Sinopse
Após trinta e cinco anos como monarca absoluto, Henrique VIII era um homem velho, hediondamente obeso, perverso e raras vezes visto em público.
Governou pelo terror e foi pioneiro em muitos métodos que os ditadores do século XX tornaram banais. Henrique VIII criou o moderno «julgamento fantasma» e manipulou as facções rivais com um brilhantismo cínico.
O relato que Robert Hutchinson nos traz dos últimos anos de Henrique VIII tem inúmeras revelações espantosas. Hutchinson desenterrou sentenças de morte, confissões, pedidos de clemência desesperados, provas de chantagem, inclusive as cartas de amor entre Katherine Parr, a última rainha de Henrique VIII, e o almirante Thomas Seymour, que se julgavam perdidas.
Opinião
Robert Hutchinson é um famoso autor e historiador britânico, conhecido pelas suas obras que exploram a rica tapeçaria da História inglesa, particularmente no que diz respeito à era Tudor, a minha favorita. Andava de olho neste livro há bastante tempo e antes das férias consegui deitar-lhe a mão numa boa promoção e levei-o para me fazer companhia na primeira época de descanso a sério. Depois de ter lido vários livros de ficção sobre esta época e sobre este rei e as suas esposas e filhas, chegou a hora de ler um livro de não ficção que se propõe contar os últimos anos do famoso monarca, Henrique VIII, oferecendo uma melhor compreensão deste período tumultuado e fascinante da História inglesa.
Henrique VIII talvez seja o monarca mais controverso de Inglaterra e viveu num período marcado por mudanças drásticas nas esferas política, religiosa e social, tendo sido a causa de muitas delas no seu país. O livro procura contextualizar a crise de saúde e os desafios pessoais que Henrique VIII enfrentou enquanto tentava consolidar o seu legado e a sua dinastia. Assim, Hutchinson retrata não só a deterioração física do rei, mas também os labirintos de intrigas palacianas, a luta por poder entre as esposas e as suas famílias e os seus conselheiros, e as repercussões das suas decisões na formação da Inglaterra moderna. Estamos a falar dum rei que foi exuberante e carismático, chamado o mais belo príncipe da Cristandade em tempos, mas que, na velhice, encontra-se preso num corpo doente, sempre atormentado por dores e rodeado de gente pouco recomendável, sem um aliado em quem pudesse confiar plenamente.
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O autor destaca os conflitos familiares, especialmente com as últimas esposas e as filhas, além das tensões políticas com a expansão do Protestantismo e as alianças perigosas que cercavam a corte. O livro é um retrato rico e detalhado da luta de um homem contra o tempo e as consequências das suas próprias escolhas, culminando num fim de vida sombrio e degradante. A morte e o sonho da imortalidade são temas incontornáveis nesta obra. Afinal, Henrique VIII, conhecido pela sua busca incessante por poder e prestígio, vê-se confrontado com a sua mortalidade à medida que a sua saúde se deteriora, revelando a inevitável decadência que aflige a todos os seres humanos, independentemente da sua estatura. Além disso, as intrigas políticas são emblemáticas neste reinado em particular. Hutchinson ilustra como a personalidade volátil de Henrique e as obsessões pessoais moldaram um cenário político desigual, onde as alianças eram frágeis e as traições comuns.
"Apesar das palavras pacificadoras, Catarina sabia perfeitamente que, depois das experiências fatais das malogradas antecessoras consortes reais, entregar-se simplesmente à misericórdia de Henrique não a salvaria da execução."
No contexto desta obra, a religião desempenha um papel fundamental na formação da sociedade inglesa do século XVI, especialmente à luz do impacto da Reforma Protestante. A ruptura com a Igreja Católica, impulsionada pelas disputas pessoais de Henrique VIII, transformaram a estrutura e a doutrina religiosa da Inglaterra, e também reverberou em diversas esferas da vida social, política e cultural. A ascensão do Anglicanismo e a imposição de novas práticas de culto levaram a tensões entre fé e poder, criando um ambiente de incerteza e conflito, levando o país a abeirar-se duma guerra civil nos anos que se seguiram. O descontentamento crescente entre os diversos grupos religiosos, como católicos, anglicanos e reformistas, levou a uma era de dúvidas e divisões que moldaram a identidade nacional e levou a momentos de intolerância e perseguição.
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Tenho de destacar o estilo do autor, que combina fluidez com uma rica variedade de detalhes históricos. O autor entrega-nos uma narrativa envolvente, que informa ao mesmo tempo que entretém o leitor, transportando-nos para os conturbados anos finais do famoso rei inglês. A sua prosa é marcada por uma linguagem acessível, capaz de descrever minuciosamente os costumes, intrigas e tensões da corte, enquanto mantém um ritmo apaixonante, que instiga a curiosidade sobre os desdobramentos da História. A habilidade de Hutchinson para entrelaçar rigor histórico com uma narrativa dramática torna a obra uma fonte de conhecimento, sem que isso se torne aborrecido. Tudo isto assenta numa pesquisa histórica meticulosa, fundamentando-se em registos históricos, cartas e documentos da época. Além de relatar os eventos, também explora as motivações e os conflitos pessoais que marcaram esses anos finais, revelando a complexidade do monarca e os desafios enfrentados por aqueles ao seu redor.
"Temos assim diante de nós a imagem de um monarca cruel, sem remorsos, completamente impiedoso ao comando das rédeas do poder; descuidado em relação às vidas dos seus amigos e súbditos; sempre determinado a levar a sua avante; e ávido na acumulação de riqueza, quase sempre a expensas de terceiros. Era um vândalo psicótico, paranoico, perigosamente apreciador da autoridade absoluta."
O desenvolvimento é construído de forma brilhante. A imagem do rei poderoso, jovem, belo e sedutor, dá lugar ao homem cada vez mais consumido pela paranoia e pela decadência física e emocional. Deste modo, ilustra a luta interna e os dilemas morais enfrentados por cada figura essencial para contar este pedaço da História inglesa, apresentando uma nova camada de profundidade aos acontecimentos. Além do já referido, como a pesquisa minuciosa e a habilidade do autor em prender o leitor, tenho de referir ainda que a clareza na apresentação dos factos é um dos grandes trunfos desta obra. Hutchinson consegue explicar conceitos estranhos para os nossos dias e acontecimentos complicados de maneira simples e organizada, contando ainda com um objecto de estudo que talvez seja dos mais interessantes espécimes masculinos que a Inglaterra nos ofereceu.
Aqui, com Os Últimos Dias de Henrique VIII, vais encontrar uma leitura interessante se gostas de História ou se tens curiosidade sobre um dos períodos mais fascinantes do Renascimento e pela dinastia mais carismática da Inglaterra, os Tudors. Vale a leitura por tornar a História acessível e emocionante, enquanto nos apresenta a complexidade dum líder que, ao mesmo tempo, era carismático e tirano. Agora, quero muito saber a tua opinião! Já leste este livro de Robert Hutchinson? Que aspectos da narrativa te chamaram mais a atenção? Alguma das revelações sobre Henrique VIII e o seu círculo íntimo te surpreendeu? Deixa o teu comentário abaixo!
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