Sinopse
À semelhança de Os Pilares da Terra, Ken Follett volta ao registo do romance histórico, numa obra dividida em duas partes graças às quase mil páginas que a compõem. A Presença publica agora o primeiro volume de Um Mundo Sem Fim, que se prevê repetir o sucesso de Os Pilares da Terra. O autor sentiu-se bastante motivado a escrever este novo livro já que desde Os Pilares da Terra, publicado em 1989, os leitores de todo o mundo clamavam insistentemente por uma sequela. Finalmente Follett, inspirado e com coragem e determinação, sem esquecer uma enorme dedicação, lançou-se na escrita de Um Mundo Sem Fim, a continuação de Os Pilares da Terra, onde recorre a elementos comuns do primeiro livro e dá vida a descendentes de algumas personagens.
Recuperando a mesma cidade, Kingsbridge, o cenário é ambientado dois séculos mais tarde onde nos transporta até 1327. Aí iremos ao encontro de quatro crianças que presenciam a morte de dois homens por um cavaleiro. Três delas fogem com medo, ao passo que uma se mantém no local e ajuda o cavaleiro ferido a recompor-se e a esconder uma carta que contém informação secreta que não pode ser revelada enquanto ele for vivo. Estas crianças quando chegam à idade adulta viverão sempre na sombra daquelas mortes inexplicáveis que presenciaram naquele dia fatídico. Uma obra de fôlego com a marca assinalável e absolutamente incontornável de Ken Follett.
Opinião
Ler Ken Follett é um caminho sem volta. Depois de começar, não dá mais para parar. Só descobri isso recentemente, mas já sei que preciso de ler tudo o que este homem escreveu, com especial urgência nos que se passam na cidade nascida da sua imaginação, Kingsbridge. Tem sido uma viagem extraordinária, para dizer o mínimo. Ainda antes de ter entrado neste mundo dos livros, recordo-me vagamente de ter visto a série inspirada neste livro que hoje te trago, Um Mundo Sem Fim, e ter ficado muito presa na trama. Agora, ao ler o livro, tal como aconteceu com a série sobre Os Pilares da Terra, percebi que o pouco que me lembrava não é real nem faz parte da narrativa original.
Estas adaptações que tomam liberdades criativas fazem-me um bocado de comichão, especialmente quando as acho desnecessárias para tornar mais interessante uma história que já tem tudo, todos os ingredientes, todas as intrigas, e os melhores personagens. Voltamos ao cenário onde foi construída uma catedral, mas onde agora, além de monges, temos também freiras, com o seu claustro próprio, mas que participam na vida religiosa da cidade e ainda tomam conta da escola e do hospital. Depois de ter vivido uma época de ouro, com priores e cidadãos icónicos que levaram toda a cidade para a frente e incentivaram o progresso, cai numa época de estagnação, sem que ninguém pareça capaz de segurar as rédeas, tomar decisões e impulsionar Kingsbridge para o futuro.
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É neste estado que encontramos a cidade passados cerca de duzentos anos, com claras referências às figuras mais carismáticas do livro anterior e trazendo ainda descendentes de alguns deles, o que torna mais fácil ganhar empatia ou antipatia pelos novos. O mercado continua a ter um papel fundamental para o sucesso dos habitantes mais proeminentes, a ponte que permite entrar na cidade e no priorado é um elemento que ganha protagonismo nesta nova aventura, e a rivalidade com o condado de Shiring volta a crescer em consequência da estagnação, da falta de visão do prior e de não se investir no progresso necessário para a cidade manter o seu papel importante como cidade-catedral. Se ninguém fizer nada, o futuro será negro para Kingsbridge, que poderá tornar-se numa cidade fantasma, com as meras ruínas de uma catedral de outros tempos.
"Caris deixou-se ficar com o olhar cravado na porta fechada. A vida das mulheres era uma casa de portas fechadas: não podiam ser aprendizes, não podiam estudar na universidade, não podiam ser sacerdotes nem médicos, nem disparar um arco ou desembainhar uma espada, nem tão pouco casar-se, sem se submeterem à tirania do marido."
Consegui identificar que existiu uma fórmula repetida, mas isso não alterou em nada o prazer da leitura e a capacidade do autor me surpreender enquanto leitora. Os personagens, como é seu apanágio, são carismáticos, bem caracterizados e que facilmente se tornam nossos amigos, pessoas que gostaríamos de conhecer ou, do lado oposto, inimizades por se tornarem pessoas tão repugnantes. Caris é uma mulher admirável, capaz, independente, inteligente, braço direito do pai no negócio da lã, que tem muito medo de colocar o seu destino nas mãos de um homem, ainda que esteja apaixonada. Apesar de ser privilegiada, faz amizade com Gwenda, rapariga pobre e que toda a vida passou dificuldades ao ponto de nem sempre terem o que comer. A dada altura, o pai de Gwenda decide vender a filha em troca de uma vaca, mas a jovem consegue fugir e voltar para a sua terra, embora perceba que nunca mais estará segura porque o pai irá voltar a tentar aplicar o mesmo golpe.
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A fechar este quarteto de amigos de infância, temos os irmãos Merthin e Ralph, filhos de um homem que perdeu as suas terras por dificuldades financeiras. O sonho deste pai é que os filhos possam recuperar o estatuto perdido e alcançar a posição que considera lhe ser merecida, enquanto descendente de um Conde de Shiring. O mais velho, Merthin, apesar de ser muito inteligente, é um rapaz franzino e com poucos dotes físicos, o que leva a que seja colocado como aprendiz de pedreiro, ao passo que o seu irmão mais novo, Ralph, tem muito mais propensão para se tornar num cavaleiro valioso e poder, deste modo, cumprir o sonho do seu pai um dia. A verdade é que os dois se tornam muito mais importantes e proeminentes do que se poderia imaginar no início, mas sempre em caminhos opostos, com valores totalmente diferentes e nem os laços de sangue são capazes de romper a distância que vai crescendo e afastando os irmãos para sempre.
"Acima de tudo, recordou-se de Caris em menina. Ainda nem adolescentes eram, mas isso não obstara a que se sentisse enfeitiçado pela sua perspicácia, a sua ousadia, bem como pela naturalidade com que assumira o comando do pequeno grupo. Não se lhe podia chamar amor, mas era um tipo de fascínio que em tudo se lhe assemelhava."
O priorado também passa por uma crise sucessória, após a morte do velho prior, que era conservador e cuja falta de iniciativa e de visão foi uma das causas do declínio da cidade, a esperança surge de que possam conseguir eleger um novo prior que compreenda as necessidades dos comerciantes. Pura ilusão, pois o eleito, apesar de jovem, revela ser tão conservador quanto o seu antecessor, além de ter menos preceitos éticos e morais. É assim que os membros da Gilda da cidade percebem que precisam procurar soluções para não ficarem na miséria, e que só uma iniciativa do próprio Rei os pode salvar. Só que, quando pensavam que não poderiam ter mais problemas, a Peste Negra chega à cidade, deixando um rastro de morte, medo e doença. Em tempos invulgares como este, decisões nunca antes vistas são tomadas, e o poder passa a estar nas mãos das pessoas certas e capazes de lidar com este momento de crise.
Esta é uma aventura que segue estes personagens por longos anos, desde a infância, com relatos que nos permitem entender a formação da personalidade de cada um, e com voltas e reviravoltas que conseguem surpreender verdadeiramente o leitor. Mesmo que, como eu, consigas antecipar alguns dos movimentos, tenho a certeza que não vais conseguir prever todos os caminhos tortuosos que o autor cria. Depois de ler esta continuação, só fiquei ainda mais rendida ao talento narrativo de Ken Follett, a sua capacidade de cruzar aspectos ficcionais com acontecimentos históricos é extraordinária, e mal posso esperar para continuar esta saga tão especial. Se és apaixonada por romances históricos e ainda não leste este livro, recomendo que o faças imediatamente. Agora, quero ouvir o que tu tens a dizer! Deixa o teu comentário sobre as tuas impressões deste livro ou partilha outras indicações de romances históricos que adoras. Vamos criar uma discussão enriquecedora sobre literatura e compartilhar as nossas paixões literárias!
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