O mundo da literatura clássica pode ser intimidante para muitos leitores que optam por se aventurar pelas suas páginas repletas de nomes consagrados e histórias atemporais. No entanto, deixar-se levar pelo medo dos Clássicos seria privar-se dum vasto universo literário que possui muito para oferecer. Se és um desses leitores que reluta em mergulhar nesse mundo por receio de não conseguir apreciá-lo completamente, este artigo é para ti! Aqui, vou apresentar alguns Clássicos que são perfeitos para quem está a iniciar a sua jornada literária, oferecendo uma introdução gradual e prazerosa aos tesouros da literatura consagrada. Prepara-te para dar os primeiros passos rumo à descoberta duma nova paixão literária, que aposto que será extraordinária! Vamos juntos?
1. A Metamorfose
A história absurda e desconcertante de um homem banal que acorda um dia metamorfoseado num animal grotesco e que tenta, como pode, adaptar-se à sua nova realidade, é um texto transformador para quem o lê. A magistral sobriedade e precisão das palavras de Franz Kafka abrem as portas a uma multiplicidade de leituras, da política à psicanálise, e provocam no leitor uma inigualável, quase violenta, sensação de desespero.
Trazendo o pesadelo para a vigília, o humor para a tragédia, a razão para o absurdo, Kafka expõe, através de uma obra metafórica, um complexo sistema opressivo de alienação e desilusão perante o futuro incerto. Nesse processo, coloca o ser humano em confronto com o que de mais visceral existe dentro de si.
A Metamorfose permanece, desde o ano da sua publicação, em 1915, um dos livros mais enigmáticos da história da literatura e, por isso mesmo, um dos mais lidos, estudados e discutidos de sempre.
2. O Estrangeiro
Meursault recebe um telegrama: a mãe morreu. De regresso a casa após o funeral, enceta amizade com um vizinho de práticas duvidosas, reencontra uma antiga colega de trabalho com quem se envolve, vai à praia - até que ocorre um homicídio.
Romance estranho, desconcertante sob uma aparente singeleza estilística, em O Estrangeiro joga-se o destino de um homem perante o absurdo e questiona-se o sentido da existência. Publicado originalmente em 1942, este primeiro romance de Albert Camus foi traduzido em mais de quarenta línguas e adaptado para o cinema por Luchino Visconti em 1967, sendo indubitavelmente uma das obras-primas da literatura francesa do século XX.
3. O Triunfo dos Porcos
Uma quinta é tomada pelos seus explorados e maltratados animais. Com um idealismo apaixonado, decidem criar um paraíso de progresso, justiça e igualdade. E assim se monta o cenário de uma das fábulas mais influentes de sempre: um conto de fadas angustiante para adultos, que regista a evolução da revolução contra a tirania para um totalitarismo igualmente terrível.
Hoje é devastadoramente claro que onde e quando a liberdade é atacada, sob qualquer bandeira, a clareza e a comédia indómita da obra-prima de George Orwell têm um significado e uma mensagem ainda ferozmente recentes.
4. O Velho e o Mar
Santiago, um velho pescador cubano, está há quase três meses sem conseguir pescar um único peixe, quando o seu isco é finalmente mordido por um enorme espadarte. O peixe imponente resiste, arrasta a sua canoa cada vez mais para o alto mar, na corrente do Golfo, e obriga a uma luta agonizante de três dias que o velho Santiago acabará por vencer, para logo se ver derrotado.
Com uma linguagem de grande simplicidade e força, Hemingway retrata nesta aventura poética a coragem humana perante as dificuldades e o triunfo alcançado apesar da perda. Comovente romance, obra-prima de maturidade de Hemingway, O Velho e o Mar recebeu o Prémio Pulitzer em 1953 e desempenhou um papel essencial na obtenção pelo seu autor, um ano mais tarde, do Prémio Nobel da Literatura.
5. O Principezinho
O narrador da obra é um piloto com um avião avariado no deserto do Sahara, que tenta desesperadamente reparar os danos causados no seu aparelho. Um belo dia os seus esforços são interrompidos devido à aparição de um pequeno príncipe, que lhe pede que desenhe uma ovelha. Perante um domínio tão misterioso, o piloto não se atreveu a desobedecer e, por muito absurdo que pareça - a mais de mil milhas das próximas regiões habitadas e correndo perigo de vida - pegou num pedaço de papel e numa caneta e fez o que o principezinho tinha pedido.
E assim tem início um diálogo que expande a imaginação do narrador para todo o género de infantis e surpreendentes direcções. O Principezinho conta a sua viagem de planeta em planeta, cada um sendo um pequeno mundo povoado com um único adulto. Esta maravilhosa sequência criativa evoca não apenas os grandes contos de fadas de todos os tempos, como também o extravagante Cidades Invisíveis de Ítalo Calvino. Uma história terna que apresenta uma exposição sentida sobre a tristeza e a solidão, dotada de uma filosofia ansiosa e poética, que revela algumas reflexões sobre o que de facto são os valores da vida.
6. Fahrenheit 451
Guy Montag é um bombeiro. O seu emprego consiste em destruir livros proibidos e as casas onde esses livros estão escondidos. Ele nunca questiona a destruição causada, e no final do dia regressa para a sua vida apática com a esposa, Mildred, que passa o dia imersa na sua televisão. Um dia, Montag conhece a sua excêntrica vizinha Clarisse e é como se um sopro de vida o despertasse para o mundo. Ela apresenta-o a um passado onde as pessoas viviam sem medo e dá-lhe a conhecer ideias expressas em livros. Quando conhece um professor que lhe fala de um futuro em que as pessoas podem pensar, Montag apercebe-se subitamente do caminho de dissensão que tem de seguir.
Mais de sessenta anos após a sua publicação, o clássico de Ray Bradbury permanece como uma das contribuições mais brilhantes para a literatura distópica e ainda surpreende pela sua audácia e visão profética.
7. O Retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde, um dos maiores nomes da literatura do século XIX, publicou inicialmente O Retrato de Dorian Gray no periódico norte-americano Lippincott's Monthly Magazine, em 20 de Junho de 1890.
Dorian Gray é um belo e ingénuo rapaz retratado pelo artista Basil Hallward numa pintura. Mais do que um mero modelo, Dorian Gray torna-se a verdadeira inspiração para Basil. Devido ao facto de todo o seu íntimo estar exposto em sua obra-prima, Hallward não divulga a pintura e decide presentear Dorian Gray com o quadro. Com a convivência de lorde Henry Wotton, um cínico e hedonista aristocrata amigo de Hallward, Dorian Gray é seduzido ao mundo da beleza e dos prazeres imediatos e irresponsáveis, espírito que foi intensificado após, finalmente, conferir o seu retrato pronto e apaixonar-se por si mesmo.
A partir de então, o aprendiz Dorian Gray supera o seu mestre e cada vez mais se entrega à superficialidade e ao egoísmo. O belo rapaz, ao contrário da natureza humana, misteriosamente preserva os seus sinais físicos de juventude, enquanto todos os demais envelhecem e sofrem com as marcas da idade. O desfecho da história é surpreendente, cujo segredo está n'O Retrato de Dorian Gray. O clássico despertou grande polémica na Inglaterra vitoriana pelo comportamento indiferente, pelo Esteticismo como principal tema e pela dualidade da personagem principal, hedonista e conservadora, que frequenta tranquilamente as reuniões da alta sociedade inglesa após cometer os seus crimes.
8. Orgulho e Preconceito
Orgulho e Preconceito é o romance mais conhecido de Jane Austen. Embora o universo que retrata seja circunscrito - a sociedade inglesa rural da época -, graças ao génio de Austen o seu apelo mantém-se intacto. É uma história de amor poderosa entre Elizabeth Bennet, a filha de espírito vivo e independente de um pequeno proprietário rural, e Mr. Darcy, um aristocrata altivo da mais antiga linhagem. Mas é também uma deliciosa comédia social, à qual estão subjacentes temáticas mais profundas. A sua atmosfera é iluminada por uma jovialidade contagiante, por uma variedade de personagens e vozes que tornam o enredo vibrante e constantemente agitado pelo elemento surpresa, pela genialidade da inteligência e da ironia de Austen.
9. Livro do Desassossego
O Livro do Desassossego é um dos maiores feitos literários do século XX. Obra-prima póstuma, retrato da cidade de Lisboa e do seu retratista, compõe-se de centenas de fragmentos, oscilando entre diário íntimo, prosa poética e narrativa, num conjunto fundamental para compreender o lugar de Fernando Pessoa na criação da consciência do mundo moderno.
Nesta nova edição, Jerónimo Pizarro, reconhecido estudioso pessoano, regressa às fontes dos textos que Fernando Pessoa pretendia incorporar no Livro do Desassossego. Com uma nova organização, melhorando a decifração de quase todos os fragmentos, este livro reúne os atributos para se tornar na edição de referência.
10. O Cavaleiro da Dinamarca
No regresso de uma longa peregrinação à Palestina, o Cavaleiro tem apenas um desejo: voltar a casa a tempo de celebrar o Natal com a sua família.
Nessa viagem, maravilha-se com as cidades de Veneza e Florença, e ouve histórias espantosas sobre pintores, poetas e navegadores. São muitas as dificuldades com que se depara, mas uma força inabalável parece ajudá-lo a passar essa noite tão especial com aqueles que mais ama...
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