Sinopse
William Crimsworth, acabado de sair de Eton, colégio onde esteve a expensas da família materna, que renega, emprega-se na empresa de seu irmão. Edward de seu nome, revela-se um déspota, o que o empurra para uma aventura em Bruxelas, onde se estabelecerá como professor de inglês.
A sua educação e trato distinguem-no dos demais, e levam a directora de um dos colégios onde lecciona a apaixonar-se por ele. Zoraide Reuter acaba por se revelar uma desilusão e William apaixonar-se-á por Frances, uma das suas alunas, ainda que Zoraide tente afastá-los.
A história tem como narrador o próprio William, que é o único narrador masculino jamais usado por Charlotte Brontë. A autora revela aqui muito do seu carácter independente e feminista, criticando muitos dos esclerosados preconceitos vitorianos.
Opinião
Agora que já li um livro de cada uma das irmãs Brontë, está na hora de continuar a ler os poucos livros que nos deixaram. Desta vez, regressei a Charlotte Brontë, a irmã que mais anos viveu e que mais livros escreveu. Aliás, o livro de hoje é o seu primeiro e confesso que me surpreendeu bastante pela positiva, tendo em conta esse detalhe importante. Apesar de não ser extraordinário ou ao nível do seu Jane Eyre, obra de maior fôlego e com uma narrativa mais longa e mais explorada, ainda assim, O Professor é um livro bastante interessante.
Em temos de publicação, este só foi publicado postumamente, mas sabemos que foi escrito antes do seu mais famoso romance, pois foi enviado para os editores inicialmente. Editores esses que o recusaram na época. O ponto que mais me chamou à atenção foi o facto de ser narrado por um protagonista masculino, o que não me recordo de ver nos livros de qualquer das irmãs ou dos autores desta época que conheço. Seria quase um romance de formação, mas de uma forma muito primária e pouco explorada. William é o jovem que nos conta a sua história, primeiro numa carta escrita a um amigo antigo de quem se lembra e que usa para desabafar, passando em seguida a optar por nos escrever a nós, leitores, como quem escreve um diário onde coloca as suas memórias, as suas dores, os seus sonhos, os seus desejos.
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Este jovem é fruto de um casamento desigual, entre um comerciante e uma mulher de boas famílias, que atentou a sua família ao escolher este marido. Os laços foram cortados, mas este casamento não durou muito, dado que deixaram os seus dois filhos órfãos quando ainda não eram homens feitos. O mais velho recebeu a herança do seu pai e seguiu os seus passos como comerciante na cidade onde moravam. O mais novo, William, foi sustentado nos seus estudos em colégios internos pela família materna, embora não tenha recebido atenção ou carinho de nenhum dos lados familiares. Apesar de termos um conhecimento superficial destes dados da sua história, só começamos a acompanhar a sua vida com mais pormenores depois que termina os seus estudos e tem de decidir o que fazer da sua vida enquanto adulto.
"Fora precisamente nessa mesma época que a directora, ferida pela minha indiferença, enfeitiçada pelo meu desprezo, e até excitada pela suspeita de que eu preferia outra mulher, se tornara vítima do sentimento que queria inspirar, emaranhando-se nas malhas da sua própria paixão."
O seu orgulho e sua vontade de decidir o que fazer da sua vida, faz com que decline a ajuda da família materna, que teria um plano todo arquitetado para o seu futuro, sem ter em conta a opinião do protagonista. Assim, só lhe resta procurar a única família que lhe resta, o seu irmão comerciante. A recepção é fria e distante, sendo-lhe oferecido um emprego no seu escritório, mas deixando claro que será tratado como um qualquer funcionário e que deverá procurar onde ficar, pois não será convidado a ficar a viver em casa do irmão e da cunhada. A verdade é que o tratamento que recebe é muito pior do que qualquer outro funcionário, e as humilhações acumulam-se constantemente, mostrando o carácter de um e de outro.
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É nessa cidade que conhece um homem, que na minha opinião é a personagem mais interessante de todas, que o procura ajudar e lhe permite abandonar aquele lugar de opressão e partir para o Continente. Graças aos contactos fornecidos por Hunsden, consegue uma colocação como professor de inglês num colégio, onde poderá pernoitar e lhe deixa ainda com tempo livre para poder arranjar outros trabalhos noutras escolas para aumentar o seu rendimento. É neste momento que William se torna no professor que dá nome ao livro e que coisas começam realmente a acontecer na sua vida.
"Duas pessoas de gostos modestos podem ter em Bruxelas uma vida agradável, com um orçamento que em Londres mal chegaria para salvar as aparências. E isto, não porque em Londres os objectos de primeira necessidade sejam mais caros e os impostos mais altos, mas porque os ingleses ultrapassam em loucura todos os povos da terra."
Sente o primeiro interesse pela sexo oposto, sofre a primeira desilusão amorosa, aprende a gostar verdadeiramente de ensinar jovens, conhece o verdadeiro amor, embora as dificuldades financeiras o impeçam de avançar e concretizar este sonho de amor. Curiosamente, apesar de William ser um homem muito conservador e sempre pronto a fazer julgamentos morais sobre tudo e todos à sua volta, neste livro encontramos muitas críticas ao modo de vida londrino, aos padrões incoerentes e que vivem mais para as aparências, onde é mais importante parecer do que ser. Aliás, são esses momentos de críticas e quando temos o Hunsden em cena que se sente uma lufada de ar fresco e de modernidade.
Devo dizer que gostei bastante desta experiência de leitura de O Professor, e recomendo vivamente que o leias, que descubras esta história escrita por uma mulher vitoriana, mas que coloca como narrador um homem. Aqui também se encontra a Charlotte feminista, crítica da sociedade onde se movimenta, capaz de criar personagens fortes e marcantes. É um livro interessante, que prende e desperta a curiosidade do leitor, mesmo quando percebes qual será o final que te espera. Já conheces os livros da Charlotte Brontë? Leste O Professor ou apenas o Jane Eyre? O que pensas sobre estas irmãs tão talentosas? Deixa o teu comentário e vamos conversar!
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