expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

Subscreve a Newsletter

terça-feira, 21 de outubro de 2025

#Livros - Batalha Incerta, de John Steinbeck

 

Foto de capa em preto e branco do livro "Batalha Incerta" (Livros do Brasil): um cesto de maçãs caídas repousa sobre um fundo bege suave, toda a cena em tonalidades monocromáticas, transmitindo um clima rural e sóbrio.

Sinopse

Nos campos de Torgas Valley, na Califórnia, os apanhadores de maçãs estão decididos a pôr fim às práticas gananciosas impostas pelo pequeno grupo de proprietários rurais e a greve é declarada. No meio da insurreição, Jim Nolan, rapaz solitário desesperado por dar um sentido à sua existência, rapidamente se vê à frente das operações. Mas à medida que a luta cresce, a violência impõe-se de um modo implacável e a defesa pelo reconhecimento dos direitos fundamentais dos trabalhadores transforma-se num fanatismo cego, que ameaça esmagar a vida daqueles que se entregaram ao seu serviço. Romance empolgante que é ao mesmo tempo um olhar admirável sobre a agitação social e política e a história comovente de um jovem que procura definir a sua identidade, Batalha Incerta foi um dos primeiros títulos escritos por John Steinbeck, lançado em 1936, e desde logo revelador de alguns dos temas que mais marcariam a sua obra: o comportamento de grupo, a luta de classes, a injustiça social e a falta de solidariedade entre os homens. 


Buy Me A Coffee

Opinião 

A narrativa de Batalha Incerta, segundo livro de Steinbeck, ocorre numa plantação na Califórnia durante a década de 1930, em pleno despontar da Grande Depressão. O foco recai sobre a organização dos trabalhadores rurais e as cordas tensas do confronto entre a base operária e os proprietários das terras. Através da lente dum movimento sindical emergente, Steinbeck investiga as dinâmicas da liderança, solidariedade e conflito, bem como as dificuldades materiais e morais enfrentadas tanto por quem luta pela organização quanto por quem resiste à mobilização. É um retrato contundente das condições de trabalho na agricultura e das tentativas de unir trabalhadores sob uma causa comum frente a interesses empresariais e ambições pessoais. 


Escrito em 1936, apresenta o ambiente de precariedade económica, conflitos entre trabalhadores e patrões, violência e repressão policial, além da mobilização sindical que procurar mudar as condições de trabalho e os salários. Steinbeck insere a narrativa no cenário das lutas trabalhistas nos Estados Unidos, revelando as dinâmicas de solidariedade, medo, convicção ideológica e os dilemas éticos enfrentados pelos protagonistas no enfrentamento com a ordem estabelecida. A desigualdade é o eixo central que dá densidade à migração forçada de trabalhadores rurais, cujas trajetórias mudam conforme as necessidades do mercado e as respostas das autoridades. 


Podes ler também a minha opinião sobre As Vinhas da Ira 


O romance expõe a precariedade económica que empurra indivíduos de diferentes origens a partilharem um destino comum: a batalha por melhores condições de trabalho, salários dignos e sobrevivência. Esta luta não é apenas entre trabalhadores e proprietários, mas entre a visão individualista do lucro e a força coletiva que emerge da organização e da solidariedade. Steinbeck enfatiza que a solidariedade operária não é apenas emocional, mas estratégica. Afinal, a construção de vínculos, a partilha de recursos e a participação em acções conjuntas revelam-se cruciais para a resistência contra a exploração, sugerindo que, em última análise, a dignidade humana depende da capacidade de agir juntos. O autor também desconstrói a ideia de autoridade como veículo de justiça e, ao contrário, apresenta-a como força coerciva que frequentemente mascara interesses económicos e de classe. 


"A casa onde vivíamos estava sempre cheia de ódio. O ódio pairava entre aquelas paredes como fumo. Era o ódio cansado, perverso, contra o patrão, contra o diretor, contra o merceeiro quando cortava o crédito, era um ódio que nos indispunha, que nos revoltava o estômago, mas que não podíamos evitar." 


A fé emerge como combustível inicial, pois os trabalhadores abraçam a causa sindical como uma promessa de dignidade e mudança, alimentando-se de narrativas de solidariedade que lhes conferem sentido e propósito frente às pressões do proprietário e da máquina industrial. O autor não romantiza a violência, mas coloca-a emaranhada com a pobreza, a discriminação e a impotência social, mostrando que a justiça verdadeira raramente se impõe sem custo. Em muitos momentos, a violência funciona como resposta necessária a abusos de poder, mas também expõe as consequências morais do que é descrito como justiça violenta: cicatrizes, desconfiança e perpetuação de ciclos de retaliação. Sublinhando a ambiguidade moral que acompanha a luta de classes, em Batalha Incerta não já heróis inquestionáveis. Cada figura oscila entre idealismo e pragmatismo, entre lealdade aos seus princípios e a tentação de atalhos que prometem resultados imediatos. Steinbeck, ao explorar estas escolhas, revela a complexidade da moralidade, onde o certo e o errado não são absolutos, mas dependem sempre do contexto, das pressões sociais e das consequências para as pessoas envolvidas. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre O Som e a Fúria 


Em Batalha Incerta, o autor apresenta os protagonistas através de arquétipos que se entrelaçam ao longo da narrativa. Temos a liderança personificada no jovem organizador, cuja presença inspira a congregação dos trabalhadores e tenta transformar a mobilização numa acção coesa; o medo, que paira como uma força invisível capaz de silenciar vozes ou incitar reações extremas diante da repressão e da violência potencial por parte dos patrões; o idealismo, que move muitos personagens a acreditar na possibilidade de justiça social e dum futuro melhor, mesmo sob condições duras e desumanas. Já os antagonistas são, na verdade, um conjunto de forças que representam o poder económico e a ordem social que sustenta a exploração. As relações entre os personagens são o motor que impulsiona toda a acção, com a solidariedade frágil entre os trabalhadores, as tensões entre líderes voluntários e a distância criada pelas diferenças de origem, fé e experiência. 


"O mal é que os tipos que estudam as pessoas pensam sempre que as multidões são homens, e não são. É uma espécie de animal diferente, tão diferente dos homens como os cães. É formidável quando podemos utilizar uma multidão, mas infelizmente não sabemos o suficiente a seu respeito. Quando alguma coisa a atira para a frente, é capaz de tudo." 


A voz do livro é predominantemente observacional, dado que o texto se apresenta como um relato quase jornalístico dos acontecimentos da greve, descrevendo acções, cenários, gestos e falas com atenção aos detalhes. A história constrói o clímax através duma sequência de encontros intensos e quase ritualizados, como a organização da greve, os encontros secretos, a reação violenta dos proprietários, que deixa os personagens expostos à sua fragilidade. Em suma, a força do livro reside na fusão entre uma intensidade narrativa marcante, uma visão clara do contexto social e personagens que funcionam como portais para a compreensão das forças coletivas em jogo. Um dos aspectos que mais me fascina na obra de Steinbeck é a forma como usa a linguagem, com uma simplicidade que não reduz a complexidade humana. A sua prosa costuma dispor-se em frases enxutas, com cadência firma, que conduzem o leitor passo a passo pela cena, pelo conflito e pela dor. 


Ao longo desta narrativa, Steinbeck expõe a luta entre trabalhadores e proprietários rurais, as ambiguidades da acção coletiva e o custo humano da batalha por justiça, levando a uma conclusão bem amarga sobre a possibilidade de vitória sem sacrifício. É fascinante constatar a maturidade do autor, mesmo numa obra tão inicial da sua carreira, onde não nos poupa emoções nem ambiguidades morais. Mas agora quero muito saber a tua opinião! Já conheces a obra de Steinbeck? Já leste Batalha Incerta? O que achaste desta narrativa? Qual o momento que mais te marcou? Tens algum personagem favorito? Conta-me tudo nos comentários! 


Encomenda o teu exemplar através dos links abaixo, sem custos adicionais para ti, e contribui para as próximas leituras deste blog


Wook | Bertrand 

Sem comentários:

Obrigada pela visita e pelo comentário. Terei todo o gosto em responder muito em breve.
*Não esquecer de marcar a caixinha para receber notificação quando a resposta ficar disponível.
Até breve!

Subscreve a Newsletter