminina "Doce". Elas estão vestidas com roupas coloridas e estilos retro, exibindo sorrisos e expressões de camaradagem. Ao fundo, um placard de neon rosa brilha com o título "DOCE", criando uma atmosfera vibrante e nostálgica que reflete o espírito da série.

Sinopse

A história da maior girls band de sempre numa ficção realista, surpreendente e emocionante. Ana Marta Ferreira, Bárbara Branco, Carolina Carvalho e Lia Carvalho dão vida às Doce. 

Série sobre uma das mais icónicas bandas portuguesas, as DOCE. 

As Doce foram uma das primeiras "girls band" da Europa, abrindo caminho não só no meio musical, como quebrando barreiras e preconceitos na sociedade tradicional portuguesa. 

A série é baseada em acontecimentos reais, acompanhando todo o percurso da banda desde o seu aparecimento em 1979, até ao fim da formação inicial. 

As Doce sobreviveram a todos os críticos e deixaram a sua marca numa geração e num país. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Doce é uma minissérie portuguesa, lançada em 2021, no seguimento do filme Bem Bom, que mergulha no universo da icónica banda feminina que fez sucesso nos anos 80 em Portugal. A série retrata a trajetória das quatro integrantes, abordando as suas vivências, desafios e conquistas num cenário musical dominado por homens, ao mesmo tempo que explora a dinâmica dos relacionamentos entre elas. Com uma abordagem que combina drama, música e uma boa dose de nostalgia, Doce celebra os sucessos da banda, que ouvimos até aos dias de hoje, e ainda destaca temas como a amizade, a ambição e os bastidores da indústria da música no pós-revolução. A produção cativa o público tanto pela banda sonora, repleta de hits que marcaram uma geração, quanto pelo retrato humano das artistas por trás do fenómeno. 


A banda é um marco na história da música pop em Portugal, destacando-se pelo seu som cativante e as suas letras que refletiam a efervescência cultural da época e a irreverência das suas integrantes. Composta por quatro talentosas vocalistas - Helena Coelho, Fátima Padinha, Laura Diogo e Teresa Miguel -, as Doce rapidamente conquistaram o coração do público, tornando-se uma das primeiras bandas femininas a atingir grande popularidade. A sua relevância estende-se para lá do sucesso comercial. Afinal, a banda foi pioneira ao abrir caminho para outras mulheres na indústria musical, desafiando estereótipos e promovendo uma nova imagem de empoderamento feminino. Ao longo dos sete episódios, acompanhamos a formação do grupo, as suas experiências e os sacrifícios pessoais que cada uma dela faz nesse percurso. 


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A narrativa desenrola-se em torno dos grandes hits da banda, entrelaçando momentos de euforia e tensão, com brigas internas, romances e a pressão da exposição mediática. A minissérie mergulha no universo da banda enquanto explora temas universais como a amizade, a superação e a inevitável busca pela fama. As protagonistas, que são as quatro vocalistas da banda, capturam a essência e a complexidade do Portugal dos anos 80, um país onde o preconceito e o moralismo ainda condenavam comportamentos modernos e que hoje consideramos normais. Helena e Fátima eram as cantoras mais talentosas da banda, Teresa estava encarregue das coreografias da banda e Laura, Miss Fotogenia no concurso Miss Portugal em 1979, que foi incluída no grupo por ser bonita e loira, sem ter qualquer experiência musical. Juntas, estas quatro mulheres representaram o talento musical, mas também a força e a liberdade das mulheres, para quem a revolução ainda demorou a chegar. 


As quatro atrizes que interpretam as vocalistas da banda "Doce" na mini-série portuguesa de 2021 estão reunidas em um ambiente vibrante. Cada uma delas exibe um estilo único que reflete a estética dos anos 80, com roupas coloridas e acessórios ousados. Sorridentes e cheias de energia, elas representam a força e a amizade que caracterizam a banda, cercadas por um cenário que remete aos shows icônicos da época. A imagem captura a essência da música, da união e da luta pelo reconhecimento das mulheres na indústria musical.

O desenvolvimento dos personagens é um dos aspectos mais cativantes, em comparação com o filme que deixou de lado muitos aspectos. Através dos seus altos e baixos, vemos cada membro enfrentar desafios pessoais e profissionais que moldam as suas identidades e relações interpessoais. Vemos a ambição da Fátima, as inseguranças da Helena, a relação tóxica da Teresa e a sua solidão e, por fim, o escândalo sexual que envolveu Laura Diogo a dada altura e que teve consequências na forma como se retirou da vida pública depois do final da banda. As actrizes escolhidas para interpretar os elementos da banda - Lia Carvalho, Ana Marta Ferreira, Bárbara Branco e Carolina Carvalho - conseguiram capturar a essência dessas mulheres especiais de forma brilhante. Cada actriz traz uma singularidade que enriquece a representação, conseguindo misturar a leveza e a intensidade da juventude daquela época com os desafios e os dilemas enfrentados. 


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A fotografia desta produção nacional é utilizada de forma a capturar a essência vibrante e noltálgica da década de 1980, ressaltando as cores vivas e o estilo estético da época, que se entrelaçam com a trajetória das protagonistas. As composições visuais, que variam entre closes intimistas e planos amplos que evocam a atmosfera dos concertos pelo país, ajuda a transmitir a emoção e a intensidade da experiência musical da banda. A banda sonora, repleta dos sucessos da própria banda Doce, funciona como uma máquina do tempo que transporta o telespectador para um período em que a música pop portuguesa estava em ascensão. Por fim, a ambientação rica em detalhes, desde os camarins de espectáculos até aos ensaios e festas, recria perfeitamente o ambiente que cercava a vida de uma girlsband em ascensão, ancorando a narrativa numa realidade palpável e cativante. 



Ao mostrar a ousadia, irreverência, resiliência e determinação destas mulheres, Doce retrata a busca pela realização dos sonhos, e ainda inspira novas gerações a reivindicarem o seu espaço e voz no mundo da música e na sociedade em geral. Temos aqui um alerta de que o talento feminino deve ser celebrado e que a luta por igualdade e respeito continua a ser uma jornada coletiva e necessária na indústria do entretenimento. Deste modo, a minissérie vem reviver a história da icónica banda feminina portuguesa, servindo como um importante marco cultural ao destacar a luta e as conquistas das mulheres na indústria musical dos anos 80. Acaba por ser uma homenagem muito merecida a um grupo de mulheres que deixam um legado duradouro e impactaram a sociedade portuguesa ainda muito conservadora. Através das suas canções contagiantes, com letras disruptivas e libertadoras do papel da mulher, com figurinos onde a sensualidade era exposta como uma declaração de que seriam donas dos seus corpos - da autoria do talentoso estilista José Carlos -, com uma atitude destemida, a banda abriu mentalidades e fez com que muitas mulheres se sentissem representadas e capacitadas para assumirem os seus destinos. 


Vi e gostei do filme, mas gostei ainda mais da série, que mostrou muito mais sobre a trajetória desta banda tão especial na música portuguesa. Se gostas de música, histórias inspiradoras e retratos de superação, não podes deixar de assistir à minissérie Doce. Com atuações marcantes e uma banda sonora muito nostálgica, podes ter a certeza de que te vais emocionar e divertir com esta história rica em amizade, criatividade e empoderamento feminino. Agora, quero saber a tua opinião! Viste a série? O que mais gostaste nesta produção? Qual momento ou personagem te marcou? Deixa o teu comentário abaixo! 

terça-feira, 22 de outubro de 2024

#Livros - O Livro Negro, de Hilary Mantel

 

A capa do livro "O Livro Negro" (título original "Bring Up the Bodies") de Hilary Mantel apresenta um design impactante com um fundo vibrante em tons de laranja e verde. Em destaque, o título do livro e o nome da autora estão dispostos em uma tipografia elegante, refletindo a atmosfera histórica e dramática da obra. A composição visual sugere uma mistura de emoção e complexidade, convidando o leitor a mergulhar nas intrigas da corte Tudor e na vida de Thomas Cromwell. A paleta de cores empolgante e o estilo sofisticado da capa tornam este livro uma peça marcante na estante.

Sinopse

O Livro Negro foi distinguido com prestigiado Man Booker Prize em 2012, tornando Hilary Mantel o primeiro autor britânico e a primeira mulher a receber por duas vezes este importante prémio literário. 

Em 1535, Thomas Cromwell é o primeiro-ministro de Henry VIII. A situação favorável em que se encontra coincide com a ascensão de Anne Boleyn, a nova mulher do rei. Mas como Anne não consegue dar um herdeiro ao rei, Cromwell acaba por assistir, vigilante, ao enamoramento de Henry por Jane Seymour. 

Thomas Cromwell tem de encontrar uma solução que satisfaça o rei, mas que também proteja a nação e ao mesmo tempo assegure a sua carreira. Mas nem ele nem o rei sairão incólumes da encenação sangrenta que marca os últimos dias de Anne Boleyn. 

Um estrondoso feito literário, O Livro Negro narra a história de um dos mais terríveis acontecimentos da História, contada por uma das grandes romancistas do nosso tempo. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

O Livro Negro, de Hilary Mantel, é o segundo volume da trilogia que retrata a vida de Thomas Cromwell, o astuto conselheiro de Henrique VIII. Publicado em 2012, o livro rapidamente conquistou a crítica e o público, consolidando a reputação de Mantel como uma das grandes vozes da literatura contemporânea. Aqui, a autora continua a explorar a complexa intriga da corte inglesa, os dilemas morais e as maquinações políticas que cercam o reinado do controverso Henrique VIII, aprofundando ainda mais a rica tapeçaria de personagens e eventos emblemáticos que fazem parte desta fascinante era. Com esta trilogia, Hilary Mantel ganhou notoriedade internacional, com a sua abordagem única à História que revitalizou o interesse pela dinastia Tudor e ainda desafiou as convenções narrativas, permitindo uma nova compreensão dos personagens históricos. 


Iniciado em Wolf Hall, onde somos apresentados à infância e juventude de Cromwell, assim como à sua ascensão como conselheiro influente, O Livro Negro aprofunda-se nas intrigas políticas e pessoais que cercam o casamento do rei com Anne Bolena. A trama, marcada por tensões e traições, reflete a complexidade das relações de poder na Inglaterra do século XVI, enquanto prenuncia os eventos que levarão à decadência de Ana e à ascensão de novos personagens e circunstâncias chave que serão explorados em O Espelho e a Luz. Passada na década de 1530, vemos como, à medida que a relação de Henrique e Ana se deteriora, Cromwell se vê envolvido num jogo pérfido de traições e conspirações, onde as lealdades são constantemente testadas. 


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Como já referido, Thomas Cromwell, o astuto e ambicioso conselheiro do rei, é o protagonista cujo intelecto e pragmatismo o levam a navegar habilmente nas águas traiçoeiras da política da sua época. A sua relação com Henrique VIII é central, marcada por uma lealdade estratégica e uma busca contínua por poder. Ana Bolena, a rainha polémica, é outra figura central, cujas aspirações e vulnerabilidades se entrelaçam com as manobras de Cromwell, criando uma dinâmica de tensão e dependência, ainda que involuntária. A obra explora, com maestria como o poder é conquistado e exercido, oscilando entre alianças e traições. A luta pelo controlo político é implacável, que acontece num ambiente de tensão constante, muitas vezes alimentada pelo próprio rei, de quem provém todo o poder e influência e que pode levar à ruína e à destruição de famílias inteiras. 


"Ele pensa, Catarina deve ser da minha idade ou à volta disso. Mas a vida é mais severa para com as mulheres, particularmente para com mulheres que, como Catarina, foram abençoadas com muitos filhos e os viram morrer." 


Como aconteceu no livro anterior, Hilary Mantel apresenta uma escrita magistral que combina uma narrativa envolvente com uma linguagem rica e evocativa. Marcada por uma atenção meticulosa aos detalhes, a sua prosa transporta-nos para a Inglaterra do século XVI com uma vivacidade impressionante. A sua capacidade de criar cenas claras é complementada por um fluxo narrativo que mistura passado e presente, oferecendo um vislumbre das verdadeiras motivações do nosso protagonista. A perspectiva narrativa é profundamente imersiva, sendo predominantemente na primeira pessoa, o que nos permite entrar na mente de Cromwell e observar não só as suas acções, mas também as suas reflexões, dúvidas e motivações. Esta escolha narrativa proporciona uma conexão íntima e intensa com o protagonista, revelando as nuances do seu carácter e a profundidade das suas ambições, enquanto enfrenta os desafios impostos pelo corte e pelas constantes mudanças de lealdade. 


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Quanto aos personagens, tenho de destacar o nosso protagonista, Thomas Cromwell, de origens humildes, ascende ao poder duma forma surpreendente, e que só agora entendo o quanto é inaudito depois desta leitura. Mantel retrata-o como um homem guiado por lealdades instáveis e um profundo entendimento da natureza humana, o que o torna tanto um manipulador quanto um protetor. São nos oferecidos vislumbres da sua vulnerabilidade, que revelam um homem que, apesar da sua frieza estratégica, carrega cicatrizes emocionais do seu passado. Com a progressão da história, a autora expõe brilhantemente as complexidades emocionais e políticas de cada figura, ao mostrar como as suas escolhas moldam não só os seus destinos, mas também o futuro da monarquia inglesa. 


"Sempre teve Anne em grande consideração como estratega. Nunca acreditou nela como uma mulher apaixonada, espontânea. Tudo o que faz é calculado, como tudo o que ele faz. Nota, como tem notado todos estes anos, o cuidadoso emprego dos seus olhos faiscantes. Pergunta a si mesmo o que será necessário para a pôr em pânico." 


Depois de termos assistido à queda de Catarina de Aragão e à ascensão de Anne Bolena no coração do rei em Wolf Hall, neste segundo volume da trilogia surge uma atmosfera de tensão crescente à medida que o retrato de Henrique VIII se torna mais sombrio e as intrigas em torno de Anne se intensificam, com a aprovação do rei e a ajuda do seu conselheiro, que tudo fará para que o seu rei tenha o que deseja. Tudo isto permeado pelo clima perigoso relativo às reformas na Igreja da Inglaterra, onde cada avanço tem de ser feito com ponderação, pois a qualquer momento o rei poderá mudar de ideias e voltar a considerar como heresias os novos pensamentos. 


Em suma, esta foi uma experiência de leitura profundamente envolvente e imersiva. A autora constrói uma narrativa rica em detalhes históricos, além de nos oferecer uma visão íntima dos dilemas morais e das complexidades humanas que permeiam a política e o poder na era Tudor. Através dos olhos de Thomas Cromwell somos levados a observar as nuances da lealdade e da traição, e a fragilidade das relações humanas num cenário tão volátil quanto a corte de Henrique VIII. Esta trilogia é uma leitura indispensável para os amantes de História, sobretudo os fascinados pela era Tudor, como eu sou, e que não resistem a um bom romance histórico. A prosa elaborada de Mantel e as suas personagens multifacetadas também atrairão fãs de ficção literária que procuram profundidade psicológica e reflexão sobre poder, ambição e moralidade. Se procuras uma leitura que estimule a mente e o espírito, tens aqui o livro certo. 


Agora quero-te convidar a partilhares as tuas opiniões sobre este livro incrível. Já leste esta trilogia? O que achaste deste segundo volume? Qual o momento que mais te impactou durante a leitura? Como percebeste a evolução de Thomas Cromwell ao longo da trama? Deixa o teu comentário abaixo! 


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Wook | Bertrand 

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