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quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

#Places - A Taska

 

Prato de lombo de salmão grelhado acompanhado de legumes coloridos e frescos, apresentado de forma apetitosa no restaurante "A Taska" no Montijo.

A Taska, localizada no coração do Montijo, apresenta-se como um espaço acolhedor, que celebra a tradição gastronómica portuguesa. Com uma decoração que combina elementos rústicos e modernos, o restaurante transmite uma atmosfera convidativa e descontraída, ideal para momentos de convívio e apreciação de boas refeições. Comecei a visitar este espaço no Verão, com os colegas de trabalho na hora de almoço, quando o calor pede um peixe grelhado e uma salada leve. As recomendações da malta pesou na decisão, bem como a relativa proximidade do meu local de trabalho, que nos permite ir a pé até lá, sem qualquer problema. 


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O espaço apresenta uma decoração rústica e tradicional, com detalhes em madeira e elementos que remetem à cultura local, criando uma atmosfera familiar e calorosa. Por sua vez, o acolhimento está longe de acompanhar este ambiente do espaço. Não existem sorrisos por parte dos funcionários, que se mostram sempre muito sérios e com um distanciamento que não convida a fazer muitas perguntas ou comentários, para além do estritamente necessário. Após algumas visitas, de certo modo esta interação melhorou, embora nunca se possa considerar que o atendimento é uma mais valia neste restaurante. 


Podes ler também sobre a minha experiência no Marradas 


A verdade é que antes da primeira visita, as minhas expectativas sobre este restaurante eram elevadas, por isso, estava muito curiosa para confirmar se o que diziam se confirmava e se iria traduzir numa experiência agradável e saborosa. No que diz respeito ao menu, ele oferece várias opções de pratos do dia, tanto de carne quanto peixe, com um valor fixo que inclui as entradas, as bebidas e o café. Com uma grelha no exterior, o grande foco deste restaurante são os grelhados na brasa. Como tal, é frequente encontrar propostas como Salmão, Dourada ou Sardinhas na sua oferta que, regra geral, são o tipo de prato que procuramos quando decidimos almoçar n'A Taska. A oferta de pratos de carne também é interessante, com opções como Lagartos de Porco Preto ou Naco de Vitela, embora, na minha opinião, não sejam tão boas como a oferta de peixe. 


otos de pratos do restaurante "A Taska" no Montijo. A imagem mostra um prato de Bacalhau à Brás, com lascas de bacalhau, ovos mexidos, cebola e batata palha, e um prato de Salmão grelhado acompanhado de batatas cozidas, apresentando uma refeição apetitosamente preparada e bem apresentada.

Durante as várias vezes que visitei A Taska, tive a oportunidade de experimentar uma variedade de pratos que refletem bem a gastronomia local. Começo por elogiar as entradas que fazem parte do menu, sempre com pão fresco, as típicas manteigas e azeitonas. No que diz respeito a pratos principais, gostei muito do salmão e da dourada grelhada, e também do Bacalhau à Brás. Todos eles sempre acompanhados de salada bem temperada. No que diz respeito às carnes, experimentei o Naco de Vitela e os Lagartos, que não me convenceram a repetir. O primeiro estava muito seco, o segundo a dose não era tão bem servida como vi noutras visitas com colegas que comeram este prato. Aliás, foram estes Lagartos mal servidos, com uma Raia que não tinha nada para comer que foi servida ao meu colega, bem como a forma como foi recebida esta reclamação que nos fizeram desistir destas visitas semanais. 


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Como já foi referido, o atendimento nunca foi de excelência, mas com este último contratempo ficou evidente que o foco não é o cliente e que estas falhas não se limitam aos funcionários, mas é um reflexo da postura de quem manda na casa. Não foi feito qualquer pedido de desculpa ou tentativa de resolver o problema, nem tão pouco nenhuma intenção de compensar o cliente pela situação desagradável. Logo, depois de andar a ignorar a falta de simpatia natural, os atrasos no atendimento e no serviço, desta vez, não foi possível ignorar o óbvio e continuar a gastar o meu dinheiro num lugar assim, o que resultou em nunca mais regressar a este espaço desde então. 


Infelizmente, esta nunca foi uma experiência verdadeiramente positiva, mas foi piorando consideravelmente ao longo do tempo. O espaço é acolhedor, os pratos, na grande maioria das vezes, são bem confeccionados com produtos frescos e saborosos, mas a falta de atenção no atendimento torna este restaurante uma péssima escolha para quem deseja viver uma experiência memorável. É uma pena, porque tem muito potencial e está bem localizado, além de oferecer preços acessíveis, mas os pontos negativos conseguem apagar o impacto dos positivos e não tenho vontade de lá voltar tão cedo. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conhecias este restaurante? Tens uma experiência diferente n'A Taska? Como avalias a qualidade da comida e do atendimento? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

#Livros - O Segredo dos Segredos, de Dan Brown

 

Capa do livro "O Segredo dos Segredos", de Dan Brown, publicado pela Planeta. A imagem apresenta um fundo azul com uma vista de Praga, destacando-se os famosos contornos da cidade e seu cenário urbano, evocando mistério e fascínio.

Sinopse

O mestre do thriller está de volta com um novo e extraordinário romance - uma obra-prima intensa, repleta de reviravoltas e de enigmas por decifrar, que vai entreter os leitores como só Dan Brown sabe fazer. 

Robert Langdon, prestigiado professor de simbologia, viaja até Praga para assistir a uma palestra inovadora de Katherine Solomon, uma cientista reconhecida no campo da noética, com quem começou recentemente um relacionamento amoroso. Katherine está prestes a publicar uma obra revolucionária, cujas explosivas revelações sobre a natureza da consciência humana ameaçam abalar séculos de crenças estabelecidas. 

Quando um terrível assassino provoca o caos, Katherine desaparece sem deixar rasto e o seu manuscrito é destruído. Desesperado por encontrar a mulher que ama, Langdon embarca numa corrida contra o tempo pela mística Praga, enquanto é implacavelmente perseguido por uma poderosa organização e uma criatura assustadora saída das mais antigas lendas da cidade. 

De Praga a Nova Iorque, passando por Londres, Langdon mergulha nos mundos da ciência mais avançada e da tradição histórica, navegando por um labirinto de códigos e símbolos, até finalmente desvendar uma verdade perturbadora sobre um projeto secreto que mudará para sempre a nossa visão da mente humana. 


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Opinião 

E passados tantos anos, temos de volta Dan Brown com o seu Professor Langdon, com mais um romance de suspense e mistério, género que lhe conquistou leitores ao redor do mundo, graças ao seu estilo de escrita dinâmico e repleto de reviravoltas. Como já nos habitou, O Segredo dos Segredos é um thriller de suspense que combina elementos de ficção histórica, conspiração e mistério, com uma narrativa repleta de enigmas, códigos e pistas que desafiam o leitor a desvendar os seus mistérios, ao mesmo tempo que Langdon luta para sobreviver aos imensos perigos que se aproximam em cada esquina, conseguir salvar a mulher amada e o seu manuscrito e, ainda, proteger uma jovem que se encontra em risco, sem nem ter ideia disso. 


Os principais personagens desempenham papéis cruciais na condução da narrativa e na revelação dos mistérios centrais, com especial destaque para o incontornável Robert Langdon. O professor de simbologia chega-nos instalado em Praga, acompanhado da nova namorada, que é o motivo para se encontrar nesta cidade europeia. A Doutora Katherine é uma cientista e a verdadeira razão que faz girar todo este mistério. A sua área de investigação é algo que nunca tinha ouvido falar, mas que me deixou fascinada e curiosa para saber mais sobre este assunto. Afinal, a noética estabelece que a mente, a consciência não se encontra alojada nos nossos cérebros. Prestes a publicar um livro sobre as suas teorias nesta área, percebe que existem muitos interesses que estão contra o lançamento do seu livro, embora não consiga perceber o real motivo. 


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Outras figuras importantes nesta narrativa são a embaixadora dos Estados Unidos em Praga, uma mulher forte e determinada a fazer a coisa certa, quando se vê envolvida em conspirações perigosas e que colocaram em risco a sua própria equipa na Embaixada; ou a jovem assistente russa da cientista que convida Katherine para uma palestra em Praga, que revela um passado tenebroso e ser um objecto de estudo de valor incalculável. Os cenários do livro também desempenham um papel fundamental na construção do suspense. Logo para começar a cidade de Praga, onde tudo começa e termina, é o local perfeito para um enredo tão misterioso e perturbador. Mas também Nova Iorque e Londres são cidades importantes e onde acontecem conflitos essenciais para desvendar tudo o que se esconde por trás da figura dum homem poderoso e perigoso. 


"Em termos históricos, as verdades importantes começam muitas vezes a vida como impossibilidades absolutas. E lá porque não conseguimos imaginar como uma coisa pode ser verdade, não quer dizer que não podemos constatar que é verdade." 


O Segredo dos Segredos mergulha profundamente na exploração de temas relacionados com a mente e a consciência, com segredos históricos e científicos, conspirações e símbolos enigmáticos à mistura. A narrativa revela uma rede de segredos guardados pelas mais altas instâncias dos Estados Unidos, que parecem dispostos a tudo para que nada chegue ao grande público, mas não estão dispostos a desistir dos seus projectos de investigação. Os métodos usados são chocantes, mas os resultados obtidos e o que se espera descobrir é ainda mais assombroso. Afinal, o que se passa no nosso cérebro é ainda um grande mistério e as respostas são pouco satisfatórias, face ao que já sabemos sobre ele. Os conceitos explorados neste livro são fascinantes e, embora complexos, o autor consegue colocá-los de forma acessível para leigos. 


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Como sempre, o estilo de Dan Brown é marcado por uma narrativa ágil e envolvente, com frases curtas e directas que mantêm o ritmo acelerado da história. A sua habilidade para criar suspense e mistério é muito evidente neste novo livro, com uma estrutura de capítulos curtos e cheios de reviravoltas, o que prende o leitor do começo ao fim. O autor também faz uso duma linguagem acessível, combinada com elementos históricos, artísticos e científicos, que enriquecem a trama sem dificultar a leitura. Repleto de sequências de acções rápidas, pistas reveladas de maneira estratégica e reviravoltas sucessivas, tudo acontece em pouco mais de 24 horas. No que toca ao desenvolvimento dos personagens, ele acontece muito mais com os secundários do que com os protagonistas, onde se encontram as camadas de complexidade e profundidade, bem como os conflitos internos. 


"Cientistas de topo do mundo inteiro estão cada vez mais convencidos de que a realidade não é nada como julgamos. Isso inclui a ideia provocadora de que a morte é, muito possivelmente, uma ilusão... e que a nossa consciência sobrevive à morte física e continua a viver." 


Esta nova aventura destaca-se pela sua impressionante combinação de pesquisa minuciosa, criatividade narrativa e ritmo acelerado. Dan Brown volta a conseguir entrelaçar factos históricos, simbologia, ciência e teorias conspiratórias de forma inteligente, o que mantém o leitor constantemente interessado e envolvido na trama. O seu grande talento é estimular a nossa curiosidade, tornando a leitura uma experiência que entretém e, ao mesmo tempo, intelectualmente estimulante. É uma leitura que proporciona uma experiência emocionante e cativante, embora possa ser considerada repetitiva na sua fórmula, já muito batida na obra do autor. Além disso, exige que se suspenda a descrença para conseguir aceitar todos os acontecimentos, alguns bem rocambolescos que, a dada altura, se tornam quase absurdos. 


Em suma, é uma experiência de leitura envolvente e intrigante, que nos desperta para temas e nos deixa o desejo de saber mais, além de ser fascinante o enquadramento histórico da cidade de Praga e dos lugares icónicos por onde se movimentam durante esta aventura. Apesar de se tornar cansativo em certos momentos, também pelo peso do tema e pela velocidade dos acontecimentos, não deixa de ser entretenimento puro e bem cinematográfico. Não vai defraudar os fãs de Dan Brown e deste género literário, e pode ser uma interessante porta de entrada para quem gosta de livros de suspense onde a ciência tem mais destaque. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste a nova aventura de Dan Brown? Valeu a pena a espera? O que achaste deste mistério? O que mais te surpreendeu? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

#Viagens - Igreja Nossa Senhora da Conceição

 

Mulher de costas com chapéu na cabeça, vista através da janela de um carro em uma estrada, durante a visita à Igreja de Nossa Senhora da Conceição em Vila Viçosa.

Vila Viçosa, situada no coração do Alentejo, é uma vila de grande significado histórico e religioso em Portugal. Conhecida pelo seu vasto património arquitectónico e cultural, destaca-se principalmente pelo seu papel na história da monarquia portuguesa, tendo sido uma das residências preferidas da Casa de Bragança. A sua importância religiosa é evidenciada pela presença de emblemáticas igrejas, entre elas a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, que reflete a riqueza espiritual e a tradição católica da região. Foi o desejo de conhecer este lugar histórico que originou a minha viagem neste Verão e onde esta Igreja foi a última atração que visitei antes de partir para Elvas. 


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Apesar da sua existência já ser assinalada na época medieval, não é possível precisar a data exacta da sua fundação, embora se considere que terá acontecido durante o reinado de D. Fernando. O edifício encontra-se dentro das muralhas do Castelo de Vila Viçosa, tendo sofrido várias intervenções ao longo dos séculos. Esta Igreja possui uma história rica e marcada por diversos eventos e figuras de destaque. Palco de importantes cerimónias religiosas e eventos sociais ao longo dos séculos, destaca-se o momento em que o rei restaurado, D. João IV, decidiu elevar Nossa Senhora da Conceição a Rainha e Padroeira de Portugal, nas cortes de Lisboa de 1646. Desde então, os reis e rainhas não voltaram a usar a coroa, que passou a ser posse exclusiva de Nossa Senhora, em Vila Viçosa, Trono da Rainha e Altar de Portugal. Mais recentemente, recebeu a visita do Papa João Paulo II na sua primeira visita apostólica a Portugal, em 1982. 


Podes ver também o Roteiro de Viagem entre Vila Viçosa e Elvas 


A Igreja de Nossa Senhora da Conceição apresenta um estilo arquitectónico Maneirista, com três naves e cinco tramos, que tomou forma na reabilitação feita no período anterior à Restauração da Independência, e onde predomina o uso do mármore regional. Disso resulta uma fachada imponente, altares elaborados, ricamente trabalhados com muita talha dourada e azulejos que se encontram no interior de todo o edifício, revelando estilos posteriores, como o Barroco e o Rococó. O altar-mor entroniza ao centro as esculturas de Cristo crucificado, ao alto, e da Imaculada Conceição. Esta imagem terá sido trazida de Inglaterra, entre 1402 e 1404, por encomenda do Condestável do Reino, D. Nuno Álvares Pereira. A notável imagem, em pedra de ançã, está tradicionalmente coberta por ricas vestimentas, muitas delas oferecidas pelas Rainhas e outras damas da Casa Real. Foi também aqui deixado, pelos vencedores da Batalha de Montes Claros, um estandarte em agradecimento pela vitória sobre os espanhóis, que ainda se encontra exposto no altar-mor. 


Imagens da fachada da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, exibindo sua arquitetura tradicional e detalhes decorativos, acompanhadas de uma foto do altar-mor, destacando seu ornamento religioso e elementos artísticos internos.

Durante a visita à Igreja de Nossa Senhora da Conceição, depois de ter passeado pelo Castelo e pelos núcleos museológicos, foi possível apreciar um ambiente de grande tranquilidade. A iluminação suave ressalta os detalhes arquitectónicos e artísticos do interior, criando uma sensação de paz e contemplação. Ao redor, as paredes adornadas com pinturas e azulejos seiscentistas, bem como as seis capelas laterais que se encontram no templo, contribuem para uma atmosfera rica em História e religiosidade. Fiz a visita por minha conta, mas também existem visitas guiadas, que poderão, consoante a dimensão dos grupos, incluir uma visita aos mantos da imagem de Nossa Senhora. Neste recinto, também acontecem Procissões, Exposições, Peregrinações e até Concertos, o que revela bem o quanto é importante na região e no seio da Igreja Católica. 


Podes ler ainda sobre o Castelo de Vila Viçosa & Museus da Caça e Arqueologia


No entanto, a principal festa ocorre no dia 8 de dezembro, data marcada por procissões, missas solenes e procissões religiosas que percorrem as ruas do centro histórico. Acredito que essa altura seja especial para visitar esta Igreja, mas também a Primavera ou o início do Outono, quando o clima é mais ameno e as temperaturas agradáveis, proporcionem uma experiência mais confortável para explorar a Igreja e os seus arredores, como o cemitério onde podes visitar a sepultura de Florbela Espanca. Fala-te alguém que decidiu empreender esta visita no pico do mês de Julho, que não impediu que a fizesse, mas o calor, de facto, pode se tornar desagradável a determinada altura. 


Imagem da nave principal da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa, mostrando o interior com detalhes das arquibancadas, vitrais e teto ornamentado. Ao lado, a capela lateral revela seu altar decorado e elementos arquitetônicos tradicionais, evidenciando a beleza e a riqueza histórica do espaço sagrado.

A minha visita à Igreja de Nossa Senhora da Conceição foi muito importante e interessante para mim pelo seu valor arquitectónico e histórico, tendo em conta o papel que desempenhou na construção e até na defesa da nossa nacionalidade ao longo dos séculos. Este momento permitiu apreciar a riqueza do património religioso e reconhecer a sua influência na importância da vila, que cresceu quando os duques se tornaram reis. Este tipo de visita também permite recordar a importância de valorizar e preservar o nosso património religioso e cultural, mantendo as ligações com as nossas raízes e identidade. Só posso deixar o convite para que embarques nesta viagem de descoberta e vás conhecer de perto a beleza e a História da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, em Vila Viçosa. 


Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces esta Igreja? Já visitaste Vila Viçosa? Costumas visitar monumentos religiosos? Que aspecto mais te agrada ou mais te impressiona? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

#Livros - Outono Alemão, de Stig Dagerman

 

Capa do livro "Outono Alemão", de Stig Dagerman, publicado pela Antígona: uma imagem que apresenta tons sóbrios e atmosféricos, com elementos que remetem ao clima melancólico e introspectivo da obra, destacando o título e o nome do autor em destaque.

Sinopse

No rescaldo da Segunda Guerra Mundial, quando a imprensa internacional retratava os escombros germânicos como um castigo merecido, Stig Dagerman derramava uma clarividente compaixão sobre os derrotados, questionando o prisma dos vencedores e o direito de humilharem um povo espezinhado. 

Outono Alemão (1947), reportagem encomendada pelo jornal sueco Expressen, longe de pintar um quadro homogéneo, é uma vivida galeria de explorados e famintos, vítimas de uma guerra que não era sua, mas também de quem se empenhava não apenas em sobreviver, mas em capitalizar com a miséria alheia. Stig Dagerman, para quem o jornalismo era «a arte de chegar atrasado logo que possível», mergulhou nas ruínas de uma Alemanha desorientada, imersa na sua culpa e bloqueada pelas forças ocupantes, e recusou a hipocrisia de exigir dos sobreviventes uma contrição política. 

O resultado é uma obra jornalística com a perenidade da grande literatura, num registo objectivo e empático que inspiraria a imprensa vindoura. 


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Opinião 

Outono Alemão foi uma descoberta inesperada, fruto duma oferta da Antígona, na Feira do Livro de Lisboa deste ano e que me permitiu mergulhar nas reflexões do autor sobre a condição humana, a memória e as transformações sociais na Alemanha no pós-guerra. O autor sueco, Stig Dagerman, nascido em 1923, foi uma figura importante na literatura sueca e europeia do século XX, cuja obra aborda temas como a angústia, a alienação e a busca por sentido em tempos turbulentos. Tendo por base o jornalismo, a sua prosa revela um olhar atento às complexidades do Homem e às condições em que vive depois da destruição da Segunda Guerra Mundial, capaz de olhar mesmo para os vencidos e não apenas para o vencedores do conflito. 


O livro foi publicado em 1947, no período imediatamente após o fim da Segunda Guerra Mundial. A obra reflete, de maneira sensível e introspectiva, as tensões e os sentimentos de desilusão que permeavam a sociedade alemã diante das consequências do conflito e da destruição causada pelo nazismo. Influenciado pelo modernismo e pelo movimento do expressionismo, Dagerman destaca-se pela sua escrita poética e existencialista, com um olhar atento para as angústias dos que o rodeiam. Com uma carreira curta, o autor marcou por uma produção intensa e sensível e ganhou reconhecimento pela sua profunda compreensão das emoções humanas e a sua capacidade de retratar o sofrimento e a esperança de forma comovente. A sua vida foi marcada por conflitos internos e dificuldades pessoais, o que se refletiu nas suas obras e culminou quando tirou a própria vida em 1954, aos 31 anos. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Homem Revoltado 


Aqui encontramos uma colectânea de ensaios e textos que exploram temas como a morte, a solidão e a condição humana, passados no cenário da Alemanha marcada pelo clima de pós-guerra. A obra usa o Outono como uma metáfora para o período de transição e reflexão, onde o autor mergulha naquela atmosfera de incerteza e melancolia que permeia a sociedade da época. Através das suas observações e reflexões, Dagerman constrói uma narrativa que transcende o tempo, capturando a essência duma era perturbadora e levando-nos a mergulhar num lado deste conflito poucas vezes explorado. O grande protagonista da obra é o próprio autor e as cidades alemãs que visita e que mostram bem as consequências da guerra, bem como o preço que todos os alemães estão a pagar pela derrota naquele momento. Uma conta que implica fome, medo, solidão e a ausência de dignidade. 


"Exigia-se aos que iam atravessando este outono alemão que da sua desgraça extraíssem lições. Esquecia-se assim, porém, que a fome é um muito mau pedagogo." 


Os alemães com quem se cruza nesta reportagem são marcados pela perda e pela descrença num futuro melhor, e revelam as nuances do sofrimento humano e da busca por sentido para continuar a viver, mesmo nas pior circunstâncias. O autor também utiliza elementos simbólicos, como as paisagens desoladas e os momentos de silêncio, para aprofundar a atmosfera de introspecção e de questionamento sobre o futuro e a condição do indivíduo naquela sociedade marcada pela destruição. Talvez a maior reflexão deste livro, de forma subliminar, seja sobre as cicatrizes que o conflito deixou na alma das pessoas e na sociedade. Dagerman explora as consequências da guerra, não apenas na destruição física, mas também nas feridas emocionais e na perda de esperança dum povo. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Adeus às Armas 


Stig Dagerman apresenta uma escrita marcada por uma profunda sensibilidade e uma prosa lírica que revela uma atenção minuciosa aos detalhes e às emoções humanas. A sua linguagem é precisa e carregada de intensidade, conseguindo transmitir de forma comovente os conflitos internos e as angústias das pessoas com quem se cruza. Além disso, o autor possui uma habilidade única de explorar temas existenciais e filosóficos, utilizando uma narrativa que combina simplicidade e profundidade, o que confere ao seu estilo uma atmosfera introspectiva e melancólica. Estas características da sua escrita contribui para criar uma leitura envolvente e emocionalmente impactante. Este impacto é profundo e avassalador, pois o autor consegue transmitir a desolação e o isolamento de quem se viu abandonado à própria sorte, sem receber a ajuda que ansiavam e esperavam dos aliados. 


"Mas nas estações podemos encontrar gente que passou por quase tudo. As grandes estações de caminho de ferro alemãs, palcos outrora onde desfilaram os manequins da aventura, encerram entre as suas paredes cheias de cicatrizes e sob os seus telhados esburacados uma boa parte do desespero do mundo." 


Esta leitura marcou-me pela intensidade emocional e pela sensibilidade focada nos grandes perdedores da Segunda Guerra Mundial, em quem só pensamos de passagem como os nazistas monstruosos, sem parar para perceber que todo um povo, com muitos inocentes, ficou deixado à sua sorte na reconstrução difícil desta Alemanha humilhada. É incrível como um livro tão curto consegue deixar este impacto em nós e abre as mentes para outros prismas deste grande conflito, que vão para além do óbvio e do que crescemos a estudar e a ver em filmes e séries. Tudo graças à prosa de Dagerman, que é delicada e, ao mesmo tempo, poderosa, e que transmite de forma visceral as nuances do sofrimento, da esperança e do medo. Pessoalmente, foi com inquietação que fui avançando nesta leitura, com cautela e calma, porque apesar de ter pouco mais de cem páginas, são relatos tristes e angustiantes, que não combinam com uma leitura vertiginosa. 


Nos dias que correm, onde as guerras parecem estar latentes por toda a parte, este relato faz todo o sentido e pode ajudar a compreender o que verdadeiramente acontece no final dos conflitos, não com os dirigentes e decisores, mas com as pessoas comuns que acabam presas nestes momentos de tensão e incerteza. Como tal, recomendo Outono Alemão especialmente para leitores que apreciam narrativas intensas e reflexivas, que retratam momentos históricos, que são determinantes para a Europa que hoje existe. É para quem não tem medo de explorar o lado mais sombrio e filosófico da existência e que procuram uma literatura que desafie e enriqueça a sua percepção do mundo. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conhecias este livro e este autor? Se leste, o que mais chamou a tua atenção nesta leitura? Que mensagem consideras mais relevante para o contexto actual? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

#Séries - Tremembé

 

Imagem do pôster da série brasileira "Tremembé" na Prime Video, apresentando os atores que interpretam Suzane, Daniel e Christian Cravinhos. Suzane aparece ao centro, com expressão séria, ao lado de Daniel e Christian, ambos com semblantes intensos, refletindo o clima dramático e tenso da trama baseada na prisão dos famosos com esse nome.

Sinopse

Tremembé conta a história do presídio paulista de Tremembé II a partir do ponto de vista de infames personalidades do crime brasileiro enquanto cumprem as suas penas. A série de ficção é focada na Penitenciária Doutor José Augusto César Salgado, conhecido popularmente como Tremembé e situado próximo à cidade paulista de Taubaté. Em Tremembé já estiveram e estão os condenados por crimes de grande repercussão mediática no país. 

A produção de true crime é baseada nos livros Elize Matsunaga: A mulher que esquartejou o marido e Suzane: assassina e manipuladora, escritos pelo jornalista Ulisses Campbell, e acompanhará os dias de pena de famosos internos da prisão, como Suzane von Richtofen, Cristian Cravinhos, Elize Matsunaga e Roger Abdelmassih


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Opinião 

A série brasileira Tremembé, uma produção da Prime Video, anda nas bocas do mundo e, felizmente, também está disponível em Portugal. Com uma abordagem inovadora ao colocar numa ficção o dia-a-dia da prisão dos famosos, a produção procura revelar os aspectos mais obscuros e intrigantes dos criminosos mais icónicos do Brasil enquanto se encontram neste estabelecimento prisional. A sua temática central gira em torno do fenómeno social e mediático que envolve estes nomes conhecidos, propondo uma reflexão sobre poder, notoriedade e as consequências das suas acções. Localizada na zona norte de São Paulo, a cadeia de Tremembé é conhecida pela sua longa história de detenções de figuras públicas, muitas vezes envolvidas em escândalos ou episódios de grande repercussão. 


Esta associação entre o nome do estabelecimento e a notoriedade dos seus presos reforça a ideia de que a prisão de celebridades acaba por se tornar um fenómeno cultural, alimentado pelo interesse público e pela cobertura mediática. A série explora este fenómeno ao questionar a exposição destas figuras e as implicações da sua condição de presos, além de trazer à tona questões sobre a fama, julgamento social e a própria estrutura deste sistema prisional em particular. A série foca-se na história dum grupo de celebridades, presos por diferentes motivos, enquanto se relacionam com outros menos conhecidos mas com crimes até piores do que os deles. Ao abordar estes pontos, a produção oferece uma visão crítica e ao mesmo tempo íntima destas figuras, criando uma narrativa que mistura humor, drama e muita reflexão. 


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O grande destaque da série vai para os actores que representam figuras emblemáticas do universo das celebridades presas, cada um trazendo uma história única que enriquece a narrativa. Os meus favoritos são a Marina Ruy Barbosa, como Suzane, uma surpresa por conseguir descolar-se completamente da imagem que temos dela das novelas e encarnar a controversa menina que matou os pais; os irmãos Cravinhos, com especial destaque para o sexy Christian, interpretado pelo Kelner Macêdo; o Lucas Oradovschi, que dá vida ao Alexandre Nardoni com uma verossimilhança inacreditável; e, por fim, o extraordinário Anselmo Vasconcellos, que só agora reconheci o actor de tão igual que ficou ao Roger Abdelmassih. Estas interpretações foram as que mais me marcaram, mas a verdade é que todo o elenco é inacreditável e entrega actuações de excelência, inclusivamente na linguagem corporal que fala muito mais das suas culpas do que as suas palavras. 


Foto que mostra as atrizes interpretando Suzane, Eliza, Ana Carolina Jatobá e Sandrão dentro da cela na série brasileira "Tremembé" da Prime Video. Elas estão sentadas juntas, com expressões sérias e refletidas, retratando a atmosfera tensa e dramática da narrativa.

Tremembé é inspirada nos livros do incrível Ullisses Campbell, que não sei o que falta para serem publicados em Portugal, sobre a Elize Matsunaga e Suzane von Richthofen que protagonizaram crimes que chocaram a sociedade brasileira. Ao retratar estas figuras que foram parar a Tremembé, acabou por incluir muitas histórias de outros presos que com eles conviveram e que permitiam compreender melhor as dinâmicas da cadeia e dos próprios biografados. O gatilho inicial é a chegada de Suzane à prisão, mas depois tudo gira em torno das relações que se criam entre os presidiários e com o que deixaram cá fora. Apesar de assentar sobre a vida na cadeia e acompanhar as saídas autorizadas, no início de cada episódio é apresentada a representação do crime pelo qual foram presos, o que entrega momentos dramáticos e que permitem compreender, mesmo para quem não conhece estes crimes, o que fizeram para ser condenados. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Santa Evita 


São abordados, de forma contundente, temas complexos como a justiça, a mídia, a fama e o preconceito. Através da história destes presos, a produção acaba por questionar a forma como a mídia sensacionalista pode influenciar a percepção pública e o julgamento social, além de transformar em famosos pessoas apenas por terem cometido crimes hediondos, como é o caso da Suzane e da Elize. Importa também referir a notável qualidade técnica da série, onde se destaca o roteiro bem elaborado, a actuação dos actores, convincente e carismática, e a banda sonora que complementa perfeitamente o clima da série e que reforça a imagem destas figuras e complementa o clima da série. Todos os elementos conjugados, aliados à direcção da Vera Egito, tornam esta série um caso sério de qualidade, perfeitamente a par com o que se faz nos Estados Unidos. 



A minha opinião sobre esta série brasileira é bastante positiva, pois entrega uma experiência marcante, que prende o espectador do princípio ao fim, e que dá vontade de devorar todos os episódios duma só vez. Com uma narrativa envolvente e uma abordagem que mistura humor com crítica social, torna-se uma obra que merece toda a nossa atenção. As expectativas sobre uma segunda temporada estavam altas e foram agora confirmadas, o que muito entusiasma todos os amantes do género True Crime, pois teremos a oportunidade de ver outros famosos que por lá passaram, bem como muitos outros criminosos menos conhecidos cujos crimes são ainda mais chocantes. É uma excelente recomendação para um público adulto interessado em crimes reais e temas relacionados com o sistema prisional e a fama, bem como a espectadores que apreciam narrativas intensas com foco na complexidade das personagens e nos dilemas morais envolvidos. 


Para terminar, a série Tremembé convida-nos a refletir sobre a importância de olhar para além das manchetes e compreender as histórias que estão por trás dos acontecimentos e, sobretudo, compreender que, nem sempre, os crimes mais mediáticos são os mais repugnantes. No que diz respeito às críticas de romantizar os criminosos ou de que é uma agressão para as famílias das vítimas, compreendo mas não concordo. No entanto, convido-te a assistir à série e descobrires por ti mesma para que possas formar a tua própria opinião e questionar as narrativas, porque vale muito a pena dares uma chance a esta produção que conta com uma abordagem única. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces esta série brasileira? Viste todos os episódios de Tremembé? O que achaste da abordagem da história? Qual o crime que mais te impactou? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 2 de dezembro de 2025

#Livros - A Peste, de Albert Camus

 

Imagem de capa do livro "A Peste", publicado pela Livros do Brasil: fundo vermelho vibrante com uma ilustração de um rato, simbolizando a presença da doença e o clima de ameaça e reflexão presentes na obra de Albert Camus.

Sinopse

Na manhã de um dia 16 de abril dos anos de 1940, o doutor Bernard Rieux sai do seu consultório e tropeça num rato morto. Este é o primeiro sinal de uma epidemia de peste que em breve toma conta de toda a cidade de Orão, na Argélia. Sujeita a quarentena, esta torna-se um território irrespirável e os seus habitantes são conduzidos até estados de sofrimento, de loucura, mas também de compaixão de proporções desmedidas. 

Uma história arrebatadora sobre o horror, a sobrevivência e a resiliência do ser humano, A Peste é uma parábola de ressonância intemporal, um romance magistralmente construído, que, publicado originalmente em 1947, consagrou em definitivo Albert Camus como um dos autores fundamentais da literatura moderna. 


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Opinião 

A Peste, de Albert Camus, é uma obra fundamental do existencialismo e do absurdo, publicada em 1947. O livro narra a história duma epidemia de peste que assola a cidade de Oran, na Argélia, e utiliza essa situação para refletir sobre a condição humana, o sofrimento, a solidariedade e o sentido da vida. O autor, filósofo, romancista e ensaísta franco-argelino, é reconhecido pelas suas contribuições à filosofia do absurdo e pelas suas obras que explora as questões da existência, liberdade e responsabilidade. A obra surge num contexto histórico marcado pelos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial e das suas consequências devastadoras. 


Escrita no período do pós-guerra, A Peste reflete as reflexões do autor sobre a condição humana diante do sofrimento, da morte e do absurdo, temas centrais do existencialismo e do pensamento filosófico de Camus. Assim, encontramos aqui mais do que apenas uma narrativa sobre uma epidemia, mas também uma metáfora para o enfrentamento do mal e da condição humana em tempos de crise global. No livro, Camus apresenta a cidade de Oran, uma comunidade aparentemente tranquila que, de repente, se depara com uma epidemia de peste bubónica. A narrativa acompanha a luta dos seus habitantes para lidar com a crise, explorando as suas reações, medos e acções diante do caos que se instala. 


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No que diz respeito aos principais personagens, somos apresentados a um elenco diversificado que reflete diferentes perspectivas diante da crise. O Dr. Rieux, médico dedicado e racional, emerge como a figura central, comprometido com a luta contra a doença e a compaixão pelos pacientes. Tarrou, um homem silencioso e introspectivo, traz uma visão moral e filosófica que questiona o sentido do sofrimento e da solidariedade. Rambert, inicialmente um jornalista parisiense, procura desesperadamente escapar da cidade para reunir-se com a sua amada, revelando a luta entre o amor e o dever, com um desfecho inesperado. Cottard, por sua vez, é um personagem ambíguo que encontra na peste uma oportunidade para lucrar, demonstrando a complexidade moral diante do caos. Outros personagens, como os funcionários do hospital, os voluntários e os moradores de Oran, completam este mosaico humano, cada um a lidar à sua maneira com a ameaça invisível, ilustrando diferentes atitudes diante da tragédia. 


"Uma maneira cómoda de travar conhecimento com uma cidade é descobrir como lá se trabalha, como se ama e como se morre."


O facto de tudo se passar na cidade de Oran, na Argélia, desempenha um papel fundamental, ao criar um cenário que reflete a rotina aparentemente tranquila duma cidade mediterrânea isolada do mundo exterior. Oran é retratada como uma comunidade típica, com as suas ruas estreitas, praças, mercados e o quotidiano dos seus habitantes, que, inicialmente, parecem alheios à ameaça iminente da peste. A descrição da cidade enfatiza a sua aparência de normalidade, proporcionando um contraste marcante com a crescente crise sanitária que se desenvolve lentamente, revelando as fragilidades humanas diante do sofrimento e da morte. Assim, o autor convida-nos a refletir sobre como o indivíduo responde ao enfrentamento do sofrimento, revelando que a verdadeira essência da humanidade reside na coragem de continuar a viver e agir, mesmo quando a morte parece inevitável. 


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Através das acções e atitudes dos personagens, o autor mostra que é possível encontrar uma forma de resistência e solidariedade que dá sentido à vida. Afinal, frente à ameaça da doença, estes personagens demonstram uma forte união, que transcende interesses individuais em prol do bem comum. A solidariedade manifesta-se na colaboração entre os moradores, nas acções dos profissionais de saúde e na disposição de alguns para enfrentar o sofrimento juntos, mesmo diante do medo e da incerteza. O autor mostra-nos, com o relato desta epidemia, como a moralidade não é apenas uma questão de princípios abstratos, mas uma prática diária de resistência e empatia diante das adversidades.


"Os flagelos, com efeito, são uma coisa comum, mas acredita-se dificilmente neles quando nos caem sobre a cabeça. Houve no mundo tantas pestes como guerras. E, contudo, as pestes, como as guerras, encontram sempre as pessoas igualmente desprevenidas." 


A escrita de Albert Camus revela uma prosa clara, precisa e envolvente, que combina uma linguagem acessível com uma profundidade filosófica notável. Com uma narrativa directa e objectiva, muitas vezes adopta um tom jornalístico que reforça a sensação de urgência e dá realidade à história. A sua habilidade para criar personagens complexos e, ao mesmo tempo, universais, permite ao leitor refletir sobre questões existenciais e morais de forma instintiva. Esta combinação de simplicidade estilística e profundidade temática faz da sua prosa uma ferramenta poderosa para transmitir as suas ideias sobre a condição humana e a luta contra a adversidade, e agora consigo compreender porque foi tão popular quando estávamos a lutar contra o Covid, num momento em que foram reveladas as fragilidades sociais, desigualdades e a necessidade de solidariedade colectiva. 


Camus consegue aqui transmitir uma atmosfera de angústia e esperança, enquanto explora temas como o absurdo, a resistência e a solidariedade, de forma visceral e envolvente. Em suma, estamos perante uma obra de profunda relevância filosófica e existencial, que transcende o seu contexto de ficção para abordar questões universais sobre a condição humana, a solidariedade e a resistência diante do sofrimento. O seu impacto perdura pois estimula discussões sobre a moralidade, a resistência individual e coletiva, e o enfrentamento das adversidades, consolidando-se como um livro atemporal, capaz de cativar leitores nos dias de hoje, sem exigir grandes conhecimentos para compreender a mensagem. Um feito que só tenho visto acontecer de forma consistente na obra de Camus. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste A Peste? Antes ou depois da pandemia? Qual foi o impacto desta leitura na tua visão das tragédias? Qual o momento mais marcante? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

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