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terça-feira, 19 de agosto de 2025

#Livros - Memorial de Aires, de Machado de Assis

 

Capa do livro "Memorial de Aires" publicado pela Tinta da China: fundo de cor rosa escuro com letras pretas elegantes exibindo o título e o nome do autor, Machado de Assis.

Sinopse

O último romance de Machado de Assis marca o nascimento de uma NOVA COLECÇÃO da Tinta-da-China, dedicada ao melhor da literatura brasileira e coordenada por Abel Barros Baptista e Clara Rowland. Memorial de Aires é o último romance de Machado de Assis, publicado no ano da sua morte (1908). Obra extremamente depurada, é a segunda atribuída ao conselheiro Aires, diplomata aposentado, que apareceu no romance anterior, Esaú e Jacó (1904), onde é personagem e autor ficcional. Agora, escreve um conjunto de anotações quotidianas, o Memorial, nos anos de 1888 e 1889.

No cenário da abolição da escravatura, Aires é uma figura complexa como testemunha e comentador: acompanha o velho casal Aguiar e a sua orfandade às avessas, enquanto na escrita se dedica à bela viúva Fidélia, e se envolve nos meandros divagantes do seu próprio e inesperado desejo. Ao mesmo tempo terno e cruel, o livro oscila entre o apontamento disperso e a narrativa escorreita, sempre contido e conciso, enquanto a sombra discreta do Fausto perpassa melancólica, quase indiferente... 


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Opinião 

Memorial de Aires é a obra que me permitiu regressar ao escritor brasileiro Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura e de quem já tinha muitas saudades. Publicado em 1908, o livro apresenta-se na forma de um memorial escrito pelo Conselheiro Aires, um personagem que narra as suas memórias e reflexões sobre a sociedade carioca do final do século XIX, além das suas experiências pessoais e políticas. É sempre um deleite regressar à sua linguagem refinada, ironia subtil e profunda análise psicológica, características que permeiam toda a sua obra. Como um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, Machado deixou um legado literário que combina humor, crítica social e uma visão perspicaz da condição humana, consolidando-se como uma das figuras mais importantes da Literatura brasileira, lugar inteiramente merecido. 


O Brasil era marcado pela transição do Império para a República e os movimentos realistas e naturalistas consolidavam-se na literatura. Este Memorial de Aires, reflete uma fase de maturidade do autor, apresentando-se como um romance de memórias, que se foca num período de apenas dois anos, que combina elementos do realismo com uma visão crítica da sociedade brasileira da sua época. Com um narrador em primeira pessoa, que oferece uma visão subjectiva e muitas vezes ambígua dos acontecimentos, revela as suas nuances com humor. O referido narrador é Aires, um aposentado que decide escrever as suas memórias e reflexões sobre a vida e a sociedade onde se movimenta. 


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Como personagens principais, além do próprio Aires, temos os seus amigos que contribuem para a trama. Destacam-se o casal Aguiar, idosos sem filhos, que suscitam a amizade de todos que com eles privam e que, no momento que Aires os conhece, protege a jovem viúva Fidélia. Com o seu cinismo, custa a crer a Aires que uma jovem tão bela permaneça fiel a um marido morto e acaba por apostar com a sua irmã que Fidélia voltará a casar, sendo esta aposta o fio condutor destas memórias e que obriga o conselheiro a acompanhar de mais perto a vida desta mulher e da família que a acolhe. É assim que são abordados, de forma subtil, temas de amor, ciúme e as complexas relações humanas. O livro explora estas relações, evidenciando as contradições, as hipocrisias e as estratégias de convivência que permeiam as interações sociais. Machado utiliza uma linguagem irónica e o seu olhar crítico para mostrar como o amor está entrelaçado às dinâmicas sociais, enquanto oferece uma visão realista e ao mesmo tempo delicada do universo emocional dos seus personagens. 


"Deixo aqui esta página com o fim único de me lembrar que o acaso também é corregedor de mentiras. Um homem que começa mentindo disfarçada ou descaradamente acaba muita vez exato e sincero." 


Aqui encontras um retrato do Brasil do século XIX, pelas memórias dum homem que, embora não seja um herói ou uma figura grandiosa, revela-se uma testemunha perspicaz da sua época. A narrativa, conduzida na primeira pessoa, confere uma sensação de intimidade e confidência, como se estivéssemos a conversar com o próprio Aires, ouvindo as suas histórias e observações com atenção. A linguagem é elegante, repleta de subtilezas e ironias que Machado de Assis domina com maestria, deixando transparecer um humor discreto. Assim, com a sua prosa refinada, o autor constrói um quadro de memórias e reflexões, onde o humor e a melancolia caminham de mãos dadas, revelando a complexidade do personagem que, entre devaneios e lembranças, procura compreender-se e compreender o mundo ao seu redor. 


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No fundo, Machado apresenta uma visão perspicaz e sempre irónica da sociedade brasileira do século XIX, enquanto nos revela as suas contradições, vaidades e hipocrisias. Com o seu personagem e narrador, evidencia a influência do passado aristocrático, a lentidão das mudanças sociais e a manutenção dos valores tradicionais, muitas vezes vazios. Faz, deste modo, uma crítica à superficialidade das relações sociais e à procura por status, revelando uma sociedade marcada pelo conservadorismo, pela desigualdade e pela resistência às transformações. É assim que a sua visão revela tanto o atraso quando a complexidade do Brasil daquele período, destacando as nuances e as fissuras duma sociedade em transição. Como sempre, Machado demonstra uma notável profundidade psicológica ao retratar os seus personagens. Essa complexidade é evidenciada pela forma como as suas emoções, desejos e dúvidas se entrelaçam. 


"Quero dizer que, cansado de ouvir e de falar a língua francesa, achei vida nova e original na minha língua, e já agora quero morrer com ela na boca e nas orelhas." 


Mais uma vez, Machado não desilude e proporcionou uma leitura rica e envolvente, marcada pela narrativa inteligente e irónica que já lhe conhecemos. A obra consegue misturar o humor com a crítica social, despertando no leitor uma sensação de admiração pela perspicácia do autor. É uma leitura agradável e instigante, acompanhada do retrato dos valores e comportamentos da sua época. Afinal, ler Machado de Assis é sempre um estímulo para o pensamento crítico e para a compreensão das complexidades do comportamento humano, não fosse este autor incontornável na literatura brasileira e para a língua portuguesa. Esta é uma obra da fase madura do autor, pelo que aconselho que comeces pelas anteriores, talvez até alguma das mais conhecidas, para melhor entender o seu estilo e as temáticas recorrentes, e começar o vício que é ler Machado de Assis. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste este livro? O que achaste deste livro invulgar? Qual personagem mais te marcou? Costumas ler Machado de Assis? Qual o teu livro favorito deste autor? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook | Bertrand 

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