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terça-feira, 25 de outubro de 2022

#Livros - Pessoa. Uma Biografia, de Richard Zenith

 

#Livros - Pessoa. Uma Biografia, de Richard Zenith

Sinopse

Fernando Pessoa é, a par de Luís de Camões, o maior poeta português. E é uma das figuras proeminentes do modernismo europeu, juntamente com escritores como Kafka, Joyce e Proust. O seu vastíssimo legado - da poesia, drama e ficção ao artigo de opinião e escrita mediúnica, cruzando e aprofundando inúmeros domínios do conhecimento (da literatura à religião, passando pela história, a filosofia, a astrologia e tantos outros) - tem vindo a ser progressivamente conhecido pelos leitores portugueses e de todo o mundo. 

Porém, o homem por detrás da extraordinária multiplicidade de vozes (os heterónimos e dezenas de outros autores ficcionais), e de uma das obras literárias mais complexas e ricas de todos os tempos, é quase um desconhecido. João Gaspar Simões, com a publicação da sua biografia em 1950, teve o grande mérito de reconhecer a importância de Fernando Pessoa numa altura em que o poeta ainda não era justamente apreciado. Mas a obra não se baseou numa pesquisa mais aprofundada e desde há muitos anos que se sentia a falta de uma obra biográfica de referência. 

PESSOA: A BIOGRAPHY, do autor norte-americano naturalizado português Richard Zenith, publicado nos EUA e na Grã-Bretanha em 2021 e que agora se publica em Portugal, vem suprir definitivamente essa lacuna. 


Opinião

Nem acredito que consegui terminar as mais de mil páginas que contém esta biografia e que prometia apresentar-nos um retrato do homem Fernando Pessoa por trás do mito e do génio literário. Apesar de em vida ter sido discreto, embora personagem preponderante do meio das artes de Lisboa, a sua fama existia mas estava circunscrita aos mais eruditos da época, que vivam no meio boémio, nos cafés lisboetas onde se encontravam e discutiam a arte e a política da nação. Durante alguns meses, viveu na minha mesa de cabeceira este calhamaço, e que interessante e fascinante que foi esta viagem pelos mistérios de Pessoa. 


O trabalho de pesquisa do autor é notório desde a primeira página, com todas as informações prévias que nos coloca à disposição, desde uma lista de todos os heterónimos ou autores ficcionais criados por Fernando desde a infância até ao final da vida; mapas que nos permites visualizar os lugares por onde ele passou e viveu; uma árvore genealógica materna, que nos facilita o processo de entender as complexas ligações familiares com muitas tias e tios a povoarem a sua infância e juventude e, por fim, uma cronologia da vida de Pessoa simplificada e que resume o que lemos ao longo das quatro partes que compõem a biografia. 


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Começa por nos contar sobre o seu contexto familiar, quem eram os seus pais, como viviam, como era a vida quando Fernando nasceu e passou a integrar esta família. Os familiares com quem conviveu nesta primeira infância em Lisboa foram determinantes para a construção da sua personalidade, dos seus medos, das suas preocupações no futuro, e para a sua fervilhante imaginação. Estes primeiros anos foram vividos com o filho no centro, figura mimada por toda a família, protegido pelas tias e tios que se ocupavam deste menino sempre que a doença do seu pai se agravava. A figura da avó paterna, que sofria de uma doença mental, também seria essencial para a construção do seu mito pessoal de genialidade a beirar a loucura, bem como o irmão mais novo que perdeu muito próximo da altura em que o seu pai também morreu, que contribuiu para a sensação de solidão, de membro isolado e único da família que tinha sido perdida tão cedo. 


"Mais do que quaisquer pessoas que conheceria ou coisas que veria durante a experiência sul-africana, Fernando haveria de prezar o novo mundo de palavras que a língua inglesa lhe abriu."


O fim deste ciclo, foi ponto de viragem para toda a sua vida. A sua mãe viúva, ainda jovem e bonita, apaixona-se perdidamente por outro homem com quem acaba por casar e construir uma nova família. Só que esta decisão implica que terá de ir morar para outro Continente, e a dúvida será se vai deixar o primeiro filho em Portugal com a sua família ou se o levará consigo para a perigosa África. O pequeno Fernando já tinha perdido pai e irmão, por isso, tinha pouca vontade de se despedir também da sua mãe. Acaba por embarcar para África do Sul e aí completar a sua formação formal, iniciando o seu domínio do inglês que seria uma pedra importante na sua escrita criativa e também no conhecimento que obteve de outros autores na língua original. 


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Depois desta infância e adolescência conturbada, com muitas perdas e descobertas, regressa a Lisboa e volta a encantar-se pela cidade e pela sua língua, pelo património cultural que acredita que só Portugal poderá iniciar e levar para o mundo. Será aqui que começa a construção mental do seu Quinto Império, a desilusão com a vida conturbada da política portuguesa, encontrando o final problemático da monarquia e o início agitado da república. Ao ser espectador de todos estes acontecimentos, escreve inúmeros ensaios políticos sobre o que se passa, tentando explicar os factos por vezes, outras propondo soluções. Estes anos atribulados em Lisboa são um motor para muito do que escreveu nesta fase, mas também o colocam em contacto com personagens artísticas que serão as fundadoras do movimento que vai liderar nos anos subsequentes. 


"Pessoa era um íman passivo, apenas tenuemente consciente de que estava a tornar-se um guia. Não era um papel que ambicionasse, em parte porque desconfiava de iniciativas colectivas, preferindo na maior parte das vezes agir sozinho, representando-se apenas a si próprio, mas formou-se de modo espontâneo um círculo de escritores que girava à sua volta, embora de início ninguém o tivesse notado. Eram apenas jovens que se reuniam, aparentemente sem chefe, e Pessoa era aquele que falava mais baixinho. Mas era o centro de gravidade do grupo - uma densa concentração de força intelectual, erudição, linguagem e cultura, que tinha a capacidade de pensar e perceber a partir de novos ângulos, um Pound ou um Eliot português."


A sua genialidade é evidente desde cedo, moldada por figuras fundadoras da sua juventude, mas também pela sua curiosidade latente e pelo seu desejo de ser uma personagem importante do panorama cultural, quase como se fosse uma certeza de que tinha um propósito na vida, elevar o seu país, tornar-se maior do que todos os outros, maior do que Camões inclusive. A forma como se prepara para isso, escrevendo, escrevendo sempre e muito, criando os heterónimos e lançando-os para o mundo ainda antes de si próprio, só mais tarde explicando de forma complexa a génese da sua criação, como necessidade de colocar como indivíduos as muitas personalidades que o habitavam. 


A verdade é que estamos perante um autor que terminou muito pouco do que se propôs fazer. As ideias surgiam a uma velocidade que não conseguia acompanhar para as concretizar. Passou muito mais tempo a imaginar o que iria escrever, do que a escrever essas obras que considerava essenciais para a obra que pretendia deixar como legado. Ainda assim, deixou obras-primas como o extraordinário Livro do Desassossego, que levou mais de cinquenta anos para ser reunido e publicado, ou o poema épico Mensagem, único livro que publicou em vida e que pretendia ultrapassar Os Lusíadas de Camões. 


"De facto, nunca parou de nos mostrar quem era ou estava a tentar ser. Os poemas e os textos em prosa eram ele, a própria pessoa dele, ou os fragmentos da pessoa, ou Pessoa, que não existia enquanto tal. A sua vida sexual? A vida sua espiritual? Podem ser encontradas na escrita dele e em mais lado nenhum que não nela. Não existe um Pessoa secreto para o biógrafo revelar." 


Esta biografia coloca a nu os altos e baixos da vida do homem por trás do mito, os momentos de ascensão, quando acreditava que lhe cabia uma papel importante e até primordial na construção de um Portugal maior e mais glorioso, e os de depressão, quando se sentia desiludido e incapaz de atingir o seu potencial artístico, de alcançar a glória que sabia lhe caber por mérito total e absoluto. Os seus interesses, os seus sonhos, as suas dúvidas existenciais, tudo o que foi se encontra plasmado na sua obra. No início só se encontra entusiasmo, esperança e promessas, mas quando sentimos que se aproxima o fim da curta vida de Fernando tudo isso dá lugar a uma tristeza, nostalgia e muita pena pelo homem que não viveu para ver o que se tornaria o seu nome, nem para recolher os louros do legado inestimável e ainda totalmente por descobrir que nos deixou em herança. 


Já leste esta biografia de Fernando Pessoa? Serás capaz de aceitar o desafio e mergulhar neste calhamaço e deliciar-te com uma vida comum e, ao mesmo tempo, ímpar? O que sabes sobre esta personagem incontornável da Literatura portuguesa? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre Pessoa! 


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quinta-feira, 20 de outubro de 2022

#Places - Barril (Francesinha da Pita)

 

#Places - Barril (Francesinha da Pita)


Em tempo de férias gosto de voltar aos lugares que mais gosto e que não estão ao meu alcance ao longo do ano, mas também gosto bastante de conhecer novos lugares e viver novas experiências, com novos sabores e propostas gastronómicas. Claro que, quando ficas a conhecer um novo restaurante fantástico, a lista cresce ao ponto de não ser possível ir a todos matar as saudades. É um problema aborrecido, mas com o qual aprendemos a lidar razoavelmente bem dado que as causas são bastante agradáveis. Nestas últimas férias, descobri o Barril porque a melhor Francesinha do mundo, também conhecida como Taberna Belga, estava fechada para férias. 


Claro que só descobrimos isso quando chegamos a Braga e as portas dos dois restaurantes estavam fechadas. Felizmente, ainda eram horas decentes para procurarmos outra alternativa sem grandes preocupações. A malta já tinha ido ao Barril e foi esta a escolha que nos fez partir para Valongo para que eu descobrisse a famosa Francesinha da Pita. Num lugar central, com uma fachada chamativa, descobrimos lá dentro um espaço muito original, com uma decoração interessante que torna o ambiente agradável e confortável. 


Podes ver também a minha experiência no Tudo aos Molhos


A sala é no primeiro andar e logo na entrada encontramos uma menina para nos receber e indicar a mesa que devemos ocupar. Até aqui tudo parecia perfeito, espaço agradável e composto, sem estar demasiado cheio, uma recepção simpática e atenciosa, uma mesa bem localizada. Depois, a demora para vir à mesa, sem tempo para começarmos por pedir alguma coisa para beber, o aperitivo que pedimos e que, em seguida, indicam não ter, tudo contribuiu para a quebra da primeira impressão positiva que tivemos. 


#Places - Barril (Francesinha da Pita)


Sem aperitivo, dedicamos a nossa atenção ao vinho e às entradas, que estavam deliciosas e preparavam os estômagos para o prato principal que viria posteriormente. O conceito diferenciador deste espaço e pelo qual é famoso é a Francesinha servida em pão de pita, com bife e carne de frango, existindo também uma opção de Francesinha vegetariana. A ideia parecia muito tentadora e prometia proporcionar um momento especial. Visualmente ela enche o olho quando chega à mesa, com um aspecto delicioso de prato que acabou de sair do forno. O pão e o recheio são excelentes, mas o molho não me encheu as medidas. 


Podes ler ainda sobre a minha experiência no Oficina da Francesinha


Sou uma cliente exigente de Francesinhas, mas sei reconhecer quando encontro um molho de excelência, mesmo quando não é parecido com o meu favorito. No caso particular desta Francesinha da Pita, achei o molho demasiado doce, o que atrapalhou a percepção sobre a qualidade dos outros produtos usados, como as carnes e o próprio pão. Outro aspecto que achei negativo foi que as batatas fritas, peça fundamental para degustar o molho da Francesinha, são pedidas e pagas à parte, não estando incluídas no preço do prato. 


#Places - Barril (Francesinha da Pita)

O atendimento na mesa esteve longe de ser o que esperávamos, mas conseguiu ficar pior a cada minuto que passou. Devo dizer que, em momento algum, estivemos a ocupar uma mesa sem consumir. Percebo que as pessoas queiram ir para casa, mas existem limites no tratamento ao cliente, especialmente porque estamos a falar de uma conta que ultrapassou bem os 100€. Depois de terminada a Francesinha, pedimos sobremesa e aproveitámos para fumar um cigarro enquanto estas eram preparadas. Quando voltámos as sobremesas já se encontraram na mesa e ainda não as tínhamos terminado já estavam a perguntar se podiam levantar, tal como os copos com vinho. 


Em suma, sentimos que, a dada altura, fomos corridos sem hipótese de terminar descansadamente o que estávamos a consumir e que iríamos pagar no final. Portanto, ao contrário da fama do espaço, da primeira impressão, este foi um restaurante que não me conquistou. Até poderia ponderar voltar para experimentar outro dos seus pratos, mas depois deste atendimento péssimo, não tenho qualquer desejo de regressar nem recomendo como experiência especial. Se tens curiosidade para experimentar o conceito, deves ir, mas se o objectivo é uma noite ou evento especial, diria para escolheres outro sítio. 


Conheces o Barril? Tiveste uma experiência positiva? O que achas deste conceito de Francesinha da Pita? 

terça-feira, 18 de outubro de 2022

#Livros - Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

 

#Livros - Fahrenheit 451, de Ray Bradbury

Sinopse

Guy Montag é um bombeiro. O seu emprego consiste em destruir livros proibidos e as casas onde esses livros estão escondidos. Ele nunca questiona a destruição causada, e no final do dia regressa para a sua vida apática com a esposa, Mildred, que passa o dia imersa na sua televisão. Um dia, Montag conhece a sua excêntrica vizinha Clarisse e é como se um sopro de vida o despertasse para o mundo. Ela apresenta-o a um passado onde as pessoas viviam sem medo e dá-lhe a conhecer ideias expressas em livros. Quando conhece um professor que lhe fala de um futuro em que as pessoas podem pensar, Montag apercebe-se subitamente do caminho de dissensão que tem de seguir. 

Mais de sessenta anos após a sua publicação, o clássico de Ray Bradbury permanece como uma das contribuições mais brilhantes para a literatura distópica e ainda surpreende pela sua audácia e visão profética. 


Opinião

A pilha de livros da Feira do Livro de Lisboa foi das grandes e, por isso, tenho de começar a fazer-me à vida e continuar a leitura dos livros que me seduziram no maior certame de livros do país. Tenho dado preferência aos mais pequenos e de autores que ainda não li em 2022. Foi seguindo estes critérios que acabei por me dedicar a mais uma distopia famosa no mundo literário, por representar, muitos anos antes, situações que parecem aproximar-se da realidade que hoje vivemos. 


Parecem ter sido escritas como ideias absurdas, improváveis de se tornar realidade, mas que revelam que, se calhar, os seus autores estavam atentos aos sinais e conseguiram perceber para onde se encaminhava a sociedade com as escolhas que fazia na sua época. É fascinante e assustador ler livros que se enquadram nesta categoria. Colocam a nu as fragilidades humanas, como uma sociedade democrática pode ser corrompida quando os cidadãos ignoram os sinais perigosos. 


Podes ler também a minha opinião sobre A Metamorfose


Esta edição da Saída de Emergência é linda de morrer, com pormenores de muito bom gosto, e incluí um prefácio de Jaime Nogueira Pinto e um posfácio de João Seixas que só devem ser lidos caso já tenham lido o livro ou visto o filme. O papel é de excelente qualidade, num tom e com uma fonte confortável de ler. Tenho poucos livros desta editora, mas consigo reconhecer o seu estilo particular e a qualidade nas edições que coloca no mercado e cada vez coloco mais livros deles na minha lista de desejos. 


"Senhor Montag, está a olhar para um cobarde. Eu vi para onde as coisas se estavam a encaminhar, há muito tempo. E não disse nada. Sou um dos inocentes que podiam ter intervindo quando ninguém daca ouvidos aos 'culpados', mas não o fiz e, assim, tornei-me culpado também."


Tudo começa com o nosso protagonista e uma descrição do seu quotidiano como bombeiro. A surpresa está que esta profissão já não tem nada a ver com o que conhecemos hoje. Em Fahrenheit 451, os bombeiros não apagam fogos. Pelo contrário, servem para incendiar todos os livros que ainda se encontram escondidos pelos rebeldes que se escondem no meio das pessoas comuns. Porque nesta sociedade os livros são proibidos, sendo necessário ser destruídos para não corromperem as pessoas nem as sobrecarregar com ideias nocivas e que não entendem. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre 1984


É um mundo onde todos vivem como autómatos, sem pensar por iniciativa própria, acreditando e representando o seu papel na sociedade, fazendo o que todos esperam que façam. Depois do seu trabalho como bombeiro, regressa para casa, onde as paredes são televisões e a sua esposa passa os dias a assistir a programas ruidosos onde acha que representa também um papel. Só que o mundo previsível de Montag muda completamente quando conhece a sua nova vizinha que o encontra na rua e começa a conversar, fazendo perguntas inusitadas, partilhando pensamentos estranhos e mostrando verdadeiro interesse no que ele tem a dizer. 


"Os livros eram apenas um tipo de recetáculo em que guardávamos as coisas que tínhamos medo de perder. Em si mesmos, nada têm de mágico. A magia está no que eles nos dizem, em como nos apresentam uma única peça feita da costura de vários bocados do universo." 


Depois desta jovem desaparecer misteriosamente, a sua mente começa a processar o que realmente acontecia à sua volta e as dúvidas começam a surgir o que o impele a roubar alguns livros dos incêndios em que participa e a levantar suspeitas entre os seus colegas. Ao sentir-se pressionado, procura um velho professor que encontrou em tempos e que lhe deu um cartão. A sua busca por respostas, por descobrir o que se escondia nas páginas proibidas dos livros, leva-o a conhecer um pouco mais sobre o passado, sobre o que levou a que as suas vidas fossem o que eram, e a perceber que existe uma série de pessoas que procuram lutar contra este regime absurdo. 


É uma história fascinante, que nos remete para um universo inconcebível mas que, ao mesmo tempo, parece espelhado em alguns comportamentos actuais, como por exemplo, a forma como estamos viciados nos ecrãs e desligados dos que nos rodeiam. É um livro curto, com uma linguagem acessível e simples mas que nos faz pensar e pôr em causa tudo o que damos como certo, como garantido. Devíamos todos ler a obra-prima de Bradbury, no entanto, se ainda precisas de mais incentivos, aconselho-te os vídeos da Tatiana Feltrin e do Ler Antes de Morrer


Já leste esta distopia? O que retiraste desta leitura? Conseguiste identificar comportamentos actuais? Conta-me tudo nos comentários! 


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quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Guerra Nuclear - Marisa Liz & António Variações

 

Guerra Nuclear - Marisa Liz & António Variações

Não são muitas as vezes que aqui venho falar de uma música em particular, pois quando trago o tema geralmente reúno uma playlist sobre determinado tema ou com algum artista que me agrade muito. Só que a arte é uma coisa que serve para nos inquietar, para nos despertar e mostrar o que está a acontecer, como um registo para as gerações futuras do que se viveu no que um dia será um passado próximo ou longínquo. Claro que também existem manifestações artísticas que servem apenas para nos entreter, e está tudo certo, mas quando vemos obras de arte é impossível ignorar sem sentir o impacto da sua mensagem. 


A minha admiração pela Marisa Liz é de longa data, pela extraordinária artista que é, pela forma como canta e como sente a música, pela sua generosidade e empatia, pelo modo como acolhe os novos artistas, como homenageia os mais antigos. A sua sensibilidade é conhecida por todos, o seu talento também, mas agora que se vai lançar a solo conseguiu ultrapassar todas as expectativas com uma pérola que nos oferece e que foi criada pelo inesquecível António Variações. 


Podes ver também A minha playlist para relaxar


Passaram quarenta anos desde que perdemos o artista mais único que Portugal conseguiu colocar no mundo e, mesmo assim, hoje ele consegue surpreender-nos. Surpreende pelo seu talento, por ainda ter músicas novas para nos apresentar, pela actualidade das suas letras, que volta a provar que era um artista muito à frente do seu tempo. Nos anos 80, escreveu uma música que poderia ter sido escrita hoje, com uma mensagem que todos precisamos ouvir e repetir. 


Guerra Nuclear - Marisa Liz & António Variações

Guerra Nuclear é um grito de socorro, um apelo às consciências de todos, um alerta para o caminho que está a ser trilhado, desumano, criminoso, sem preocupação com o outro, só com a sede de poder em mente. É uma letra poderosa, impactante, que nos toca e obriga a partilhar para que chegue longe, a todos os que precisam de a ouvir. As palavras do António Variações em conjunto com a interpretação da Marisa Liz criaram uma obra de arte extraordinária e que ficará como mais um legado destes artistas para a posteridade. 


Podes ler ainda sobre Amar pelos dois e o Festival da Canção 2017


Sabemos agora que existe um espólio gerido pelos herdeiros do António Variações onde constam várias canções inéditas que ainda não foram reveladas ao público. Dado o que estamos a viver no mundo, acharam que este seria o momento para nos apresentar Guerra Nuclear, música que foi enviada para vários artistas para apresentarem a sua proposta e tentar encontrar a escolha certa para transmitir esta mensagem importante. Foi um presente para a Marisa, mas também para todos nós que temos o privilégio de assistir a esta actuação memorável. 



O momento final, onde podemos ouvir de novo a voz de Variações é emocionante e permitiu matar um pouco as saudades que este artista nos deixou. A sua influência na música portuguesa é inegável e, com esta nova música, acredito que um novo capítulo de boas influências vai se iniciar. Tenho ouvido esta música em loop nos últimos tempos e achei incrível a participação nos Globos de Ouro no que foi, para mim, o momento da noite. 


Já ouviste a nova música da Marisa e do António? O que sentiste com esta canção? Conta-me tudo nos comentários! 

terça-feira, 4 de outubro de 2022

#Livros - A Queda, de Albert Camus

 

#Livros - A Queda, de Albert Camus

Sinopse

Num bar de marinheiros em Amsterdão, um homem que se apresenta como juiz-penitente enceta conversa com um desconhecido. Entre copos de genebra e deambulações pelas ruas daquela cidade de canais concêntricos, a fazer lembrar os círculos do inferno, recorda a sua vida passada como respeitável advogado parisiense, insuperável na defesa de causas nobres e nas conquistas amorosas. Mas à medida que a confissão se desenrola as ambiguidades acumulam-se, os motivos ocultos revelam-se, os triunfos desabam. 

Narrativa mordaz, de uma ironia brilhante, A Queda descreve uma viagem de decadência até às mais obscuras infâmias do homem moderno. Publicado pela primeira vez em 1956, foi o último livro de ficção lançado em vida por Albert Camus. 


Opinião

Para os que acreditam que a pessoa compra livros que não lê, aqui fica o primeiro livro comprado na edição de 2022 da Feira do Livro de Lisboa que já foi lido. Está certo que é um livro curto, tem menos de cem páginas, mas é um Camus, e isso é sinónimo de profundidade e muito significado no que é dito e no que não é dito também. Estamos perante um autor que só escreve o essencial, sem grandes adornos ou distracções. Todas as palavras escolhidas por Camus, todas as frases cumprem o seu propósito, sem extras ou partes que não sejam absolutamente necessárias para a compreensão da mensagem que se pretende passar. 


O cenário deste livro começa por ser um bar de marinheiros em Amsterdão, mas depois prossegue pelas ruas da cidade peculiar e que, ela própria, representa uma viagem ao inferno pelo nosso protagonista. É uma viagem que fazemos apenas com a sua voz, a única que está claramente presente no texto, mas que não é a única. O narrador numa fase inicial parece estar a fazer um monólogo, mas as marcas da linguagem mostram claramente que ele está a falar com alguém, um interlocutor que faz perguntas, observações e responde às perguntas do protagonista. 


Podes ler também a minha opinião sobre O Estrangeiro


É nesse bar de marinheiros que os dois se encontram, quando o misterioso juiz-penitente aborda o francês que está com dificuldades em se fazer entender. Ajuda-o a fazer o seu pedido ao empregado do bar e é nesse momento que, após algumas gentilezas e troca de agradecimentos, iniciam o seu diálogo e começam a travar conhecimento. No entanto, parece um conhecimento unilateral, pois ficamos a saber muito pouco sobre este subentendido interlocutor, apenas que também veio de Paris. Não sabemos o nome, o que está a fazer em Amesterdão, o que faz da vida, se tem família, se viaja sozinho. Em suma, a sua presença só serve para que o protagonista nos fale e conte a sua história. 


"Cismo, por vezes, no que dirão de nós os futuros historiadores. Bastar-lhes-á uma frase para definir o homem moderno: fornicava e lia jornais. Depois desta forte definição, o assunto ficará, se assim me posso exprimir, esgotado." 


Assim, vamos conhecendo mais sobre o protagonista, sobre a vida que levava em Paris como advogado brilhante, que fazia sucesso entre as mulheres, embora sem estabelecer relações duradouras com nenhuma. Inicialmente, ficamos a conhecer o seu lado mais positivo, os sucessos, as suas boas acções, a forma como os outros o olhavam como um exemplo e um caso de sucesso irrefutável, como ganhava as causas mais difíceis. O auto-elogio procede durante várias páginas, como uma elegia da perfeição da sua vida passada. 


Podes ler ainda a minha opinião sobre Morte em Veneza


O enredo acontece em apenas 5 dias, com uma falsa tranquilidade que se transforma numa urgência, quando o auto-elogio dá lugar à confissão. Com a exposição dos momentos-chave que o levaram a colocar em causa a sua forma de viver e a contar-nos os seus podres interiores que não eram visíveis aos demais, percebemos que decidiu desmontar a imagem exterior que projectava para os outros. É nesse momento que o discurso se adensa e somos confrontados como as aparências podem enganar, pois os indivíduos mais brilhantes podem esconder um interior repugnante. 


"Os mártires, caro amigo, têm de escolher entre serem esquecidos, escarnecidos ou utilizados. Quanto a ser-se compreendido, isso nunca." 


Como sempre, o que Camus nos provoca são questões, dúvidas existenciais e morais, assombramento ao sermos apresentados a aspectos obscuros das pessoas mais comuns, que poderiam encontrar-se ao nosso lado, na vida banal de todos os dias. Quanto mais leio este autor, mais quero ler, mais quero descobrir, mais vontade tenho de descobrir tudo o que nos quis dizer. Já leste alguma obra de Albert Camus? Qual o teu favorito? Conta-me tudo nos comentários! 


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