expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

Subscreve a Newsletter

terça-feira, 30 de setembro de 2025

#Livros - Santa Evita, de Tomás Eloy Martinez

 

Ilustração de uma mulher vestida de branco com uma auréola na cabeça, sobre um fundo azul escuro, na capa do livro "Santa Evita" publicado pela Tinta da China.

Sinopse

A grande personagem deste romance não tem vida: é o corpo morto de Eva Perón. Mas Santa Evita, um dos maiores clássicos da literatura em língua espanhola, é também sobre Eva Perón viva, sobre o país que a adorou ou odiou e sobre as imensas contradições da alma humana. «A magia dos bons romnaces suborna os seus leitores, fá-los comer gato por lebre e corrompe-os ao seu capricho. Confesso que esta o conseguiu comigo, que sou perito velho no que se refere a não sucumbir facilmente às armadilhas da ficção. Santa Evita venceu-me desde a primeira página e acreditei, emocionei-me, sofri, tive prazer e, no decurso da leitura, contraí terríveis vícios e atraiçoei os meus mais caros princípios liberais. 

Eu, que detesto com toda a minha alma os ditadores e os homens fortes e, ainda mais do que eles, os seus séquitos e as bovinas multidões que encandeiam, dei subitamente por mim desejando que Evita ressuscitasse e regressasse à Casa Rosada a fazer a revolução peronista. Quando uma ficção é capaz de induzir um mortal de firmes princípios e austeros costumes a estes excessos, não há a menor dúvida: deve ser proibida ou lida sem perda de tempo.» Do Prefácio de Mario Vargas Llosa 


Buy Me A Coffee

Opinião 

Santa Evita é uma obra que mergulha na fascinante e enigmática história de Eva Perón, uma das figuras mais emblemáticas da política argentina. Com uma narrativa envolvente e de grande profundidade, o livro explora os mitos, a memória e as complexidades da personagem que marcou uma era. Tomás Eloy Martinez, famoso jornalista e escritor argentino, é conhecido pela sua habilidade para combinar rigor jornalístico com uma prosa fluente, tendo produzido obras que exploram aspectos históricos e sociais da América Latina. A sua escrita combina pesquisa minuciosa e sensibilidade, tornando esta leitura emocionante e provocando reflexões sobre a figura e a mulher que foi Eva Perón e sobre o seu legado, que perdura até hoje. 


Eva Perón, conhecida como Evita, nasceu em 1919, na região de Los Toldos, ela ascendeu de origem humilde para se tornar a primeira-dama da Argentina ao casar-se com o que seria presidente, Juan Domingo Perón, em 1945. A sua influência estendeu-se para além do âmbito familiar, consolidando-se como símbolo do peronismo, um movimento político que procurava promover a justiça social, os direitos trabalhistas e a inclusão dos pobres na política do país. Evita utilizou a sua popularidade para defender os direitos das classes mais desfavorecidas, ao mesmo tempo que enfrentava forte oposição de setores conservadores e das elites tradicionais. A sua morte em 1952, vítima de cancro, marcou o início da lenda que ainda reverbera na História argentina, sendo vista tanto como uma líder popular quanto uma figura emblemática de resistência e transformação social. 


Podes ler também a minha opinião sobre Quincas Borba 


Narrativa ficcional, retrata os eventos após a morte de Eva Perón, com especial destaque para o controverso destino do seu corpo, que foi exumado, desaparecido e manipulado ao longo dos anos, tornando-se símbolo de poder e mistério. Ao mesmo tempo, ao longo dos capítulos, explora também a origem humilde da jovem Evita, a sua carreira como actriz, a sua ascensão ao poder e a relação com o marido. Para cada resposta encontrada sobre o seu passado, parecem surgir uma mão cheia de perguntas novas, aparentemente impossíveis de esclarecer. A alternância entre passado e presente, acompanhando em paralelo a trajetória da Evita viva e da Evita morta, contribui para construir uma narrativa rica, complexa e multifacetada, que nos prende com curiosidade e fascínio às suas páginas, enquanto aprofunda a compreensão do fenómeno Evita na cultura argentina. 


"Perón deixou-me ser tudo aquilo que quis. Eu teimava e dizia, quero isto, Juan, quero aquilo, e ele nunca me negou nada. Pude ocupar todo o espaço que me apeteceu. Não ocupei mais porque não tive tempo. Adoeci de tanto me esforçar." 


Ficamos a perceber como a imagem de Evita transcende a sua pessoa, tornando-se um motivo de fervor popular e símbolo político que influencia as estruturas sociais e políticas do país. O autor explora de forma magistral a construção da imagem pública e o processo de mitificação em torno de Eva Perón. O romance revela como a figura de Evita foi cuidadosamente moldada pelos meios de comunicação, pelo poder político e pela própria narrativa oficial, transformando-a numa heroína quase mítica que transcende a sua existência real. A obra destaca os motivos centrais de idealização, sacrifício e manipulação, onde evidencia como esses elementos contribuíram para a criação da lenda que perdura na memória coletiva argentina. Tanto a mulher quanto o seu cadáver incorporaram o mito que alimenta as massas e esta leitura conduz-nos numa viagem perturbadora, empolgante, misteriosa e viciante, porque, quando termina, estava capaz de ler ainda mais e mais e mais sobre esta figura. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Ensaio sobre a Cegueira 


O estilo de Martinez é marcado por uma narrativa empolgante e detalhada, que combina elementos do jornalismo e da ficção para criar uma leitura vibrante. A sua escrita é pontuada por uma linguagem rebuscada e elegante, capaz de transmitir emoções intensas, enquanto constrói uma atmosfera de mistério sobre temas políticos, identitários e até históricos. Com uma prosa que mistura realismo e fantasia, criou uma obra que é ao mesmo tempo uma biografia imaginada e uma reflexão sobre a memória coletiva. Evita, entre a santidade e o absurdo, entre metáforas que parecem ecos duma Argentina em crise e um humor irónico que revela as contradições dum país obsessivamente devoto da sua própria lenda, surge como um espelho distorcido das nossas próprias fantasias e desilusões. Transportando-nos para os intricados bastidores da Argentina do século XX, é recriada a trajetória de Eva Perón, cujo corpo, após a sua morte, se torna numa peça de poder e fascínio. 


"Agora é um corpo demasiado grande, maior do que o país. Está excessivamente cheio de coisas. Todos nós lhe fomos metendo qualquer coisa dentro: a merda, o ódio, a vontade de matá-la de novo. E como diz o Coronel, há gente que também lá meteu o seu pranto. Esse corpo é como uma metralhadora carregada." 


Cada capítulo revela uma combinação de factos reais, rumores e imaginação, criando uma atmosfera que nos prende da primeira à última página, repleta de mistério e paixão. A profundidade dos personagens também é algo a destacar e que muito enriquece a trama e que permite que ela se torne credível, mesmo nos momentos mais inusitados. A própria Evita é retratada com uma complexidade que vai muito além do mito, revelando as suas emoções, ambições e vulnerabilidades. Os homens que a cercam, tanto em vida quanto na morte, também são descritos com nuances que revelam as suas motivações e conflitos internos. Pessoalmente, a minha obsessão com este livro começou quando vi a série Santa Evita, e só descansei quando ele chegou à minha estante. Levei-o comigo nas primeiras férias que fiz, e logo ali, numa esplanada em Elvas, percebi que estava perante uma obra extraordinária e que tenho a certeza que constará nos favoritos de 2025. É um mergulho no absurdo, que se torna real, com uma linguagem elaborada, que contrasta com a morbidade do que retrata e que nos transporta para uma Argentina que talvez ainda exista no seu povo. 


Só posso dizer que fiquei rendida ao livro e ao autor e deixou-me muito curiosidade para ler mais de Tomás Eloy Martinez. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já conhecias Santa Evita? Que momento ou personagem mais despertou o teu interesse? O que sentiste com este enredo fantástico? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

Sem comentários:

Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!

Subscreve a Newsletter