Sinopse
A Eneida, poema épico que descreve os destinos de Eneias e dos troianos que com ele escaparam à queda de Troia, é considerada a obra-prima de Vergílio e um exemplo maior da literatura latina.
Esta epopeia narra a longa viagem marítima que a frota de Eneias empreende em busca de uma nova pátria prometida pelos deuses e tantas vezes profetizada. É a história da demanda por um lugar no mundo e da luta pelo direito a habitar a terra das suas vicissitudes e glórias. Dela nasce Roma e um Império que moldará o mundo.
Esta nova edição atualiza a tradução do latim realizada por uma equipa de docentes da Faculdade de Letras de Lisboa e devolve ao texto a sua estrutura de poema, com versos numerados para mais fácil leitura e estudo.
Opinião
A Eneida é uma obra-prima da literatura clássica, escrita pelo poeta romano Vergílio, no século I a.C. Considerada uma das maiores epopeias da antiguidade, a obra narra a jornada do herói Eneias, que procura estabelecer a cidade de Roma após a destruição de Troia. Vergílio, poeta de grande destaque na Roma antiga, é reconhecido pela sua maestria para combinar elementos mitológicos, históricos e filosóficos nas suas obras. A sua escrita reflete uma profunda admiração pela cultura grega, ao mesmo tempo em que procura consolidar a identidade romana, influenciando gerações posteriores e deixando um legado duradouro na literatura ocidental, que perdura até hoje.
A obra foi composta entre 29 a.C. e 19 a.C., num período marcado pelo fim da República Romana e o início do Império Romano sob o comando de Augusto. O livro surge num momento de consolidação do poder imperial e de forte enaltecimento dos valores tradicionais romanos, como o dever, a virtude e a origem divina de Roma. Literariamente, a Eneida insere-se na tradição épica clássica, inspirando-se na Ilíada e na Odisseia de Homero, mas também reflete a necessidade de legitimar a ascensão de Roma, apresentando a fundação mítica de Roma e os seus heróis como uma continuação das grande epopeias gregas. Assim, o poema funciona tanto como uma narrativa de aventuras quanto como uma celebração do destino e do papel histórico de Roma.
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A motivação e o propósito de Vergílio para escrever esta obra estão profundamente ligados à sua intenção de criar uma obra nacional que exaltasse a origem do povo romano, procurando estabelecer uma poesia que pudesse rivalizar com os grandes poemas épicos gregos, elevando a história lendária de Eneias como símbolo da missão e do destino de Roma. Claro que o livro está impregnado de influências da poesia homérica e da mitologia romana, evidenciando-se na estrutura narrativa e na construção dos personagens. É fácil encontrar elementos épicos, como é o caso da jornada do herói do protagonista, a presença de deuses a intervir nos acontecimentos humanos e o uso de invocações divinas para orientar a trama. Além disso, a mitologia permeia toda a obra, enriquecendo o texto com referências às lendas e figuras emblemáticas do imaginário romano, como os deuses, heróis e fundadores de Roma, que só são totalmente perceptíveis para leigos pelas valiosas notas que acompanham cada página desta tradução portuguesa.
"Todos concordaram e permitiram de bom grado que
se orientasse para a morte de um só infeliz aquilo que
cada um receava que a si coubesse."
Na Eneida, os personagens centrais desempenham papéis essenciais na condução da narrativa e na representação de temas como destino, dever e paixão. Eneias é o herói troiano, líder determinado, que enfrenta desafios e obstáculos na sua jornada. Dido, rainha de Cartago, representa o amor e o conflito emocional, e a sua paixão por Eneias é intensa, mas tragicamente interrompida pelo destino. Turno surge como o antagonista de Eneias, guerreiro que desafia o herói e procura impedir a sua chegada às terras prometidas e o cumprimento das profecias grandiosas. Juno actua na história influenciando eventos e tentando proteger os seus interesses, enquanto Júpiter, rei dos deuses, mantém o equilíbrio cósmico e assegura que o destino de Eneias seja cumprido, guiando a narrativa com a sua autoridade divina.
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O livro acompanha os eventos da jornada de Eneias após a queda de Troia. Tudo começa com este grupo de troianos a fugir de Troia enquanto procuram uma nova terra onde possam estabelecer-se. Durante a viagem, enfrentam conflitos com povos inimigos e obstáculos naturais, como tempestades e monstros marinhos. Um dos momentos decisivos é a visita de Eneias ao reino dos mortos, onde encontra figuras importantes do passado e busca orientação para o seu destino e do seu povo. Além disso, temos também o conflito interno de Eneias entre o seu dever de liderar o seu povo e as suas emoções pessoais, especialmente em relação a Dido, com quem ele mantém um relacionamento apaixonado que acaba interrompido pelo seu destino de fundar uma nova cidade. Deste modo, a narrativa evidencia como o destino é uma força inexorável que direciona as acções do herói, mesmo diante de obstáculos e sofrimentos pessoais.
"Qual a causa que dera origem a tamanho incêndio, ignoram.
Mas as dores acerbas causadas pela profanação de um grande amor
e aquilo de que é sabido ser capaz uma mulher enfurecida
conduzem os corações dos Teucros a tristes conjeturas."
A linguagem é de uma riqueza poética que combina grandiosidade e elegância, refletindo a solenidade do estilo épico. O poeta utiliza uma linguagem elevada, carregada de figuras de estilo, como metáforas e hipérboles, que engrandecem os acontecimentos e os personagens, conferindo ao poema um tom monumental. Vergílio utiliza uma estrutura linear, marcada por viagens, batalhas e encontros com figuras míticas, entrelaçados com momentos de reflexão e orações que elevam o texto ao nível poético. A poesia permeia toda a obra, conferindo-lhe ritmo, musicalidade e profundidade emocional, ainda que muito se perca inevitavelmente na tradução. Algo que chama a atenção é a riqueza de detalhes na descrição dos ambientes e dos personagens, criando uma narrativa envolvente e imersiva.
Depois de ter adquirido o livro este ano, na Feira do Livro de Lisboa, continuei na senda de explorar as grandes obras épicas que permitem compreender a mitologia e as influências do que se lhe seguiu de forma mais clara e reveladora. É assim que me vi envolvida nos mitos romanos e tradições que servem para reforçar o culto por Roma e pelo seu Império poderoso. Não é uma leitura fácil nem intuitiva, mas também não é tão difícil que seja impossível acompanhá-la, sobretudo se escolheres uma boa edição com notas que te permitem entender as referências. Só te posso assegurar que vale bem a pena a leitura e vais sair dela muito mais rica e conhecedora das influências que povoam os livros que lês hoje. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já leste a Eneida? Gostas destes épicos da literatura clássica? Qual o teu favorito? Conta-me tudo nos comentários!
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