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terça-feira, 30 de dezembro de 2025

#Livros - Os Retornados, de Júlio Magalhães

 

Capa do livro "Os Retornados", de Júlio Magalhães, publicada pela Esfera dos Livros: uma foto que mostra um casal próximo, segurando uma mala, cercado por outras pessoas em um ambiente que sugere uma situação de despedida ou chegada, transmitindo emoções de esperança, despedida e recomeço.

Sinopse

Outubro, 1975. Quando o avião levantou voo deixando para trás a baía de Luanda, Carlos Jorge tentou a todo o custo controlar a emoção. Em Angola deixava um pedaço de terra e de vida. Acompanhado pela mulher e filhos, partia rumo ao desconhecido. A uma pátria que não era a sua. Joana não ficou indiferente ao drama dos passageiros que sobrelotavam o voo 233. O mais difícil da sua carreira como hospedeira. No meio de tanta tristeza, Joana não conseguia esquecer o olhar firma e decidido de Carlos Jorge. Não percebia porquê, mas aquele homem perturbava-a profundamente. Despertava-a para a dura realidade da descolonização portuguesa e para um novo sentimento que só viria a ser desvendado vinte anos mais tarde. Foram milhares os portugueses que entre 1974 e 1975 fizeram a maior ponte aérea de que há memória em Portugal. Em Angola, a luta pelo poder dos movimentos independentistas espalhou o terror e a morte por um país outrora considerado a jóia do império português. Naquela espiral de violência, não havia outra solução senão abandonar tudo: emprego, casa, terras, fábricas e amigos de uma vida. 


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Opinião 

Os Retornados mergulha na complexidade das experiências do regresso dos portugueses das colónias, após o 25 de Abril, enquanto explora a identidade, a memória e a transformação. O livro destaca-se pela abordagem sensível, envolvendo o leitor numa narrativa que entrelaça História e emoções. Júlio Magalhães, famoso jornalista portuense, traz à tona uma escrita envolvente e reflexiva, marcada por uma pesquisa cuidadosa e uma sensibilidade aguçada para captar as nuances do tema. A obra situa-se no contexto histórico do século XX português e explora as complexidades e os conflitos internos dos personagens que viveram o regresso abrupto à metrópole e que ficam marcados pelos eventos traumáticos dessa época. 


O estilo de escrita de Júlio Magalhaes é marcado por uma narrativa envolvente e sensível, que combina uma linguagem clara e acessível com momentos de maior introspecção e reflexão. Os temas abordados incluem a memória, o retorno às raízes, a busca por identidade e o impacto psicológico das mudanças sociais e políticas. Além disso, também explora questões de pertencimento e a complexidade das relações humanas, evidenciando a profundidade e a delicadeza com que trata temas universais, enquadrados no nosso passado recente e com o qual é fácil relacionar-se. Na sua estreia como escritor de ficção, Júlio Magalhães levo-nos a conhecer uma série de personagens que enfrentam desafios e mudanças intensas quando são obrigados a regressar a Portugal, quando as condições de segurança em Angola não lhes permite continuar as suas vidas normais. Muitos estão a chegar à metrópole pela primeira vez, pois já nasceram na colónia e o vínculo com este país era inexistente. 


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A linha condutora de todo o livro é a protagonista Joana, que consegue concretizar o seu sonho e torna-se hospedeira de bordo, depois duma curta passagem pelo Direito. Em 1975, dá por si envolvida na maior ponte aérea portuguesa, quando se encontra num voo que pretende trazer o maior número possível de pessoas de Angola em segurança, onde é confrontada com aquilo que as televisões não mostravam. O desespero e a tristeza de quem não queria partir, mas não encontra outra opção. De quem abandona a sua pátria, e chega a um país que dizem ser o seu, mas que não os recebe de braços abertos. De quem perdeu tudo e, agora, terá de começar do zero. As suas vidas não voltarão a ser as mesmas depois desta viagem, embora nem todos se apercebam disso. 


"O regresso a Lisboa de quase meio milhão de portugueses, feito de forma precipitada, era bem a imagem daquilo que foi o processo de descolonização: confuso e desastrado." 


Com uma linguagem envolvente e diálogos precisos, o autor consegue criar personagens complexos e realistas, cuja trajetória reflete os dilemas emocionais e sociais enfrentados pelos retornados. Mantendo o foco na memória, no retorno, na identidade e nas histórias pessoais e colectivas, a obra retrata o impacto do retorno dos exilados portugueses. O autor mistura elementos de ficção que mistura com muitos relatos reais, que foi recolhendo ao longo da vida, a começar pela sua família que também viveu este momento histórico, o que nos permite compreender a complexidade dos sentimentos de perda, esperança e reencontro. Júlio Magalhães também evidencia as transformações sociais e pessoais decorrentes do retorno, porque nos permite um reencontro com estas figuras passados muitos anos, e assim conseguimos ver como cada um lidou com o sucedido e que caminho escolheram trilhar em Portugal. 


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Numa época em que tanto se fala das celebrações de Abril e o que se lhe seguiu, parece-me muito relevante continuar a explorar o que aconteceu a estas pessoas que deixaram tudo para trás e ajudaram a construir este país democrático. Ao retratar as experiências destes personagens que retornam do conflito ou da situação limite, o livro convida-nos a refletir sobre os efeitos duradouros de eventos traumáticos na vida individual e colectiva, com consequências que ainda hoje são visíveis na nossa sociedade. Um dos principais pontos fortes de Os Retornados reside no seu estilo de escrita sensível, que consegue transmitir de forma vívida as emoções e dilemas dos personagens. Além disso, a atmosfera criada ao longo da narrativa é carregada de tensão e nostalgia, que torna a leitura uma experiência emocionalmente enriquecedora. 


"Fazia um esforço para se pôr no lugar de um só dos passageiros e imaginar quanta amargura ali viajava. Chegou mesmo a pensar que aquele avião ia cheio de gente, mas cheio de nada." 


Embora o livro seja envolvente e interessante, há alguns aspectos que poderiam ser aprimorados. Em primeiro lugar, a narrativa, às vezes, apresenta uma certa previsibilidade, o que pode diminuir o impacto da história para leitores mais experientes. Além disso, alguns personagens secundários poderiam ser mais desenvolvidos, oferecendo uma maior profundidade e complexidade às suas trajetórias, e não se limitando a fechar o círculo em torno de Joana e das vidas que com ela se cruzaram. Apesar disto tudo, é uma leitura que vale a pena pelas reflexões que provoca, pelo interesse que pode despertar e até impactar emocionalmente, para todos os que se reconhecem nesta história, com os familiares próximos que viveram algo de semelhante. Mas agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste Os Retornados? Que aspectos do livro mais te chamaram a atenção? Conheces outras obras do autor? Conta-me tudo nos comentários! 


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Wook 

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