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terça-feira, 8 de abril de 2025

#Livros - Verão no Aquário, de Lygia Fagundes Telles

 

A capa do livro "Verão no Aquário", de Lygia Fagundes Telles, apresenta uma jovem sentada em um ambiente intimista, vestindo um delicado vestido branco que evoca uma sensação de pureza e fragilidade. O olhar pensativo da protagonista sugere uma profundidade emocional e reflexões internas, enquanto a suave luz lilás que a envolve confere um toque de sonho e mistério à cena. Essa combinação de elementos cria uma atmosfera poética, refletindo a complexidade das relações e dos sentimentos explorados na obra, convidando o leitor a mergulhar em um universo de introspecção e descoberta.

Sinopse

Galardoada com a mais recente edição do prémio Camões, Lygia Fagundes Telles deixa-nos antever na sua prosa a força arrebatadora do seu espírito. Brasileira de origem, encontra em Portugal o país irmão para dar a conhecer o seu trabalho literário, fruto de uma longa carreira cada vez mais consolidada. Autora de contos é porém no romance que o seu estilo mais se evidencia através do desenvolvimento psicológico das personagens, da descrição dos ambientes e de uma realidade povoada pelas relações humanas, profundas e contraditórias na sua essência. A solidão, o desejo, a rejeição, a dor, a saudade, são sentimentos revisitados por Lygia Fagundes Telles, através de um tom irónico e satírico que põe em confronto a existência e a ausência. 

Publicado em 1963, Verão no Aquário é uma história de desencontros, personificada na relação atribulada entre uma mãe e uma filha, Patrícia e Raíza. Ambas se confrontam pela atenção do exterior, dos outros, sobretudo daqueles que lhes podem dar amor, paixão e conforto. A segurança no próprio ser é encontrada na aprovação de conhecidos e amigos que com elas privam como um jovem que se prepara para seguir a vida eclesiástica. Cansada de lutar pela vida é no calor e no tédio de um Verão prolongado que Raíza se sente aprisionada como um peixe num aquário. Quando chegará a libertação? Mais um romance da grande senhora das letras brasileiras. 


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Opinião 

Verão no Aquário é uma obra da escritora brasileira Lygia Fagundes Telles, publicada em 1964. Com uma carreira literária que se estende por mais de seis décadas, a autora é amplamente reconhecida pela sua capacidade para explorar as complexidades das relações humanas e os dilemas existenciais. Lygia Fagundes Telles, nascida em 1923, destacou-se pela sua prosa poética e sensível, mas também pela sua capacidade de abordar temas como a solidão, a busca por identidade e a condição feminina num contexto social em constante transformação. Com uma obra que abrange romances e contos, a autora conquistou diversos prémios literários e o respeito de críticos e leitores, consolidando-se como uma voz essencial na narrativa brasileira. 


O romance desenrola-se num ambiente urbano e intimista, onde as vidas dos seus personagens se entrelaçam num verão muito quente, e onde se apresenta a vida em São Paulo na década de 1960, um período marcado por intensas transformações sociais e políticas no Brasil. O calor, que permeia a atmosfera da história, simboliza o clima opressivo da cidade e a efervescência das emoções e dos conflitos internos dos personagens. Com o seu estilo único, Lygia captura a essência dum tempo em que as certezas estavam a ser desafiadas e as identidades reconstruídas, criando um romance rico e profundo psicologicamente. Nesta obra, a autora explora a complexidade das emoções e os dilemas existenciais, revelando como as memórias e as experiências moldam a percepção de si e do mundo. 


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Em Verão no Aquário, encontramos personagens marcantes que refletem bem as complexidades das relações humanas. Patrícia, a mãe e pilar de toda a família, é uma mulher introspectiva e sensível, marcada pelas suas experiências passadas, ao mesmo tempo que se dedica à sua carreira de escritora. A sua personalidade é uma mistura de fragilidade e força, enquanto revela uma profunda conexão com as suas emoções e um olhar crítico sobre o mundo ao seu redor. Por outro lado, Raíza, a sua filha, é o contraponto vibrante e inquieto desta relação. Jovem e instável, ela representa bem o estado de inquietação em que vive a sua geração, sempre em busca dum novo estímulo, ainda que seja químico, para se manterem vivos, como se as drogas, o álcool ou o sexo pudessem revelar um propósito ou apenas uma alienação que os desligue da realidade que os rodeia. 


"Então senti-me só. Completamente só. Para Fernando, aquele instante que sucedia ao amor era sempre um instante de paz. Mas para mim era a solidão que vinha nem sabia de onde, uma solidão que se misturava ao medo (...)." 


No centro destas relações complexas entre os personagens, que refletem as nuances da vida e das emoções humanas, encontra-se a relação conflituosa entre mãe e filha. Percebemos que estes conflitos já existiam, mas a rivalidade surge e ganha proporções maiores nesse Verão, à medida que o jovem André se aproxima de Patrícia, em busca de apoio emocional, e desperte o interesse de Raíza, que não consegue ter a certeza se esta relação da sua mãe é apenas platónica ou se já se tornou física, e talvez por isso se sente cada vez mais atraída por este jovem tão diferente dos que conhece. Conforme a narrativa avança, Raíza tem de enfrentar dilemas existenciais que a forçam a confrontar as suas inseguranças e a redescobrir a sua própria identidade. Esta dinâmica entre os personagens é rica em simbolismos e diálogos subtis, proporcionando um desenvolvimento emocional que culmina numa reflexão sobre o amor, a solidão, a loucura e a busca por pertencimento, características marcantes da prosa da autora. 


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Apesar destes personagens se encontrarem num contexto específico, refletem questões humanas universais e atemporais. A narrativa apresenta-os imersos nas suas próprias inquietações, enquanto enfrentam a complexidade das relações, revelando o amor nas suas diferentes facetas - desde o desejo até à desilusão. A solidão é uma constante na vida destas personagens, que parecem procurar conexões verdadeiras, mas que invariavelmente dão por si isolados nas suas angústias internas, sem conseguir partilhar o que sentem com os outros. Além disso, a busca por identidade é uma jornada presente ao longo da trama, onde Raíza e André questionam as suas escolhas e anseios, embora tenham visões muito diferentes do mundo, e consequentemente desfechos totalmente opostos no final dessa Verão onde o calor não lhes dá tréguas. 


"O que é que eu fora buscar, afinal? O amor? Mas que amor? Uma lembrança tão sem beleza a daquela posse transformada na mais áspera das polémicas, nem prazer tivera (...)." 


A escrita de Lygia Fagundes Telles é marcada por uma prosa poética e intimista, que reflete bem a sua habilidade para capturar a complexidades das emoções humanas e as nuances das relações interpessoais. Com uma linguagem rica e sensível, que mistura descrições fantásticas com diálogos subtis, permite ao leitor mergulhar na psicologia dos seus personagens e dos seus dilemas. A autora também se destaca pelo uso de metáforas e imagens que evocam a natureza e quotidiano, criando uma atmosfera que oscila entre o sonho e a realidade. A sua narrativa é muitas vezes não linear, explorando o tempo de forma flexível e revelando os pensamentos e sentimentos da protagonista de maneira fragmentada, o que enriquece a experiência de leitura. Esta abordagem confere uma profundidade única à obra e parece-me um traço muito distintivo do trabalho desta escritora. 


Ao longo da leitura, senti-me tocada pela sensibilidade da autora ao retratar os dilemas internos dos seus personagens, que, mesmo num cenário aparentemente leve, carregam angústias e anseios profundos. A forma como Lygia Fagundes Telles entrelaça memórias, desejos e a passagem do tempo é fascinante e deixa-nos presos às suas páginas, sempre ansiosos por saber mais do se seguirá. A narrativa delicada e poética, mesmo nos momentos mais duros, revela muito mais do que a beleza efémera do Verão, como ainda a inevitabilidade da mudança e do crescimento pessoal e o custo que acarretam. Graças à habilidade ímpar da autora, consegue transformar momentos aparentemente simples em reflexões sobre a vida e a solidão, numa meditação sobre a efemeridade das relações. Pela minha parte, só ficou reforçada a minha intenção de continuar a descobrir a restante obra da autora e, como tal, só te posso recomendar esta leitura se gostas de explorar a complexidade das relações e a introspecção psicológica ou se aprecias narrativas que misturam elementos do quotidiano e profundidade emocional, sem esquecer os fãs da Literatura brasileira, claro. 


Agora, quero muito saber a tua opinião! Quais as tuas impressões sobre Verão no Aquário? Que personagem te chamou mais à atenção e por quê? Como interpretas os temas da solidão e do autoconhecimento presentes na obra? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog 


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