#Livros - O Processo, de Franz Kafka

 

Sinopse

Um belo dia, Josef K., um bem-sucedido gerente bancário, é subitamente preso no seu próprio quarto, sem saber porquê nem por quem. Vê-se então envolvido num labiríntico e absurdo processo que decorre secretamente em obscuras secretarias instaladas em sótãos, conduzido por juízes menores que têm a mera incumbência de o inquirir. 

Concebido em 1914, o romance O Processo constitui para Kafka a forma ideal para expressar a fragmentação do mundo e da realidade em que vive o homem moderno. A presente tradução é de Álvaro Gonçalves, a primeira em Portugal a ser feita a partir da versão alemã baseada no manuscrito original de Kafka, que anula as alterações introduzidas pelo amigo e testamenteiro do autor, Max Brod, na sua primeira edição de 1925. 

Opinião

Kafka é um autor incontornável e muito marcante da Literatura do século XX e a sua obra ecoa até aos dias de hoje. A sua influência é inegável, ainda que a sua obra não seja extensa e a sua vida tenha sido muito curta para o talento gigante que carregava em si mesmo. Era seu desejo que tudo o que tinha escrito fosse destruído após a sua morte. Felizmente, o seu amigo e responsável por esse espólio não cumpriu esse último desejo e permitiu que nos fosse dado a conhecer melhor este autor extraordinário. 

Este é mais um livro que veio cá para casa na última edição da Feira do Livro de Lisboa, cuja pilha está a diminuir a um ritmo bem positivo, ainda que tenha consciência de que não irei ler todos antes da próxima, que será agora em Maio e Junho. Sempre que não sei bem o que ler ou quando saio de uma história que me marcou profundamente, sei que irei ter um refúgio e um momento bem passado junto com um livro clássico. Franz Kafka está longe de ser um autor leve, as suas histórias são densas, complexas, absurdas, mas absolutamente credíveis. 

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É precisamente isso que encontramos em O Processo, onde o seu protagonista, num dia comum e banal, dá por si a ser preso na casa onde vive, sem saber sequer o motivo. Tudo se passa de uma forma absurda, que atinge o senso comum do leitor, e que não permite perceber realmente o que está a acontecer, ainda que os factos nos sejam narrados, aparentemente, no momento em que estão a ocorrer. Os seus carcereiros ficam na sala da casa onde tem alugado um quarto, e impedem que saia de casa, comunicando apenas que estaria preso. Toda a dinâmica da casa sofre com esta interrupção e são perturbados por esta invasão inesperada, ainda para mais relacionada com o inquilino mais ilustre. 

"Se, por um lado, era do interesse geral que o processo chegasse rapidamente ao fim, por outro, os inquéritos tinham que ser, em todos os aspectos, rigorosos e, mesmo assim, não durarem nunca demasiado tempo por serem cansativos." 

No entanto, a dada altura é-lhe comunicado que, apesar de estar preso, deverá fazer a sua vida normal e ir para o trabalho como todos os dias. Nesse dia é acompanhado por eles ao banco onde trabalha, mas nos dias seguintes tudo se processa, toda a sua rotina segue como se nada tivesse acontecido. No entanto, ele sabe que passou a ter um processo, uma acusação desconhecida da qual precisa se defender. Tudo é narrado de uma forma normal, mas os detalhes são todos absurdos e as contradições sucedem-se a cada esquina. É o que acontece e se torna ainda mais visível quando tem de se apresentar na primeira audiência e tem o primeiro contacto com os lugares onde essa justiça se movimenta e ocupa. 

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As personagens com que se vai cruzando ao longo deste misterioso processo parecem ser irreais, submissas, sem espírito crítico, que não querem saber o que se encontra para além delas, pois Josef K apenas tem contacto com os elementos que se encontram na base desse tribunal obscuro. As mulheres na história são retratadas como figuras muito sexualizadas, que parecem não resistir aos encantos de Josef e que o procuram seduzir de todas as formas, figuras quase diabólicas que o procuram desviar do que acha ser o caminho certo a seguir para a condução deste processo. 

"As mulheres têm um grande poder. Se pudesse persuadir algumas mulheres que conheço a trabalhar em conjunto para a minha causa, conseguiria triunfar. Especialmente neste tribunal, que é praticamente constituído apenas por mulherengos." 

Quando recebe a visita de um tio, que fica alarmado com a notícia deste processo que recaiu sobre o sobrinho e, consequentemente, sobre a sua família toda, e mais preocupado fica quando constata o estado de apatia e desinteresse de K por esta vergonha que ameaça o seu bom nome, é obrigado a procurar um advogado que o possa defender nos meandros complexos da justiça que se esconde. Este é um livro complexo, ainda que não tenha uma linguagem difícil nem complicada de entender. À medida que as páginas se sucedem, torna-se mais fácil mergulhar e aceitar este absurdo, ainda que seja uma tentação procurar sentido e lógica nos acontecimentos narrados. 

Esta edição da Livros do Brasil é excelente, com uma qualidade que se nota no tamanho da letra, no papel utilizado e também na revisão que foi feita e que nos apresenta uma versão mais próxima da que foi deixada pelo autor, antes do seu amigo e responsável pelo espólio ter editado, alterado e incluído capítulos inacabados, que agora se encontram no final do livro, como um complemento mas sem alterar o fio da narrativa. Acredito que precisas ler este livro em algum momento da vida e se ainda não te convenci das suas qualidades podes e deves ver o vídeo da Tatiana Feltrin. 

Já conheces este livro? O que achas das obras únicas de Kafka? Qual o teu livro favorito do autor? Conta-me tudo nos comentários e vamos conversar sobre este autor extraordinário! 

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