Sinopse
Nunca algo semelhante tinha acontecido na história de Portugal ou de qualquer outro país europeu. Em tempos de guerra, reis e rainhas eram destronados ou obrigados a refugiarem-se em territórios alheios, mas nenhum deles foi tão longe quanto o príncipe regente D. João, forçado a cruzar um oceano com toda a família real portuguesa para viver e reinar do outro lado do mundo, enquanto as tropas do imperador francês Napoleão Bonaparte marchavam sobre Lisboa. Milhares de pessoas o acompanharam na viagem. Foram cem dias entre o céu e o mar, em navios improvisados, abarrotados, infestados de pragas e piolhos, sem conforto algum.
Ao chegar ao Brasil, D. João determinou, entre outras medidas, a abertura dos portos, fundou escolas, mandou construir estradas e fábricas, autorizou a publicação de livros e jornais, incentivou a ciência e as artes. Ao regressar a Portugal, em 1821, deixava para trás um país transformado e pronto para a Independência.
Opinião
Depois da primeira experiência, bem sucedida por sinal, com o autor brasileiro, Laurentino Gomes, decidi que queria ler os restantes volumes da trilogia que escreveu sobre a História do Brasil e, consequentemente, de Portugal também, ao longo do atribulado século XIX. Depois de me ter iniciado pelo meio dos acontecimentos, consegui voltar ao início, onde os acontecimentos se precipitam com a viagem da família real portuguesa.
A ameaça das invasões francesas, ordenadas pelo temido Napoleão Bonaparte, após Portugal se encontrar numa posição delicada de pretensa neutralidade, onde não queria hostilizar os seus aliados ingleses e pressionado pelos franceses a fechar-lhes os seus portos. A impossibilidade de obedecer ao ultimato de Napoleão e com receio do ataque do maior general da época, aliados com o frágil exército português, faz com que o rei decida aceitar o plano dos ingleses e rumar com a sua corte para o Brasil.
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É preciso não esquecer que, nesta época, o Brasil ainda era apenas uma colónia extrativa, onde Portugal ia buscar os recursos existentes, sem relações comerciais com outros países ou culturas, sem qualquer vestígio de modernidade. Ao longo de todo o livro somos apresentados com este contraste, entre o Brasil colónia que existia em 1808 e o Brasil transformado pela estadia da família real até 1821.
"Com a queda de Pombal e do espírito reformador, Portugal via-se novamente prisioneiro do seu próprio destino: o de um país pequeno, rural e atrasado, incapaz de romper com os vícios e tradições que o prendiam ao passado, dependente de mão-de-obra escrava, intoxicado pela riqueza fácil e sem futuro da produção extractivista das suas colónias."
O choque inicial e o desagrado pelos confortos que não existiam no Novo Mundo foram dando lugar a um sincero apreço pelas condições peculiares que nenhum monarca europeu alguma vez conheceu durante o seu reinado. Somos também apresentados a tudo o que alimentou e fez crescer o desejo de Independência do Reino do Brasil. Todas as obras de D. João contribuem para que comece a existir uma verdadeira noção de identidade na colónia que se vê promovida à condição de reino.
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Quanto mais o Brasil cresce e evolui, mais Portugal se sente relegado para segundo plano, abandonado à sua própria sorte, até que chega o momento em que o rei D. João precisa voltar para a Europa para não perder a sua coroa. Contudo, a perda será inevitável. Se ficar no Brasil, irá perder a coroa portuguesa. Se regressar à pátria, o Brasil deixará de ser seu reino também.
"Portugal era o passado, o velho, as ideias antigas, o sistema colonial e a decadência. O Brasil era o novo, o futuro, a riqueza, a prosperidade, a transformação."
Também ao longo do livro vamos tendo alguns dados que ajudam a explicar o facto do Brasil ter permanecido unido, ao contrário do que aconteceu com o império espanhol nas Américas. Por fim, destaco a qualidade histórica deste livro mas, ainda mais, por ter uma série de imagens lindas que nos ajudam a enquadrar com muito do que é contado ao longo das suas páginas.
Pela minha parte, já sabes que adoro História no geral e, quando são bem escritos, mais ainda, portanto, só posso recomendar a todos os que partilham este meu interesse e também para quem quer saber mais sobre a ligação que existe entre portugueses e brasileiros. Também gostas do tema e do autor?
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