O mundo mudou muito nas últimas décadas, as pessoas vivem de uma forma totalmente diferente dos seus avós. O papel das mulheres sofreu uma revolução, ainda que seja verdade que muitas batalhas continuam a ser necessárias para manter os direitos adquiridos e para alcançar os que ainda faltam conquistar. Não será este o tema de hoje, mas é inegável que a entrada definitiva das mulheres no mercado de trabalho alterou totalmente a disponibilidade para cuidar da família em casa a tempo inteiro, seja dos filhos ou dos mais velhos. Este é uma dinâmica complexa e que obriga a reestruturar as relações familiares e parece estar a causar uma mudança nos princípios individuais.
Em grande parte do século passado, em Portugal, existia um núcleo familiar grande e reunido em torno dos mais velhos. Os filhos casavam e ficavam a morar com os pais, os netos nasciam e viviam nesse ambiente de múltiplas gerações. Afinal, comprar casa própria não estava ao alcance de toda a gente e esta era uma forma de existir entreajuda entre mais velhos e mais novos, os pais apoiavam os filhos no início de vida, continuando a dar um tecto, os filhos, um dia quando fosse necessário, iam amparar os pais na velhice e nas dificuldades próprias dessa época. Outro aspecto importante é que a esperança média de vida era bem mais baixa do que nos dias que correm, o que significa que não existia tantas pessoas a atingir idades avançadas. No fim de contas, as evoluções cobram o seu preço sempre.
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Hoje, em pleno século XXI, não estamos preparados para os desafios que foram colocados no que toca aos nossos velhos. Nem os indivíduos, nem os governos, nem as empresas. Ainda não vivemos para sempre, mas cada vez morremos mais tarde e os problemas de saúde são agravados com o passar dos anos, logo os cuidados necessários são cada vez mais exigentes. Poucos e felizes são os que conseguem chegar e atravessar a terceira idade com autonomia razoável, independência e discernimento. Os idosos acabam por precisar de um acompanhamento e atenção que a maioria das pessoas não consegue dar a tempo inteiro, porque é preciso trabalhar para pagar as contas e abdicar dessa fonte de rendimento não é uma opção viável. As reformas da maioria são uma miséria que não chega nem para as necessidades básicas, que dizer para pagar a ajuda que precisam.
Postas em evidências as dificuldades das famílias na gestão dos seus idosos, sobretudo em fases mais complicadas da saúde, não posso ignorar a quantidade de pessoas desprezíveis que existem neste mundo, que sofrem de uma total falta de noção na hora de cuidar de quem cuidou de nós um dia. Tenho plena consciência de que nem sempre conhecemos o passado destas famílias, e que os idosos de hoje podem muito bem ter sido adultos abusadores ou negligentes com os seus filhos, que quando precisam não recebem porque nunca deram. Infelizmente, conheço imensos casos que não se enquadram neste cenário, que tudo fizeram pelos seus e acabam abandonados, ignorados, negligenciados. O meu núcleo duro familiar é pequeno, mas ao meu redor existe uma família mais afastada gigantesca e alguns elementos paralelos, que me permitem observar muitas realidades por perto e sendo conhecedora do tal background importante para distinguir comportamentos.
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A realidade é que vejo, em alguns destes casos próximos, atitudes inacreditáveis. Criaram filhos, às vezes criaram netos, os seus rendimentos servem para sustentar essas pessoas durante anos e anos a fio, directa ou indirectamente, e no momento em que mais precisam de cuidados são abandonados, deixados sem assistência, sem condições físicas, psicológicas e até financeiras para viverem sozinhos, porque o acesso ao dinheiro não está nas suas mãos. A degradação humana é deixada chegar ao extremo, sem cuidados de higiene, sem uma alimentação adequada, sem que exista uma verdadeira preocupação em buscar uma solução para um problema que toma proporções insustentáveis. Consigo entender que a solução pode não ser fácil de encontrar, nem sempre é possível trazer essas pessoas para morar conosco, as casas onde vivemos podem não estar preparadas para isso, as vidas profissionais e familiares podem não permitir um acompanhamento tão próximo quanto gostaríamos, mas existem soluções mais dignas do que abandonar os nossos idosos à sua própria sorte.
É um dilema moral que nos deve preocupar a todos, afinal não seremos jovens para sempre e, a menos que a morte chegue cedo, seremos velhos um dia a lidar com estes mesmos problemas sociais. O exemplo que damos aos jovens será um testemunho muito mais forte do que qualquer discurso politicamente correcto ou publicação de exaltação nas redes sociais. Porque os actos ainda dizem muito mais sobre nós do que as palavras que gostamos de tomar como nossas, mesmo quando não as pomos em práctica. Os nossos políticos e as entidades relacionadas com estes problemas sociais precisam de trabalhar para oferecer melhores soluções e de mais fácil acesso, mas acredito que essa preocupação tem de partir dos cidadãos, de quem vota, de quem comenta, de quem procura mudar a sociedade para melhor. Os casos de abandono de idosos em hospitais são chocantes, mas não podem servir apenas para criar notícias populares nos meios de comunicação, precisam de ser utilizados para nos obrigar a pensar, para criar uma consciência social sobre esta realidade e para nos fazer exigir mecanismos de ajuda reais e exequíveis.
Já pensaste nos problemas da Terceira Idade? Tens idosos na família? Como consegues proporcionar os cuidados e a qualidade de vida que merecem? Achas que existem soluções suficientes para este problema da nossa sociedade? Deixa o teu comentário e vamos conversar sobre este tema tão importante!
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