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quinta-feira, 29 de agosto de 2024

#Séries - Sr. Rui

 

José Raposo, interpretando Rui Nabeiro na fase adulta, vestindo um fato escuro, está posicionado no centro da imagem rodeado por sacos de café. A expressão no seu rosto reflete determinação e sabedoria, simbolizando a paixão e o legado do icónico empresário e mentor do setor cafeeiro em Portugal.

Sinopse

Senhor Rui - Um Homem do Povo conta a história de uma das figuras portuguesas mais carismáticas de sempre. Criado no Alentejo rural nos primeiros anos de ditadura, Rui Nabeiro foi o jovem habilidoso que vingou no contrabando, o visionário que expandiu internacionalmente o seu negócio de café, o político amado pelo povo, por nunca esquecer que a riqueza e o poder devem servir a comunidade. 


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Opinião 

Senhor Rui é uma série biográfica, disponível na Amazon Prime Vídeo, que mergulha na vida e na obra de Rui Nabeiro, uma das figuras mais emblemáticas e influentes do empreendedorismo em Portugal. A série retrata a trajetória profissional de Nabeiro, fundador da icónica Delta Cafés, e ainda a sua ligação com as raízes familiares e culturais em Campo Maior, que moldaram a sua visão enquanto homem de negócios e o seu compromisso com a comunidade. Com uma narrativa envolvente e atuações marcantes, Senhor Rui entrega uma mensagem de perseverança, inovação e sobre a importância das relações humanas, inspirando tanto os inúmeros admiradores do empresário quanto novos públicos que só agora vão descobrir a história daquele velhinho com ar simpático que morreu recentemente mas que transcendeu os limites da sua condição para deixar um legado duradouro na sua região e no seu país. 


Nascido em 1931, Nabeiro transformou a indústria do café em Portugal, fundando a reconhecida empresa Delta, que se tornou sinónimo de qualidade e tradição e de compromisso social e comunitário. Ao longo da sua vida, além de ter solidificado a sua influência no sector empresarial, também destacou-se como um exemplo de ética e responsabilidade social, recusando-se a sair do seu Alentejo, contribuiu e muito para o desenvolvimento económico e sustentável da sua região. A série mostra-nos as suas raízes com uma família humilde, que certamente moldou o seu espírito resiliente, e revela as vicissitudes por que teve de passar para construir o seu futuro e moldar o seu destino. Os desafios inerentes à sua condição social, mas também as condicionantes de quem vivia numa ditadura. Mas contra todas as probabilidades, torna-se fundador de uma das maiores marcas de café do país e, certamente, a mais querida por todos. 


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Ao longo da série conhecemos personagens essenciais que influenciaram a sua vida, como a mãe e o pai, os irmãos, a mulher por quem se apaixona e se torna sua mulher e companheira de vida. Todos eles contribuíram e influenciaram o seu carácter e a sua filosofia de vida. Quanto aos negócios, acompanhamos o início, com as incursões com o tio para Espanha, o que era considerado contrabando e que podia terminar mal com todos presos. Felizmente, foi assim que se iniciou e começou a entender o mundo do café, sendo capaz de reconhecer as oportunidades do mercado e apostar em práticas inovadoras, para a época, que transformaram a sua empresa num ícone da indústria. Através da sua perseverança admirável e do compromisso inabalável com a excelência, Rui Nabeiro consolidou uma marca de sucesso e inspirou várias gerações de empreendedores. 


Elenco da primeira fase da série 'Senhor Rui', durante a emocionante cena do casamento de Rui Nabeiro e sua esposa, retratando um momento de celebração rodeado por amor e tradições familiares. A mãe de Rui, presente nessa ocasião especial, simboliza a importância das raízes e dos laços familiares na trajetória do protagonista, que se destaca tanto por sua vida pessoal quanto por sua carreira empreendedora.

A narrativa mostra o que todos, mal ou bem, já sabíamos. Que Rui Nabeiro procurou sempre retribuir à sua terra e à comunidade, criando emprego, pagando melhor que o que existia ao seu redor, permitindo que todos os seus funcionários tivessem uma vida digna e possibilidade de crescer e construir uma família, promovendo a educação e a cultura. O que não sabia de todo era o seu papel enquanto Presidente da Câmara e do quanto, desse modo, ajudou também a sua comunidade, sendo aquilo que se espera dum autarca, algo que muita falta faz nos dias que correm. Acima de tudo, é uma série que fala de valores e princípios, através da vida dum homem especial e único. É a valorização do trabalho árduo, do empreendedorismo responsável, ressaltando a importância da perseverança e da determinação. Sem esquecer que nunca devemos abandonar a humildade e a generosidade. A grande lição talvez seja que o sucesso não deve ser medido apenas em termos financeiros, mas sobretudo pela capacidade de impactar positivamente a vida dos outros. 


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As reacções que vi e ouvi foram bastante positivas entre o público em geral, e pessoalmente também gostei muito do que vi, em especial o desempenho do elenco, seja os intérpretes da fase jovem quanto da fase mais velha. A interpretação de José Raposo, só para dar um exemplo, é extraordinária pela forma como captou a figura familiar de todos nós, com os seus gestos, a sua forma de falar, até o seu sotaque. No entanto, acho que dois episódios foi pouco para contar uma vida tão rica e deduzo que muita coisa tenha ficado de fora, o que é uma pena pois gostaria de ter visto mais. Ainda assim, acredito que esta série terá um papel fundamental na preservação da memória de Rui Nabeiro, em especial para as gerações mais novas que só conhecem a Delta como uma grande empresa, mas não conhecem o seu passado e a sua origem. Estamos perante bem mais do que apenas um empresário bem sucedido. Era um pai de família, amigo dedicado, membro da sua comunidade e participante activo da mudança em que acreditava quando a Democracia chegou. 



Depois de ter passado na TVI, está agora disponível na Amazon Prime Vídeo, e é a escolha certa para quem se interessa por empreendedorismo e até pela história recente de Portugal. A série é uma excelente oportunidade para aprender sobre resiliência, inovação e a importância das raízes até no mundo dos negócios, ao mesmo tempo que mergulhamos na luta de um homem simples que construiu um império, sem esquecer de onde veio, nem de ensinar aos seus o poder da solidariedade. Em suma, é uma bela homenagem à vida e à obra de Rui Nabeiro que recomendo a toda a gente, porque acredito que qualquer pessoa pode beneficiar de conhecer mais sobre este homem extraordinário. Agora, se já assististe à série Senhor Rui, quero muito saber a tua opinião! O que achaste da vida de Rui Nabeiro? Qual a parte que mais te impactou? A infância difícil ou a vida adulta de conquistas? Gostaste da escolha do elenco? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 27 de agosto de 2024

#Livros - Quincas Borba, de Machado de Assis

 

A imagem da capa do livro "Quincas Borba", publicado pela Editora Guerra e Paz, apresenta um fundo bege suave que cria uma atmosfera clássica e atemporal. Na parte superior, uma barra branca destaca o título da obra e o nome do autor, Machado de Assis, em tipografia elegante e legível. A composição é complementada por uma série de ilustrações pequenas de cabeças de cães, que adicionam um toque lúdico e simbólico à identidade visual do livro, refletindo a conexão entre o protagonista e o tema central da história. Esta capa, com seu design sofisticado e minimalista, convida o leitor a adentrar o universo complexo e irônico do renomado autor brasileiro.

Sinopse

Amor e loucura, num livro delicioso sobre a grandeza dos sonhos e a miséria da realidade humana. Rubião, modesto professor de província, herda uma fortuna do filósofo Quincas Borba. Mas com a riqueza vem igualmente a loucura do seu amigo. Dissipa a fortuna em ostentação e em ajudas à trupe de oportunistas que o rodeiam assim que chega ao Rio de Janeiro. Perdido num mundo que não entende, Rubião acaba sozinho, e os parasitas ascendem à sua custa. No fim, triunfam os fortes, dando razão ao lema de Quincas Borba: «Ao vencedor, as batatas!» Este é o grande trunfo de Machado de Assis, sugerir as coisas mais terríveis da maneira mais cândida. Um romance essencial na língua portuguesa, um autor injustamente esquecido, que ombreia com Eça e Camilo. 


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Opinião 

Machado de Assis, um dos maiores nomes da literatura brasileira, nasceu em 21 de Junho de 1839, no Rio de Janeiro, e destacou-se como romancista, contista, dramaturgo e poeta. Filho dum imigrante português e duma criada mulata, a sua trajetória é marcada por uma ascensão notável num período em que a elite literária era predominantemente branca e aristocrática. Machado transformou a prosa e a poesia brasileiras, ao empregar uma linguagem inovadora e abordar temas complexos como a identidade, a hipocrisia social e a condição humana. Obras como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas consolidaram a sua reputação como mestre do realismo, sendo Quincas Borba, publicado em 1891, um exemplo claro da sua habilidade para explorar as nuances do comportamento humano, além de refletir as tensões sociais do seu tempo. Apesar de ser detestado pelos estudantes brasileiros que precisam prestar prova sobre os seus livros, o autor permanece uma figura central no cânone literário, famoso pela sua profundidade intelectual e pela sua capacidade de abordar questões filosóficas e morais com leveza e ironia. 


Quincas Borba, inserido no período de transição entre o romantismo e o realismo, integra-se no contexto da literatura brasileira do final do século XIX. Neste momento histórico, o Brasil enfrenta profundas transformações sociais e políticas, como a Proclamação da República em 1889 e a crescente urbanização e industrialização. A obra de Machado de Assis reflete as inquietações e contradições desta nova realidade, apresentando uma crítica aguçada à hipocrisia da sociedade carioca daquele tempo. Na sua narrativa, o autor explora temas como a luta pela sobrevivência, a ambição, o poder e a deterioração dos valores humanos, utilizando a figura do pobre Quincas Borba e o seu famoso "humanitismo" como veículo para discutir questões existenciais e morais, voltando a provar a sua genialidade para transcender as convenções literárias da sua época. 


Podes ler também a minha opinião sobre A Mão e a Luva


Este é um romance que narra a trajetória de Rubião, um ingénuo professor de filosofia que, ao herdar a fortuna do seu amigo Quincas Borba, vê-se num mundo de relacionamentos complicados e hipocrisias sociais. A história desenrola-se em torno da interação de Rubião com uma série de personagens peculiares, que, acima de tudo, procuram beneficiar-se com a sua nova condição financeira. À medida que o protagonista enfrenta as consequências da sua fortuna repentina e as expectativas dos que o rodeiam, o romance explora temas como a inconstância da riqueza, a natureza humana e procura pela identidade própria numa sociedade marcada pelo egoísmo e pela traição. 


"Tão certo é que a paisagem depende do ponto de vista, e que o melhor modo de apreciar o chicote é ter-lhe o cabo na mão." 


Esta obra emblemática de Machado de Assis explora de maneira penetrante a interseção entre a loucura e a sanidade, revelando como essas condições podem ser subjetivas e interdependentes. O personagem que começa por dar nome ao livro e que vive sob a influência da sua filosofia peculiar, desencadeia uma série de reflexões sobre a natureza da realidade e da razão. À medida que a narrativa avança, a linha entre lucidez e irracionalidade torna-se cada vez mais ténue, especialmente nas relações entre os personagens e as suas motivações. A loucura de Quincas Borba, muitas vezes vista como uma forma de liberdade e como uma crítica à sociedade, contrasta com a sanidade aparente dos demais personagens, que frequentemente se mostram ainda mais insensatos nas suas ambições e comportamentos. Como nos habituou, Machado utiliza o humor e a ironia como ferramentas para a sua crítica social contra a hipocrisia da sociedade brasileira do século XIX. No fundo, a dita hipocrisia da elite é escancarada na forma como os personagens se relacionam, disfarçando interesses pessoais sob uma fachada de moralidade e civismo. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas


Rubião, o amigo que herda a fortuna e o cão de Quincas Borba, com a sua trajetória, revela como a ambição pode distorcer valores e relações interpessoais. A sua procura desenfreada por status e reconhecimento leva Rubião a envolver-se com pessoas traiçoeiras, onde as máscaras sociais tornam-se necessárias para a sobrevivência. Existe uma evolução do protagonista, que começa por ser um homem simples e ingénuo, que vive do seu pobre salário de professor, mas que entra na elite do Rio de Janeiro depois de se tornar herdeiro. À sua volta, gradualmente, aparecem supostos amigos que, com a desculpa de lhe fazer companhia, vivam à sua custa, comendo e bebendo à sua mesa, mesmo na sua ausência. O número de amigos aumenta e o dinheiro, como por artes mágicas, diminui de forma proporcional. Afinal, se gastamos sem medida, sem fazer nada para ganhar mais, um dia qualquer fortuna acaba, por maior que seja. Portanto, como seria fácil prever, esta trajetória culmina com um desfecho trágico, onde as desilusões revelam a fragilidade do ser humano diante das ilusões sociais e do próprio destino. 


"Duas blasfémias, menina; a primeira é que não se deve amar a ninguém como a Deus, a segunda é que um marido, ainda sendo mau, sempre é melhor que o melhor dos sonhos." 


A escrita de Machado de Assis é sempre marcada por uma ironia subtil e um humor refinado, e em Quincas Borba não é excepção. Através de diálogos mordazes e descrições que revelam mais do que aparentemente se vê, o autor conduz o leitor a uma reflexão crítica sobre a ambição, a loucura e as relações sociais. Não podemos esquecer nem ignorar o papel do narrador, que incorpora um tom irónico e reflexivo ao longo de toda a trama. Este narrador onisciente, flui entre os pensamentos e sentimentos dos personagens, revelando não só as suas acções, mas também as suas motivações e conflitos internos. A verdade é que esta obra permanece de enorme relevância nos dias de hoje, devido aos temas universais que aborda. Retrata a sua época, mas também leva a uma análise das dinâmicas eternas da natureza humana, com um desvio interessante que passa pela saúde mental, tema tão em voga nos dias que correm. Recomendo para os que se interessam pela literatura brasileira clássica, amantes da prosa filosófica e da crítica social. Assim, torna-se essencial tanto para quem procura prazer estético quanto para os que querem uma reflexão mais profunda sobre a vida. 


Como sempre, Machado de Assis entrega uma história incrível, especial e que fica na nossa mente muito tempo depois de termos terminado a leitura. Comprado em Junho, na Feira do Livro de Lisboa, lido nas férias em Julho, quase a chegar a Setembro ainda dou por mim a pensar no excêntrico Quincas Borba e no ingénuo Rubião. Agora, conta-me, já leste Quincas Borba? O que achaste da ascensão do Rubião no Rio de Janeiro cosmopolita? A queda foi culpa dele ou dos que o rodeavam? És fã do trabalho de Machado de Assis? Qual o teu favorito do autor? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Verão 2024 - Leituras das Férias

 

"Composição de verão, apresentando uma toalha de praia colorida, óculos de sol estilosos, uma máquina fotográfica pronta para capturar momentos e um livro aberto que convida à leitura, simbolizando a perfeita combinação entre relaxamento e boas histórias nas férias de Verão 2024."

Com a chegada do Verão, muitos de nós encontramos tempo para relaxar e nos perder entre as páginas de boas histórias. Este ano, as férias grandes foram em Julho e foram uma oportunidade perfeita para explorar novas narrativas, mergulhar em mundos fascinantes e descobrir ou revisitar autores incríveis. Hoje, vou partilhar contigo as leituras que me acompanharam durante as duas semanas de descanso, no intervalo dos jantares e saídas com os amigos de sempre. Portanto, prepara-te para inspirações literárias que podem ser a companhia ideal para os teus dias ensolarados! Vamos explorar as páginas que marcaram o meu Verão. 


Alt descrição: Pilha de livros incluindo "A minha avó pede desculpa", "Quincas Borba" e "Os Últimos Dias de Henrique VIII", simbolizando as leituras de férias de Verão 2024.

1. A minha avó pede desculpa

Começo por dizer que os livros comprados na Feira do Livro de Lisboa deste ano têm andado a furar filas e muitos ganharam prioridade nas minhas vontades. É o caso deste do sueco Fredrik Backman que comecei a ler ainda antes de ir de férias propriamente ditas. Claro que, depois de ter começado, não poderia deixá-lo na mesa de cabeceira abandonado por duas semanas e continuei a aventurar-me no mundo de fantasia e mistério duma avó e da sua neta logo nos primeiros dias de descanso. E que bela companhia. A opinião já está no blog e é só ires ler e deixares as tuas impressões nos comentários, lá ou aqui. 


Wook | Bertrand 


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2. Quincas Borba

Depois de ler as obras mais famosas de Machado de Assis, andava a sentir lhe a falta na minha estante e nas minhas leituras. Foi o segundo livro lido nas férias e volta a comprovar-se a genialidade deste autor brasileiro que deveria ser mais conhecido por cá, para bem dos leitores. Em breve, vais encontrar a opinião por cá, que será daquelas que dão um especial prazer ao escrever porque permite revisitar uma história marcante e fantástica, repleta da ironia deliciosa de Machado. 


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3. Os Últimos Dias de Henrique VIII

O último livro não era ficção, mas sim um livro de História sobre uma das épocas mais fascinantes e que já ocupa muito espaço neste blog. Os Tudors são figuras complexas e que podem ser analisadas sobre muitos ângulos e pontos de vista. Com um olha histórico, tendo por base os documentos e relatos da época, temos aqui um retrato sobre o fim do reinado de Henrique VIII, os anos de declínio físico, o momento em que se tornou no verdadeiro tirano que lembramos. Só sairá em Setembro, mas é estares atenta que a opinião vai aparecer por cá. 


Wook | Bertrand 


Concluindo, as férias de Verão foram repletas de descobertas literárias que enriqueceram os meus dias e entregaram muito mais do que estava à espera. Cada livro que li trouxe uma nova perspectiva, uma aventura única e momentos especiais que certamente levarei comigo ao longo do tempo. Seja a explorar mundos distantes, a mergulhar em histórias apaixonantes ou a aprender algo novo, a literatura tem o poder de nos transportar e nos transformar. Espero que estas minhas escolhas possam te inspirar a escolheres as tuas próximas leituras, sejam ou não, para as férias. 


Agora, conta-me o que leste nestas férias? Tens algum género preferido para a silly season? Costumas ler mais ou menos nessa altura? Qual a leitura mais incrível que fizeste? Fico à espera do teu comentário! 

terça-feira, 20 de agosto de 2024

#Livros - 21 Lições para o Século XXI, de Yuval Noah Harari

 

"Descubra as provocativas reflexões de Yuval Noah Harari em '21 Lições para o Século XXI', uma obra essencial que explora os desafios e dilemas da nossa era. A capa, com um intrigante olho humano em destaque sobre um fundo bege, convida o leitor a observar o mundo sob novas perspectivas e a ponderar sobre questões cruciais que moldam o presente e o futuro."

Sinopse

Qual o verdadeiro significado dos eventos que hoje testemunhamos e como poderemos lidar com eles à escala individual? Que desafios e escolhas se nos deparam? O que poderemos legar ou ensinar aos nossos filhos? Algumas das questões que procurarei explorar e dar resposta incluem o significado da ascensão de Trump, se Deus estará ou não de regresso ao nosso mundo, se o nacionalismo pode ser a resposta a problemas como o aquecimento global. 

O livro está dividido em 5 partes (O Desafio Tecnológico, o Desafio da Política, Desespero e Esperança, Verdade, Resiliência), cada uma delas com questões dedicadas a temas específicos, no total de 21 lições para o século XXI. 


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Opinião 

Yuval Noah Harari é um historiador e professor na Universidade Hebraica de Jerusalém, amplamente reconhecido pela sua habilidade para abordar questões complexas da trajetória humana numa linguagem acessível e instigante. Autor de best-sellers, Harari destaca-se pela sua capacidade de interligar aspectos da história, filosofia e tecnologia, convidando os leitores a refletirem sobre os desafios contemporâneos enfrentados pela sociedade. Em 21 Lições para o Século XXI, examina as principais questões do presente e do futuro, oferecendo uma análise crítica e provocativa que o posiciona como uma das vozes mais influentes e relevantes do pensamento moderno. Com uma proposta de desmistificar assuntos como a política, a economia e a tecnologia, Harari torna-se um guia essencial para navegarmos pelas incertezas do mundo actual. 


Publicado em 2018, o livro surge num momento de grande tumulto político, social e tecnológico. Harari, reconhecido pelas suas análises profundas sobre a História da humanidade em Sapiens e Homo Deus, volta o seu olhar para o presente, abordando temas como a ascensão da inteligência artificial, as crises de identidade, a globalização e a desinformação. Ao longo de 21 capítulos, o autor propõe uma série de perguntas inquietantes que nos forçam a reconsiderar o nosso lugar no mundo e o futuro da sociedade. A obra não se limita e expor problemas, ao contrário, procura estimular um diálogo crítico sobre as competições e as responsabilidades que nos cercam, sugerindo que, no meio do caos, a reflexão e o entendimento são essenciais para moldar um futuro mais consciente e sustentável. 


Podes ler também a minha opinião sobre Sapiens


No contexto contemporâneo, a discussão das lições propostas por Yuval Noah Harari é de extrema relevância, pois confronta-nos com os desafios multifacetados que a humanidade enfrenta hoje. Num mundo marcado pela rápida evolução tecnológica, crises ambientais e polarizações sociais, as reflexões do autor instigam-nos a reavaliar as nossas prioridades e a maneira como nos relacionamos com o conhecimento, o trabalho e a política. As suas lições promovem uma conscientização sobre a importância da educação e da adaptabilidade diante das incertezas, enfatizando a necessidade de diálogo aberto e fundamentado que possa guiar as nossas decisões coletivas. Ao explorar a intersecção entre História, Ciência e Ética, Harari convida-nos a imaginar cenários futuros possíveis e a preparar-nos activamente para um século que exige cidadãos mais informados e exigentes, prontos para enfrentar dilemas complexos e globais. 


"Os seres humanos foram sempre melhores a inventar ferramentas do que a usá-las de modo sensato. É mais fácil manipular um rio construindo uma barragem do que prever todos os efeitos complexos que isso terá no sistema ecológico mais vasto. De igual modo, será mais fácil redirecionar o fluxo das nossas mentes do que adivinhar o que isso fará à nossa psicologia pessoal e aos nossos sistemas sociais." 


Assim, o autor explora questões cruciais, como a democracia, o terrorismo, a imigração e a importância da verdade num tempo de incertezas. Por exemplo, aborda o impacto da revolução digital na forma como processamos a realidade, ressaltando o papel das tecnologias de informação na manipulação da verdade e na disseminação de notícias falsas. Harari argumenta que a sobrecarga informativa, aliada ao poder das plataformas digitais, transforma a opinião pública num campo de batalha onde dados são utilizados como armas de persuasão e controlo. O autor também discute as consequências éticas e sociais da inteligência artificial, levantando questões sobre a privacidade, a autonomia do indivíduo e o futuro do trabalho num mundo onde máquinas e algoritmos desempenham papéis cada vez mais centrais. Outra reflexão abordada está relacionada com a necessidade de repensar a coesão social num mundo cada vez mais fragmentado por diferenças culturais, ideológicas e económicas. O autor argumenta que, diante dos desafios globais, como as mudanças climáticas, a desinformação e as crises migratórias, o papel das comunidades torna-se crucial para a construção de identidades coletivas que transcendem divisões. Deste modo, faz uma crítica à política tradicional, que muitas vezes se baseia em narrativas simplistas, propondo que soluções coletivas e colaborativas são essenciais para enfrentar problemas complexos. 


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Pessoalmente, fiquei impressionada com a clareza e a relevância das ideias de Harari, que nos convidam a adoptar uma postura crítica e proativa diante das incertezas do futuro. Tal como aconteceu com as leituras anteriores que fiz deste autor, senti-me impactada pelas suas lições, agora para o presente. A forma como articula a interconexão entre os problemas globais que todos vemos nas notícias e as nossas vida quotidianas é perfeitamente compreensível, despertando uma sensação de urgência na busca de soluções coletivas e a necessidade dum novo entendimento sobre o que significa ser humano num mundo em rápida transformação. Estamos perante uma leitura que ao se limita a informar, mas que também inspira a acção e a reflexão sobre o papel que podemos desempenhar na construção dum futuro mais sustentável e justo, sem cair nas armadilhas dos populismos e afins. 


"Estando nós perante as decisões mais importantes da história da vida, pessoalmente não confio mais nos que reconhecem a sua ignorância do que nos que afirmam a sua infabilidade." 


Uma das lições que mais me marcaram é a reflexão sobre a importância da educação e do pensamento crítico. Harari enfatiza que, diante da incessante avalanche de dados provenientes da tecnologia, é fundamental que os indivíduos desenvolvam habilidades para discernir informações relevantes e questionar as narrativas que nos são apresentadas. Esta ideia fez-me pensar no meu papel como cidadã numa sociedade cada vez mais polarizada, onde a desinformação pode prevalecer. Além disso, a abordagem do autor sobre o futuro do trabalho, em que muitas profissões estão em risco devido à automação, fez-me perceber a necessidade de adaptação e aprendizagem contínua como ferramentas essenciais para a sobrevivência num cenário de mudanças súbitas e abruptas. Assim, com estas lições senti-me motivada a adoptar uma postura mais proativa em relação ao meu desenvolvimento pessoal e ao papel que posso desempenhar na sociedade. 


Comprado na última visita à Feira do Livro de Lisboa, mal tive oportunidade passou à frente para ser lido logo e não desiludiu, aliás, como sempre acontece com este filósofo moderno. Recapitulando a importância destas lições, podemos entender que elas servem como um guia essencial para navegarmos neste mundo cada vez mais complexo e interconectado. Harari destaca a necessidade de compreendermos questões urgentes como a tecnologia, a ética e a política, ressaltando que, ao enfrentar temas como a inteligência artificial, a desigualdade e o populismo, devemos cultivar a capacidade crítica e a resiliência. As lições oferecidas não são meras constatações, mas catalisadoras duma consciência coletiva que nos capacita a agir de forma consciente e responsável, preparando-nos para que possamos moldar um futuro que reflita os nossos valores e aspirações enquanto lidamos com as incertezas do amanhã. 


Estamos perante mais uma obra essencial para todos os que desejam compreender os desafios contemporâneos que irão moldar o nosso futuro. A profundidade e a clareza com que aborda estes temas tornam o livro numa leitura envolvente e provocativa, capaz de estimular discussões saudáveis entre amigos, familiares e colegas. Em suma, mais um livro de Harari que devia estar em todas as estantes e servir para estimular todas as pessoas a pensarem por si mesmas em vez de seguir o rebanho. Agora, quero saber a tua opinião! Já leste o livro? O que achaste das 21 lições de Harari? Qual a que mais te marcou? Já estás de olho nas novidades deste autor com um novo livro a sair? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

#Documentário - I Am Celine Dion

 

"Retrato emocional de Celine Dion em tons de preto e branco, capturando a essência de uma artista icônica e resiliente. Seu olhar expressa a força e a vulnerabilidade que permeiam sua trajetória, refletindo os desafios enfrentados nos últimos anos, incluindo sua luta contra o Síndrome da Pessoa Rígida, enquanto a artista reconta sua extraordinária jornada no documentário 'I Am Celine Dion'."

Sinopse

Dirigido pela nomeada ao Oscar Irene Taylor, I am Celine Dion oferece uma perspectiva sincera e reveladora dos desafios enfrentados pela icónica cantora, conhecida pela música My Heart Will Go On, banda sonora do famoso filme Titanic, de James Cameron. Enquanto a cantora enfrenta uma doença que redefine a sua vida, esta obra é uma expressão de amor aos seus admiradores, destaca a banda sonora que moldou a sua jornada, enquanto ilustra a resiliência inabalável do espírito humano. A difícil batalha da famosa cantora Celine Dion contra uma condição de saúde torna-se no tema central neste documentário dedicado também à sua trajetória. 


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Opinião 

I Am Celine Dion, lançado em 2024, é um documentário comovente que oferece uma visão abrangente da vida e da carreira duma das vozes mais icónicas da música mundial. Começa por celebrar a trajetória impressionante da artista, desde os seus primeiros passos nos palcos familiares no Canadá até ao estrelato internacional, mas essencialmente revela os desafios pessoais que a cantora tem enfrentado nos últimos anos, com a sua luta contra a Síndrome da Pessoa Rígida. Esta doença neurológica rara tem impactado a sua saúde e a sua capacidade de se apresentar em público, obrigando a que cancelasse concertos e tournées, sempre com desculpas inventadas que foram sendo difundidas. Mas Celine não quer mentir mais e decidiu usar este documentário para revelar a verdade mais triste e assustadora da sua vida, esperando com isso que os fãs a entendessem, continuassem a amá-la e a esperar pelo seu regresso. Transcendendo o mero relato biográfico, o documentário é uma reflexão profunda sobre o amor pela música, a vulnerabilidade e a força que reside em cada um de nós. 


O documentário oferece uma retrospectiva muito interessante da vida e da carreira da cantora, sem esquecer s suas origens humildes em Quebec. Desde muito jovem, Celine Dion demonstrou um talento excepcional para a música, numa família numerosa onde os estímulos musicais eram uma constante. Esse apoio incondicional da sua família foi fundamental para que perseguisse o sonho e acreditasse nele. Através duma combinação de determinação, paixão e uma capacidade vocal impressionante, Celine conquistou o seu espaço e ascendeu ao estrelato. Vemos a artista fenomenal, mas também a mulher que desafiou inúmeras adversidades. Fazendo uso de entrevistas íntimas e imagens de arquivo raras, o documentário entrelaça a sua trajetória musical com a vida pessoal, culminando com a exposição da mulher doente, frágil e incapaz de fazer o que mais gosta. 


Podes ler também a minha opinião sobre o documentário Tina


Ao mesmo tempo que nos faz revisitar a sua ilustre carreira, até com a visita a um armazém inacreditável onde estão guardados todos os objectos artísticos e até pessoais, com roupas e sapatos icónicos que nos remetem imediatamente para os momentos mais marcantes, também se expõe, os desafios e as fragilidades, revelando-se ao mundo como poucas vezes vemos um artista mostrar-se. Entramos na sua casa, vemos a sua vida familiar com os filhos, os empregados e os médicos e fisioterapeutas, e encontramos uma mulher envelhecida, sem maquilhagem, sem grandes vaidades, e com uma fragilidade física angustiante por causa da Síndrome da Pessoa Rígida. Esta condição rara e debilitante, que provoca tensão muscular extrema e limita a mobilidade, transformou a vida de Celine Dion num verdadeiro campo de batalha. Através de depoimentos emotivos e sinceros, é revelado como esta Síndrome afectou não só a sua capacidade de se apresentar no palco, mas também a sua própria rotina diária e as suas interações pessoais. 


Celine Dion, sem maquilhagem e com o cabelo preso em um coque simples, é vista em seu íntimo lar, tentando cantar novamente. O ambiente transmite uma atmosfera de vulnerabilidade e autenticidade, refletindo a luta da artista com sua saúde. Seu olhar expressa determinação, enquanto as luzes suaves do ambiente ressaltam a serenidade do momento. Essa imagem poderosa captura não apenas a paixão inabalável de Celine pela música, mas também os desafios que ela enfrenta, revelando um lado mais humano e sensível da cantora.

Enquanto a artista luta para manter a sua identidade e a paixão pela música, o documentário pinta um retrato tocante de resiliência e vulnerabilidade, mostrando a jornada de Celine Dion em busca de tratamento e a sua luta interna para reconciliar a sua imagem pública de ícone pop com a realidade das suas limitações físicas, sem com isto perder a esperança de conseguir regressar aos palcos e ao público que tanto ama. É um convite à empatia e à compreensão sobre como as adversidades podem moldar, mas não definem o espírito de alguém que se tornou sinónimo de força e talento inigualáveis. Uma Celine debilitada conta como, após o diagnóstico da doença, começou a mentir sobre os motivos para abandonar ou cancelar espectáculos, até ter chegado um momento em que os medicamentos que lhe permitiam subir ao palco estavam com doses tão altas que a iriam matar. Por causa disso, tem estado isolada nos últimos anos e só agora é revelado pela própria o verdadeiro motivo, cansada que está de mentir e esconder, sem conseguir explicar aos fãs o que realmente se passava com a sua saúde. A sua voz, que sempre guiou a sua vida, parece estar-lhe a fugir e todo o seu esforço é para encontrar uma forma de recuperar e conseguir regressar, o que, depois de tudo o que é mostrado, fica difícil de acreditar que fosse possível, pelo menos da forma como sempre a conhecemos. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre o filme Elvis


Apesar de ser uma doença rara, não deixa de acontecer a outras pessoas, pessoas essas com menos recursos financeiros que a nossa Celine e dei por mim a pensar como poderiam essas pessoas alcançar uma vida normal com um problema de saúde destes tão incapacitante emocional e fisicamente. Claro que isto não diminui a luta da cantora, que procurou rodear-se de pessoas capazes de a ajudarem a recuperar e encontrar o caminho de regresso aos palcos do mundo. Talvez o momento mais angustiante seja a crise a que assistimos no final do documentário. Depois de ter conseguido ir para estúdio gravar uma música, ao chegar junto do seu fisioterapeuta ele percebe um espasmo num pé, que seria o sinal de que poderia ter um episódio. Apesar de todos os esforços para manter Celine calma e reverter este cenário, a verdade é que a artista acaba prostrada, com dores dilacerantes e incapaz de falar. No final, é explicado que a crise foi desencadeada pelas fortes emoções que a cantora sentiu por ter voltado ao estúdio e ter sido capaz de gravar a música. Ou seja, não são só emoções negativas que ativam a doença, mas qualquer emoção forte, como a que ela precisa sentir para estar em palco ao vivo. As dúvidas sobre o seu futuro são mais que muitas, mas fica claro que desistir não está nos seus planos. 



Ao longo da narrativa, Celine transmite mensagens de resiliência e força, mostrando que, apesar das adversidades físicas e emocionais, é possível encontrar luz e esperança. A sua determinação em continuar a lutar pelos seus sonhos serve de inspiração, lembrando-nos a todos que a verdadeira paixão e amor pela arte podem prevalecer mesmo nos momentos mais difíceis. Além de humanizar a figura de Celine Dion, o documentário também destaca a importância de discutir questões de saúde e bem-estar num mundo que frequentemente coloca os artistas num pedestal. Lançado em Junho de 2024, o impacto foi gigante e alterou significativamente a maneira como o público a vê e entende. Parece-me evidente que as imagens que vimos foram gravadas bem antes, mas não deixou de ser chocante, para todos os milhares que viram o documentário, a apresentação de Celine Dion na Cerimónia de Abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, no cimo da Torre Eiffel, com uma imagem deslumbrante repleta de beleza e elegância, a cantar uma canção icónica da gigante Edith Piaf. O momento já seria lindo, mas devido ao que agora sabemos da sua saúde, parecia um milagre. Foi épico e uma alegria para todos os que torciam para que os sonhos da cantora se realizassem e fosse possível voltar a assistir ao vivo ao seu talento. 


Portanto, I Am Celine Dion é um poderoso testemunho de resiliência e de paixão duma das vozes mais icónicas da música, e que faz parte das divas dos anos 90 e 2000. Ao refletir sobre o futuro da cantora, a saudade da sua voz única torna-se mais palpável, tendo criado um misto de esperança e apreensão, que culminou com a concretização em Paris. Apesar das dificuldades, a força de Celine Dion e o seu inegável talento continuam a inspirar milhões ao redor do mundo. Obra emocionalmente reveladora, oferece uma visão íntima da vida e da carreira de Celine, e uma discussão importante sobre doenças neurológicas e a forma como podem ser incapacitantes para os seus portadores. É uma oportunidade única para conhecer a mulher por trás da diva e de refletir sobre a força que se encontra na adversidade. Se tens andado escondido do mundo e ainda não viste este documentário, que podes encontrar na Amazon Prime Video, só te posso dizer que estás a perder a oportunidade de te emocionares e te inspirares com esta história tocante, com uma experiência que certamente ficará na tua memória muito depois dos créditos finais. 


Agora, conta-me tudo! Já viste o documentário? O que achaste da vulnerabilidade de Celine Dion? E o que tens a dizer do seu regresso apoteótico? Deixa a tua opinião nos comentários abaixo! 

terça-feira, 13 de agosto de 2024

#Livros - A minha avó pede desculpa, de Fredrik Backman

 

A capa do livro "A minha avó pede desculpa", de Fredrik Backman, traz uma ilustração cativante que captura a essência da história. Em primeiro plano, uma menina de costas, vestindo um delicado vestido azul, evoca uma sensação de inocência e curiosidade. Atrás dela, esconde-se uma carta, simbolizando a comunicação e os sentimentos não expressos que permeiam a narrativa. Ao seu lado, um cão preto, companheiro fiel, sugere lealdade e amizade, fundamentais na jornada emocional da protagonista. A combinação de elementos na capa promete aos leitores uma aventura tocante e repleta de reflexões sobre família, perdão e as complexidades das relações humanas. Com o toque delicado da ilustração, a obra convida a adentrar na história de maneira envolvente e sensível.

Sinopse

Elsa tem sete anos de idade, quase oito, e é diferente. Para já, tem como melhor - e única - amiga a avó de setenta e sete anos de idade, que é doida: não levemente talharoca, mas doida varrida a sério, capaz de se pôr à varanda a tentar atingir pessoas que querem falar sobre Jesus com uma arma de paintball, ou assaltar um jardim zoológico porque a neta está triste. Todas as noites, Elsa refugia-se nas histórias da Avozinha, cujo cenário é o reino de Miamas, na Terra-de-Quase-Acordar, um reino mágico onde o normal é ser diferente. 

Quando a Avozinha morre de repente e deixa uma série de cartas a pedir desculpa às pessoas que prejudicou, tem início a maior aventura de Elsa. As cartas levam-na a descobrir o que se esconde por detrás das vidas de cada um dos estranhíssimos moradores de um prédio muito especial, mas também a verdade sobre contos de fadas, reinos encantados e a forma como as escolhas do passado de uma mulher ímpar criam raízes no futuro dos que a conheceram. 

A minha avó pede desculpa é uma belíssima história, contada com o mesmo sentido de humor e a mesma emoção que o romance de estreia de Fredrik Backman, o bestseller internacional Um homem chamado Ove


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Opinião 

A minha avó pede desculpa é um romance comovente e cativante de Fredrik Backman, que conta a história duma avó excêntrica e a sua relação com a neta, que enfrenta desafios na sua vida. A narrativa mistura humor e emoção, enquanto a avó, uma figura forte e instigante, deixa uma missão onde a sua neta se vê envolvida numa série de aventuras inesperadas que permitem que a senhora peça desculpa àqueles que cruzaram o seu caminho ao longo da sua longa e misteriosa vida. Através duma mistura de memórias e reflexões, Backman explora temas como o amor, arrependimento e a complexidade das relações familiares, criando uma uma profunda conexão entre gerações e revelando que, mesmo nas situações mais complicadas, o perdão e a compreensão podem florescer. 


Fredrik Backman é um autor sueco que conquistou o coração dos leitores ao redor do mundo com a sua prosa sensível e envolvente. Nascido em 1981, o autor desenvolveu uma habilidade única de contar histórias com empatia e humor, criando personagens muito especiais. Fiquei convencida do seu talento quando tive a minha primeira experiência com este autor, e passou a fazer parte daquela lista de autores que quero ler tudo o que publique. Assim, na minha visita à Feira do Livro de Lisboa deste ano, mal percebi que se encontravam livros seus nas promoções do dia da Porto Editora, fiquei com a certeza de que iria voltar a ler Fredrik Backman em 2024 e este foi o escolhido da vez. 


Podes ler também a minha opinião sobre Um Homem Chamado Ove


No livro A minha avó pede desculpa, a história desenrola-se sobretudo num prédio que serve de microcosmo para as complexas interações humanas e as emoções que permeiam a vida quotidiana. Esta comunidade, recheada de personagens peculiares e com um passado que os liga, reflete uma atmosfera de pertencimento e tradição, ao mesmo tempo que apresenta as tensões e desentendimentos que surgem nas relações interpessoais. A transformação da avó numa personagem central da narrativa é um convite à exploração das complexas dinâmicas familiares, mas também um reflexo do impacto profundo que uma mulher destemida e generosa, ainda que esteja longe de ser consensual, pode ter na vida duma pessoa. O ambiente íntimo, repleto de memórias longínquas, inimizades e aprendizagens, torna-se num espaço de reconciliação e crescimento, onde as conversas e as revelações tornam-se catalisadores para a mudança. 


"Ter uma avó é como ter um exército. É o derradeiro privilégio dos netos: saberem que têm alguém sempre do seu lado sejam quais forem as circunstâncias. Mesmo quando estão errados. Na verdade, principalmente quando estão errados." 


A protagonista deste livro é Elsa, uma menina de sete anos que se destaca pela sua inteligência aguçada e por uma personalidade peculiar, marcada por um senso de justiça e uma grande, grande imaginação, alimentada por uma avó extraordinária que tornou o seu mundo muito mais colorido. Desde o início, Elsa é retratada como uma criança solitária e diferente das outras, que sofre bullying na escola, mas que tem sempre o consolo da avó excêntrica e disposta a tudo para animar o seu dia e o escapismo que os contos de fadas e o mundo imaginário que partilha com esta avó lhe oferecem. Ao longo da narrativa, o leitor testemunha o desenvolvimento emocional de Elsa à medida que ela enfrenta os desafios da vida, a dor da perda e entende a complexidade das relações familiares. Através das histórias fantasiosas contadas pela sua avó e das interações com os moradores do prédio em que vivem, Elsa aprende valiosas lições sobre empatia, perdão e sobre o passado da sua avó, com todos os erros e acertos que cometeu. Esta jornada de autodescoberta transforma a percepção que ela tem de si mesma e da sua família, e a forma como se relaciona com os outros, acabando uma menina muito mais confiante e segura, capaz de romper com o círculo vicioso da infelicidade escolar. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre a máquina de fazer espanhóis


A avó, por seu lado, é uma personagem verdadeiramente marcante que exerce um papel fundamental, nem sempre óbvio, em toda a comunidade onde se insere e que criou ao seu redor. Estamos perante mais uma idosa peculiar, forte mas que não se quer enquadrar nas regras da sociedade, que nos entrega humor e sabedoria, ao mesmo tempo que nos provoca reflexões profundas sobre as relações familiares. Pode uma avó tão extraordinária ter sido uma mãe ausente? Pode uma mulher que procurou sempre fazer o bem, ter causado mal aos outros? Ter sido negligente, cruel? Este é um mosaico duma vida cheia, duma mulher que decidiu o seu caminho, com decisões controversas e que reuniu à sua volta uma variedade de pessoas a quem marcou, salvou e a quem, ainda assim, devia um pedido de desculpa. 


"Acho que a tua avó funcionava tão bem em lugares caóticos porque era, ela própria, uma pessoa caótica. Era sempre fantástica no meio de uma catástrofe. Era só com a vida quotidiana e a normalidade que ela não sabia lidar bem." 


Em A minha avó pede desculpa o perdão é abordado de maneira tocante e profunda, destacando a sua importância nas relações humanas. Esta avó especial, com a sua sabedoria peculiar e o seu jeito directo, ensina que o perdão não é apenas uma questão de absolver os outros, mas um acto libertador que nos permite avançar na vida sem os fardos do passado. As lições que ela transmite são fundamentais: o perdão é, acima de tudo, uma escolha que fazemos para cuidar de nós mesmos, permitindo que as feridas se cicatrizem e que novos começos sejam possíveis. Através das histórias que descobrimos, a avó mostra que as imperfeições são parte da condição humana, e que, ao reconhecer e aceitar esses erros, encontramos não só a empatia, mas também a possibilidade de renovação. 


O autor sueco destaca-se pelo seu estilo de escrita envolvente e cativante, com a sua prosa leve e acessível, com diálogos afiados que capturam a essência dos personagens e as suas complexidades, ainda que neste livro tenha introduzido elementos de fantasia muito exagerados e que me perderam um pouco, não tendo sido uma experiência de leitura tão compulsiva como a anterior. Em suma, estamos perante uma obra que se destaca pela profundidade emocional e pelos temas explorados, como o amor, a perda e a complexidade das relações humanas. Fiquei rendida à personagem da avó, muito mais do que à sua neta, confesso, além de me ter divertido e emocionado ao descobrir a história daqueles vizinhos e a forma como se ligavam à avó e, consequentemente, agora à neta que todos devem proteger. 


Assim, só posso recomendar esta leitura para os que apreciam narrativas que exploram a complexidade das relações e o poder das memórias afetivas. O livro pode ser ideal também para quem aprecia refletir sobre a vida, a perda e o amor através duma perspectiva sensível e, muitas vezes, humorística. No fundo, é a leitura certa para quem gosta de histórias que aquecem o coração, sejam jovens adultos ou pessoas mais velhas. Agora, é o momento de saber o que tens a dizer sobre este livro incrível. Já leste A minha avó pede desculpa? O que achaste desta leitura e deste autor? Que outros livros recomendarias? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

#Places - Ginos

 

Descubra a magia do Ginos em Lisboa, onde cada fatia de pizza é uma experiência de sabor. Na capa do nosso artigo, uma pizza irresistível sendo cortada, com o queijo derretido puxando-se em fios deliciosos, promete fazer sua boca água. Junte-se a nós nessa viagem gastronômica pelo Parque das Nações!

Ginos, localizado no Parque das Nações em Lisboa, é um restaurante que se destaca pelo seu ambiente acolhedor e moderno, proporcionando uma experiência gastronómica agradável. Especializado em cozinha italiana, o Ginos oferece uma variada selecção de pratos, desde pizzas artesanais a massas frescas, tudo preparado com ingredientes de alta qualidade. Com uma decoração contemporânea e uma bela esplanada convidativa, o espaço é ideal tanto para almoços em família como para jantares românticos ou entre amigos. A sua localização privilegiada em Lisboa, mesmo junto ao Meo Arena e próximo ao Oceanário e à Estação do Oriente, foi o factor determinante para ter sido a escolha para almoçar no dia em que fomos para o Rock in Rio, no passado mês de Junho. 


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O restaurante apresenta uma fachada moderna e acolhedora, com amplas janelas que permitem a entrada de luz natural e oferecem vistas encantadoras para o exterior. O design contemporâneo é complementado por elementos industriais, que conferem um toque especial ao ambiente. Ao entrar, os clientes são recebidos por um interior espaçoso e bem iluminado, decorado com cores suaves, entregando um ambiente convidativo e descontraído. No entanto, escolhemos comer cá fora, na esplanada generosa e muito concorrida, ou não estivéssemos num dia de calor na capital. Com mesas grandes, protegidas por chapéus de sol que proporcionam sombras generosas, em pleno Verão parece-me impossível preferir ficar dentro de quatro paredes. 


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A recepção e o atendimento dos funcionários começou por deixar um tanto a desejar, por vários factores. Quando chegámos as quatro mesas de oito lugares estavam ocupadas por apenas um ou duas pessoas que nem sequer tinham sido atendidas maioritariamente. O que deveria ter sido resolvido pelos funcionários, pois queríamos mesmo ficar na esplanada, foi ultrapassado quando pedimos a uma das pessoas que ocupavam a mesa sozinhas se nos permitiam sentar dado que não estavam a ocupar a totalidade da mesa. Depois deste incidente, o gerente foi chamado para colocar a máquina a funcionar e tudo correu verdadeiramente bem. A partir daí, sentimos que fomos calorosamente recebidas por alguém atento e simpático, que se mostrou pronto para esclarecer dúvidas sobre o menu e oferecer sugestões personalizadas. Esta atenção aos detalhes conquistou mesmo para quem está habituado a ser (bem) atendido a Norte, tornando a experiência no Ginos memorável. 


Em um ambiente aconchegante do restaurante Ginos, localizado no Parque das Nações em Lisboa, destaca-se uma deliciosa pizza coberta com cogumelos frescos e um ovo perfeitamente cozido no centro, ao lado de um prato de massa al dente envolvida em um rico molho de tomate. As cores vibrantes dos ingredientes são realçadas pela iluminação suave do local, convidando os clientes a saborear essas iguarias italianas de dar água na boca.

A verdade é que o Ginos destaca-se pela sua oferta de sabores da cozinha italiana, com algumas opções que prometem agradar a todos os paladares. Durante esta visita, tive a oportunidade de degustar pratos deliciosos e que recomendo vivamente aos apreciadores da gastronomia italiana. Começámos por uma entrada deliciosa de Pão de Alho para enganar a fome enquanto os pratos principais não chegavam e que estava muito saboroso e bem crocante. Os pratos são individuais, portanto, foram pedidas várias opções, maioritariamente massas, mas também uma bela pizza que tive o prazer de provar. Para mim, pedi uma pasta que indicava ser picante e foi necessário o aconselhamento do simpático Sérgio para perceber se poderia arriscar nessa escolha, pois não sou apreciadora de pratos muito picantes. O seu aconselhamento foi certeiro porque a massa estava deliciosa e só com um suave toque apimentado. A pizza tinha uma massa fina e crocante perfeita, com cogumelos frescos e um belo ovo no meio. A apresentação dos pratos era impecável, refletindo a atenção aos detalhes que o Ginos oferece. Cada garfada foi uma experiência deliciosa, transportando-me directamente para a doce Itália. 


Podes ler ainda sobre a minha experiência na Hamburgueria Fidalgo


No que diz respeito aos sabores, o cardápio oferece uma fusão de pratos italianos clássicos e opções mais contemporâneas. Cada prato é uma ode à gastronomia, desde as massas frescas até às pizzas feitas em forno a lenha. Os sabores são vibrantes e bem equilibrados, com ingredientes frescos e de qualidade que fazem desta experiência um momento especial. As porções, por sua vez, são generosas, ainda que, no caso das massas, talvez não seja suficiente para quem costuma comer bastante. Para acompanhar tudo isto, elegemos uma bela sangria, que estava deliciosa, fresca e com um grande equilíbrio de teor alcoólico, tendo acabado por ser a bebida escolhida para toda a refeição e não apenas para as entradas. Desta vez, não houve tempo para provar as sobremesas, mas ficará certamente para uma nova visita. Por fim, tenho de referir que o Ginos oferece uma excelente relação custo-benefício. Pagámos cerca de 20 euros por pessoa, embora este valor vá depender sempre das escolhas de cada um. Portanto, considerando a qualidade dos ingredientes, o ambiente acolhedor e o atendimento atencioso, o Ginos parece-me uma opção bem vantajosa para quem deseja saborear a autêntica culinária italiana sem comprometer o orçamento. 


Desfrutando da refrescante sangria tinta no Ginos, em Lisboa. Um jarro repleto de sabores frutados e coloridos, acompanhado por um copo que captura a essência do verão. Perfeito para brindar momentos especiais à beira do Tejo.

Em resumo, fiquei muito agradada com esta experiência, sobretudo com o cardápio diversificado, que por vezes dificulta a tomada de decisão do que comer, com o ambiente acolhedor e moderno e rendida ao trabalho do gerente, que transformou a nossa refeição num momento ainda mais divertido. O único factor que precisa ser melhorado é a dinâmica da restante equipa que, apesar de serem cordiais, estão longe da simpatia necessária para lidar com clientes, e precisam de ter mais iniciativa para receber e acolher rapidamente as necessidades dos clientes. Posto isto, se estás por Lisboa e procuras um lugar acolhedor para desfrutar duma refeição deliciosa, o Ginos pode muito bem ser a escolha certa para ti. Este restaurante, é ideal para casais que desejam um jantar romântico, mas também para famílias, pois tem opções que agradam tanto os mais novos quanto os adultos, além de ser uma escolha interessante para grupos de amigos que querem uma refeição divertida e descontraída. No fundo, não importa o motivo da tua visita, o Ginos promete uma experiência gastronómica memorável para todos. 


Pela minha parte, tenho a certeza que vou voltar porque ficou muita coisa por descobrir no cardápio do Ginos. Mas agora quero saber a tua opinião! Já conhecias o Ginos? O que achaste dos pratos, do atendimento e da atmosfera do espaço? O que recomendas que experimente numa próxima visita? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 

terça-feira, 6 de agosto de 2024

#Livros - O Som e a Fúria, de William Faulkner

 

Capa do livro "O Som e a Fúria" de William Faulkner, publicado pela Dom Quixote. A imagem apresenta uma casa em um fundo em tons de laranja, criando uma atmosfera quente e melancólica. À frente, sombras de ramos de árvores se entrelaçam, sugerindo um ambiente de introspecção e complexidade emocional, refletindo os temas profundos da obra.

Sinopse

O Som e a Fúria é a tragédia da família Compson, apresentando algumas das personagens mais memoráveis da literatura: a bela e rebelde Caddy, Benjy, o filho varão, o assombrado e neurótico Quentin; Jason, o cínico brutal, e Dilsey, a criada negra. Com as suas vidas fragmentadas e atormentadas pela história e pela herança, as suas vozes e ações enredam-se para criar o que é, sem dúvida, a obra-prima de Faulkner e um dos maiores romances do século XX. William Faulkner afirmou muitas vezes que O Som e a Fúria era o romance mais próximo do seu coração porque era o que lhe tinha causado mais sofrimento e angústia a escrever. Neste magnífico romance, publicado pela primeira vez em 1929, Faulkner criou «a menina dos seus olhos», a bela e trágica Caddy Compson, cuja história nos conta através dos monólogos separados dos seus três irmãos: Benjy, o idiota; Quentin, o suicida neurótico; e o monstruoso Jason. 

O Som e a Fúria é o seu quarto romance e a primeira das suas obras-primas indiscutíveis, aquela que, mais do que qualquer outra, confirmou Faulkner como figura central da literatura do século. 


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Opinião 

William Faulkner, um dos mais proeminentes escritores do modernismo americano, nasceu em 1897 em New Albany, e tornou-se numa figura central na literatura do século XX. A sua obra é marcada por experimentações narrativas e uma profunda exploração da condição humana, especialmente em relação à memória, tempo e à complexa história do sul dos Estados Unidos. Faulkner recebeu o Prémio Nobel da Literatura em 1949, reconhecimento que consolidou a sua importância e influência na literatura mundial. O Som e a Fúria, que marca a minha estreia com este autor consagrado, publicado em 1929, exemplifica a sua técnica inovadora, utilizando múltiplos pontos de visto e fluxo de consciência para retratar a decadência da família Compson. A habilidade de Faulkner para tecer questões sociais e psicológicas nas suas narrativas fez dele uma voz indispensável na literatura, desafiando leitores a confrontar a complexidade da vida e as verdades ocultas sob a superfície da realidade. 


O motivo para começar por este livro, além de ter estado com um preço muito simpático na Feira do Livro de Lisboa 2024, está relacionado com ser a obra mais emblemática do autor e ser um marco do modernismo literário. Passado no sul dos Estados Unidos, na fictícia cidade de Yoknapatawpha, o livro explora a família Compson, refletindo as mudanças sociais e culturais do período e revelando as angústias, as memórias e as percepções distorcidas dos personagens. Através da narrativa fragmentada e das múltiplas perspectivas dos personagens, o livro aborda temas como a desintegração do sul dos Estados Unidos, a perda da identidade e a luta contra a decadência moral. Deste modo, a história da família Compson, marcada pelo passado de glórias e pelo presente de fraturas emocionais, revela a angústia e a desesperança dos seus membros num contexto de mudança social e cultural, refletindo as crises pessoais e coletivas que permeiam a existência humana. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Adeus às Armas


A história é dividida em quatro capítulos, cada um deles apresentando perspectivas distintas e complexas, destacando os dilemas e as tragédias dos personagens principais. O mais desafiador é logo o primeiro, Benjy, o filho mais velho, com uma doença mental que nos entrega o seu fluxo de consciência caótico e incoerente, numa fase onde ainda não entendemos bem o que o envolve e os motivos. Depois, segue-se Quentin, o irmão seguinte, angustiado duma forma profunda e destruidora. No terceiro capítulo, temos o tóxico Jason, que encarna o cinismo e a corrupção moral. Só no fim temos um narrador na terceira pessoa que nos oferece uma visão mais abrangente do cenário onde vamos passeando nos capítulos anteriores, mas que está longe de entregar todas as respostas. À medida que a narrativa se desenrola, Faulkner explora temas como o tempo, a identidade e a desilusão, revelando os impactos devastadores de traições e expectativas sociais nas vidas destes personagens, entregando um retrato profundo e emocional da decadência duma era e duma família. 


"Porque, como ele dizia, nenhuma batalha se pode considerar ganha. Nem sequer travada. O campo de batalha apenas revela ao homem a sua própria loucura e desespero, e a vitória é uma ilusão de filósofos e de loucos." 


Além dos três rapazes, temos Caddy, a única filha, e que é o pivô das angústias da família, simbolizando tanto a perda da pureza quanto o desejo de liberdade numa sociedade marcada por convenções rígidas. As dinâmicas familiares revelam um retrato angustiante da desintegração moral e emocional, onde amor, ciúme e culpa se entrelaçam, criando um ambiente de melancolia e reflexão sobre o tempo e a memória, ambos muito subjectivos. O autor, através desta sua estrutura inovadora e do seu estilo lírico, consegue capturar a essência desta família, tornando-a um microcosmo das mudanças e conflitos do mundo ao seu redor. Com O Som e a Fúria temos um exemplo magistral da técnica da não linearidade, utilizado por Faulkner para desestruturar a cronologia tradicional e refletir toda a complexidade emocional e psicológica dos personagens. A multiplicidade de vozes presente na obra não apenas revela as percepções individuais e subjectivas, mas também provoca um diálogo entre passado e presente, intensificando a sensação de desolação e tragédia. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Fahrenheit 451


Através deste olhar fragmentado dos personagens, Faulkner desafia o leitor a juntar os pedaços duma história familiar em declínio, utilizando o fluxo de consciência para capturar a confusão da mente humana. É inegável que o seu estilo inovador e complexo veio desafiar as convenções narrativas tradicionais e pode provocar alguma confusão no leitor inicialmente, mas vale muito a pena persistir na leitura. A sua linguagem poética, com descrições vívidas e metáforas elaboradas, eleva os temas da obra a um nível lírico, transformando a tragédia pessoal numa meditação sobre a passagem do tempo e a decadência moral. É precisamente esta complexidade que desafia o leitor e exige uma atenção redobrada para retirar todos os detalhes desta narrativa única. No fundo, a habilidade de Faulkner em articular a beleza da linguagem com a profundidade psicológica cria uma experiência literária rica e multifacetada, onde cada página revela novas nuances e interpretações. 


"Nunca prometo nada a uma mulher para ela não saber quanto lhe vou dar. É a única maneira de as ter na mão. Mantê-las na expetativa. E se não nos ocorrer melhor maneira de as surpreendermos, é dar-lhes um murro nos queixos." 


Cada personagem é afetado de maneira única pelos traumas e os desafios enfrentados, refletindo a desintegração moral e emocional duma sociedade em transformação, cada um da sua forma particular. Benjy, com a sua percepção primitiva e emocional, reflete a inocência perdida e a tristeza da degradação familiar. A figura de Quentin, marcado pela obsessão com a honra e a feminilidade da irmã Caddy, simboliza a incapacidade de escapar dum passado doloroso, culminando na sua trágica autodestruição. Caddy, o verdadeiro elo de ligação entre os irmãos e que é sempre retratada pela visão dos outros, representa tanto a vitalidade quanto a queda moral do clã, sendo o seu amor e o desejo de liberdade tragicamente frustrados pelas normas sociais e familiares. Jason, por sua vez, encarna o cinismo e a amargura, revelando o lado mais egoísta e corrosivo da família, que se transforma numa sombra do que já foi. 


Esta leitura de O Som e a Fúria foi uma experiência profundamente impactante e desafiadora. As emoções despertadas foram intensas: a dor da perda, a luta contra o tempo e a inevitabilidade da mudança ressoaram em mim duma maneira visceral. O ambiente decadente da família Compson refletiu as fragilidades humanas e as relações complexas, obrigando a uma reflexão sobre a passagem do tempo e a perda de valores. No entanto, o estilo de Faulkner também apresentou desafios e obrigou-me a uma concentração redobrada para tentar assimilar o máximo de pormenores, ainda que tenha consciência que muito deixei passar, o que significa que estamos perante um livro que precisa de ser relido. Em suma, estamos perante uma obra monumental que não só redefiniu a narrativa moderna, mas também aprofundou a compreensão da condição humana e da complexidade das relações familiares. O romance torna-se numa reflexão poderosa sobre a perda, o sofrimento e o inexorável avanço do tempo, destacando a luta entre o passado e o presente. 


A relevância desta obra estende-se muito além da sua época, pois oferece aos leitores uma visão íntima e angustiante das falências pessoais e sociais, que ecoam nas realidades contemporâneas. Não é à toa o lugar essencial que ocupa na literatura mundial, e só posso recomendar este livro para os amantes da literatura moderna, estudantes de teoria literária e todos aqueles que se interessam por narrativas complexas e experimentais. Agora quero-te convidar a partilhares as tuas impressões sobre esta obra. Já leste O Som e a Fúria? O que sentiste com esta leitura? Identificaste-te com algum dos personagens? O que achaste do estilo peculiar do autor? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


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Wook | Bertrand 

quinta-feira, 1 de agosto de 2024

Top 7 Provas Cegas - The Voice Kids Portugal | Season 5

 

Um microfone antigo em destaque, simbolizando a tradição e a emoção das performances do The Voice Kids Portugal, temporada 5, que encantou o público com talentos incríveis e momentos memoráveis.

Já é tradição falarmos regularmente sobre o melhor programa de talentos da televisão portuguesa. Depois do The Voice, versão adultos, ter terminado no início do ano, regressou o formato Kids, que é sempre uma agradável e emocionante surpresa a cada nova edição. Por um lado, temos as vozes maduras que podiam perfeitamente competir com adultos sem grandes dificuldades, por outro, temos a inocência que nos emociona, mesmo quando a técnica falha, e que nos parte o coração quando as cadeiras não se viram. São momentos que fazem parte da vida, mas não deixam de ter impacto nas crianças e também nos espectadores. 


As escolhas musicais conseguem fugir do padrão que seria de esperar em crianças, muitas mais vezes do que esperaria. Temos músicas bem antigas, de artistas que estão longe de serem populares nos dias de hoje, e que me proporcionam uma sensação muito agradável por sentir que existe esperança para a próxima geração, pois ainda encontramos crianças que conseguem sair da bolha das redes sociais e do que está a dar entre os seus amigos. Afinal, cultura nunca fez mal a ninguém, não é? Em contrapartida, temos uma repetição de algumas músicas durante as Provas Cegas que me parecem totalmente despropositadas. Qual a necessidade? O que traz de valor para o programa? Na minha opinião, nada. 


Bem, chega de considerações, pois está na hora de partilhar os eleitos que vais encontrar no meu Top 7 das Provas Cegas do The Voice Kids Portugal, nesta última temporada. Estás preparada? Vamos a isso! 


Buy Me A Coffee

1. Martim Costa - Equipa Nininho 

Inacreditavelmente, este jovem escolheu cantar um tema da inacreditável Tina Turner, proporcionando uma Prova Cega inesquecível e invulgar, com uma prestação que mostrou o seu controlo e as suas capacidades vocais. Tanto é o seu talento que chegou às galas e por lá brilhou também. 



2. Maria Benedita - Equipa Tinoco

Não sou nada apologista de se fazer uso das histórias pessoais dos concorrentes, mas é impossível ignorar a condição física desta menina, que nos veio mostrar e ensinar tanta coisa com a sua participação. Quantos jovens, em situações semelhantes, não se terão sentido representados e se convenceram de que serão também capazes de alcançar todos os seus sonhos. Além de inspiradora, temos aqui uma menina talentosa que chegou, com muito mérito, à final. 



3. Samuel Sousa - Equipa Cuca

O fado sempre se fez presente no The Voice, mas agora que temos tido fadistas como mentores, sinto que são cada vez mais os candidatos e dos bons, inclusive entre as crianças. No caso do Samuel, conquistou-me por ter um estilo diferente, como algo muito seu, uma forma própria de sentir e de cantar o fado. Também chegou às galas e entregou actuações muito interessantes e que confirmaram esta minha impressão inicial. 



4. Francisco Dias - Equipa Carlão 

Esta foi, certamente, a Prova Cega que mais me surpreendeu. O Francisco, além de ter escolhido uma música da extraordinária Cher, fez dela uma versão inacreditável. Nunca poderia imaginar que iria ver uma actuação assim no The Voice Kids, por isso, só posso dizer que mereceu muito chegar à final. 



5. Simão Romão - Equipa Tinoco 

Esta escolha musical é sempre impactante, mas na voz dum menino tão jovem e com uma capacidade de interpretação e talento vocal, torna-se inesquecível. O Simão conquistou o meu coração e foi um justo finalista da equipa da Bárbara Tinoco, onde brilhou a cada actuação com o seu estilo e talento único. 



6. Leonor Quinteiro - Equipa Cuca 

O talento da Leonor é um caso sério e tenho para mim que será daquelas concorrentes que iremos ouvir falar no futuro. A sua Prova Cega foi um momento muito emocionante, pela forma como cantou mas também pela escolha da música. Aliás, assisti a alguns momentos em que concorrentes homenagearam a saudosa Sara Tavares e foram todos muito especiais. O da Leonor aliou a isso uma interpretação irrepreensível o que a colocou neste Top 7 e também directamente nas galas. A forma como os mentores, especialmente o Carlão, se emocionaram marcou e deu-nos a certeza de que a Sara não será esquecida nem o seu legado deixado de lado. 



7. Eva Rocha - Equipa Carlão

A Eva entregou uma actuação muito interessante duma música muito difícil e muito conhecida. Nada disso a impediu de brilhar e de ganhar o seu lugar neste Top 7, com uma actuação que deixou todos os mentores rendidos. Com o seu mentor chegou às Galas, onde voltou a conquistar o público com mais uma música icónica. 



Fiquei com a impressão que esta quinta temporada do programa foi mais curta, pelo menos em termos de Galas, o que acho ter tirado prazer ao espectador que gostaria de ouvir mais músicas tocadas por estes jovens talentos. No que toca aos mentores, gostei bastante deste painel, e esta rotatividade das últimas edições tem entregue algum frescor que, de facto, tenho de concordar que tem feito bem ao formato. Actualmente, o meu mentor favorito no Kids é o Carlão, que pode não ser o melhor cantor entre os seus colegas, mas parece-me o que mais entende de música e que melhor consegue passar a mensagem do que é ser artista. 


Vencedora do The Voice Kids Portugal, Victoria Nicole, brilha em um deslumbrante vestido vermelho e rosa, ao lado de seu mentor Nininho Vaz Maia, que está vestido de preto. Juntos, eles celebram a conquista, segurando o troféu da competição com sorrisos radiantes.

Quanto à vencedora, que pertence à equipa do Nininho, apesar de não ser a minha favorita, é inegável o seu talento e o trajecto repleto de boas músicas, bem interpretadas e que lhe permitiram mostrar todas as suas capacidades. Trata-se duma diva em ponto pequeno, e que espero que consiga viver este seu sonho plenamente. Foi mais um programa bem feito, bem apresentado, com bons músicos, tanto nas cadeiras quanto a acompanhar os jovens talentos, e que me parece ser uma pérola da televisão pública. Agora, resta-nos esperar pela edição dos adultos que deverá começar em Setembro. Chegou a tua vez de partilhar o que achaste do The Voice Kids Portugal de 2024. Viste o programa? Ganhou o teu favorito? Qual o teu mentor favorito? Conta-me tudo nos comentários abaixo! 


Vê também o meu Top 7 das edições anteriores: 


Season 2

Season 3

Season 4 

Season 5 

Season 6 

Season 7 

Season 8 

Season 9 

Season 10 

Season 11 

Kids Season 2 

Kids Season 3 

Kids Season 4