Sinopse
Ficções é uma obra fundamental de Borges: é lá que se encontram os grandes mitos e elementos centrais da sua criação. A arte da narrativa mudou completamente depois deste livro publicado em 1944.
Ficções é talvez o livro mais reconhecido de Jorge Luis Borges, e que inclui contos fundamentais para entender o seu universo, como «O Jardim dos Caminhos que se Bifurcam», «As Ruínas Circulares» ou «A Biblioteca de Babel». Há narrativas de natureza policial, como «A Morte e a Bússola», a história de um detective que investiga o assassinato de um rabino; outras, que recriam livros imaginários como «Tlön, Uqbar, Orbis Tertius», reflexão extraordinária sobre a literatura e sua influência no mundo físico; e outras que podem ser consideradas fundadoras do moderno género fantástico, como «O Sul», que, nas palavras do mesmo autor, é talvez a sua melhor história.
Opinião
Jorge Luis Borges, um dos maiores escritores argentinos e uma das figuras mais importantes da literatura latino-americana, nasceu em Buenos Aires em 1899. Aclamado pelos críticos como um dos mestres do conto e da prosa poética, Borges foi um revolucionário literário, cujo trabalho teve um impacto duradouro na forma como a narrativa é concebida e experimentada. A sua obra-prima Ficções é uma colecção de contos que desafia as convenções literárias tradicionais, mergulhando o leitor num mundo de labirintos, espelhos e paradoxos. Com a sua escrita erudita e perspicaz, Borges transforma a realidade numa miragem, questionando as noções de tempo, espaço e identidade. A sua imaginação desenfreada e a sua abordagem metafísica da literatura deram-lhe o status de génio literário, moldando a literatura contemporânea de maneiras inimagináveis. A verdade é que Borges é uma figura essencial da literatura mundial e a sua obra continua a influenciar e fascinar leitores e escritores até aos dias de hoje.
Voltando ao livro Ficções, estamos perante uma colectânea de contos breves e complexos, que reúne narrativas que exploram temas como a natureza da realidade, a dualidade do ser humano e a relação entre literatura e filosofia. Com a sua escrita sofisticada e cheia de referências intelectuais, o autor argentino desafia as convenções, reinventando a forma do conto e estabelecendo-se como um dos mestres da ficção moderna. Aqui não nos faltam exemplos de como o tema dos labirintos permeia as suas narrativas. O autor utiliza o labirinto como um símbolo intrigante e complexo, representando não apenas um mero emaranhado de caminhos, mas também um universo cheio de possibilidades e indagações. Através desta rica abordagem do tema, o autor convida-nos a adentrar nestes intrincados labirintos narrativos, onde nos deparamos com o desconhecido e nos confrontamos com as profundezas do pensamento, sempre almejando desvendar os seus mistérios.
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«A Biblioteca de Babel», presente no livro Ficções, é uma narrativa que se destaca por ser um verdadeiro labirinto intelectual. O conto transporta-nos para uma biblioteca infinita, onde cada livro é uma combinação única de letras, formando um universo vasto e caótico de conhecimento. Borges utiliza este cenário para abordar a questão do infinito e da angústia humana diante do desconhecido. Através duma escrita também ela labiríntica e repleta de simbolismos, o autor leva-nos a questionar a natureza do conhecimento e a nossa busca incessante por respostas. O enigma da biblioteca aprisiona-nos num emaranhado de possibilidades, refletindo o próprio labirinto dos pensamentos e da busca do sentido da existência. No fundo, Borges desafia a ilusão do conhecimento absoluto, mostrando que mesmo que o homem se aventure nos mais intrincados labirintos do saber, ainda assim estará fadado a perder-se nos seus próprios limites e imperfeições.
"Então Bioy Casares recordou que um dos heresiarcas de Uqbar havia declarado que os espelhos e a cópula eram abomináveis, porque multiplicam o número dos homens."
No conto «Pierre Menard, Autor do Quixote», Borges apresenta uma análise fascinante sobre a natureza da criação literária e o valor da originalidade. Através da personagem fictícia de Pierre Menard, Borges explora a ideia de que a verdadeira originalidade não reside apenas na criação de algo completamente novo, mas também na reinterpretação e releitura de obras clássicas. Menard, segundo o autor, decide reescrever o Dom Quixote de Cervantes, não com o objectivo de aprimorá-lo, mas sim para alcançar a mesma genialidade que o original possuía na sua época. Com esta abordagem, Borges questiona a noção de autoria e sugere que o valor duma obra literária não está apenas na sua concepção, mas também na sua interpretação e influência ao longo do tempo. Volta, assim, a desafiar o leitor a refletir sobre as limitações da originalidade e sobre a importância de se reinventar clássicos, desafiando a ideia de que apenas a criação de algo inédito é digna de valor.
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Uma das principais características presentes em Ficções é a exploração do conceito de simultaneidade e a sua profunda influência na obra. Borges utiliza esta ideia para transcender as limitações espaço-temporais e criar narrativas que desafiam as noções convencionais de cronologia e linearidade. Através dos seus contos, o autor mergulha o leitor num labirinto de tempos e realidades entrelaçados, demonstrando que o passado, o presente e o futuro podem coexistir num mesmo instante. Chegamos a um universo onde as linhas temporais se entrelaçam, e a noção tradicional do tempo linear é completamente subvertida. Desse modo, o autor convida-nos a explorar diferentes momentos históricos, personagens e acontecimentos, muitas vezes utilizando técnicas literárias como a reescrita de obras canónicas ou a criação de universos paralelos.
"Não ser um homem, ser a projeção do sonho de outro homem, que humilhação incomparável, que vertigem!"
«Funes, o Memorioso» é um dos contos mais incríveis do livro Ficções. Através do protagonista, Ireneo Funes, Borges apresenta uma personagem extraordinária que desafia os limites da memória humana. Funes possui uma capacidade de recordação inigualável, lembrando-se de cada detalhe de cada momento da sua vida. Esta habilidade, no entanto, torna-se numa maldição para Funes, uma vez que a sua mente está constantemente inundada com uma infinidade de informações. A análise deste conto destaca a natureza paradoxal da memória, que pode ser tanto uma dádiva quanto uma maldição, e questiona a própria essência da identidade humana, sugerindo que a capacidade de esquecer é essencial para a vida. Este é certamente um dos temas mais fascinantes dos que são abordados pelo autor nestes contos, onde nos leva a refletir sobre como a memória condiciona o nosso modo de ser e a maneira como nos relacionamos com o passado, o presente e o futuro.
As Ficções de Jorge Luis Borges é uma viagem por labirintos metafísicos, onde são explorados conceitos como a criação da realidade, a natureza da linguagem e a dualidade entre realidade e ficção. Através de narrativas complexas e intrigantes, o autor desafia as percepções do leitor, questionando a própria natureza da existência e desafiando os limites da compreensão humana. Ler Ficções é como adentrar um mundo onde fronteiras entre realidade e ficção se desfazem, fazendo-nos questionar a nossa própria percepção da realidade. Ler Borges é um convite a perdermo-nos nos seus enigmas, a desbravar novos horizontes e a descobrir a beleza da complexidade. Se estás pronta para te aventurares num universo literário inigualável, este é o livro certo para ti. Se achas que não estás pronta, esquece os medos e preconceitos, e mergulha de cabeça, porque este é um livro para ler e reler ao longo de toda a vida. Contudo, se ainda precisas de mais motivos para tirares este livro da estante, convido-te a assistires ao vlog da Tatiana Feltrin sobre este livro extraordinário. Aceitas o desafio? Não te esqueças de deixar o teu comentário para partilhares o que achas deste livro e deste autor único!
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