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terça-feira, 14 de janeiro de 2025

#Livros - Se isto é um homem, de Primo Levi

 

Capa do livro "Se isto é um homem" de Primo Levi, apresentando uma imagem sombria de torres de vigia ao lado de arame farpado, simbolizando a desumanização e o sofrimento nos campos de concentração durante o Holocausto. A cena evoca um sentimento de opressão e reflexão sobre as atrocidades cometidas contra a humanidade.

Sinopse

Na noite de 13 de Dezembro de 1943, Primo Levi, um jovem químico membro da resistência, é deitod pelas forças alemãs. Tendo confessado a sua ascendência judaica, é deportado para Auschwitz em Fevereiro do ano seguinte; e aí permanecerá até finais de Janeiro de 1945, quando o campo é finalmente libertado. 

Da experiência no campo nasce o escritor que neste livro relata, sem nunca ceder à tentação do melodrama e mantendo-se sempre dentro dos limites da mais rigorosa objectividade, a vida no Lager e a luta pela sobrevivência num meio em que o homem já nada conta. 

Se Isto é um Homem tornou-se rapidamente um clássico da literatura italiana e é, sem qualquer dúvida, um dos livros mais importantes da vastíssima produção literária sobre as perseguições nazis aos judeus. 


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Opinião 

Primo Levi, um dos mais importantes escritores e testemunhas do Holocausto, nasceu em Itália em 1919. Químico de formação, Levi foi deportado para o campo de concentração de Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial, uma experiência que moldou profundamente a sua vida e a sua obra. Após a guerra, ele dedicou-se a relatar as suas vivências e reflexões sobre a condição humana, a ética e a memória, utilizando uma linguagem clara e impactante. O seu livro Se isto é um homem, publicado em 1947, é um relato autobiográfico que procura compreender e transmitir a brutalidade do regime nazista, questionando a natureza da humanidade diante da desumanização. 


Queria muito ler este livro, não fosse ele uma obra emblemática e um marco fundamental na Literatura sobre o Holocausto. É sempre retratada como uma obra essencial para compreender os horrores duma época que nunca devia ter acontecido e que transcende o tempo ao abordar a experiência humana neste contexto bizarro. Penso que nunca foi tão relevante quanto hoje, pela urgência de recordar e discutir os horrores do passado, sobretudo quando olhamos à nossa volta e só vemos discursos de ódio e de intolerância. O livro apresenta a vida quotidiana dos prisioneiros no campo de concentração, explorando a desumanização, o sofrimento e a luta pela sobrevivência perante condições extremas. Levi descreve não só as atrocidades cometidas, mas também os laços de solidariedade que se formavam entre os prisioneiros, uma prova da resiliência humana diante da barbárie. 


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No livro, Primo Levi descreve o campo de concentração de Auschwitz como um lugar desumano e de desespero, onde a brutalidade se tornava a norma e a dignidade humana era sistematicamente erradicada. O cenário é marcado por barracas de madeira, cercas de arame farpado e torres de vigia que se erguem imponentes, revelando a opressão e o controlo absoluto. O frio penetrante e a sujidade predominavam, contributo para a degradação física e moral dos prisioneiros, que são reduzidos a números e tratados como mercadorias. As condições inóspitas, o medo constante e a presença opressora dos guardas criam um ambiente que aniquila a esperança e a individualidade, transformando a vida numa luta diária pela sobrevivência. O autor consegue transmitir a atmosfera claustrofóbica e opressiva do lugar, fazendo que nós, leitores, sejamos capazes de sentir, em parte, a angústia e o horror vividos por aqueles que ali estiveram. 


"Já nada nos pertence: tiraram-nos a roupa, os sapatos, até os cabelos; se falarmos, não nos escutarão e, se nos escutassem, não nos perceberiam. Tirar-nos-ão também o nome: se quisermos conservá-lo, teremos de encontrar dentro de nós a força para o fazer, fazer com que, por trás do nome, algo de nós, de nós tal como éramos, ainda sobreviva." 


Primo Levi, além de narrar as suas experiências enquanto prisioneiro, também se torna a voz de muitos que não puderam contar as suas histórias. A memória, neste contexto, emerge como um imperativo moral e ético, uma forma de resistência contra o esquecimento e a negação do Holocausto. O autor enfatiza a importância do testemunho como um acto de humanidade, onde relatar os horrores vividos torna-se um meio de preservar a dignidade das vítimas e de educar as gerações futuras sobre os perigos da indiferença. Assim, além de horar os que sofreram, também instiga uma consciência crítica que impeça a repetição dos erros do passado. 


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A linguagem usada por Primo Levi é clara e directa, que se contrapõe à brutalidade das experiências que narra. O seu tom é, ao mesmo tempo, sóbrio e reflexivo, permitindo que o leitor absorva a gravidade da realidade do Holocausto sem se perder em emoções exageradas. Levi utiliza um estilo narrativo que combina a precisão científica com a profundidade emocional, o que torna a sua escrita não só um testemunho histórico, mas também uma meditação sobre a condição humana. A simplicidade das suas frases contrasta com a complexidade dos temas abordados, e essa escolha estilística reforça a urgência da sua mensagem. Através duma prosa que flui de maneira quase clínica, ele convida o leitor a confrontar a barbárie nazista e, ao mesmo tempo, resgatar a dignidade do ser humano. 


"Destruir o homem é difícil, quase tanto quanto criá-lo; não foi fácil, não foi rápido, mas os alemães conseguiram-no. Desfilamos dóceis, debaixo dos seus olhares: da nossa parte, nada mais têm a recear: nem actos de revolta, nem palavras de desafio, nem sequer um olhar de condenação." 


Se isto é um homem é estruturado numa narrativa que combina memórias pessoais e reflexões filosóficas, dividida em capítulos que retratam a vida quotidiana no campo de concentração de Auschwitz. Esta organização permite ao leitor acompanhar a desumanização progressiva dos prisioneiros, ao mesmo tempo que oferece vislumbres da resistência da dignidade humana. A alternância entre relatos descritivos e momentos de introspecção proporciona uma experiência de leitura profunda e impactante, fazendo com que o leitor, além de testemunhar os horrores do Holocausto, também reflita sobre questões universais sobre a condição humana, moralidade e a capacidade de sobrevivência. 


O livro é curto, mas absolutamente intenso, sendo muito difícil ler muitos capítulos de seguida, devido aos relatos crus, que sabemos terem sido reais e que vitimaram tantas e tantas pessoas. Ao longo destas páginas, fui levada a refletir sobre a fragilidade da dignidade humana e sobre a importância de lembrar e continuar a partilhar estes relatos. É uma leitura dura, triste, mas verdadeiramente necessária para que estes horrores não se apaguem das nossas mentes e para, assim, não permitirmos que voltem a acontecer. O livro de Levi é um testemunho poderoso e deveria ser lido e relido por todos, pois transcende o tempo e transporta-nos para lugares negros da alma humana. Portanto, se ainda não leste, deixo-te o desafio para que o enfrentes e mergulhes em Auschwitz pela mão de Primo Levi, uma viagem memorável e dolorosa, mas essencial para nunca nos tornarmos em algozes de alguém. 


Agora, quero saber a tua opinião! Já leste esta obra-prima? Conhecias o trabalho literário deste autor? Gostas de livros sobre o Holocausto? Qual recomendarias? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog 


Wook | Bertrand 

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