Numa altura em que tanto se fala das desigualdades entre homens e mulheres e dos abusos físicos e psicológicos que estas sofrem, tanto nas relações profissionais como nas pessoais, quer-me parecer que é ainda mais pertinente celebrar o Dia da Mulher e reflectir sobre o caminho que ainda falta percorrer e as lutas que ainda são necessárias travar.
Porque para além da futilidade dos jantares e das sessões de striptease masculino, existe uma mensagem muito importante e essencial para o futuro que queremos enquanto sociedade civilizada. É por isso que defendo que a existência de um Dia da Mulher
ainda faz sentido, hoje mais do que nunca.
Partilhas da minha opinião sobre este dia?
Só que hoje é de livros que quero falar contigo. Nada como reunir alguns livros que fazem todo o sentido para este Dia da Mulher e com eles pensar no papel da mulher. Seleccionei alguns clássicos, mas também livros mais recentes para criar esta lista de leituras que quero fazer nos próximos tempos.
Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dr.ª Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»
Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque eléctrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.
E isto é apenas o início.
Mais de 50 anos volvidos sobre a sua primeira publicação, os temas que Simone de Beauvoir discute neste célebre tratado sobre a condição da mulher continuam a ser pertinentes e a manter aceso um debate clássico. Entretecendo argumentos da Biologia, da Antropologia, da Psicanálise e Filosofia, e outras áreas do saber, O Segundo Sexo revela os desequilíbrios de poder entre os sexos e a posição do «Outro» que as mulheres ocupam no mundo.
O Segundo Sexo é uma obra essencial do feminismo, e as suas considerações acerca dos condicionamentos sociais que levam à construção de categorias como «mulher» ou «feminino» - e que estão na base da opressão das mulheres - são hoje amplamente aceites.
Uma visão marcante da nossa sociedade radicalmente transformada por uma revolução teocrática. A História de Uma Serva tornou-se um dos livros mais influentes e mais lidos do nosso tempo.
Extremistas religiosos de direita derrubaram o governo norte-americano e queimaram a Constituição. A América é agora Gileade, um estado policial e fundamentalista onde as mulheres férteis, conhecidas como Servas, são obrigadas a conceber filhos para a elite estéril.
Defred é uma Serva na República de Gileade e acaba de ser transferida para a casa do enigmático Comandante e da sua ciumenta mulher. Pode ir uma vez por dia aos mercados, cujas tabuletas agora são imagens, porque as mulheres estão proibidas de ler. Tem de rezar para que o Comandante a engravide, já que, numa época de grande decréscimo do número de nascimentos, o valor de Defred reside na sua fertilidade, e o fracasso significa o exílio nas Colónias, perigosamente poluídas. Defred lembra-se de um tempo em que vivia com o marido e a filha e tinha um emprego, antes de perder tudo, incluindo o nome. Essas memórias misturam-se agora com ideias perigosas de rebelião e amor.
Numa clara manhã de primavera, Clarissa Dalloway resolve sair para comprar flores para a festa que acolherá naquela mesma noite, em sua casa. Enquanto passeia pelas ruas de Londres, são recolhidas imagens, sensações e ideias, entrelaçadas com as personagens que habitam o seu mundo - do marido, Richard Dalloway, à filha, Elizabeth, e a Peter Walsh, amigo de juventude acabado de voltar da Índia - e que com ela se cruzam - como Septimus Warren Smith, veterano da Primeira Guerra Mundial assombrado pela doença mental.
Romance que revelou em pleno o talento de Virginia Woolf, a sua perspicácia, a sensibilidade transparente e, sobretudo, a arte suprema de descrever os segredos das almas - não os actos mas as sensações que eles despertam - fazem de Mrs Dalloway uma obra-prima indiscutível da literatura universal.
Vencedor do prémio Pulitzer e o National Book Award, A Cor Púrpura foi adaptado ao cinema em 1985 por Steven Spielberg e nomeado para 11 Óscares.
A Cor Púrpura aborda temas como a violência doméstica a que estavam sujeitas as mulheres negras no início do século XX, a relação dos negros com o seu passado de escravatura, e a busca do espiritual num mundo cruel e sem sentido.
Um livro extremamente actual e que nos faz reflectir sobre as relações de amor, ódio e poder, numa sociedade ainda marcada pelas desigualdades de géneros, etnias e classes sociais.
Existem mulheres negras, brancas, morenas, latinas, asiáticas, indianas, indígenas. Existem engenheiras, donas de casa, prostitutas, ministras, artistas, executivas, actrizes. Há mulheres cegas, surdas, mudas. Mulheres bipolares, deprimidas, ansiosas. Existem heterossexuais, lésbicas, bissexuais, arromânticas, pansexuais, assexuais. Mulheres cristãs, ateias, budistas, muçulmanas. Há mulheres que não são activistas, que nunca ouviram falar em feminismo, que nunca discutiram racismo. Mulheres que lutam de formas diferentes, a partir de ideias que não conhecemos.
Existem mulheres que têm vergonha de partilhar as suas escolhas por medo de serem julgadas. E existem mulheres que discordam de tudo o que eu disse até aqui. Cada Mulher tem a sua própria história, e acredito que todas merecem ser ouvidas e representadas. A minha abordagem será abrangente, convidando todos os que partilhem comigo essa ideia de liberdade a celebrar a diversidade do ser humano.
Parte manual, parte manifesto, O Clube de Combate Feminista é um guia humorístico - mas incisivo sobre como lidar com o sexismo subtil no mundo do trabalho - que oferece conselhos de carreira para a vida real e reforço de humor para todas as mulheres.
Jessica Bennett providencia um novo vocabulário para os arquétipos sexistas que as mulheres enfrentam no mundo do trabalho - como o interruptor, o homem que fala por cima das colegas durante as reuniões, ou o imitador, que está sempre a copiar ideias - e fornece conselhos práticos para que as mulheres possam movimentar-se no campo minado do mundo laboral.
Certeiro e divertido, O Clube de Combate Feminista mistura histórias pessoais com investigações, estatísticas, infográficos e conselhos de peritos, sem merdas. Com uma investigação histórica fascinante e um conjunto de dicas para a leitora criar o próprio clube de combate, este livro aborda os comportamentos externos (sexistas) e internos (auto-sabotagem) que assolam as mulheres hoje em dia.
Já conheces os livros que te sugeri? Qual o que queres ler em primeiro lugar?